Justa indignação
Camilo
Compreensível é que vos aturdais perante o amontoado de graves ocorrências que incidem sobre vossas vidas na atualidade da Terra, particularmente no berço em que reencarnastes agora, sob a constelação cruciforme de vosso céu austral.
Admissível é que sintais um travo amargo de frustrações, em face do desrespeito de atormentados compatriotas que, entre cinismo e licença, extorquem o erário, empobrecendo ainda mais o povo amigo e sensível que labora arduamente, em sua maioria, nas lides dos resgates necessários à própria liberdade espiritual, em vista dos clamores inaudíveis da profunda consciência.
O que não deveis perder, no entanto, é a certeza de que tudo o que vos vem ocorrendo se acha sob os olhares do Criador, que, através dos luminosos Espíritos prepostos de Seu amor, vigia e envia os recursos de que necessitais para que ultrapasseis com firmeza este momento infeliz, em que sois testados na capacidade de ajuizar maduramente essas situações e de assumir responsabilidades que vos são pertinentes, sem temores ou acomodações indevidas.
Sabeis que o que ora resgatais por entre lágrimas e lamentos, incontável contingente de indivíduos deverão sofrer, mais tarde, quando tiverem as próprias consciências liberadas do corpo físico, no Além, ou mesmo ainda nas experiências da presente romagem corpórea, quando tiverem tempo, longe dos aplausos e condenações exteriores; distantes dos jogos dos politiqueiros interesses; fora dos labirintos do poder temporal que oculta hediondos crimes contra a gigantesca massa humana, tão somente para a nauseante cobertura de uns poucos apaniguados da loucura lesa-pátria ou lesa-sociedade, de refletir sobre o rol de infortúnios que agora semeiam, fazendo-se braços não solicitados da Sublime Justiça, uma vez que "o escândalo é necessário, mas ai daquele por quem venha o escândalo"...
Padecerão dores morais, que poderão repercutir em nível fisiológico, somatizadas, esses que agora sorriem, delinquindo triunfantes no mundo das ilusões, logo que possam avaliar quantos dramas e loucuras propiciaram pelas estradas onde estiveram, protegidos pelo arbítrio da injustiça, sem que tivessem resgatado seus delitos junto a seus contemporâneos.
Pais e mães de família se deslocaram para o desequilíbrio psíquico ao se verem incapacitados de bem conduzir os afetos, principalmente os filhos, tomados que foram no bojo de infernizantes processos inflacionários que alguns indivíduos geram, mantêm e manipulam friamente, sem qualquer respeito ou consideração pela criatura comum que trabalha dedicada e arduamente por uma condição de melhor vida material.
Mães e pais que mergulharam em valões de prostituição, de criminalidade, de suicídios, fragilizados diante da impossibilidade de manter a vida dos familiares na faixa da dignidade, da honestidade, não logrando ver, em razão do desespero, melhor saída para seus dramas.
Homens e mulheres de caracteres débeis que preferiram seguir os impulsos da violência, das drogas e de mil e um processos antissociais, que passaram a conspurcar toda uma sociedade.
Criaturas incontáveis que sem explodirem nas crises criminosas, na sandice, na imoralidade de amplo sentido, impregnaram as células somáticas com os venenos de suas revoltas e mágoas e adoeceram, às vezes de modo irreversível, descendo ao vale da morte como inconscientes autocidas, porque se sentirem impotentes contra os poderosos exploradores da sociedade.
É entendível que mediteis sobre tudo isso, e que sintais n'alma essa santa indignação do homem justo, desejoso de ver passar estes tempos de terror desta aturdente atualidade.
O que não podeis deixar de refletir é que sem dúvida resgatais vosso pretérito ruinoso e que tão logo vos vejais quitados com as divinas leis que vibram em vossas consciências, tudo se transformará a vosso redor, pois que igualmente estareis melhor aparelhados, intelectual e moralmente, para impedir tais episódios dantescos.
Não devereis olvidar que tudo isso terá seu final, tanto quanto estiveram dominando, na Terra, e passaram, definitivamente, reis e príncipes, imperadores diversos, czares e kaisers, césares e ditadores, senhores feudais e presidentes, com todo o séquito de bajuladores sanguessugas, que transformaram o patrimônio coletivo em suas propriedades particulares, sempre mais ambiciosos, cada vez mais insaciáveis.
Se viveis no mundo terrestre, tereis que "dar a César o que é de César", o que pode significar, no contexto enfocado, vossa participação ativa nos nobres movimentos por uma pátria melhor, por um mundo melhor, vestindo-vos com as cores do equilíbrio, usando o comportamento da verdade, para que não sejais utilizados por famigerados aproveitadores da idiotia ou da imaturidade de estouvados lavradores da inconsciência, tornando-vos, assim, inconsequentes perigosos.
Buscai espelhar-vos nos exemplos de almas grandiosas que também foram tangidas pela indignação e que se lançaram às boas lutas pela renovação geral.
Francisco de Assis, indignado com a prepotência doméstica contra oprimidos trabalhadores de seu genitor, despiu-se e se transformou no homem que a todos atendeu, a todos ajudou, em nome do Grande Modelo, Jesus.
Florence Nightingale, indignada com a posição preconceituosa da sua família e da sociedade da época, tornou-se a patrona da enfermagem, estendendo seus sentimentos aos sofredores, logrando a vitória que o tempo consagrou.
Mahatma Gandhi, indignado com a covarde sujeição britânica sobre seu empobrecido povo indiano, entregou-se a uma luta sem sangue e sem trégua, até o momento da liberdade, que pagou com o preço da própria vida.
Martin Luther, indignado com a omissão proposital do clericalismo romano, no tocante ao ensino do Evangelho ao povo para manter uma dominação absurda, arrebatou a Boa Nova da cripta em que estava oculta e a pôs nas mãos de todas as pessoas, a fim de que todos aprendessem a analisar e ponderar os ensinos da luz com as próprias capacidades, em nome da liberdade de crença.
O Sublime Galileu teve ensejo de expressar sua indignação, ao verberar o comportamento dos mercantilistas que invadiam o templo, acobertados pelo silêncio do sacerdócio organizado de Israel, tanto como invectivou contra crimes e barbarismos múltiplos que eram perpetrados contra os sofredores indefesos, contra o povo.
Indignado com a presunção acadêmica, Allan Kardec decide-se por apresentar seus livros em francês popular e não em latim, que era a língua oficial para publicações de filosofia, de ciências e de religião, à época, entendendo que se fossem publicados em latim, somente os doutos os leriam, enquanto que os doutos e toda a gente os poderiam ler, se em francês.
Desse modo, vós que vos sentis indignados com todas as ocorrências que desfilam perante vossos olhos e inteligências, não descoroçoeis. Buscai meditar maduramente na ação de Deus no mundo e no seio de cada povo.
*
Pensai no que seria mais enobrecido de vossa parte, e assumi a postura honesta e consequente de dar boa conta de vossos deveres, com a coragem do cidadão ou da cidadã que não se mostra tolo quando deve entender bem; que não se faz cego quando precisa ver claro; que não se apresenta surdo quando carece de ouvir tudo muito bem, e que não emudece no gesto acovardado, quando deve falar para esclarecer, para educar e corrigir, sem pruridos de vinganças infantis ou patológicas, porém, para que a luz seja posta sobre o ponto mais alto da vida e nunca mais sob o velador.
Pensai, então, em como o faria Jesus, e agi também.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, sugestão, etc...