Anos Novos que se repetem
Divaldo Franco
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
Ante as promessas do ano que se inicia, não nos permitas que esqueçamos aqueles com quem nos honraste o caminho iluminativo:
As mães solteiras, desesperadas, a quem prometemos o pão do entendimento;
As crianças delinquentes que nos buscaram com a mente em desalinho;
Os calcetas que, vencidos em si mesmos, nos feriram e retornaram às nossas portas;
Os enfermos solitários, que nos fitaram, confiantes em nosso auxílio;
Os esfaimados e desnudos que chegaram até nossas parcas provisões;
Os mutilados e tristes, ignorantes e analfabetos, que nos visitaram, recordando-nos de Ti...
Sabemos, Senhor, o pouco valor que temos, identificamo-nos com o que possuímos intimamente, mas, contigo, tudo podemos e fazemos. Ajuda-nos a manter o compromisso de amar-Te, amando neles toda a família universal em cujos braços renascemos.
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“Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedidos vos será o que pedirdes”. Marcos (11:24)
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“Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a lhe inspirar ideias sãs”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo - E.S.E. - Cap. XXVII - item 11.)
O precioso legado com que Allan Kardec brindou a Humanidade em nome de Jesus, preparando um futuro melhor, deve ser preservado mesmo que sob o sacrifício dos verdadeiros espíritas.
Não que ele fosse um homem indene a defecções e a sua Obra estivesse livre de equívocos.
Missionário, porém, desde cedo manteve uma reta conduta e uma vida inatacável, fazendo-se caracterizar pela correção de atitudes em todos os cometimentos, trabalhando com afinco e estudando incessantemente.
Sem os arrebatamentos juvenis ou as instabilidades neuróticas, fez-se conhecido pela lógica defluente da razão e pelo bom senso no exame das questões que lhe eram apresentadas.
A doutrina, por sua vez, ditada pelos Espíritos, foi cotejada com a cultura vigente, superando o conhecimento de então, por estar programada para o porvir, sendo oportuna em sua época.
Reexaminada várias vezes, foram corrigidos ou melhor formulados os ensinos recebidos dos Mensageiros Espirituais, ficando definida conforme as suas próprias palavras, na 3ª edição que sucedeu ao lançamento de “O Livro dos Espíritos”.
Não ficava, entretanto, concluída, porque “marchando com a ciência aceita todas as informações que aquela comprova”, estando aberta a retificações, se for o caso, e a desdobramentos, como se faz indispensável, quando ocorrerem novas revelações confirmadas pelo critério da “universalidade do ensino” compatível com a cultura científica da ocasião...
Por isso, estudar Kardec para conhecer e divulgar o Espiritismo, é o compromisso de hoje, que nos devemos impor os encarnados e os desencarnados.
Como toda revelação é gradativa, as lições kardequianas quanto mais estudadas melhor se fazem compreendidas em face do maior entendimento de quem as examina.
Ainda perduram, em muitos arraiais espiritualistas, a injustificável confusão entre mediunismo e Espiritismo, que Allan Kardec definiu com admirável brilhantismo, situando cada coisa no seu devido lugar.
Igualmente, se insiste em confundir desequilíbrios nervosos, distonias emocionais, com fenômenos mediúnicos que carecem de legitimidade, bem dissociados por Allan Kardec, quando aprofundou a análise deles, no capítulo da obsessão e da loucura.
Permanecem intencionais propostas de que espetáculos de charlatanismo e exibição de mediunidade, que chamam a atenção, sejam da responsabilidade do Espiritismo, quando, no entanto, Allan Kardec ofereceu uma doutrina de equilíbrio, discrição, objetivando, sobretudo, a transformação moral do indivíduo.
Doutrina espírita, na visão de Allan Kardec, é compromisso superior para com a vida, mediante o respeito à vida, numa conduta viva e atuante quanto exemplar.
Eis por que Espiritismo e Cristianismo são termos da mesma equação da vida.
A investigação da imortalidade sem a filosofia estruturada na moral cristã, não vai além de quesito parapsicológico, destituído de ética, qual ocorreu com a pesquisa metapsíquica ora relegada a plano secundário.
Por sua vez, a filosofia sem o apoio do fato mediúnico toma-se expressão espírita sem Espíritos, corpo sem alma...
À religião espírita coube a tarefa de unir a fé à ciência e esta à filosofia numa tríade perfeita e inseparável.
Assim considerando, Kardec cumpriu Jesus, conforme o Mestre vitalizou a Obra de Moisés, na Lei antiga e dos profetas que O anteciparam.
As três revelações: a Lei, o Amor e a Reencarnação confirmada pelos Espíritos, ou, Moisés, Jesus e Kardec, se tornam as mais importantes da Humanidade, respeitando, simultaneamente todas as outras que se lhe fazem subsidiárias, confirmando a paternal assistência de Deus às Suas criaturas em todas as épocas.
Conhecer, portanto, Allan Kardec para melhor se compreender Jesus.
Viver conforme a diretriz de Allan Kardec mais facilmente se sentirá Jesus.
Ensinar com a metodologia de Allan Kardec a fim de se seguir com Jesus.
Trabalhar com a fidelidade e persistência de Allan Kardec para mais viver Jesus.
Em qualquer circunstância a opinião de Allan Kardec é seta apontando rumo seguro para a chegada em triunfo à meta anelada.
Jesus e Kardec, ontem, hoje e amanhã.
Lauro, entrevistador do Centro para encaminhamento aos serviços de assistência espiritual, tinha diante de si uma senhora de aproximadamente cinquenta anos, expressão infeliz, como se carregasse sobre os ombros os males do Mundo.
- Vim pedir ajuda. Sinto-me deprimida e angustiada. Impertinentes enfermidades me afligem...
- Foi ao médico?
- Passei por vários. Há meses tomo remédios, inutilmente.
- Tem filhos?
- Três, todos casados.
- E o marido?
- Está bem, embora preocupado comigo. Não tenho queixas dele. É ótimo companheiro. Estaria perdida sem seu apoio... O senhor acredita que estou sob a ação de Espíritos maus?
- Pode ser, mas geralmente as pessoas superestimam essa influência. Nossos males originam-se muito mais de preocupações e tensões a que nos submetemos, favorecendo o esvaimento das energias psíquicas. A partir daí podem surgir enfermidades e perturbações e até mesmo os envolvimentos espirituais.
- Por que o tratamento médico não resolve?
- O médico cuida apenas dos efeitos. Persistindo as causas, renovam-se incessantemente os males.
- O que pode ser feito?
- Uma transfusão de energias magnéticas. Se a pessoa está com anemia pode recompor sua vitalidade recebendo sangue doado. O mesmo ocorre no campo psíquico. Com a boa vontade de doadores, no chamado passe magnético, podemos retemperar as energias psíquicas, recuperando o equilíbrio.
- Qual a minha participação?
- A senhora virá semanalmente às reuniões. Acompanhará atentamente as palestras.
Depois submeter-se-á ao passe, confiando-se à oração.
Assim foi. Durante várias semanas Idalina cumpriu, com a fidelidade dos que sofrem, a prescrição que a ajudaria a superar o sofrimento. Eventualmente voltava a conversar com Lauro:
- Tudo bem, dona Idalina?
- Melhorei um pouco...
- Persevere. Esses problemas são assim mesmo. Não se instalam do dia para a noite, nem desaparecem da noite para o dia. Demandam tempo...
No desdobramento das reuniões a sofredora senhora ouvia as considerações dos expositores, destacando insistentemente a prática da caridade como o remédio ideal para os males humanos. A instituição mantinha vários serviços assistenciais, favorecendo aos frequentadores a possibilidade de pôr em prática os conceitos ouvidos.
Idalina foi conhecê-los. Interessou-se pelo Albergue, onde o atendimento era feito por voluntários. Combinou com o marido e ambos passaram a colaborar, em duas noites por semana.
Passaram-se alguns meses. Sem que se desse conta, de início, seus males foram lentamente desaparecendo. A angústia que a oprimia perdeu espaço em seu coração, todo tomado pela disposição de colaborar nas atividades da instituição.
Algum tempo depois, sorridente e feliz, aproximou-se do atendente:
- Que papelão, hein “seo” Lauro!...
- O que foi, dona Idalina? Fiz algo errado? Penitencio-me desde já...
- Não foi propriamente um erro, mas uma omissão.
- Omissão?!...
- Sim. Omitiu-me o melhor tratamento: o serviço no campo do Bem. Estou tão feliz em servir que já nem me lembro de meus males. Por que não me disse nada?
- É que se eu lhe recomendasse de início, a senhora teria a impressão de que estávamos a cobrar por um benefício. Talvez até o fizesse, mas simplesmente como quem toma um remédio, sem perfeita consciência do significado desse trabalho.
Deixando que a iniciativa fosse sua, com base no conhecimento adquirido, o resultado foi bem melhor. Não acha?
- Tem razão. Compreendo que o serviço em favor do semelhante, muito mais que mero remédio para a Alma, é a chave mágica de nossa felicidade. É impressionante como as mãos, movimentando-se na seara da caridade, desanuviam nossa cabeça e liberam nossas tensões.
E acentuava, eufórica:
- Médicos, psicólogos, psicanalistas, que se cuidem! Quando os pacientes aprenderem a usar essa divina terapia, eles terão que procurar outra profissão!
A Lei suprema de Deus, revelada por Jesus, é o Amor.
Seu primeiro artigo, e único, o define como o empenho de fazer ao semelhante o bem que gostaríamos nos fosse feito.
Todo esforço nesse sentido é precioso treinamento para nossa adequação à vontade do Criador.
Por isso a sabedoria popular consagrou a frase:
“Quem não vive para servir não serve para viver.”
Poderíamos acrescentar:
“Só vivem em plenitude os que vivem para servir.”
Espíritas!
Quem pode sopesar o exato valor do Espiritismo na vida humana?
Doutrina impessoal por não ter fundador.
Espontânea por distanciar-se de serviços remunerados.
Clara por escapar a todo profissionalismo em matéria de fé.
Libertadora por não possuir sacerdócio hierárquico.
Atualizada pela ciência dos homens conjugada aos ensinamentos dos Planos Superiores.
Indestrutível por se elevar de bases imateriais.
Inatacável por dirigida incessantemente sob a inspiração de Jesus e de Suas legiões renovadoras da Humanidade.
Firme por fundamentar-se nas demonstrações e nos fatos.
Contínua por situar-se a cavaleiro de todas as crises planetárias.
A mediunidade que lhe veicula os princípios, qual recurso inestancável no espírito, não pode ser sufocada, tanto quanto seria impraticável a adoção de medidas tendentes a enceguecer todos os homens.
A descoberta de novas "terras do céu" confirmar-lhe-á os postulados, ampliando-lhe todos os horizontes.
O avanço do conhecimento terrestre consolida-lhe o avanço.
A queda desse ou daquele conceito errôneo exalta-lhe as verdades.
À vista disso, compenetrai-vos de vosso elevado ministério à frente da vida.
Não sois espíritas à revelia das circunstâncias.
Vossas testas surgem marcadas por sinais invisíveis, definindo-vos responsabilidades e trabalho.
Vossas vidas são acompanhadas atenciosamente de uma vida mais alta.
Vossos atos cotidianos são anotados com emoção e justiça.
Não há espírita sincero agindo a sós; todos participam naturalmente de equipes intangíveis, empenhadas na atividade constante e redentora.
Sede leais à própria fé.
Muitos de vós trazeis o nome vinculado a obras de regeneração e progresso, devotamento e amor, iniciadas noutras esferas e noutros mundos.
Crêde! A Terra vem alcançando a esperada maturidade espiritual.
Do mesmo modo que Jesus predissera o advento do Espiritismo Consolador, consequentemente o Excelso Mestre anunciara a existência de vós todos — os espíritas de hoje —, construtores do mundo novo, decerto muita vez experimentados pelos ataques das sombras interessadas na perturbação e na decadência, mas vigiados e sustentados pelos Vanguardeiros do Porvir que seguiram adiante de vós a fim de esperar-vos na Vida Eterna.
"Pode evocar-se o Espirito de uma pessoa viva?""Pode-se, visto que se pode evocar um Espírito encarnado. O Espírito de um vivo também pode, em seus momentos de liberdade, se apresentar sem ser evocado; isto depende da simpatia que tenha pelas pessoas com quem se comunica." (Kardec, Allan - O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XXV, item 284, pergunta 38)
Não são poucas as vezes em que a misericórdia de acréscimo do Pai Celeste, sob a administração de Jesus, tem consentido e providenciado o atendimento de diversos companheiros necessitados, nas reuniões de socorro aos desencarnados, havendo um dado importante, que em grande número de vezes, não é levado em conta: o de estarem eles ainda encarnados.
Muitos se encontram em estado de tormentos em leitos hospitalares ou mesmo em seus lares, amargando pavores e carências que requerem o auxílio próximo da mediunidade.
Outros, também mantidos em leitos variados, mas. Porque são portadores de mentes mais atiladas, vem rogando amparo e assistência para familiares que lhes são queridos, pelos quais se acham preocupados, ansiosos, temendo pela situação deles após seu desenlace.
Tantos deles guardam concepções grotescas a respeito da morte do corpo e, por essa razão, agarram-se ao veículo físico com sofreguidão, sendo socorridos pelos Enfermeiros do Invisível, nos encontros de mediunidade, até que se possam domar as tensões em que mergulharam, seguindo tranquilos para seu novo amanhã.
Considerando todas essas possibilidades, e tendo-se em conta que os médiuns encarnados são passíveis de filtrarem tanto os companheiros desencarnados quanto os encarnados para tanto destacados, levamos à mente as reflexões a respeito dos processos de doutrinação espiritual através do diálogo fraterno, no esclarecimento em sessão.
Não serão todos os comunicantes que se apresentem, afirmando medo da morte ou afirmando que permanecem no corpo, que deverão ser tomados à conta de desencarnados ignorantes do seu próprio estado. Será necessária a abertura de entendimento para esses casos em que suas afirmativas são reais. Não estão mortos e necessitam de ajuda. Embora tais situações não formem regra, e, sim, exceções, dão-se em maior número de vezes do que se possa imaginar, aqui e ali, mesmo não sendo percebidas pelos doutrinadores.
Dessa maneira, sugere-se aos lidadores do esclarecimento fraterno o desenvolvimento da sensibilidade devida, a fim de lograrem identificar pela conversa, pelos termos exarados, pelas vibrações despedidas do comunicante a possibilidade de uma ou de outra coisa, fugindo da generalização, que tanto mais poderá aturdir o atendido, quanto mais bloqueadas estejam as linhas da percepção do esclarecedor.
Cada sessão mediúnica é uma sessão plenamente distinta uma da outra, não obstante tudo pareça ser a mesma coisa. Toma-se imprescindível não mecanizar, não uniformizar os labores hebdomadários do diálogo socorrista e fraternal.
Cumpre estudar sempre mais, meditar cada vez mais para conseguir captar sutilezas e servir melhor.
Assim, cada tarefeiro encarnado da chamada doutrinação tomar-se-á apto a contribuir sempre mais lucidamente na esfera de trabalhos que o Cristo confiou às nossas mãos ainda limitadas, mas prenhes de boa vontade e disposição.
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