O remédio divino
Richard Simonetti
Lauro, entrevistador do Centro para encaminhamento aos serviços de assistência espiritual, tinha diante de si uma senhora de aproximadamente cinquenta anos, expressão infeliz, como se carregasse sobre os ombros os males do Mundo.
- Vim pedir ajuda. Sinto-me deprimida e angustiada. Impertinentes enfermidades me afligem...
- Foi ao médico?
- Passei por vários. Há meses tomo remédios, inutilmente.
- Tem filhos?
- Três, todos casados.
- E o marido?
- Está bem, embora preocupado comigo. Não tenho queixas dele. É ótimo companheiro. Estaria perdida sem seu apoio... O senhor acredita que estou sob a ação de Espíritos maus?
- Pode ser, mas geralmente as pessoas superestimam essa influência. Nossos males originam-se muito mais de preocupações e tensões a que nos submetemos, favorecendo o esvaimento das energias psíquicas. A partir daí podem surgir enfermidades e perturbações e até mesmo os envolvimentos espirituais.
- Por que o tratamento médico não resolve?
- O médico cuida apenas dos efeitos. Persistindo as causas, renovam-se incessantemente os males.
- O que pode ser feito?
- Uma transfusão de energias magnéticas. Se a pessoa está com anemia pode recompor sua vitalidade recebendo sangue doado. O mesmo ocorre no campo psíquico. Com a boa vontade de doadores, no chamado passe magnético, podemos retemperar as energias psíquicas, recuperando o equilíbrio.
- Qual a minha participação?
- A senhora virá semanalmente às reuniões. Acompanhará atentamente as palestras.
Depois submeter-se-á ao passe, confiando-se à oração.
Assim foi. Durante várias semanas Idalina cumpriu, com a fidelidade dos que sofrem, a prescrição que a ajudaria a superar o sofrimento. Eventualmente voltava a conversar com Lauro:
- Tudo bem, dona Idalina?
- Melhorei um pouco...
- Persevere. Esses problemas são assim mesmo. Não se instalam do dia para a noite, nem desaparecem da noite para o dia. Demandam tempo...
No desdobramento das reuniões a sofredora senhora ouvia as considerações dos expositores, destacando insistentemente a prática da caridade como o remédio ideal para os males humanos. A instituição mantinha vários serviços assistenciais, favorecendo aos frequentadores a possibilidade de pôr em prática os conceitos ouvidos.
Idalina foi conhecê-los. Interessou-se pelo Albergue, onde o atendimento era feito por voluntários. Combinou com o marido e ambos passaram a colaborar, em duas noites por semana.
Passaram-se alguns meses. Sem que se desse conta, de início, seus males foram lentamente desaparecendo. A angústia que a oprimia perdeu espaço em seu coração, todo tomado pela disposição de colaborar nas atividades da instituição.
Algum tempo depois, sorridente e feliz, aproximou-se do atendente:
- Que papelão, hein “seo” Lauro!...
- O que foi, dona Idalina? Fiz algo errado? Penitencio-me desde já...
- Não foi propriamente um erro, mas uma omissão.
- Omissão?!...
- Sim. Omitiu-me o melhor tratamento: o serviço no campo do Bem. Estou tão feliz em servir que já nem me lembro de meus males. Por que não me disse nada?
- É que se eu lhe recomendasse de início, a senhora teria a impressão de que estávamos a cobrar por um benefício. Talvez até o fizesse, mas simplesmente como quem toma um remédio, sem perfeita consciência do significado desse trabalho.
Deixando que a iniciativa fosse sua, com base no conhecimento adquirido, o resultado foi bem melhor. Não acha?
- Tem razão. Compreendo que o serviço em favor do semelhante, muito mais que mero remédio para a Alma, é a chave mágica de nossa felicidade. É impressionante como as mãos, movimentando-se na seara da caridade, desanuviam nossa cabeça e liberam nossas tensões.
E acentuava, eufórica:
- Médicos, psicólogos, psicanalistas, que se cuidem! Quando os pacientes aprenderem a usar essa divina terapia, eles terão que procurar outra profissão!
A Lei suprema de Deus, revelada por Jesus, é o Amor.
Seu primeiro artigo, e único, o define como o empenho de fazer ao semelhante o bem que gostaríamos nos fosse feito.
Todo esforço nesse sentido é precioso treinamento para nossa adequação à vontade do Criador.
Por isso a sabedoria popular consagrou a frase:
“Quem não vive para servir não serve para viver.”
Poderíamos acrescentar:
“Só vivem em plenitude os que vivem para servir.”
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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