domingo, 30 de abril de 2017

Se você pensar

Se você pensar

André Luiz




Diz você que a palavra do companheiro é agressiva demais; no entanto, se você pensar nas frases contundentes que lhe saem da boca, nem de leve passará sobre o assunto.

Diz você que o amigo praticou erro grave; contudo, se você pensar nos delitos maiores que deixou de cometer, simplesmente por fugir-lhe a oportunidade, não encontrará motivo de acusação.

Diz você haver sofrido pesada ofensa; entretanto, se você pensar quantas vezes tem ferido os outros, olvidará, incontinenti, as falhas alheias.

Diz você que não suporta mais os trabalhos com que os familiares lhe tributam as horas, mas se você pensar nos incômodos que a sua existência tem exigido de todos eles, não terá gosto de reclamar.

Diz você que os seus sacrifícios são muito grandes, em favor do próximo; no entanto, se você pensar nas vidas que morrem diariamente, para que você tenha a mesa farta, decerto não falará mais nisso.

Diz você que as suas necessidades são invencíveis; contudo, se você pensar nas privações daqueles que seriam infinitamente felizes com as sobras de sua casa, não tropeçaria na queixa.

Diz você que não pode ajudar na beneficência, em razão de velha enxaqueca; contudo, se você pensar naqueles que jazem no leito dos hospitais, implorando um momento de alívio, não adiará seu concurso.

Diz você que não dispõe de tempo para o cultivo da caridade, mas se você pensar nos mil e quatrocentos e quarenta minutos que você possui, cada dia, para viver na Terra, não se esconderá em semelhante desculpa.

Em todo assunto de falta e perdão, não nos demoremos visando os outros. Pensemos em nós próprios e preferiremos fazer silêncio, extinguindo o mal.





André Luiz em comentário sobre o Cap. IX – Item 6 (A afabilidade e a doçura) de O Evangelho segundo o Espiritismo.




sábado, 29 de abril de 2017

Serve sem Apego

Serve sem Apego

Emmanuel



Usa, sem algemar-te,
Os bens de que desfrutes.

          Medita nas riquezas
          Que já se dispersaram.

Antigas obras de arte
Valorizam museus.

          Títulos de ascendentes
          São brasões sem calor.

Do que sejas ou tenhas,
Faze o melhor que possas.

          Serve sem apegar-te.
          Tudo pertence a Deus.


sexta-feira, 28 de abril de 2017

Cairbar Schutel - O Bandeirante do Espiritismo

Cairbar Schutel

O Bandeirante do Espiritismo




Documentário produzido pela extinta TV Morada do Sol, emissora independente sediada em Araraquara (SP), que depois veio a tornar-se Rede Mulher. 


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- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles,  a razão e a universalidade.

- Cisão para estudo de acordo com o Art. 46 da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98 LDA - Lei nº 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.
- Dúvidas e contatos enviar e-mail para: regeneracaodobem@gmail.com 

quinta-feira, 27 de abril de 2017

O maior problema

O maior problema

Emmanuel




O homem é o centro.

O mundo é a periferia.

Todas as questões políticas e administrativas, todos os enigmas sociólogos e passionais, que espalham na Terra as mais constrangedoras crises de espíritos, dependem da solução de um problema único para serem convenientemente decifrados – o problema do reajuste da nossa própria alma ante as Leis Divinas.

Não há um Mestre ausente da escola do mundo, mas sim aprendizes que fogem indefinidamente à lição.

O Senhor não menospreza os tutelados que lhe aguardam a proteção, mas como atender ao impositivo da comunhão se nos afastamos, sistematicamente, d’Aquele que é a luz de nossos destinos?

Pulverizemos as cristalizações de egoísmo e orgulho, vaidade e revolta que nos inibem a visão espiritual.

Desatulhemos o santuário íntimo, ocupado por inutilidades e ilusões e a luz divina penetrar-nos-á o coração, determinando novas atitudes à vida consciencial.

Somos, ainda, em nosso estágio evolutivo, quando confrontados com a inteligência Perfeita que nos rege, humildes seres pensantes.

Ante a grandeza do Universo, as nossas limitações são comparáveis as que separam o verme da estrela.

Como penetrar nos domínios de Deus quando nos demoramos imanizados à sombria concha do “eu?”

Com que títulos exigir novos planos do Amor Divino, se ainda permanecemos em continuada recapitulação dos primários mandamentos da justiça humanas?

Barro nas mãos sábias do oleiro, peçamos ao Senhor nos ajude a suportar o fogo das experiências dolorosas e necessárias, a fim de que nosso espírito adquira a luz indispensável para refletir a Eterna Sabedoria e, então, depois de liquidado o escuro problema que somos nós, em nós mesmos, será lícito esperar, no mundo de nossa alma, a luz da Alvorada Nova.





quarta-feira, 26 de abril de 2017

Comparação

Comparação

Meimei




... Quando tiveres de perguntar porque teria Deus criado as sombras da noite, pensa nos milhões de estrelas que as trevas te descortinaram...

Quando tiveres de arrancar algum ESPINHO que o contato da terra te haverá imposto à epiderme da alma, reflete nas colheitas incessantes das flores de alegria que a vida te oferta.

Quando tiveres de arredar alguma PEDRA da estrada a percorrer, detém-te a contar os quilômetros de caminho seguro em que transitas.

Quando tiveres de sanar algum momento de TRISTEZA, medita nas horas de contentamento e esperança que te alimentam os dias.

Quando tiveres de perguntar porque teria DEUS criado as sombras da noite, pensa nos milhões de estrelas que as trevas te descortinam.

Quando tiveres de atravessar alguma DIFICULDADE no mundo, soma as bênçãos que já possuís e sentirás o coração mergulhado no oceano sem fim da bondade de Deus.







terça-feira, 25 de abril de 2017

O anjo cinzento

O anjo cinzento

Irmão X.



Para que o Homem adquirisse confiança em Sua Bondade Infinita, determinou o Senhor que vários Anjos o amparassem na Terra, amorosamente...

Em razão disso, quando mal saía do berço, aproximou-se dele um Anjo Lirial que, aproveitando os lábios daquela que se lhe constituíra em mãezinha adorável, lhe ensinou a repetir:

- Deus...Pai do Céu... Papai do Céu...

Era o Anjo da Pureza.

Mais tarde, soletrando o alfabeto, entre as paredes da escola, acercou-se dele um Anjo de Luz Verde que, por intermédio da professora, o ajudou a pronunciar em voz firme:

- Deus, Nosso Pai Celestial, é o Criador de todos os seres e de todas as coisas...

Era o Anjo da Esperança.

Alongaram-se-lhe os dias, até que penetrou uma casa de ensino superior, sob cujo teto venerável foi visitado por um Anjo de Luz de Ouro que, através de educadores eméritos, lhe falou acerca da glória e da magnificência do Eterno, utilizando a linguagem da filosofia e da ciência.

Era o Anjo da Sabedoria.

O Homem compulsou livros e consultou autoridades, desejando a comunhão mais direta com o Senhor e fazendo-se caprichoso e exigente.

Olvidando o direito dos semelhantes, propunha-se conquistar as atenções de Deus tão somente para si. A Majestade Divina, a seu parecer, devia inclinar-se aos petitórios, atendendo-lhe as desarrazoadas solicitações, sem mais nem menos; e, porque o Criador não se revelasse disposto a personalizar-se para satisfazê-lo, começou a cultivar o espinheiro da negação e da dúvida.

Por mais insistisse o Anjo Dourado, rogando-lhe reverenciar o Senhor, acatando-lhe as leis e os desígnios, mais se mergulhava na hesitação e na indiferença.

Atormentado, procurou um templo religioso, onde um Anjo Azul o socorreu, valendo-se de um sacerdote para recomendar-lhe a prática do trabalho e da humildade, com a retidão da consciência e com a perseverança no bem.

Era o Anjo da Fé.

O Homem registrou-lhe os avisos, mas, sentindo enorme dificuldade para render-se aos exercícios da virtude, clamava intimamente: 

- “Deus? Mas existirá Deus realmente? Por que razão não me oferece provas indiscutíveis do seu poder?”

Frequentando o templo para não ferir as convenções sociais, foi auxiliado por um Anjo Róseo que lhe conduziu a inteligência à leitura de livros santos, comovendo-lhe o coração e conduzindo-lhe o sentimento à prática do amor e da renúncia, da benevolência e do sacrifício, de maneira a abreviar o caminho para o Divino Encontro.

Era o Anjo da Caridade.

O teimoso estudante aprendeu que não lhe seria lícito aguardar as alegrias do Céu, sem havê-las merecido pela própria sublimação na Terra.

Ainda assim, monologava indisciplinado: 

- “Se sou filho de deus e se Deus existe, não justifico tanta formalidade para encontrá-lo...”

E prosseguia surdo aos orientadores angélicos.

Casou-se, constituiu família, amealhou dinheiro e garantiu-se contra as vicissitudes da sorte; entretanto, por mais se esforçassem os Anjos da Caridade e da Sabedoria, da Esperança e da Fé, no sentido de favorecer-lhe a comunhão com o Céu, mais repudiava os generosos conselheiros, exclamando de si para consigo: 

- “Deus? Mas existirá efetivamente Deus?”

Enrugando-se-lhe o rosto e encanecendo-se-lhe a cabeça orgulhosa, reuniram-se os gênios amigos, suplicando a compaixão do Senhor, a benefício do rebelde tutelado.

Foi quando desceu da Glória Celeste um Anjo Cinzento, de semblante triste e discreto.

Não tomou instrumentos para comunicar-se.

Ele próprio abeirou-se do revoltado filho do Altíssimo, abraçou-o e assoprou-lhe ao coração a mensagem que trazia...

Sentindo-lhe a presença, o Homem cambaleou, deitou-se e começou a reconhecer a precariedade dos bens do mundo... Notou quão transitória era a posse dos patrimônios terrestres, dos quais não passava de usufrutuário egoísta... Observou que a sua felicidade passageira era simples sombra a esvair-se no tempo... E, assinalando sofrimento e desequilíbrio no âmago de si mesmo, compreendeu que tudo que desfrutava na vida era empréstimo divino da Eterna Bondade...

Meditou... Meditou... reconsiderando as atitudes que lhe eram peculiares e, em lágrimas de sincera e profunda compulsão, qual se fora tenro menino, dirigiu-se pela primeira vez, com toda a alma, ao Todo Poderoso, suplicando:

- Deus de Infinita Misericórdia, meu Criador e meu Pai, compadece-te de mim!...

O Anjo Cinzento era o Anjo da Enfermidade.



segunda-feira, 24 de abril de 2017

Humildade Sempre

Humildade Sempre

Joanna de Ângelis




Alegra-te por fazeres parte da grandeza indescritível do Universo.

Não te subestimes, a ponto de constituíres-te uma nota dissonante, nesta sinfonia de incomparável musicalidade.

Busca sintonizar-te com a melodia que paira no ar, vibrante, afinando-te com a glória da vida.

Engrandece-te na ação das coisas de menor monta; apequena-te, quando diante das expressivas realizações que promovem os pruridos da vaidade e desarticulam as peças da simplicidade.

No contexto das expressões do Universo tu és importante, traduzindo a glória da Criação e evoluindo sem cessar.

A humildade exterioriza o valor e a conquista pessoais.

Ignorando-se, irradia-se e fomenta a paz em toda parte.

*

Jamais te deixes engolfar pela revolta, que traduz soberba e orgulho.

Quando alguém se permite penetrar de humildade, enriquece-se de força renovadora que se não exaure.

Contempla as estrelas, mas não te descuides dos pedregulhos sob os teus pés.

Sonha com os acumes esplendorosos das alturas, no entanto, não desconsideres as dificuldades-desafio da ascensão.

O Sol, que mantém a corte de astros que o cercam, desgasta-se, lentamente.

A Tecnologia, de tão salutares benefícios para a Humanidade, também responde pela tremenda poluição que ameaça a vida e a Natureza.

O metal, que reluz, se consome no burilamento a que se entrega.

Só a humildade brilha sem desgastar-se e eleva sem por em perigo.

Muitos falam, escrevem e traçam definições sobre a humildade de que se dizem possuidores ou que propõem para vivê-la os outros.

Sê tu aquele que passa incompreendido, porém entendendo o próximo e as circunstâncias, sem tempo para justificativas ou colocações defensivas.

Segue a programação a que te vinculas com o bem, não descurando o burilamento íntimo, o sacrifício pessoal.

Se outros pensam em contrário à tua atividade; cala e prossegue.

Cada qual responde a si mesmo pelo que é e pelo que faz.

A humildade difere da humilhação. Uma é luz, outra é treva; a primeira eleva, a segunda rebaixa.

Investe-te da segurança, de que, na Terra, ainda não há lugar ou pelo menos compreensão, para a verdadeira humildade de que Jesus se fez o protótipo por excelência, e, olhos n'Ele postos, ignora o mal e os sequazes dos maus, não revidando nem magoando ninguém, embora ferido, em sofrimento intenso, na certeza da vitória plena e final, após a larga travessia pelo oceano das paixões humanas dilacerantes.





domingo, 23 de abril de 2017

Louvor, rogativa e gratidão

Louvor, rogativa e gratidão

Aura Celeste



Quando você despertar, cada dia, defrontando a mensagem luminosa do sol fecundo e aspirando o ar puro e balsâmico da generosa Mãe Natureza, escutando a voz do vento no arvoredo feliz e produtivo a misturar-se à sinfonia canora das avezitas e dos animais, ore em louvor ao Pai Celeste, que lhe propicia mais uma oportunidade de luta na grande estrada da existência terrena.

Quando a dor, em forma de agonia e solidão ou vestida de enfermidade e amargura, abraçar-lhe o corpo frágil, atingindo-lhe a alma sedenta de paz, descoroçoando o seu ânimo e escurecendo o céu da sua paisagem íntima, ore, rogando inspiração e socorro para vencer a fragilidade orgânica e superar o testemunho moral, atravessando a ponte da dificuldade.

Quando o desrespeito físico houver sido regularizado e a inquietação se amainar no solo do espírito, envolvendo-o em doce e plácida serenidade, ore, agradecendo a gentileza divina que o enriqueceu de favores em forma de harmonia e paz.

Louve o Senhor em todos os dias da sua vida, cantando o amor no trabalho venturoso em favor de todas as criaturas.

Rogue-Lhe as fortunas morais da segurança e da fé e os tesouros espirituais da alegria e do trabalho, transformando sua alma em estrela brilhante em noite escura, qual bênção de tênue claridade aos que se afligem no torvelinho tempestuoso das paixões.

Agradeça ao Senhor a oferenda recebida, cada hora, como a joia do minuto que lhe enseja resgate e conquista para o Espirito — esse viajor da Eternidade.

Não macule, entretanto, a sua oração com os pedidos mesquinhos que nascem na ambição desvairada e se desenvolvem no desequilíbrio da emoção.

Respeite na oração o anjo do amor, que em nome da criatura busca o Criador, e na inspiração que logo advém descubra a resposta celeste, resultante do carinho de nosso Pai por todos nós.

Ore e trabalhe sempre e sem desfalecimento.

Abra a boca na prece e dilate os sentimentos na comunhão oracional, buscando os celeiros da inefável luz, e a alimentação substanciosa do amor divino desdobrará para você a percepção espiritual, inundando-o de vitalidade para a continuação de luta em que você se empenha.

Aura Celeste por Divaldo franco do livro:
Crestomatia da Imortalidade

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- Cisão para estudo de acordo com o Art. 46 da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610 /98 LDA - Lei nº 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.
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sábado, 22 de abril de 2017

Recordando o filósofo

Recordando o filósofo

Irmão X.





Conta-se que Epicteto, o escravo filósofo, visitado por Lisandro, liberto de Epafrodito, que lhe apresentava despedidas, em razão de mudança precipitada para Roma, entrou em fundo silêncio, diante do amigo íntimo.

– Pois não te regozijas? – exclamou o amigo, exonerado do cativeiro – não sentirás comigo o júbilo da transferência feliz?

O interpelado fixou-o, de frente, e indagou:

– Que pretendes?

– Uma viagem maravilhosa, o ambiente diverso, a modificação da vida, o esplendor da cidade imperial, a honra de ouvir os tribunos célebres, a contemplação dos espetáculos faustosos e, quem sabe, talvez o destaque entre os patrícios dominadores.

O filósofo escutava o companheiro sem o mais leve movimento.

Terminada a breve exposição, objetou, imperturbável:

– Empreendes longa e perigosa jornada, em busca de importância pessoal que te satisfaça a ambição. No entanto, que viagem já fizeste para modificar opiniões e melhorar sentimento?

O amigo surpreendido não conseguiu responder.

– Procuras ambiente diverso – prosseguiu o sábio sem alterar-se –; todavia, em que idade tentaste a própria renovação? Odeias sempre que te ferem, reages quando te insultam,
justificas-te apressadamente quando te acusam de alguma falta... Que novidades poderás encontrar no caminho da vida? Desejas o esplendor da cidade dos Césares, mas não acendeste ainda a mais humilde candeia dentro de ti. Queres o júbilo de escutar os oradores famosos; porém, jamais consultaste alguém sobre os recursos que te façam melhor. Buscas espetáculos extravagantes para os olhos de carne, esquecido de que há prisioneiros contemplando festas loucas das grades do cárcere. Sonhas figurar entre os que dominam, mas não tens ainda o comando da própria existência.

O amigo corou ante as palavras serenas, mas exclamou irritadiço:

– No entanto, eu agora sou livre...

Epicteto sorriu e terminou :

– Tens a liberdade, mas não fugirás de ti mesmo...

O episódio recorda-nos a própria vida.

Na juventude, cheia de sonhos, à velhice coroada de desilusões, convida-nos a verdade ao campo consciencial para os serviços de iluminação íntima. A maneira do amigo de Epicteto, contudo, repousamos à sombra das árvores floridas de mentiras deliciosas, na floresta inextricável das emoções humanas. Procuramos melodias que nos embalem os ouvidos e decorações de luxo que nos magnetizem o olhar, colhemos botões de flores e inutilizamos frutos verdes, ciosos de nossa independência, permanecera sempre os mesmos joguetes da reação inferior, quando a luta nos visita de leve.

Desejamos e realizamos no plano exterior, penetrando, em seguida, os caminhos do tédio mortal.

Esgotamos a taça de vinho embriagador para encontrarmos, no fundo, o vinagre do desalento.

Terminadas as decepções da natureza física, conservamos o derradeiro e mais terrível engano. Esperamos na morte a revelação de um paraíso maravilhoso de ambrosias e cânticos angélicos. Sonhamos atravessar sublimes pórticos de misteriosos palácios, repletos de tesouros augustos e láureas imortais.

É a viagem difícil do liberto a uma Roma diferente, aureolada de púrpuras e riquezas.

Entretanto, à frente do castelo celestial, resplendente de luzes, estacamos, defrontados por nós mesmos, em amargosas sombras do coração. Intentamos avançar, ébrios de esperança, gritando nosso júbilo diante da “terra nova”. Todavia, pesadas algemas agrilhoam-nos o espírito ao que somos, fazendo-nos reconhecer que a semeadura da indiferença, produz abundante colheita de remorsos e lágrimas. 

Reclamamos, choramos, suplica,mos...

A consciência retilínea, porém, responde calma:

– Que realizaste senão repetir, até hoje, o que fazias há séculos? Odeias, quando te perseguem; reages, quando te apedrejam; defendes-te, apressado, quando te acusam...

Não compreendeste, não ajudaste, não amaste.

Ansiosos pela fuga, contemplamos o plano infinito que se desdobra, convidando-nos à maravilhosa aventura, no limiar da Eternidade, e, tentando último esforço, para nos desvencilharmos das próprias obras, exclamamos, também:

No entanto, eu agora sou livre...

E a consciência, divina e irrepreensível, replica-nos com a serenidade imperturbável do sábio cativo:

– Tens a liberdade, mas não fugirás de ti mesmo.



sexta-feira, 21 de abril de 2017

Os minutos de Deus

Os minutos de Deus

Emmanuel



Se é imperioso reconhecer a nossa obrigação de dar a César o que é de César, somos constrangidos a observar que a experiência material reclama excessivamente da criatura.

O homem, quando integrado em suas funções habituais, é convidado a obrigações mil cada dia.

Preocupações, ansiedades, exigências e ilusões obscurecem a visão da alma encarnada que, pouco a pouco, quase sempre, desce devagar ao abismo largo da tristeza e do desencanto, quando não dispõe dos recursos da fé.

Isso, contudo, acontece vulgarmente, porque raros são os homens que se lembram dos minutos de Deus, no círculo das horas.

Não nos esqueçamos de que o poder humano, seja qual for a sua origem, procede do Eterno Pai, e, se é justo pagar os tributos que nos competem na esfera densa, quando nos envolvemos nos fluidos carnais, ninguém está impedido de libertar-se, em espírito, a fim de procurar o Senhor e fruir-lhe a bondade infinita.

Inicia a tua obra de auto-libertação, concedendo alguns instantes ao Criador em suas criaturas e em suas edificações, cada dia, distribuindo algo de ti mesmo em amor, em generosidade, em paz, cooperação, bom ânimo e alegria e observarás que o espaço e o tempo do Senhor, em tua vida, crescerão gradativamente, exonerando-te de pesados 
impostos para com a experiência comum.

Entrega a César o que a ele pertence, mas não olvides as obrigações que nos ligam ao alto, porque, assim, nos adiantaremos para as Celestes Moradias, confiando os nossos melhores sentimentos ao culto da fraternidade, com trabalho espontâneo a benefício dos nossos semelhantes, em toda parte.

Ninguém permanece inibido de cultivar a verdadeira felicidade, que somente floresce e frutifica no santuário do coração.

Consagramos, pois, a Deus, os minutos de bondade e harmonia que devemos improvisar em Seu Nome, em favor da comunidade, dentro da qual evoluímos na luta cotidiana, e o Senhor, em sua magnanimidade imensurável, nos entregará a Eternidade com libertação imperecível.

***

Michael Drayton em “Mooncalf (Works, II, 511)”: Good luck never comes too late. felicidade nunca chega demasiado tarde.