“E não à toa é um admirador muito grande de São Francisco de Assis. Se eu fosse defini-lo como pessoa, eu diria que ele é um franciscano”, diz a escritora Ana Landi.
Favela do Pau da Lima, Salvador, Bahia. Em meio ao abandono da periferia, um oásis construído ao longo de 63 anos. Um portão azul dá acesso à escola e comida a 3,5 mil crianças pobres. E atendimento médico a 2,5 mil adultos. Todos os dias e tudo de graça.
Quatrocentos voluntários atendem à convocação do fundador. “Nós aprendemos com ele que ajudar o próximo é a maior benção da vida”, conta a pedagoga Clese Cerqueira.
Ele é o médium em atividade mais importante do Brasil. O Fantástico encontrou Divaldo Franco à hora do café da manhã.
Fantástico: Com licença. Muito bom dia.
Divaldo Franco: Bom dia.
Fantástico: Atrapalhar o café? Muito prazer.
Aos 87 anos, Divaldo anda com desenvoltura pela Mansão do Caminho. Uma verdadeira cidade com ruas, casas, biblioteca, hospital, padaria, que ele planejou e ajudou a construir.
Fantástico: Tem cada ladeirão, né?
Divaldo Franco: Tem. Porque eram morros. Isso aqui foi feito à picareta, quando nós começamos.
Fantástico: As ruas foram abertas a picareta?
Divaldo Franco: Tudo a picareta.
“Nunca veio um trator aqui. Isso aqui tudo aqui foi feito no braço, no braço do amor”, diz a professora Nailda Lima.
Nailda tem 70 anos. Chegou à mansão pequenininha, e foi uma das 641 crianças órfãs de quem Divaldo obteve a guarda na Justiça. “Fomos criados com todo o amor, com toda a liberdade de criança”, conta.
Desde a fundação, em 1952, a Mansão do Caminho já tirou 160 mil pessoas da miséria, oferecendo escola e profissão.
Nailda: Me formei em 1968, em professora. A primeira a casar fui eu, com tio Divaldo, onde eu tive essa benção.
Fantástico: Aparece naquela fotografia espiando no quarto. O que ele tá fazendo?
Nailda: Ele está dizendo: ‘você vai dormir aqui’.
Brincalhão, sem dúvida, mas o sempre alinhado Divaldo Franco teria a vaidade dos normais?
Fantástico: O senhor, imagino, pinta o cabelo.
Divaldo Franco: Sem dúvida.
Fantástico: É vaidade?
Divaldo Franco: Não. Gosto, me faz bem. E a autoestima me impõe tornar-me, pelo menos, menos assustador para os outros. E lembrei que Chico Xavier quando colocou a peruca disse assim: eu não tenho direito de assustar os outros com a minha feiura.
Os dois maiores médiuns brasileiros se conheceram ainda jovens. Foi Divaldo quem procurou Chico. “Ele nunca me tinha visto. E então chegou-se a mim, estendeu a mão e disse: ‘olá, Divaldo. Como vai?’”, conta Divaldo Franco.
Sempre foram muito próximos. Mas alguns seguidores de Chico acusaram Divaldo de plagiar obras psicografadas pelo médium mineiro. Então Divaldo se afastou deles.
Fantástico: Algumas pessoas que eram ligadas a Chico Xavier torcem um pouco o nariz pra você. Isso é verdade?
Divaldo Franco: É verdade. É natural.
Fantástico: Por quê?
Divaldo Franco: São fenômenos humanos. As pessoas nos veem conforme sua própria ótica.
A escritora Ana Landi, autora da primeira biografia não espírita de Divaldo, que será lançada nesta segunda-feira (23), diz que os dois se reaproximaram. E que depois da morte de Chico, Divaldo fez questão de visitar seus seguidores.
“Como se fechasse um ciclo, né? Em que duas das figuras mais importantes do espiritismo no Brasil e talvez no mundo fizessem as pazes mesmo sem o Chico presente”, diz Ana Landi.
Divaldo Franco rejeita o posto de sucessor de Chico Xavier. Diz que é apenas mais um médium. E que afora o dom especial, como se fosse um sexto sentido, o médium é uma pessoa comum.
“Não tem nenhuma característica exterior. Quando, por exemplo, alguém diz que é médium, e tem determinados gestos estranhos, faz caretonas, está arrepiado, isto é um distúrbio do sistema nervoso, nada tem a ver com a mediunidade”, afirma Divaldo Franco.
Divaldo convida o Fantástico para uma reunião mediúnica liderada por ele. É a primeira vez que ele autoriza a entrada de uma equipe de televisão. Vários médiuns sentam em volta da mesa. Divaldo fica na ponta.
De acordo com o que os espíritas acreditam, os médiuns recebem comunicações de pessoas que já morreram, dando voz a elas. De olhos fechados, sob a luz de uma lâmpada verde, Divaldo psicografa diante da câmera.
Dois espíritos teriam lhe enviado mensagens. Joana de Ângelis, sua mentora espiritual, e o poeta indiano Tagore, Prêmio Nobel de Literatura de 1913, morto em 1941, que lhe ditou um poema. “As flores juvenis emurcheceram e alcancei a idade adulta em vãs tentativas de encontrar algo que me plenificasse”, lê Divaldo.
Divaldo psicografou 258 livros, que já venderam 10 milhões de exemplares pelo mundo afora. O dinheiro dos livros é todo revertido para as obras sociais. Ele não fica com um tostão. Mora na Mansão do Caminho, e vive com a modesta aposentadoria de funcionário público.
“Nós não temos o direito de viver profissionalmente desse mecanismo de iluminação de consciências”, afirma Divaldo Franco.
A amizade acima da religião o fez aproximar-se de irmã Dulce, a famosa freira católica que ele visitava com frequência. Vendo que ela estava mal acomodada em uma cadeira de madeira, quis dar uma cama de presente. “Porque é tão desconfortável essa cadeira. Ela sorriu e disse: ‘não faça isso. Essa cadeira é missionária’. Com ela eu já consegui dez camas para o nosso hospital. Todo mundo chega, vê, compadece, manda uma cama e eu mando lá para a UTI e fico aqui esperando”, relembra Divaldo.
Essa amizade fácil com outras lideranças é um traço da personalidade conciliatória de Divaldo em que o princípio da tolerância é exercido, digamos, de maneira radical. Noventa por cento das crianças atendidas, que vivem nas comunidades vizinhas, são de famílias católicas ou evangélicas. Não existe nenhum tipo de filtro religioso. O filtro que existe é o da necessidade absoluta.
Edinilson Pereira da Silva: Márcia! Cadê Márcia? Bom dia. Nós somos da Mansão do Caminho.
A missão de Edinilson Pereira da Silva é encontrar as crianças que mais precisam da Mansão do Caminho. “Eu vi uma situação sub-humana. Onde é uma casa, se é que nós podemos chamar de casa, um só vão, junto de um despenhadeiro”, conta.
Márcia já tem um filho na mansão. “O pai dele rejeitou ele e a Mansão do Caminho que abraçou ele. Foi o pai e a mãe nas horas em que ele estava mais precisando”, afirma a dona de casa Márcia Pinto. E agora quer que seus outros quatro meninos tenham a mesma sorte. “Tudo o que eu quero é meus filhos crescendo em Cristo e ter uma vida melhor do que a minha”, deseja Márcia Pinto.
Márcia é evangélica, mas Edinilson nem quis saber.
Edinilson Pereira da Silva: O nosso objetivo é atender o povo, não a religião.
Fantástico: Você nem perguntou?
Edinilson Pereira da Silva: Não é importante. Não é relevante. Não existe esse item no nosso cadastro.
O próprio Edinilson foi acolhido por Divaldo aos três anos de idade. Estudou e virou padeiro profissional. Por gratidão, visita famílias que podem ter o mesmo destino. “Me sinto gratificado quando vejo aqueles visitados adentrar a Mansão do Caminho. Eu me sinto emocionado com esse trabalho”, conta.
Divaldo diz que sua missão está chegando ao fim.
Fantástico: Você sabe o dia em que vai morrer?
Divaldo Franco: Não, mas sinto que está se aproximando. Aos 87 anos, não se pode esperar muito.
Mas diz que já tem outros livros prontos. Quer garantir a continuidade de projetos como o do hospital de parto natural. “Pariam na rua. Várias vezes demos socorro e pariam dentro da Kombi. Então veio a ideia de fazer o centro de parto e aqui estamos”, conta Divaldo Franco.
O homem que diz conversar com os mortos já trouxe à vida 1,5 mil bebês. É o caso de Murilo que veio ao mundo com 49 centímetros e pouco mais de 3 quilos mostrando para que serve uma vida luminosa.
“Para poder transmitir um pouco de sol. Porque há tantas pessoas em pleno inverno nesses dias de claridade. E passar deixando pegadas que apontam o caminho de felicidade aos que vem atrás”, diz Divaldo Franco.
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