quarta-feira, 1 de maio de 2024

Da Lei do Trabalho

Da Lei do Trabalho

Richard Simonetti



Em favor do equilíbrio

"Em mundos mais aperfeiçoados, os homens se acham submetidos à mesma necessidade de trabalhar?" "A natureza do trabalho está em relação com a natureza das necessidades. Quanto menos materiais são estas, menos material é o trabalho. Mas, não deduzais daí que o homem se conserve inativo e a ociosidade seria um suplicio, em vez de ser um beneficio." (O Livros dos Espíritos - Questão n°678 - Da Lei do Trabalho).
Consciência cósmica do Universo, presença imanente na obra da Criação, Deus é, segundo a definição magistral contida na primeira questão de "O Livro dos Espíritos", "a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas."

A semente que germina, a flor que desabrocha, a criança que vem à luz, originam-se de outros seres. A Natureza lhes oferece alimento, o tempo lhes impõe transformismo incessante, a Vida cumpre seus ciclos, mas é o Governador Supremo quem comanda o processo.

Há leis físicas que regem o Universo, como a da gravitação, enunciada por Newton: "os corpos se atraem na razão direta de suas massas e na razão inversa do quadrado da distância que os separa." Obviamente alguém a instituiu e lhe deu cumprimento, já que se trata de um efeito inteligente e, mais que isso, imutável porque absolutamente perfeito. O autor e executor dessa lei e das demais que regem a Criação, é Deus, o Motor Supremo, no dizer de Aristóteles, que movimenta o Universo e sustenta a Vida.

Seguindo essa mesma linha de raciocínio poderíamos concluir que se por um único momento Deus deixasse de exercitar seus poderes soberanos, sobreviria o caos. Por isso Jesus dizia: "Meu Pai trabalha até agora..." (João 5:17), definindo a ação divina, eterna, onipotente, onipresente.

Segundo a narrativa bíblica, fomos criados à imagem e semelhança de Deus.

Consequentemente, há algo em nós que identifica essa filiação divina. Trata-se do poder criador, que nos distingue dos demais seres da Criação. Seu desenvolvimento e equilíbrio estão subordinados à ação disciplinada ou trabalho. Sem esse exercício nosso universo interior estaria submetido à mesma desagregação que atingiria o Mundo se Deus decidisse "descansar".

No atual estágio evolutivo estamos vinculados a um planeta de matéria densa, usando pesado "escafandro" - o corpo - cuja sustentação exige intermináveis labores que, indispensáveis à preservação da vida física, ajudam-nos a superar a dificuldade de iniciativa e a indolência que decorrem da pouca familiaridade com o uso disciplinado de nossas potencialidades criadoras. Enquanto permanecíamos no "ventre da natureza", estagiando na irracionalidade, antes da conquista da razão, essa passividade era natural. Hoje ela é comprometedora e nos desestabiliza. Por isso costuma-se dizer que "mente vazia forja do demônio".

A passagem mitológica de Jeová impondo a Adão e Eva o sustento com o "suor do rosto", oferece-nos um simbolismo precioso. Longe de significar um castigo, o trabalho pela sustentação da vida na Terra é um abençoado recurso de equilíbrio para o Homem que, emergindo do sono milenar da animalidade, não aprendeu, ainda, a usar os prodigiosos poderes que configuram sua filiação divina, a medida em que o Espírito evolui, seu labor, que em principio atendia exclusivamente as próprias necessidades, orienta-se no sentido de contribuir para a harmonia universal, transformando-o, progressivamente, em instrumento legitimo da vontade do Senhor, coparticipe na obra da Criação, como o filho adulto que, consciente e esclarecido, conhece suas responsabilidades, dispondo-se a colaborar com o pai.

Nesse caminho estão comunidades como a de "Nosso Lar", cidade do Além, descrita pelo Espirito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, em obra homônima.

Livres das necessidades inerentes ao corpo físico, disciplinados e ativos, seus habitantes dedicam-se ao serviço do Bem, em favor de companheiros comprometidos com o desajuste que permanecem compulsoriamente em zonas purgatoriais, no Umbral.

Em estágios mais altos de espiritualidade e desenvolvimento das potencialidades criadoras, encontramos os Engenheiros Siderais que presidem as manifestações da Natureza, executando a Vontade Divina.

O exemplo maior está em Jesus, governador da Terra, segundo Emmanuel, que orienta, desde os primórdios de nosso planeta, as coletividades que aqui evoluem.

Essa condição está expressa na mesma citação evangélica (João 5:17), quando o Mestre, após proclamar que Deus trabalha incessantemente, completa "...e eu também".

Mesmo na Terra, se buscarmos exercitar a mente em raciocínios relativos à Vida Eterna, tenderemos a orientar nosso trabalho muito mais em favor do bem-estar coletivo do que em nosso próprio beneficio, integrando-nos no ritmo da harmonia universal, sob a "batuta" de Deus, o Supremo Regente.

Natural, portanto, que os grandes benfeitores, em todos os setores da atividade humana, sejam, essencialmente, grandes servidores, dedicando suas existências ao ideal sublime da fraternidade humana. Compreensivelmente, são sempre fortes e empreendedores, perseverantes e capazes, ainda que enfrentando problemas e dificuldades variadas. E que, plenamente identificados aos propósitos da Vida, instrumentos fieis do Bem, fluem incessantes por eles, a se expandirem ao seu redor, as bênçãos de Deus.

O Pão da Vida

"Porque provê a Natureza, por si mesma, a todas as necessidades dos animais?" "Tudo em a Natureza trabalha. Como tu, trabalham os animais, mas o trabalho deles, de acordo com a inteligência de que dispõem, se limita a cuidarem da própria conservação. Dai vem que do trabalho não lhes resulta progresso, ao passo que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva acima de si mesmo..." (O Livros dos Espíritos - Questão n°677 - Da Lei do Trabalho).
É elementar que não podemos analisar a Bíblia em seu sentido literal, sob pena de cairmos em infantilidades como a de supor que Deus tenha criado o Universo em seis dias, descansando no sétimo, como se fora um operário cósmico.

Ao longo do Velho Testamento está sempre presente a concepção antropomórfica de um criador à imagem e semelhança do Homem, com os mesmos impulsos passionais, os mesmos desejos e contradições e até a necessidade de repousar.

O Universo, segundo está definido pela Ciência, tem no mínimo quinze bilhões de anos; a Terra, perto de quatro bilhões e meio. São eternidades diante dos acanhados quatro ou cinco mil anos que nos fazem supor os textos bíblicos para o inicio de tudo.

Da mesma forma, é ridículo, em face do conhecimento atual, conceber que Deus tenha moldado Adão da argila, soprando-lhe a vida, e que uma de suas costelas foi a matéria-prima para o nascimento de Eva. Sabemos hoje que a presença do Homem na Terra representa a culminância de uma evolução que começou há bilhões de anos, com manifestações primitivas de vitalidade, em organismos unicelulares que se desenvolveram lentamente, até atingir a complexidade necessária para a manifestação da inteligência.

A Bíblia revela que Adão e Eva perderam o paraíso por terem cometido o "pecado" de comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Um incrível absurdo, se tomado ao pé-da-letra. Imaginemos um pai ameaçando o filho: "Dar-lhe-ei proteção, alimento, moradia e atenção, mas com uma condição: que você permaneça na ignorância. A partir do momento em que se atrever a qualquer empenho de aprendizado eu o expulsarei!"

E como Adão e Eva poderiam incorrer em desobediência se, antes de cometerem o "crime" de discernir entre o bem e o mal, não tinham noção do que é certo ou errado, justo ou injusto, obedecer ou desobedecer?

Erich Fromm, famoso psicanalista alemão, escreve que o pecado original simboliza a conquista da razão. A partir do momento em que algumas espécies animais, parentes dos símios antropoides, começaram a ensaiar o raciocínio, saíram da Natureza, isto é, deixaram de ser conduzidas e se viram na contingência de caminhar com seus próprios pés. Surgia, assim, o Homem, o ser pensante, que perdia o paraíso ou, mais exatamente, a plena identificação com a vida natural.

O castigo divino, "ganhar o pão de cada dia com o suor do rosto", registrado na Bíblia, apenas exprime uma contingência imposta pelas necessidades evolutivas do Homem, não mais um simples animal irracional, controlado pelo instinto, mas um ser inteligente chamado a exercitar o livre-arbítrio.

O trabalho configura-se, assim, como uma lei de observância indispensável, não apenas em favor de sua sobrevivência, mas também para que desenvolva a inteligência e supere em definitivo os resquícios de irracionalidade.

No irracional, guiado pelo instinto, o esforço pela subsistência é mínimo. A mãe natureza o atende. No homem, orientado pela razão, que deixou o berço e começa a andar, há uma solicitação bem maior de trabalho que tanto mais complexo se torna quanto maior o seu desenvolvimento intelectual, sofisticando suas necessidades de conforto e bem estar.

O aprimoramento da inteligência é uma benção, mas lhe impõe dúvidas e incertezas que não existiam no "paraíso".

A principal delas é saber sobre si mesmo, decifrar os porquês da existência e, sobretudo, descobrir o que há além da dimensão física, já que algo lhe diz, nas profundezas da Alma, que a Vida sobrepõe-se à morte do corpo físico.

Para tanto é preciso trabalhar por um outro tipo de alimento, que muito mais que o mero suor do rosto, exige o desenvolvimento da sensibilidade, a disciplina das emoções e muita humildade, para que, habilitado a enxergar além das limitações físicas, encontre os sinais de sua gloriosa destinação.

Algo desse "pão da vida" foi oferecido ao Homem num instante glorioso da história humana, por um mensageiro divino que se chamou Jesus.

Richard Simonetti do livro:
A Constituição Divina

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