quarta-feira, 15 de maio de 2024

Autonomia, solidariedade e resignação

Autonomia, solidariedade e resignação

Louis Neilmoris



O equilíbrio espiritual é uma conquista individual. Cada qual tem a autonomia de se equilibrar espiritualmente. Logo, a primeira faceta da terapia espírita é iluminar-se, para, a partir daí, ajudar as consciências de que elas próprias podem se autotratarem — quando conquistamos nossos objetivos por nossas próprias capacidades. Desta forma, o Espiritismo nos enseja ver que cabe a cada qual a tarefa de nos tornarmos perfeitos e felizes, embora haja uma ligação interpessoal nesse processo em que somos assistidos e assistimos os nossos semelhantes, num aprendizado coletivo do qual se extrai o aprendizado individual. Portanto, dentro da terapia espírita estão os conceitos autonomia — esforçar-se para se autodepurar — e solidariedade — colaboração com os irmãos e com o meio ambiente onde se vive.

Entretanto, na condição humana, por mais que adiantado que o Espírito seja, dentro do processo de aperfeiçoamento, a carne impõe as durezas próprias da natureza física. Na geração atual, por exemplo, o período da infância ainda é longo, pelo que vemos quanto tempo o Ser espiritual demora se adaptando à dimensão terrena; vemos como o corpo material perece rapidamente e o quanto o período geriátrico ainda é de demasiada debilitação orgânica para o sujeito. Diante desses condicionamentos naturais, só nos restam dois apontamentos a observar: 1) que devemos ser resignados, uma vez que tais imposições estão acima de nossa alçada; e 2) compreendermos que todos esses desígnios de Deus têm um propósito sábio, bom e justo; que os sofrimentos e reclames da vida física são lições para nosso intelecto (porque impele as inteligências na Terra para que trabalhem no desenvolvimento de novas alternativas para o bem-estar comum), assim como as dificuldades carnais são provas para nossas virtudes (como a supracitada, resignação).

Aliás, para bem dizer, quem dentre esta geração pode calcular o valor de uma enfermidade que, embora castigue o homem fisicamente, o livra de mais e mais excessos, que o remete a preciosos instantes de reflexão — ainda que envolto de reclamações e até blasfêmias — e o encaminha para o encontro com o seu eu espiritual? Não temos visto esporadicamente almas nobres suportarem cruciantes dores enquanto sustentam um olhar esperançoso, um sorriso firme e as mãos unidas e voltadas para o alto? Como eles louvam aos céus, tão logo retornam à pátria espiritual, pelas penúrias sofridas no orbe terrestre, pois que com isso seus perispíritos então gozam de indizível alívio. Os homens choram o falecimento dos parentes e amigos — especialmente em se tratando de mortes prematuras — ignorando a libertação espiritual que aí se processa.

A força de resignação é por si só um exercício de autoterapia.

Lembremo-nos aqui da pequena prece conhecida como "Oração da Serenidade": 

Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária
para aceitar as coisas que não podemos modificar,
coragem para modificar aquelas que podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das outras.
Louis Neilmoris do livro:
Terapia Espírita

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