quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Sugestão e persuasão

Sugestão e persuasão

Deolindo Amorim



Embora estejam bem próximas nos resultados, sugestão e persuasão usam processos diferentes. É verdade que muitas pessoas reagem a qualquer forma de sugestão, como também não se deixam influenciar por argumentos persuasivos. Em grande parte, porém, o que a experiência bem demonstra, o elemento realmente sugestionável obedece à ordem do operador, como no caso específico da sugestão hipnótica. Mas ORDENAR e PERSUADIR são operações diferentes. Uma e outra podem ser praticadas para o Bem ou para o Mal, dependendo naturalmente do fim que se tenha em vista. É um problema de ordem ética ou de consciência. Escrúpulo moral, enfim. Independentemente da sugestão hipnótica, que exige técnica apropriada e muita segurança no terreno, há outras formas de sugestão, até mesmo na vida cotidiana.

Há pessoas, por exemplo, que têm muita autoridade sobre outras por força de amizade ou admiração exagerada, senão às vezes também por atrativos pessoais. Pela convivência constante, o elemento que é sempre admirado ou exaltado como ídolo passa a exercer uma influência fora do comum, e, progressivamente, essa influência transforma-se em poder sugestivo absorvente. Daí por diante, aquele que se deixou influenciar demais chega a um ponto em que não tem vontade, já não é mais dono de si, como se diz, pois fica dependendo do outro em quase tudo. E quantos, ainda mais, ficam sugestionados por um discurso empolgante ou comovente! Por outro lado, há muitos casos de sugestão coletiva.

Já ouvi contar (não sei se é verídica) a história de um comandante que, nas horas mais difíceis da luta, quando notava que os soldados estavam ficando desanimados, mandava que a banda de música tocasse um dobrado forte, desses dobrados arrebatadores, dava um grito de encorajamento e levava a tropa de um ímpeto, como se estivesse eletrizada. E não é uma forma de sugestão? Certamente que sim. A música vibrante ou marcial era um recurso emocional para sacudir, enquanto a voz imperativa do chefe, já pela sua autoridade, já pelas vibrações de que se impregnou a decisão, imprimiu uma expressão sugestiva, e, portanto, dominadora.

A sugestão chega de um impacto e geralmente contagia não apenas um indivíduo, mas o grupo inteiro. Há inúmeras experiências, anotadas na própria convivência do dia a dia. E por que não pensar também nos casos de sugestão de origem espiritual, se o elemento desencarnado sabe muito bem aproveitar certas disposições e tendências humanas? A sugestão de um Espírito, desde que encontre facilidade no encarnado, transforma-se em ideia fixa no decorrer de algum tempo. As observações neste campo oferecem alguns dados de referência para estudos sérios, não há dúvida. Se alguém, suponhamos, tem inclinações para “revelações” deslumbrantes, vai a uma sessão mediúnica e lhe dizem lá que o seu passado é muito ilustre ou lhe incutem a ideia de que já fora nobre ou tivera “sangue azul” em existência anterior, e se a ideia for realmente absorvida ou incorporada à vida mental, naturalmente vai influir, aos poucos, no procedimento, devido às repercussões na própria personalidade. A criatura começa a sentir-se outra, às vezes até com a postura de um nobre ou aristocrata dos velhos tempos. Certas “revelações” de caráter pessoal têm muito poder sugestivo.

Quem, afinal, já estudou bem a Doutrina e já fez reflexões profundas não tem preocupações com o que teria ou poderia ter sido noutras existências, mas procura esclarecer-se na vida presente, preparando um futuro melhor a fim de evitar, certamente, uma experiência reencarnatória mais difícil ou penosa. Cada qual, em sua intimidade, ao observar as circunstâncias de sua vida, e se já tem noções claras acerca da reencarnação, mais ou menos calcula que tipo de vida tivera no passado. Mas é autoexame ou inferência muito subjetiva, não é assunto para revelações e muito menos para publicidade. Claro que há comunicações e fatos pelos quais nós aceitamos comprovações reencarnatórias. Mas o que não é aconselhável, segundo o ensino espírita, é o desejo sempre insatisfeito de estar em volta de médiuns para saber do passado ou “descobrir” alguma encarnação anterior, com brasões ou grandeza do mundo. Se alguém, lá em suas cogitações, tem a desconfiança de que já foi príncipe ou rei em passado longínquo, então guarde a desconfiança para seu governo e procure ser cada vez mais humilde, agora, a fim de eliminar os resíduos espirituais de orgulho ou de glórias terrenas. Se vier a supor, ou imaginar, que já foi tirano, um mandatário cruel, cuide logo de cultivar a bondade, tomando-se brando nas palavras e nos atos, a fim de aproveitar bem a existência atual. Não temos necessidade, porém, de viver preocupados com as nossas existências anteriores, pedindo comunicações aqui, ali, ou tentar obter alguma “revelação” de interesse puramente particular. A ideia constante de receber uma “revelação” sobre o passado pode transformar-se em sugestão, às vezes de efeito perturbador.

Há outra modalidade sugestiva, muitas e muitas vezes observada em sessões de desenvolvimento mediúnico. Quando, depois de algum tempo, o candidato a médium, o que vai à mesa de experiência e nada recebe, começa a querer desistir, o dirigente da sessão passa a exortá-lo, não como censura, mas com a boa intenção de fazê-lo um médium da casa em pouco tempo:

— Vamos, meu irmão! Você vai receber! A entidade está aí! Dê passividade!

Ora, aos poucos a palavra do dirigente transforma-se em sugestão. E o iniciante, naturalmente para sair de uma situação vexatória, vai repetindo expressões usuais:

— A paz de Deus esteja com todos.

— Meus irmãos, muita fé e muita caridade.

E assim por diante...

Vemos, por aí, quantos problemas o quadro geral de sugestão coloca em nossa frente a exigir, sem dúvida nenhuma, estudo e meditação.

Cabe aqui, ainda, uma referência à sugestão hipnótica, embora de passagem, apesar da bibliografia que já existe sobre o assunto. Entretanto, além dos depoimentos já divulgados em livros, jornais e revistas, há muitas observações pessoais, com aspectos bem relevantes. Seja como for, a sugestão é um campo complexo e, por isso mesmo, exige técnica apropriada, muita segurança no terreno e, acima de tudo, muita consciência de responsabilidade. Ninguém, pois, deve tentar a hipnose a esmo ou por brincadeira, pois é uma faixa experimental das mais delicadas, não é um espetáculo nem um domínio livre, aberto à curiosidade vulgar. Nos trabalhos de hipnose, como se sabe, o operador assume a bem dizer uma posição de comando perante o paciente, pois dá ordem, quando o paciente já está devidamente preparado, e este obedece. Também já se sabe que há pacientes refratários a qualquer interferência sugestiva. Muitos, portanto, obedecem mas há os que não o fazem pois nem todos são hipnotizáveis. Todavia, a influência sugestiva muitas vezes chega a ser total, porque domina por completo. Cada paciente, no entanto, é um mundo em si, tem suas reações próprias e organização psíquica mais sujeita ou menos sujeita a certas ordens. Isto quer dizer que, como demonstra a própria experiência, existem tipos vulneráveis e tipos invulneráveis, impenetráveis.

Decorre dai, naturalmente, a classificação de duas categorias de pacientes: 1ª) os que são realmente passíveis de influência externa, ainda que seja avassaladora ou absorvente; e 2ª) os que não abrem mão de sua faculdade crítica, não perdem a noção de livre-arbítrio. Há muitos e muitos desses casos. O emprego da hipnose, entretanto, muitas e muitas vezes se toma necessário e de efeito salutar, dependendo da intenção. Se o trabalho não tem uma orientação ética ou não está inspirado no desejo de fazer o bem, ou se o objetivo oculto se ressinta da falta de escrúpulos de ordem moral, o que se pode esperar, com o tempo, é o desequilíbrio, pois nunca se deve explorar o mundo íntimo de alguém com propósitos duvidosos. Se a sugestão tem o seu lado positivo e o negativo, como tudo quanto se faz entre criaturas humanas, a persuasão também pode insinuar decisões benéficas ou levar a procedimentos desastrosos.

Persuadir é convencer. E, para convencer, envolvendo-a pouco a pouco, até que a criatura bem trabalhada mude de ideia e tome uma resolução inevitável, naturalmente é preciso tempo, habilidade, argumentos bem calculados. Há benefícios decorrentes de um trabalho de persuasão honesto e caridoso. Nos casos, por exemplo, de pessoas que se consideram vencidas ou arrasadas por desgostos, prejuízos ou injustiça, e já estão quase no estado de extremo desespero, muitas vezes uma conversação bem encaminhada e persuasiva com o desejo de ajudar, consegue perfeitamente remover dificuldades que nenhuma técnica remove. É o que se faz constantemente nas casas espíritas, a Caridade no sentido mais exato da palavra.

Há ocasiões em que se modifica todo o panorama mental da criatura sofredora e profundamente deprimida, sem ser necessário levá-la às sessões mediúnicas. O trabalho de persuasão consiste em convencê-la realmente, depois de algum tempo de paciência e assistência amorosa, de que nem tudo está perdido. Aos poucos, com argumentos ponderados e com segurança perseverante, a situação modifica-se e, por fim, o paciente que entrara no Centro sem esperança, sentindo-se abandonado e perdido, adquire como que uma visão nova do mundo e da vida. E reergue-se, porque se convence de que não está só e de que se lhe abre, agora, uma nova perspectiva.

A outra face do processo persuasivo é profundamente negativa. É um modo de convencer para servir-se de um indivíduo neste ou naquele sentido. Assim, aos poucos, aparentemente sem pressa, mas injetando ideias cuidadosamente preparadas, o interessado na doutrinação do paciente obtém o que quer, se não encontra boa formação espiritual capaz de repelir as insinuações jeitosas. A vitima da persuasão fica como que sendo usada como se fosse um objeto. Rumorosos casos de fraudes, assim como crimes de natureza política, etc. foram cometidos por influência de uma urdidura persuasiva, às vezes camuflada e demorada, mas sempre pertinaz. Não nos faltariam exemplos ilustrativos na vida social ou nos conciliábulos do vício ou do crime... Suponhamos a situação do indivíduo que é Caixa de um banco ou de uma empresa. É honesto e trabalhador. Mas vive com dificuldades e ainda não está muito amadurecido para contornar certos embaraços. Vem outro indivíduo, com interesses ocultos, e começa a dizer que o Caixa está trabalhando demais e poderia mudar o rumo de vida, não lhe sendo difícil sair das aperturas e ficar rico sem que ninguém soubesse do golpe. Dia a dia, pacientemente, a mesma conversa ao pé do ouvido, incutindo um mundo de coisas na cabeça do amigo até que ele fique com a cabeça virada pelo poder de persuasão e concorde em dar um desfalque. Resistiu no começo, mas a persuasão do outro, que estava em arrumar dinheiro fácil, apresentou tantos meios enganosos, usou de tanta habilidade que, por fim, chegou ao ponto desejado. A fraqueza espiritual do funcionário, responsável pelo dinheiro da empresa ou do banco, cedeu às insinuações. Convenceu-se de que deveria enriquecer de uma hora para outra e deu mesmo o desfalque! Foi a derrocada! Há muita gente que sabe convencer pela persuasão, mas no sentido maléfico.

As crônicas criminais registram um atentado, ocorrido já no final do século passado, também envolvido nas teias da persuasão danosa. Houve uma trama política, cujos interessados queriam encontrar alguém que servisse de instrumento e este foi exatamente um rapaz sem instrução nem discernimento, mas bem “trabalhado” durante certo tempo. Meteram-lhe na cabeça que poderia tomar-se famoso e sair da condição obscura em que vivia, etc., etc. Ninguém lhe deu propriamente uma ordem para que cometesse o crime a serviço de terceiros, porém, houve um trabalho manhoso de insinuações e promessas aparentemente vantajosas para a sua inexperiência. E ele aceitou a perigosa incumbência, já agora tocado pela ambição de se tomar uma figura importante, ser chamado de herói... Vítima de um processo de persuasão, criminosa evidentemente, deixou-se usar por ignorância, terminando a existência de um modo dolorosamente trágico!

A História tem muitos casos semelhantes.

Finalmente, a sugestão e a persuasão podem muito bem ser empregadas como bons meios de auxílio físico e espiritual, quando há dignidade e amor, mas podem, infelizmente, ser praticadas para fins nocivos quando não há nenhum respeito pela pessoa humana.

Deolindo Amorim do livro:
Uma Nova Era 
de Deolindo Amorim e Celso Martins


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