Dádivas
Eros
À porta do templo faustoso a caravana estacionou, e do palanquim armado sobre o dorso do elefante adornado de seda e pedras preciosas, o marajá desceu com pompa, ao som de clarins e rufar de tambores.
Um imenso tapete vermelho alongou-se coberto de pétalas de rosas perfumadas desde a porta de entrada até ao altar, onde a estátua do Mestre imobilizado, apresentava a face em pedra silenciosa, enigmática.
Passo a passo, o dominador avançou até aos degraus de mármore que davam acesso aos pés do Senhor.
Curvando-se, em profunda reverência, desdobrou precioso tecido de veludo e retirou rutilante gema, que depositou no lugar enflorescido com lótus de brancura invulgar, exclamando:
- Eis a minha oferenda, Senhor! É a maior gota de sangue da terra ferida, este rubi lapidado e misterioso. Brindo-o a Ti, Triunfador glorioso, homenageando a Tua magnanimidade.
Dos turíbulos de prata e ouro evolavam os perfumes do incenso e da mirra, que bailavam no ar em fios de fumaça leve.
No silêncio dominador, deslumbrado e submisso ante a grandiosa figura, teve, porém, a impressão que a estátua monumental oscilou, e da pedra marrom salpicada de brilhantes e esmeraldas, se destacou uma forma luminosa, que se condensava e, descendo com majestade, tomou a pedra preciosa nas mãos e devolveu-a ao doador, redarguindo:
- Por quê me devolves aquilo que já me pertence? Esqueces-te que eu sou o Senhor da Vida, e que tudo que existe é de minha propriedade? Por que me homenageias, a mim que não necessito de nada?
E ante o assombro do soberano, prosseguiu, com severidade:
- Concedi-te posição social e fortuna, poder e vida, para que distribuísses em meu nome, todo o excesso que te chegasse. Quando, porém, te visitei e pedi-te algo, me negaste. Por quê agora me queres ofertar algo, que não é de tua propriedade?
Quase, sem voz, o marajá inquiriu:
- Quando me buscaste, que não me lembro, e eu não Te atendi.
- No dia em que uma viúva na miséria foi ter contigo, e antes de ouvi-la a expulsaste do palácio; noutra vez, quando uma criança maltrapilha e esquálida, veio correndo no teu séquito para suplicar-te ajuda, e mandaste enxotá-la, mesmo sem a ouvir; e por fim, quando um enfermo esfaimado te estendeu a mão imunda rogando-te a ajuda de uma migalha, e viraste o rosto com soberba e escárnio...
Era sempre eu que mudava de aparência, para testar-te os sentimentos, batendo à porta do teu coração vestido de necessidade e de sofrimento... e não me recebeste.
Leva tua gota de sangue da terra e transforma-a em paz, esperança, alegria de viver e saúde para os teus irmãos, os párias, esquecidos e malsinados, e não me apareças enquanto não os atendas no seu mundo de misérias, onde certamente me encontrarás...
O marajá empalideceu e desmaiou.
Levado, às pressas, ao seu palácio, delirou em febre, e, ao recuperar a saúde, parecendo haver enlouquecido na opinião de muitos, abandonou o trono, distribuiu tudo quanto possuía, e, depois, deu-se totalmente ao seu Senhor, que encontrara nos guetos e favelas da desolação humana.
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- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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