segunda-feira, 19 de junho de 2023

Responsabilidade coletiva

Responsabilidade coletiva

Deolindo Amorim



Dizer que o crime está em todos os quadrantes da civilização já é na realidade um lugar comum! Infelizmente! O fenômeno da criminalidade constitui hoje uma das maiores ameaças à vida humana e à propriedade. Nem os templos, nem o lar, nem a escola, nem o balcão, nem a fábrica... nada está seguro, hoje, porque a onda criminosa não respeita nem a fé, nem a inocência, nem tampouco o fruto do trabalho honesto. É O quadro que todos observam a cada passo.

Diante, porém, dessa realidade tão dolorosa e deprimente, cabe uma pergunta indispensável: — Estarão porventura todos os segmentos da sociedade compenetrados de suas responsabilidades? Se cada qual fizesse a sua parte, e de tal modo que nenhuma faixa ficasse distante ou indiferente, decerto as condições de vida seriam melhoradas entre as populações mais carentes. A criminalidade tem muita relação com a miséria social.

Existem, de fato, indivíduos que são predispostos ao crime e é verdade, porque não gostam de trabalhar, querendo viver de golpes. Mas não se pode generalizar neste sentido. A fome e o abandono são dois fatores mais frequentes de delinquência. Quando a fome chega ao desespero, o indivíduo perde a cabeça e, a esta altura, já não é mais responsável pelos seus atos. Há muito relaxamento, muito vício, muita preguiça, é certo, mas precisamos alargar a visão social e observar friamente que há muita falta de escola, muita falta de assistência espiritual, muita falta de educação.

Inúmeras criaturas humanas nascem, criam-se, tornam-se adultas, sem a mínima orientação para a vida, simplesmente porque sempre foram relegadas ao submundo da sociedade, como se não fossem gente. Nunca receberam educação moral, nunca ouviram uma palavra de amor ou de solidariedade. Que então podemos esperar daí?... Não seria sensato esperar saísse daí, desse ambiente obscuro e abandonado, quase sempre marcado pela repressão violenta, uma legião de seres pacíficos e sociáveis. Não!...

A própria sociedade tem a sua grande parte de culpa.

Como destruir os antros do vício e do crime sem melhorar o meio em que vivem as criaturas marginalizadas e desprezadas? É verdade que há gente cordial e honesta nos porões obscuros da vida social, obrigadas a viver em tais ambientes porque não pode ter outro modo de vida. Há também espíritos certamente em provas. Mas a prova não nos desobriga do compromisso com o próximo, em qualquer situação. Se fosse o caso de apelar para a prova, seria muito cômodo passar ao largo dizendo ao sofredor:

— É a sua prova; se você está aí é porque precisa dessa experiência.

Ora, convenhamos que não nos compete entrar em julgamento. A responsabilidade é de todos. Se todos os segmentos da sociedade conjugassem esforços em benefício do homem marginalizado pela miséria social, pela ignorância e pela falta de princípios espirituais, independentemente de cogitações raciais, de bandeira política ou de configuração religiosa, por certo que já não haveria tanto pretexto para a revolta íntima, o ódio, o crime! Voltamos a dizer: se cada qual fizesse a sua parte com amor, sem interesses ocultos, muita mudança para melhor já teria sido operada até hoje.

Sem deixar de reconhecer o trabalho meritório de outros movimentos, neste particular podemos dizer que o movimento espírita sempre fez e continua fazendo a sua parte. Os fatos aí estão no Brasil inteiro!

Nem todos quantos vivem na condição de marginalizados sociais têm formação espiritual para compreender o que seja prova ou missão em ambientes sórdidos. É justamente aí que se faz sentir a ação positiva do trabalho espírita, porque não se limita a distribuir alimentos, roupas ou remédios, mas intensifica uma ação educativa, sem preocupação de proselitismo, esclarecendo, auxiliando e reerguendo o ser humano.

Não basta a assistência social pura e simples, embora seja muito humanitária, pois é necessário, senão indispensável desenvolver a assistência espiritual também, que projeta luz no mundo interior da criatura humana apontando-lhe novo horizonte para enfrentar a luta pela subsistência. O pão do corpo reclama o pão do espírito.

Já dissemos durante uma palestra fora do meio espírita que as estatísticas sociais ainda não revelaram os resultados concretos do trabalho espírita no campo da educação e da reforma moral de muitos elementos anteriormente considerados até perigosos. Tem a nossa Doutrina alguma fórmula milagrosa, algum recurso mágico? Não. O que a Doutrina mostra aos desorientados, aos revoltados, aos desgarrados do bom caminho — é a mensagem do Cristo na vivência cotidiana. Se é verdade, finalmente, que a criminalidade se alastra de alto a baixo, também é verdade que há muita gente dedicada, trabalhando para melhorar o homem e a coletividade. E é nesta área, sem publicidade e sem vantagens materiais, que se identificam os reflexos impressionantes do movimento espírita.

(Jornal Mundo Espírita — Curitiba/PR — Ago. 1983)

Deolindo Amorim do livro:
Ponderações Doutrinárias

(Coletânea de artigos publicados por Deolindo Amorim, em diversos jornais e revistas espíritas do Brasil e do Exterior)
(Livro organizado por Celso Martins)

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