sábado, 24 de junho de 2023

Opção pelos pobres

Opção pelos pobres

Ivon Costa


A questão da pobreza, na atualidade, efeito natural das injustiças sociais, vem despertando cada vez maior número de pessoas sensibilizadas pelo problema, que buscam soluções propiciadoras de uma real mudança para melhor em torno das condições de vida para os pobres.

Do ponto de vista sociológico, sem dúvida, tem havido um processo de compreensão e de dignificação do homem através dos tempos, certamente não alcançando as metas que pudessem modificar a paisagem triste da miséria.

Antes, o camponês, o servidor, o operário, o pobre, alimentavam-se, mantinham a família e reuniam algumas parcas moedas, enquanto possuíam saúde e força para trabalhar, caindo em desgraça quando enfermos ou envelhecidos, arrojados ao abandono, vivendo da esmola e da piedade dos mais favorecidos...

Organismos de Previdência, de Saúde, de Socorro Social nas várias áreas da dignidade humana, hoje se movimentam para minimizar a grave ocorrência.

Apesar disso, por insuficiência de recursos, decorrente da malversação dos mesmos por aqueles que os manipulam, as providências em favor dos seus associados e beneficiários chegam ineficazes quando não atrasadas...

Multiplicam-se as sociedades que tombam inermes na miséria econômica nos vários pontos da Terra, como efeito mais imediato daquela de ordem moral que carcome o âmago das chamadas comunidade ricas.

O problema, certamente, é grave, estando a exigir atitudes enérgicas quão imediatas, por parte de homens e governos capacitados para tanto. Ninguém, no entanto, pode omitir-se no que tange à cooperação e ao trabalho em favor das mudanças que urgem.

O assunto interessa-nos e diz-nos respeito, a todos nós que não podemos cruzar os braços parecendo ignorar a calamitosa ocorrência que degrada consciências e atesta a falência dos valores éticos e culturais, sobre os quais se assentam as conquistas fascinantes da ciência e da tecnologia, com subestima pelas da moral e do espírito eterno...

Escasseiam devotamento e ação à causa dos pobres; que ainda continuam como meio de promoção da falsa solidariedade de Instituições e indivíduos, os quais se servem da situação para engrandecimento de si mesmos, através das migalhas que distribuem enquanto lhes sugam as forças e lhes matam a esperança.

Aumentam a violência e a loucura, que investem em toda parte, ameaçando a estrutura da civilização, igualmente vencida pela ganância de Nações tresvariadas que se jactam de poder destruir a vida e o planeta...

A pobreza é, todavia, uma condição do Espírito, que a necessita para aprimorar sua situação evolutiva, o que a ninguém isenta de contribuir para que esta seja menos penosa e aflitiva...

As Leis divinas possuem infinitos meios para promover o crescimento do ser espiritual, sendo a necessidade socioeconômica um dos mais acessíveis, portanto, mais comum, pelas coletividades que alcança, utilizando-se, sem dúvida, do egoísmo das minorias arbitrárias e dominadoras, em trânsito educativo.

A doutrina social do Cristianismo tem sido aplicada equivocadamente, no que resultou em agravamento do mal, de que hoje novos pensadores e teólogos desejam reabilitar a Igreja que se intitulou depositária das verdades evangélicas.

O mesmo erro igualmente ocorreu com a Reforma, que no seu inicio apoiava os príncipes alemães de cujo poder necessitava, contra os camponeses que lhes padeciam a dominação absurda.

Ainda prosseguem tais imposições exorbitantes do capitalismo, cruelmente aplicado através de povos e culturas que se dizem religiosos, apoiados na Bíblia, em cujos livros afirmam encontrar a salvação, espoliando os pobres que se tornam miseráveis e olvidados de Jesus que veio viver entre aqueles, ajudando-os, quanto possível, para que saíssem da miséria moral, após a qual se libertariam da opressão social e econômica através do trabalho.

Por sua vez, o socialismo nas bases em que aí está, ateu e violento, não possui elementos que ofereçam resultados reais, conforme se vê nos países que o têm aplicado como solução para os seus graves problemas.

Jesus fez-se pobre, para melhor compreender e amparar os pobres. Não os estimulou ao ódio contra os ricos, nem os alentou a qualquer forma de agressividade. Ensinou-os a compreender os desígnios de Deus e os estimulou à luta contra o estado de miserabilidade no qual se debatiam.

As soluções apresentadas até este momento, em várias áreas da sociedade, são, na maioria, de sanção ao ódio, à brutalidade, à guerra, em que pessoas mudam de posição e permanecem os fatores responsáveis pela lamentável injunção.

A elaboração de leis mais justas; oportunidade de trabalho para todos com salários dignos; recursos de educação e saúde para todos os níveis sociais; moradia e alimento ao alcance dos cidadãos; recreação e liberdade através de equânimes direitos defluentes de deveres, constituem a revolução pacífica para atender aos pobres, levantando-os da horizontalidade onde se encontram esmagados para adquirir a verticalidade da honra e da igualdade humana...

Tal é a verdadeira “opção pelos pobres”, como fez Jesus.

Necessário, portanto, pugnar-se pela promoção moral do homem, esclarecendo-o quanto às suas responsabilidades em relação a si mesmo, ao próximo, a Deus e à vida.

Somente através do conhecimento da reencarnação, da consciência quanto à transitoriedade do corpo e a perenidade do ser espiritual, induzindo-se ao descobrimento íntimo, é que mudará a paisagem perniciosa da atualidade, ensejando o soerguimento de uma nova civilização, em que o homem seja o elemento mais importante do contexto social daí decorrente.

A moral espírita, resultante da perfeita identificação da finalidade da vida na Terra, propõe uma doutrina de justiça social, emulando cada homem a contribuir pela sua própria transformação interior para melhor, fazendo que cada qual se torne equilibrado instrumento da ação de dignificação, lutando contra o egoísmo, a avareza, o desperdício e a iniquidade em qualquer forma em que se apresentem.

Um programa de tal natureza talvez não encontre ressonância coletiva nos grupos dominantes, todavia pode ser iniciado de imediato por qualquer espírita ou cidadão decidido, que um dia poderá estar à frente de maiores responsabilidades, quando, então, mais decisivamente influirá na mudança e erradicação das causas sociais geradoras da miséria econômica e do desconcertante crescimento das classes pobres e dos homens desnorteados pela miséria predominante da Terra.

Ivon Costa por Divaldo Franco do livro:
Antologia Espiritual

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