Passes - Diretrizes de segurança
Divaldo Franco e J. Raul Teixeira
Divaldo - O passe significa, no capítulo da troca de energias, o que a transfusão de sangue representa para a permuta das hemácias, ajudando o aparelho circulatório. O passe é essa doação de energias que nós colocamos ao alcance dos que se encontram com deficiências, de modo que eles possam ter seus centros vitais reestimulados e, em consequência disso, recobrem o equilíbrio ou a saúde, se for o caso.
O passe magnético tem uma técnica especial, conhecida por todos aqueles que leram alguma coisa sobre o mesmerismo. É transfusão da energia do doador, do agente.
O passe que nós aplicamos, nos Centros Espíritas, decorre da sintonia com os Espíritos Superiores, o que convém considerar sintonia mental, não uma vinculação para a incorporação.
O passe deve ser sempre dado em estado de lucidez e absoluta tranquilidade, no qual o passista se encontre com saúde e com perfeito tirocínio, a fim de que possa atuar na condição de agente, não como paciente.
Então, acreditamos que os passes praticados sob a ação de uma incorporação propiciam resultados menos valiosos, porque, enquanto o médium está em transe, ele sofre um desgaste. Aplicando passe, ele sofre outro desgaste, então experimenta uma despesa dupla.
Os espíritos, para ajudarem, principalmente no socorro pelo passe, não necessitam, compulsoriamente, de retirar o fluido do médium, nele incorporando. Podem manipular, extrair energia, sem o desgastar, não sendo, pois, necessário o transe.
Como definir o passe espiritual? Em que oportunidade ele se verifica?
Divaldo - O passe espiritual se verifica toda vez que vamos atuar junto a alguém que apresenta distúrbios de ordem mediúnica, perturbações espirituais.
Quando utilizamos a técnica da aplicação longitudinal, há um intercâmbio magnético e, simultaneamente, medianímico, porque estamos sob a ação dos Bons Espíritos.
Se sintonizamos com os mentores, convenientemente, são eles que distribuem as nossas energias, eliminando o fluido deletério que reveste o enfermo e conseguindo envolvê-lo com energia salutar, a fim de que, nesse ínterim, o seu organismo realize o trabalho de defendê-lo do mal, e do espírito encarnado do médium, em equilíbrio, se encarregue de manter esse estado de saúde. Caso o paciente não se resolva sintonizar com os Benfeitores, ser-lhe-á inócua toda e qualquer interferência de outrem.
Os espíritos poderão aplicar diretamente um passe e, neste caso, não poderíamos chamar essa intervenção de passe espiritual?
Divaldo - Comumente eles assim o fazem. Algumas vezes, eles necessitam de maior dosagem de fluidos extraídos do organismo material das criaturas encarnadas e aplicam o passe misto, do espírito propriamente dito e das forças magnéticas do intermediário. (1)
(1) (KARDEC, Allan. A gênese, capítulo 14º, item 33, 29ª ed. FEB – Brasília –DF, 1986.)
Por que se costuma diminuir a claridade dos ambientes, onde se processam serviços de aplicação de passes?
Raul - A princípio, não há nenhuma necessidade essencial, da diminuição da luminosidade, para a aplicação dos recursos dos passes. Poderemos operá-los tanto à noite, quanto com o dia claro.
A providência de diminuir-se a claridade tem por objetivo evitar a dispersão da atenção das pessoas, além de facilitar a concentração, ao mesmo tempo em que temos que levar em conta que certos elementos constitutivos dos ectoplasmas, que costumam ser liberados pelos médiuns em quantidades as mais diversas, sofrem um processo de desagregação com a incidência da luz branca.
Para a aplicação do passe, o médium deve resfolegar, gemer, estalar os dedos, soprar ruidosamente, dar conselhos?
Divaldo - Todo e qualquer passe, como toda técnica espírita, se caracteriza pela elevação, pelo equilíbrio. Se uma pessoa cortês se esforça para ser gentil, na vida normal, porque, na hora das questões transcendentais, deverá permitir-se desequilíbrios?
Se é um labor de paz, não há razão para que ocorram desarmonias ou se deem conselhos mediúnicos.
Se se trata, porém, de aconselhamento, não se justificará que haja o passe. É necessário situar as coisas nos seus devidos lugares. A hora do passe é especial. Se se pretende adentrar em conselhos e orientações, tome-se de um bom livro e leia-se, porque não pode haver melhores diretrizes do que as que estão exaradas em O Evangelho Segundo o Espiritismo e nas obras subsidiárias da Doutrina Espírita.
É necessário lavar as mãos, após a aplicação de passes?
Raul - Não. Não há qualquer necessidade de que se lave as mãos depois da prática dos passes. Pelos passes não há. Entretanto, os médiuns aplicadores de passes podem ter vontade de lavar as mãos por lavar, e, neste caso, nada há que os impeça.
Há necessidade do médium tocar ou encostar as mãos na pessoa que recebe o passe?
Divaldo - Desde que se trata de permuta de energias, deve-se mesmo, por medida de cautela e de zelo ao próprio bom nome, e ao do Espiritismo, evitar tudo aquilo que possa comprometer, como toques físicos, abraços, etc.
Por que muitos médiuns ficam ofegantes, enquanto aplicam passes?
Raul - Isso se deve à deficiente orientação recebida pelo médium. Não sabe ele que a respiração nada tem a ver com a aplicação dos passes. São companheiros. que imaginam sejam os exageros e invencionices os elementos capazes de assegurar grandeza e autenticidade do fenômeno.
Nos momentos dos passes, todo o recolhimento é importante.
O Silêncio para a oração profunda. Silêncio do aplicador e Silêncio por parte de quem recebe, facilitando a penetração nas ondas de harmonia que o passe propicia.
Evitando os gestos bruscos totalmente desnecessários, e exercendo um controle sobre si mesmos, os aplicadores de passes observarão a necessidade do relax e da sintonia Positiva e boa com os espíritos que supervisionam tais atividades.
Raul - Não. Tudo isso faz parte dos hábitos incorporados pelas pessoas que passam a admitir que seus trejeitos e tiques são parte da tarefa dos passes ou da mediunidade. Os estalidos e outros maneirismos com as mãos, indicando força ou energia, são perfeitamente dispensáveis, devendo o médium educar-se, procurando aperfeiçoar suas possibilidades de trabalho. Nenhum estalo, nenhuma fungação, nenhum toque corporal ou puxadas de dedos, de braços, de cabelos, têm quaisquer utilidades na prática dos passes. Deveremos, assim, evitá-los.
Na aplicação dos passes, há necessidade de que os médiuns passistas retirem de seus braços, de suas mãos os adornos, como pulseiras, relógios, anéis?
Isso tem alguma implicação magnética ou é apenas para evitar ruídos e dar-lhes maior liberdade de ação?
Divaldo - Em nossa forma de ver, a eliminação dos adornos não tem uma implicação direta no efeito positivo ou negativo do passe. Devem ser retirados porque é mais cômodo e o seu chocalhar produz dispersão, comprometendo a concentração nos benefícios do momento.
Decorrerá algum problema do fato de se aplicar passes em alguém que esteja de costas?
Raul - Absolutamente. Se a circunstância obrigar a que se apliquem passes em alguém que esteja de costas, aplicá-los-emos com a mesma disposição, a mesma fé no auxílio que vem do Mais Alto, vibrando o melhor para o paciente.
Muitos que aplicam passes, logo após, sentam-se para recebê-los de outros afim de se reabastecerem. Que pensar de tal prática?
Raul - Tal prática apenas indica o Pouco entendimento que tem as pessoas com relação ao que fazem.
Quando aplicamos passes, antes de atirarmos as energias sobre o paciente, nos movimentos ritmados das mãos, ficamos envolvidos por essas energias, por essas vibrações que nos chegam dos Amigos Espirituais envolvidos nessa atividade, o que indica que, antes de atendermos aos outros, somos nós, a princípio, beneficiados e auxiliados para que Possamos auxiliar, por nossa vez.
Tal prática incorre numa situação no mínimo estranha: o fato de que aquele que aplicar o passe por último estaria desfalcado, sem Condições de ser atendido por outra pessoa.
Quando é admissível fazerem-se passes fora do Centro Espírita, isto é, fazerem-se passes a domicílio? Quais as consequências dessa prática para o médium?
Divaldo - Somente se devem aplicar passes a domicílio, quando o paciente, de maneira nenhuma, pode ir ao local reservado para o mister, que são o hospital espírita, ou a escola espírita, ou o próprio Centro Espírita.
As consequências de um médium andar daqui para ali aplicando passes são muito graves, porque ele não pode pretender estar armado de defesas para se acautelar das influências que o aguardam em lugares onde a palavra superior não é ventilada, onde as regras de moral não são preservadas, e onde o bom comportamento não é mantido. Devemos, sim, atender a uma solicitação, vez que outra. Mas, se um paciente tem um problema orgânico muito grave, chama o médico e este faz o exame local, encaminhando-o ao hospital para os exames complementares, tais como as radiografias, os eletrocardiogramas, eletroencefalogramas, e outros, o paciente vai, e por quê?
Porque acredita no médico. Se, porém, não vai ao Centro Espírita é porque não acredita, por desprezo ou preconceito. Crê mais na falsa pudicícia do que na necessidade legítima.
A água fluidificada tem valor terapêutico?
Divaldo - A magnetização da água é uma providência tão antiga quanto a própria cultura humana. A chamada hidroterapia era conhecida dos povos mais esclarecidos. Sendo considerada uma substância simples, acredita-se que a água facilmente recebe energias magnéticas, fluídicas, e pode operar, no metabolismo desajustado, o seu reequilíbrio. Então, a água fluidificada ou magnetizada tem valor terapêutico.
Quando é necessária ou desaconselhável, durante o passe, a manifestação psicofônica?
Raul - Reconhecendo que o passe é a contribuição vibratória que nós poderemos doar em nome da caridade, desconhecemos a necessidade de comunicações psicofônicas durante o seu transcurso.
Encontramos em Allan Kardec, no livro A Gênese, a informação de que nós poderemos estar submetidos a três tipos ou condições energéticas ou de ações fluídicas. (1)
Existe fluidificação eminentemente magnética, que são as energias do próprio sensitivo, nesse caso, tido como magnetizador. Ele se desgasta porque doa do seu próprio plasma, e a partir dessa doação sente se cansado, esgotado. Um outro nível é o das energias espirituais materiais ou psicofísicas, quando se dá a conjugação dos recursos do mundo espiritual com os elementos do médium; o indivíduo se coloca na posição de um vaso de cujos recursos os Benfeitores se utilizam. Eis quando caracterizamos o médium aplicador de passes ou passista: aquele em quem, segundo a Instrução do Espírito André Luiz (2), as energias circulam em torno da cabeça, como que assimilando os valores da sua mentalização escoarem do através das mãos, para beneficiar o assistido.
Vemos que quanto mais o trabalhador se aprimora, se aperfeiçoa quanto mais se integra e se entrega ao ministério dos passes, sem cansaço, vai melhorando a si mesmo, pois, ao aplicar as energias socorristas, será primeiramente beneficiado com os fluidos dos Servidores do Além, que dele se utilizam.
Kardec ainda aponta o terceiro nível de energia que é o espiritual por excelência. Neste caso, não haverá nenhuma necessidade de um instrumento físico. Os espíritos projetam diretamente as energias sobre os necessitados.
Assim, vemos que mesmo no segundo nível, em que encontramos o médium aplicador de passes, sobre o qual agem as entidades para atender a terceiros, não há nenhuma necessidade de incorporação desses espíritos. Os Benfeitores, comumente, não incorporam para aplicar passes, o que não impede que, uma vez incorporados, os Benfeitores apliquem passes. São situações diferentes. Uma é o indivíduo receber espíritos para aplicar passes, o que muitas vezes esconde a sua insegurança, o seu atavismo não-espírita, os seus hábitos deseducados. Ele não crê que os espíritos dele possam se utilizar sem a necessidade da incorporação. Então, muitas vezes, por um processo de indução psicológica, o espírito projeta os seus fluidos e o médium age como se o estivesse incorporado. Não se dá conta de que não se trata de uma incorporação, mas de um envolvimento vibratório, que lhe faz arrepiar. Com isso, vamos perceber que, embora haja a atuação dos Benfeitores Espirituais no trabalho dos passes, não há nenhuma necessidade de que incorporemos espíritos para aplicá-los.
Há companheiros que ainda não foram educados para o trabalho do passe e apresentam uma atuação mais característica de distúrbio do que de ascendência mediúnica: os cacoetes psicológicos, a respiração ofegante, o retorcimento dos lábios, os gestos bruscos, estalidos de dedos, etc.; quando nada disso tem a ver, evidentemente, com a realidade dos fluidos, da sua natureza do seu contato com os espíritos que se faz em nível mental.
(1.) KARDEC, Allan. A gênese, capítulo 14º, item 33, 29ª edição, FEB, Brasília - DF 1986.
(2.) XAVIER, F.C. Nos domínios da mediunidade, André Luiz, Capítulo 17º (página 165), 8ª edição, FEB, Rio de Janeiro – RJ. 1976.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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