quinta-feira, 1 de junho de 2023

Paulo e a mediunidade

Paulo e a mediunidade

Richard Simonetti



“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, este traz revelações, aquele outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.

No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete.

Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.

Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem.

Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro.

Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem a serem consolados.

Os Espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas.”

Dir-se-ia que temos aqui um texto espírita. Se substituirmos o vocábulo “profeta” por “médium”, a identificação será quase completa. Entretanto, ele tem quase 2.000 anos. Está na Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, Capítulo 14, versículos 26 a 32.

Será, talvez, a primeira tentativa de que se tem noticia no sentido de estabelecer normas para o exercício da mediunidade, e a prova mais evidente de que na primitiva comunidade cristã havia um intenso intercâmbio com o Além, tão imenso que Paulo se viu obrigado a discipliná-lo.

Em favor dessa tese é oportuno lembrar a advertência de João, no Capitulo 4? de sua primeira epístola, quando diz: “Amados, não deis créditos a qualquer Espírito: antes provai se os Espíritos procedem de Deus.”

Sua recomendação caberia perfeitamente na orientação de Kardec, ao frisar que pelo conteúdo da manifestação podemos identificar a natureza do Espírito comunicante. A mesma questão é abordada por Paulo, no trecho citado: “Tratando-se de profetas (médiuns), falem apenas dois ou três, e os outros julguem.”

Vivendo numa atmosfera de exaltação da Fé e de elevada espiritualidade, a comunidade cristã permanecia em estreita ligação com o Mundo Espiritual; daí a abundância de fenômenos mediúnicos e o apoio sempre presente dos Espíritos em favor. dos aprendizes do Evangelho, sustentando-os nos momentos mais difíceis.

Alguns médiuns adquiriram até notoriedade pela maneira segura como transmitiam as orientações dos mentores espirituais (interpretadas como manifestações do Espírito Santo), como foi o caso de Agabo, que antecipou uma grande fome que assolaria a Terra e certos acontecimentos que envolveram o apóstolo Paulo.

O Espiritismo, com mais propriedade, é caracterizado pelo intercâmbio com o Além, já que tem no fenômeno mediúnico a sua base. E embora vinte séculos tenham decorrido, permanecem perfeitamente válidas as normas instituídas pelo apóstolo da gentilidade.

“Que seja tudo para edificação” — que nos reunamos, não simplesmente para receber conforto e cura, mas que nos mova um propósito superior, induzindo-nos à seriedade, ao aproveitamento e, sobretudo, à participação. Dizemos participação, porque as vibrações de interesse, atenção e simpatia dos presentes são sustentáculos indispensáveis ao bom aproveitamento de um trabalho mediúnico.

Uma outra observação de Paulo é importante e faz referência a um problema de ontem que persiste hoje. É quando diz: “Os Espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas.” Em outras palavras: os médiuns devem aprender a controlar o fenômeno mediúnico, evitando que ocorram manifestações simultâneas, sem proveito nenhum, ou que, sob o impulso de Espíritos inferiores, gritem, agitem-se provocando tumulto, o que infelizmente, é muito comum em reuniões onde não há estudo nem orientação.

As observações de Paulo, na Epístola aos Coríntios, são precursoras da disciplina que deve imperar nos trabalhos espíritas da atualidade, a fim de que tenhamos, no intercâmbio com o Além, um estímulo sempre renovado para as tarefas do Bem e uma rota segura no caminho do aprendizado e da edificação espiritual.

Richard Simonetti do livro:
Temas de hoje - Problemas de sempre

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