quinta-feira, 8 de junho de 2023

Noiva recalcitrante

Noiva recalcitrante

Richard Simonetti


Ariosto era um espírita culto e esclarecido.

Favorecido por disciplinadas faculdades mediúnicas e por permanente disposição para ajudar o semelhante, conseguia definir com objetividade a natureza dos problemas de pessoas que procuravam sua orientação.

Confiantes em suas possibilidades, Luzia e seu marido Ernani aproximaram-se, após a reunião habitual, no Centro Espírita onde o dedicado seareiro atuava. A esposa adiantou-se:

- Dora não está bem, meu caro Ariosto, ante a proximidade de seu casamento, dentro de um mês.

- Medo de casar?

- Antes fosse apenas isso. Normalmente a noiva sente alguma vacilação, em face da radical mudança em sua vida. Ocorre que, muito mais que atemorizada, ela está deprimida, angustiada, quase infeliz...

O marido intervém:

- Já comentei com Luzia que talvez o problema seja de natureza afetiva. Dora começa a perceber que Alcides não é exatamente seu eleito.

- Não concordo, meu querido. Eles se amam muito. Dora não poderia sequer cogitar de desfazer o noivado.

Daí o problema. Entendo que há algum envolvimento espiritual que desconhecemos...

- Pois é, Ariosto. Luzia acha que um “empurrãozinho” do Além resolveria. E você tem nossa procuração para isso.

- Não brinque... Não quero forçar nada, muito menos uma união que não faça parte do destino de nossa filha. Sei que uma forte rejeição pode significar que o noivo não faz parte de seu caminho, mas tenho absoluta convicção de que sua perturbação guarda outra origem. Sou testemunha do afeto que ela dedica a Alcides e quanto tem sofrido com essa situação.

Após ouvir atentamente as ponderações do casal, Ariosto comentou:

- Pelo que conheço dos dois jovens, entendo que eles têm um compromisso firmado perante a Espiritualidade. Ocorre que há um Espírito tentando atrapalhar. Alguém que compartilhou com Dora de experiências menos edificantes no passado e que a envolve agora, num processo obsessivo, pretendendo impedir o casamento. Não conseguirá seu propósito, porquanto matrimônios planejados no Céu dificilmente deixam de concretizar-se na Terra.

Luzia adiantou-se:

- Devemos, então, alertar Dora sobre o assunto, para que se disponha a vencer as pressões que vem sofrendo?

- Não é conveniente. Evitem falar-lhe a respeito. Depois saberão porque.

- E como poderemos ajudar?

- Oferecendo-lhe carinho e compreensão. E, sobretudo, orem, favorecendo a ação dos amigos espirituais. O casamento será realizado na data marcada e dentro de um ano, aproximadamente, a influência obsessiva estará inteiramente superada.

Luzia e Ernani seguiram a orientação. Confiantes na ajuda espiritual esperaram pela decisão da filha, sem pressioná-la.

Vencendo finalmente suas vacilações, Dora casou-se na data que fixara com o noivo. Espírito amadurecido, Alcides enfrentou com serenidade os “grilos” da jovem, suas crises de angústia que perduraram.

Em breve ela engravidou, iniciando uma gestação pontilhada de males físicos e eventuais crises de agressividade, quando parecia possuída de irreprimível aversão pelo marido.

Com o nascimento de Oswaldo, um meninão robusto e chorão, Dora readquiriu a alegria de viver e reencontrou o afeto pelo marido, a quem sentia-se agora mais ligada do que nunca.

Feliz, Luzia procurou Ariosto.

- Aconteceu exatamente como você previu. Dora superou seus problemas e se regozija com o casamento, tomada de amores pelo filho e o marido.

- Agradeçamos a Deus.

- E o obsessor? Certamente foi afastado, segregado em regiões sombrias da Espiritualidade...

- Nada disso.

- Continua perto?

- Mais do que nunca.

- Então, ainda exerce sua influência?

- Ao contrário. Ele é influenciado.

- Não estou entendendo...

- É fácil: o obsessor reencarnou como seu filho.

Inspirados nas mais variadas motivações, há Espíritos que promovem obsessões cruéis, pretendendo submeter as vítimas aos seus caprichos, comandando-lhes a existência.

Sempre que há possibilidade, tais envolvimentos começam a ser solucionados com programas reencarnatórios que ligam obsessores e obsidiados pelos laços da consanguinidade, ajudando-os a superar todas as divergências em favor da própria renovação.

Richard Simonetti do livro:
Encontros e Desencontros

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