Noiva recalcitrante
Richard Simonetti
Ariosto era um espírita culto e esclarecido.
Favorecido por disciplinadas faculdades mediúnicas e por permanente disposição para ajudar o semelhante, conseguia definir com objetividade a natureza dos problemas de pessoas que procuravam sua orientação.
Confiantes em suas possibilidades, Luzia e seu marido Ernani aproximaram-se, após a reunião habitual, no Centro Espírita onde o dedicado seareiro atuava. A esposa adiantou-se:
- Dora não está bem, meu caro Ariosto, ante a proximidade de seu casamento, dentro de um mês.
- Medo de casar?
- Antes fosse apenas isso. Normalmente a noiva sente alguma vacilação, em face da radical mudança em sua vida. Ocorre que, muito mais que atemorizada, ela está deprimida, angustiada, quase infeliz...
O marido intervém:
- Já comentei com Luzia que talvez o problema seja de natureza afetiva. Dora começa a perceber que Alcides não é exatamente seu eleito.
- Não concordo, meu querido. Eles se amam muito. Dora não poderia sequer cogitar de desfazer o noivado.
Daí o problema. Entendo que há algum envolvimento espiritual que desconhecemos...
- Pois é, Ariosto. Luzia acha que um “empurrãozinho” do Além resolveria. E você tem nossa procuração para isso.
- Não brinque... Não quero forçar nada, muito menos uma união que não faça parte do destino de nossa filha. Sei que uma forte rejeição pode significar que o noivo não faz parte de seu caminho, mas tenho absoluta convicção de que sua perturbação guarda outra origem. Sou testemunha do afeto que ela dedica a Alcides e quanto tem sofrido com essa situação.
Após ouvir atentamente as ponderações do casal, Ariosto comentou:
- Pelo que conheço dos dois jovens, entendo que eles têm um compromisso firmado perante a Espiritualidade. Ocorre que há um Espírito tentando atrapalhar. Alguém que compartilhou com Dora de experiências menos edificantes no passado e que a envolve agora, num processo obsessivo, pretendendo impedir o casamento. Não conseguirá seu propósito, porquanto matrimônios planejados no Céu dificilmente deixam de concretizar-se na Terra.
Luzia adiantou-se:
- Devemos, então, alertar Dora sobre o assunto, para que se disponha a vencer as pressões que vem sofrendo?
- Não é conveniente. Evitem falar-lhe a respeito. Depois saberão porque.
- E como poderemos ajudar?
- Oferecendo-lhe carinho e compreensão. E, sobretudo, orem, favorecendo a ação dos amigos espirituais. O casamento será realizado na data marcada e dentro de um ano, aproximadamente, a influência obsessiva estará inteiramente superada.
Luzia e Ernani seguiram a orientação. Confiantes na ajuda espiritual esperaram pela decisão da filha, sem pressioná-la.
Vencendo finalmente suas vacilações, Dora casou-se na data que fixara com o noivo. Espírito amadurecido, Alcides enfrentou com serenidade os “grilos” da jovem, suas crises de angústia que perduraram.
Em breve ela engravidou, iniciando uma gestação pontilhada de males físicos e eventuais crises de agressividade, quando parecia possuída de irreprimível aversão pelo marido.
Com o nascimento de Oswaldo, um meninão robusto e chorão, Dora readquiriu a alegria de viver e reencontrou o afeto pelo marido, a quem sentia-se agora mais ligada do que nunca.
Feliz, Luzia procurou Ariosto.
- Aconteceu exatamente como você previu. Dora superou seus problemas e se regozija com o casamento, tomada de amores pelo filho e o marido.
- Agradeçamos a Deus.
- E o obsessor? Certamente foi afastado, segregado em regiões sombrias da Espiritualidade...
- Nada disso.
- Continua perto?
- Mais do que nunca.
- Então, ainda exerce sua influência?
- Ao contrário. Ele é influenciado.
- Não estou entendendo...
- É fácil: o obsessor reencarnou como seu filho.
Inspirados nas mais variadas motivações, há Espíritos que promovem obsessões cruéis, pretendendo submeter as vítimas aos seus caprichos, comandando-lhes a existência.
Sempre que há possibilidade, tais envolvimentos começam a ser solucionados com programas reencarnatórios que ligam obsessores e obsidiados pelos laços da consanguinidade, ajudando-os a superar todas as divergências em favor da própria renovação.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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