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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Interpretação e experiência

Interpretação e experiência

Deolindo Amorim



Em qualquer campo de estudo ou de crítica, como já se sabe, a interpretação está muito sujeita a influências pessoais. Cada qual quer torcer o sentido das palavras ou dos textos para o seu lado, segundo as conveniências de ordem religiosa, política, jurídica, etc. Por isso mesmo, sempre se disse, e é verdade, que a interpretação é um terreno muito inseguro e muito aberto a distorções. Mas existe a interpretação criteriosa e, portanto, equilibrada.

Temos a interpretação literal, que se atém à frase ou ao texto, tal como está escrito, e temos a interpretação ideal, que procura descobrir o pensamento oculto nas entrelinhas. Nem sempre o que está escrito dá para entender. Muitas vezes se torna necessário até desprezar um pouco a forma e tentar identificar a ideia no fundo de um período ou de um contexto inteiro.

É difícil, muito difícil interpretar, principalmente quando se deseja encontrar a verdadeira intenção no emaranhado das palavras. Seja como for, há um elemento importante na interpretação. É O bom-senso! Quando a forma e a disposição das ideias não nos parecem suficientes para o entendimento claro, é justo recorrer ao bom-senso.

A experiência ensina que a interpretação ao pé da letra é bem arriscada, podendo levar a deduções falsas em muitos casos.

Temos uma ilustração a este respeito. Lê-se no Evangelho, por exemplo: Graças te rendo meu Pai, Senhor do Céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e por as teres revelado aos simples e aos pequenos (Mateus, XI, 25).

Doutos, como se sabe, são os possuidores de grandes conhecimentos, notadamente os que ostentam título de alto saber. Acontece, no entanto, que há doutos que não são doutores, assim como também há doutores que não são doutos. Mas o sentido está claro na lição evangélica. Prudência, na realidade, é cautela, moderação, equilíbrio de espírito, o que é, aliás, próprio da sabedoria. Todavia, os prudentes, dentro do texto, estão associados aos doutos.

Então, há um sentido de equivalência, dando a entender que prudente, ali, é também o douto, segundo o conceito do mundo. Justamente por isso, a Doutrina Espírita interpreta a lição e reafirma que Deus, em sua infinita sabedoria, deixa aos orgulhosos e pretensiosos, o trabalho de pesquisa dos segredos da Terra e revela os segredos do Céu aos simples e humildes... (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. VII, item 8).

De acordo com a advertência evangélica, aliás muito explícita, os doutos que se envaidecem ou se julgam donos da verdade não podem penetrar nos conhecimentos de ordem espiritual, apesar de todos os títulos acadêmicos, uma vez que estão dominados pela perigosa ilusão de que sabem tudo e, por isso, chegam a fazer pouco caso dos assuntos que dizem respeito à vida futura, às leis divinas, e assim por diante. O orgulho cega o espírito de sorte que as pessoas verdadeiramente humildes, não são as que o são apenas há aparência, as verdadeiramente humildes (convém insistir) têm mais possibilidades de receber a luz da sabedoria, pois desejam conhecer outros caminhos de adiantamento. São os humildes de coração e querem de fato progredir.

Pois bem, apesar de a recomendação evangélica ser bem clara, não deixando nenhuma dúvida, a sua interpretação ao pé da letra seria em tudo por tudo inconveniente. Se tomarmos o que aí está inteiramente letra por letra, chegaremos à inadequada conclusão de que os homens de grandes conhecimentos, sem exceção, pelo simples fato de serem intelectualizados, estariam impedidos de alcançar algum plano da sabedoria espiritual. Ora, seria uma contradição.

A que tipo de sábio ou douto se refere então o Evangelho?

Refere-se ao sábio orgulhoso. Nem toda criatura humana de grande cabedal de conhecimentos é orgulhosa. Não é pelo fato de acumular muito conhecimento que o homem intelectualizado deixa de ter aptidão para as coisas superiores. É pelo fato, aí sim, de se envaidecer com o conhecimento e julgar-se acima de tudo e de todos. Não façamos incursões no Evangelho com a ideia preconcebida de que toda pessoa de grande cultura é vaidosa, assim como não se deve pensar que todo ignorante é humilde. A vida cotidiana mostra muitos exemplos frisantes, de um lado e do outro. Não se pode ser unilateral na interpretação evangélica à luz do Espiritismo.

Há muitos homens notáveis, homens que poderiam ser chamados de sábios, mas tão simples, tão humildes, que se apagam ou se anulam, ao passo que muitos semianalfabetos são cheios de si, têm arrogância intelectual de tal ordem, que chega a causar espanto! Assim, a interpretação radical, sem a luz da observação serena do bom senso corre o risco de abrir muitas brechas para distorções perigosas.

Afinal, o que a vida nos ensina, a cada passo, é exatamente isto: a humildade não é privilégio da ignorância, tanto assim que há muito sábio humilde e muito iletrado visivelmente vaidoso. Os segredos do Céu estão abertos a todos; mas a condição é séria e difícil: é preciso humilhar-se, despojar-se das valorizações convencionais e amadurecer espiritualmente.

Não é com a cultura puramente livresca nem com os sofisticados instrumentos de pesquisas que o ser humano cresce em conhecimento espiritual. Mas também não é com a falsa humildade que encobre muita ignorância vaidosa, que se conquistam os degraus da sabedoria espiritual. A humildade não está na ignorância; está no íntimo do ser humano. Por isso, o homem muito culto também pode ser humilde e compreender as coisas do espírito.

(Resumo de uma crônica na Rádio Rio de Janeiro — Programa do Instituto de Cultura Espírita do Brasil).

(Mundo Espírita - Curitiba - PR - Setembro de 1983)

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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Aptidões e tarefas

Aptidões e tarefas

Deolindo Amorim



O princípio da desigualdade ou diversidade das aptidões individuais justifica racionalmente o aproveitamento dos valores humanos em todas as situações, em qualquer nível intelectual, econômico ou social. É um argumento dentre outros da tese reencarnacionista, como se sabe. 

Cada espírito que reencarna tem sua situação, suas experiências, seus compromissos, seu grau de conhecimento e de capacidade. Sendo desiguais espiritualmente, não quanto à natureza, mas quanto ao estágio evolutivo em que se encontram, é natural que sejam também desiguais as inclinações, as preferências, as aptidões... 

Justamente por isso, o Espiritismo é uma doutrina essencialmente democrática, uma vez que valoriza o elemento humano em qualquer plano da vida em que esteja situado. 

Ninguém é inútil ou desnecessário porque não sabe fazer isto ou aquilo, porque tem mais inclinação para uma coisa do que para outra. Todos são úteis. 

Os campos de serviço, que se abrem constantemente na seara espírita, oferecem oportunidades a todos, de acordo com as possibilidades individuais. Cada qual procura naturalmente uma faixa de ação onde sinta que possa estar mais à vontade ou possa prestar serviços com mais eficiência. As opções são livres e necessárias, aliás em todo movimento, principalmente no espírita, que exige esforço desinteressado e muita dose de renúncia.

A expansão do movimento espírita, sobretudo no Brasil, onde se desenvolve uma obra assistencial cada vez maior e onde, ao mesmo tempo, nossas ideias enfrentam problemas e desafios em vários flancos de crítica, comporta muito bem, ou indispensavelmente, o funcionamento simultâneo de vários tipos de atividades, visando ao mesmo objetivo — o serviço pela causa espírita. Nada mais que isto.

O campo assistencial, por exemplo, é muito grande e meritório, exigindo vocações autênticas. Também meritório é o campo mediúnico, como são igualmente meritórios outros campos de trabalho espírita. No entanto, por mais que se reconheça a realidade, certas faixas de serviço ainda não foram bem compreendidas. Uma delas, por exemplo, é a faixa cultural. Não existe propriamente, nem poderia existir, principalmente agora, uma cúpula que se poderia chamar de elite espírita. Com as novas condições de vida e por força da interdependência em que vivem, hoje, os homens, os grupos, as classes, enfim, a noção de elite, no velho sentido de predominância intelectual de caráter seletivo já está obsoleta, já é uma ideia arcaica.

A equivalência cultural e profissional hoje em dia já não permite distinguir as pessoas pela situação intelectual ou social. O conceito de distância social, que teve muito peso nas sociedades antigas, abrindo um fosso profundo na escala profissional, está muito reduzido atualmente. Em primeiro lugar porque certas carreiras e profissões se valorizaram muito. E em segundo lugar porque as oportunidades de ascensão intelectual e profissional são cada vez maiores. Assim, não se pode mais olhar a sociedade como se fosse uma pirâmide lá em cima, no vértice, a elite mais intelectualizada e cá em baixo, na base, a massa confusa, sem capacidade para compreender os grandes problemas. 

Hoje, seria uma visão completamente errada de vez que a sociedade não está mais assim.

Justamente por isso, não se pode pensar na formação de uma elite no movimento espírita. Também não se deve chegar ao exagero de querer desvalorizar o trabalho daqueles que na seara espírita, e pela força mesma das circunstâncias, desempenham tarefas de ordem intelectual. Porventura o campo cultural do Espiritismo também não é importante? Também não se precisa de obreiros capazes? Nosso movimento precisa, ao mesmo tempo, de trabalhadores idealistas em todos os campos. Assim, o homem prático, que é o administrador, tem seu lugar inconfundível, 0 médium, quando compenetrado de sua missão, é elemento insubstituível. O articulador de congraçamento é igualmente um trabalhador necessário, do mesmo modo que é necessário o elemento que promove campanhas humanitárias. Cada qual, em seu campo de trabalho, pode ser um apóstolo do bem. Não se pode nem deve, porém, enaltecer uma faixa de serviço, minimizando outras, como se fossem de importância secundária.

Sem dúvida, o trabalho assistencial é de natureza diferente do intelectual.

Mas qual dos dois trabalhos é mais importante? Eis aí um julgamento difícil, senão impossível. No momento da necessidade humana, fala mais alto a assistência social, no momento em que é preciso esclarecer ou defender a causa espírita quando desafiada pela crítica, fala mais alto o lado cultural. E assim por diante... (...)

Porque colocar, pois, em segundo plano o campo cultural do movimento espírita, dando mais ênfase ao campo da produção mediúnica ou hipertrofiando a significação das obras assistenciais?

(...) Negar o valor das atividades culturais no meio espírita é fechar os olhos a uma realidade evidente. Não há conflito, não há dissonância entre os diversos campos de trabalho, como não há qualquer avaliação de superioridade; mas é preciso que haja mais discernimento a este respeito.

É por isso mesmo que a Doutrina Espírita democraticamente aproveita os valores humanos em todos os graus, considerando sempre a desigualdade das aptidões como ponto de referência. (...) todos podem servir, todos podem ser obreiros da mesma seara, cada qual colocado na esfera de ação que lhe seja mais indicada. Ninguém fica de fora, a não ser que, por si mesmo, queira sobrar no conjunto. Há funções para todos, e todas elas são relevantes quando se observa a harmonia, a realização geral, É com este espírito construtivo que devemos avaliar o trabalho dos companheiros que se ocupam de tarefas diferentes no meio espírita, mas todos eles estão integrados no mesmo pensamento, no mesmo ideal — trabalhar pela causa comum, a causa do Espiritismo como doutrina de renovação do homem e da sociedade.

(Jornal Mundo Espírita — Curitiba — PR — Abril de 1973)

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quinta-feira, 16 de maio de 2024

Conceitos e princípios

Conceitos e princípios

Deolindo Amorim



Os conceitos humanos são considerados, em grande parte, segundo os pontos de vista de quem os interpreta. Cada conceito, dentro de um ângulo de visão, tem um valor próprio, de acordo com as diversas concepções de vida. O conceito de verdade, que é muito subjetivo, toma sentidos muito diferentes, conforme os contextos em que esteja situado. A verdade, para um filósofo, tem aspectos ou sutilezas que o homem de espírito muito pragmático não pode apreender, justamente porque está habituado a ver tudo pelo prisma concreto e imediato. A visão do místico, do homem que vive mais para o espírito não coincide com a visão objetiva do homem de laboratório. O conceito de honra, para um indivíduo depravado, não tem o mesmo peso, o mesmo sentido de nobreza moral desse mesmo conceito, quando considerado por um homem de bem. O conceito de amor, para uma criatura dissoluta, não tem a significação de amor entendido em termos de espiritualidade, do amor cultivado pelas pessoas que se elevaram acima das paixões comuns.

E assim diversos conceitos estão sujeitos a interpretações restritivas, em virtude das desigualdades morais, intelectuais, emocionais, etc. Cada qual, dentro de seu sistema de ideias, tem um conceito de amor, de justiça, de liberdade... Cada qual avalia os conceitos em razão de suas tendências íntimas, sua cultura, sua filosofia de vida.

O meio social, por sua vez, lança sobre o indivíduo uma carga bem forte de exigências e pressões, muitas vezes condicionando os próprios conceitos. Daí decorram os conceitos de sagrado e de profano, de decente e de indecente, de justo e de injusto, como tantos outros, os quais não podem ser definitivos nem absolutos, pois variam, no tempo e no espaço, isto é, em função da época e do meio.

Se é verdade que as chamadas injunções sociais muitas vezes modificam os conceitos, que são criações humanas, também é verdade que existem princípios capazes de resistir ao tempo e às mudanças históricas. As conveniências ocasionais podem torcer os conceitos, amoldando-os à vontade, desvirtuando-lhes o verdadeiro sentido mas não podem invalidar a consistência de certos princípios.

Chegamos então ao ponto em que se faz sentir a força do ensino espírita. Pouco importa, por exemplo, que haja diversas maneiras de entender o conceito de amor, segundo as influências da cultura ou do meio social, mas o que a Doutrina Espírita afirma, como princípio, tenha o nome que tiver, é que o amor edifica o espírito, e que sem amor não há progresso espiritual. É um princípio válido no tempo e no espaço. Cada qual pode ter o seu conceito de amor para uso próprio, mas existe o amor real, acima de todos os conceitos convencionais. A Doutrina Espírita não discute conceitos, ela ensina princípios. Lá está no Livro dos Espíritos — questão 153: Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais. 

Quando a Doutrina afirma que existe uma Lei Moral, uma lei que não é contingente ou transitória, não está circunscrita a uma área nem a qualquer grupo, porque se sobrepõe a todas as configurações geográficas ou sociais, quando a Doutrina afirma isto — convém frisar bem — ela não pergunta qual é o conceito de Moral deste ou daquele grupo, desta ou daquela escola. O princípio é este: queiram ou não queiram os homens, tanto faz no Oriente como no Ocidente, a Lei Moral prevalece, é insubstituível. 

E qual o seu foro? 

A consciência, diz a Doutrina.

Há muitos conceitos de Moral, como se sabe, mas a Doutrina não se preocupa com os conceitos, porque lhe interessa principalmente infundir princípios que reformem o ser humano por sua influência. Não há reforma profunda e duradoura, entretanto, se não há compatibilidade com a Lei Moral. A reforma exterior apenas atende a eventualidades sociais, mas não modifica o indivíduo por dentro, 0 indivíduo pode usar todos os artifícios, empregar todos os expedientes de argúcia para burlar a lei escrita, que é obra dos homens, mas não pode fugir ao julgamento inexorável da Lei Moral, porque a consciência não dorme nem se deixa enganar. Cedo ou tarde, o espírito devedor terá que ajustar contas com a sua própria consciência, ainda que tenha sido absolvido ou exaltado pelos homens.

Cada qual deve, pois, esforçar-se, desde cedo, para evitar o julgamento severo da consciência, sob a ação inflexível da Lei Moral, pois se uma existência não for suficiente, haverá outras experiências, através da reencarnação. Este princípio, que ninguém pode alterar nem acomodar por meio de conceitos particulares, constitui uma das pedras angulares do ensino espírita. 

(Mundo Espírita - Curitiba - PR - Novembro de 1976)


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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Allan Kardec e a unidade doutrinária

 Allan Kardec e a unidade doutrinária

Deolindo Amorim


(...) Embora já se conheça suficientemente a biografia do Codificador do Espiritismo, há sempre o que estudar e meditar, principalmente quando nos fixamos em determinados aspectos. Vamos considerar, por exemplo, a preocupação de Allan Kardec com o ensino espírita. Como pedagogo, voltado a vida inteira para os problemas da instrução e da educação, entendia ele, e a experiência lhe dá toda razão, que o movimento espírita deveria, desde cedo, cuidar do ensino da Doutrina para a formação de adeptos capazes. Uma antecipação que podemos chamar de luminosa, sem a menor dúvida.

Uma vez concluída a obra da Codificação com o livro A Gênese (em 1868), depois de um trabalho de mais de 11 anos a fio, quis o Codificador traçar, agora, os rumos que deveria seguir o movimento espírita, ainda no início da difusão doutrinária. Veja-se, aí, a visão lúcida e penetrante de Allan Kardec: quando muita gente ainda estava no entusiasmo das primeiras impressões, quando nem todos, entre os próprios aderentes na França, haviam tomado pé no terreno, como se costuma dizer, já ele pensava na organização de um plano de atividades, prevendo providências práticas, a fim de que os continuadores soubessem conduzir bem a nova bandeira, daí o projeto de 1868 no qual incluiu a previsão de um curso regular de Espiritismo.

Curso pressupõe sequência, método, regularidade. Era justamente o que ele queria: um curso para ensinar a Doutrina. Claro que não seria um curso acadêmico, visando ao bacharelado, por exemplo, com vestibular, diploma, etc... Não! Um curso regular, na realidade, para ministrar o ensino dos princípios básicos do Espiritismo, sem formalismo nem títulos. E qual o objetivo desse curso, antevisto por Allan Kardec? Preparar adeptos capazes. Quem o diz é o próprio Codificador da Doutrina. Queria ele evitar o estudo desordenado, a improvisação e, sobretudo, a preponderância dos elementos despreparados. Como confiar a divulgação ou a interpretação de uma Doutrina a pessoas que não se prepararam convenientemente ou falam apenas por alto, quando não por momentâneo entusiasmo, mas que não têm a verdadeira segurança de conhecimento?

Era justamente a preocupação de Allan Kardec em relação ao futuro do Espiritismo, que deveria espalhar-se em todas as direções, mas poderia correr o risco de ser mal interpretado ou desfigurado em seu verdadeiro pensamento, exatamente pela falta de adeptos capazes, e não apenas crentes ou seguidores ocasionais.

Todos nós sabemos, pela experiência cotidiana, que há muita diferença entre apenas acreditar na comunicação dos espíritos e aceitar conscientemente os princípios espíritas. Kardec previa, de começo, precisamente a formação de um corpo de doutrinadores responsáveis, isto é, de pessoas identificadas com o pensamento doutrinário através de estudos metódicos, e não de leituras a esmo, leituras que podem dar noções esparsas, mas que não revelam a verdadeira linha de sequência dos ensinos básicos.

Evidentemente, não queria ele abrir caminho para a criação de elites no movimento espírita, uma espécie de cúpula intelectual, que fala de cátedra, como se estivesse muito acima da planície. Absolutamente! Nem o movimento espírita comportaria inovações deste tipo. Mas de uma coisa podemos estar certos: se é verdade que não há lugar, em nosso meio, para elites sofisticadas, também é verdade, e verdade demonstrada pela experiência, que as ideias espíritas não podem ser conduzidas ou esclarecidas sob o primado da ignorância. Exatamente por deficiência de estudo regular ou metódico, e de mais penetração no âmago da Doutrina, é que estamos vendo, lamentavelmente, tantas distorções e tanta inoculação de ideias pessoais, em nome do Espiritismo...

Um curso regular de Espiritismo, assim preconizava Allan Kardec, teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, "fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns". Ainda mais encontramos em Obras Póstumas: "Considero esse curso como de natureza a exercer capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre as suas consequências."

Estão associados, aí, dois pontos substanciais ou inequívocos: a unidade doutrinária e o futuro do Espiritismo. O futuro do Espiritismo depende da unidade doutrinária. Sem unidade, cada qual fará o seu Espiritismo ou apresentará a Doutrina a seu modo, como se ela não fosse realmente um corpo homogêneo, É natural que todos nós tenhamos nossas ideias particulares ou possamos ver certos aspectos do Espiritismo por um prisma muito próprio. Mas não podemos deslocar a posição dos verdadeiros conceitos espíritas a fim de acomodá-los ao nosso modo de ver. Seria a quebra da unidade doutrinária que é a espinha dorsal da estrutura doutrinária, como já se disse inúmeras vezes.

Por causa de uma visão parcial ou incompleta do Espiritismo, justamente sem a noção exata de sua unidade capital, é que muitas pessoas, por terem sido mal encaminhadas nos primeiros passos de participação espírita, ainda não compreendem que só existe UM Espiritismo, embora existam muitos campos de trabalho, muitas formas de ação.

Há quem fale em Espiritismo social, com tanta ênfase, como se o Espiritismo fosse exclusivamente campo de assistência social... Há quem realce com ardor o Espiritismo evangélico em contraposição ao Espiritismo científico. E assim por diante. São particularizações muito enfáticas, mas prejudicam a visão global, o sentido de unidade, justamente porque dão ideia de que existem diversos Espiritismos: o social, que é de uma área, o evangélico, que é de outra área. 0 científico que é de gabinete, etc. Ora, tudo isto constitui apenas uma desfiguração que incide sensivelmente na unidade doutrinária.

As consequências do Espiritismo atendem a necessidades diversas e, por isso mesmo, os campos de trabalho se desdobram cada vez mais através da pesquisa científica, da meditação e da explanação evangélica, assistência social, etc... Mas o foco que projeta luz sobre todos esses ângulos é um só — o ensino fundamental da Doutrina. A diversificação é apenas no trabalho humano, de acordo com o momento, o ambiente e as circunstâncias. A Doutrina, porém, não se diversifica nem se desfigura. Justamente por isso, é indispensável que tenhamos em vista, acima de tudo, a unidade doutrinária, que Allan Kardec tanto encareceu.

(Trechos de uma palestra proferida em 17/10/76 na Sociedade Espírita Allan Kardec, em Porto Alegre — RS)

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quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Discípulos de ALLAN KARDEC

Discípulos de ALLAN KARDEC

Deolindo Amorim



Podemos indicar os discípulos de Allan Kardec, sem esquematização rígida, pelo menos em dois grupos: os históricos e os que, através dos tempos, procuram identificar-se mais com o pensamento do Codificador. O grupo histórico é muito pequeno, porque se resume naqueles que, estando em Paris no começo do movimento espírita, conviveram com Allan Kardec dele recebendo, diretamente, a influência de sua personalidade e absorveram os ensinos que Kardec ministrava nos círculos mais íntimos. Os outros, os que se espalharam pelo mundo no decorrer dos tempos, beberam os conhecimentos espíritas nas obras doutrinárias e, tanto quanto possível se identificam com as linhas básicas da Codificação.

Há os aderentes ou adeptos gerais, mas nem todos são discípulos de Allan Kardec, na realidade. Discípulo é aquele que afina com o mestre, vibra em consonância com ele, esforçando-se por seguir-lhe os exemplos, sem espírito sectário, evidentemente quem é sectário ou intolerante não pode ser tido como discípulo, justamente porque um dos traços mais afirmativos de Allan Kardec, quando bem compreendido, é a largueza de ideias, a preocupação com o sentido universal da cultura.

Há pessoas que aderem à Doutrina, chegam a estudá-la sincera e meticulosamente, mas apenas por interesse intelectual ou curiosidade transitória e, por isso mesmo, não sentem certas facetas, não apreendem umas tantas sutilezas inerentes à orientação de Allan Kardec.

Na vida escolar, por exemplo, muitos antigos alunos continuam sendo discípulos de seus mestres pela vida em fora. Daí a diferença entre discípulo e aluno. A condição de simples aluno é uma contingência da formação intelectual ou profissional, ao passo que o discípulo se forma, aos poucos, pelas afinidades, pelos laços afetivos, que se criam e se consolidam pelo tempo, dentro e fora da escola. Assim, há instrutores e professores que tiveram muitos alunos mas não fizeram propriamente discípulos, na acepção estrita do termo. Outros, porém, conseguiram transformar muitos alunos em discípulos pela comunicação profunda, pela influência que tiveram até na personalidade dos alunos, e não apenas pela convivência nas aulas ou pela rotina dos contatos. Discípulos, portanto, são aqueles em quem o mestre deixa raízes mais firmes, guardam, por isso mesmo, para sempre os reflexos de sua irradiação, seus exemplos, suas diretrizes.

Allan Kardec não teve alunos de Espiritismo, no sentido específico, embora tivesse sido ele professor de diversas matérias. Mas viveu ensinando a Doutrina Espírita, não simplesmente pelos esclarecimentos ocasionais, mas pelas afirmações, pela coerência de suas ideias e, acima de tudo, pela força de sua convicção. Teve discípulos, sim, e discípulos que nunca mais se afastaram espiritualmente do Codificador da Doutrina. Entre os históricos, inegavelmente, além de outros, dois deles se distinguiram muito, e sempre honraram a memória de Kardec — Gabriel Delanne e Léon Denis. Aproximaram-se do Codificador quando ainda eram moços, sentiram o influxo de sua irradiação pessoal e abraçaram a Doutrina através de duas direções claras: científica e filosófica. Nenhum dos dois tergiversou na direção básica, antes pelo contrário reforçaram os princípios centrais do ensino espírita.

Gabriel Delanne, pela sua formação, dedicou-se muito ao campo científico e, neste terreno, deixou obras ainda hoje autorizadas como fontes de consulta. Poderíamos lembrar O Espiritismo perante a Ciência, O Fenômeno Espírita, A Evolução Anímica, Investigações sobre a Mediunidade, dentre outros trabalhos do mesmo nível. Mas Delanne, apesar de ter mais vocação científica, entrou igualmente na esfera filosófica. Bastaria lembrar uma de suas obras, entre os livros chamados clássicos da literatura espírita: A Reencarnação. Quando ainda não se falava em Parapsicologia, nem se conheciam certos termos técnicos e muito menos as siglas hoje em uso, Delanne já investigava os fenômenos de telepatia, aparições, psicometria, etc. Pouco se fala atualmente em Delanne, mas o certo é que os seus livros poderiam ser confrontados com os mais alentados de Parapsicologia. Quando ouço dizer, às vezes, que o Espiritismo está superado pela Parapsicologia (?) fico pensando no Livro dos Médiuns, que é um livro relativamente popular, mas bem pouco interpretado. E é, no entanto, como já se sabe, um tratado de Parapsicologia, embora muita gente não se aperceba disto.

Os rótulos têm muita influência... Gostaria de remeter certas pessoas, que se impressionam muito com termos técnicos e fórmulas simbólicas, a duas grandes fontes apenas: A Evolução Anímica e Investigações sobre a Mediunidade. Poder-se-ia ver, por aí, que Gabriel Delanne se antecipou em relação a umas tantas descobertas hoje propaladas e exaltadas com tanto calor.

Com relação ao segundo discípulo de Kardec por nós antes citado, quer dizer, de Léon Denis, que representa o pensamento filosófico do Espiritismo em sua expressão mais legítima, também se pode dizer que deu boa contribuição à parte científica da Doutrina. Sua produção abrange, em síntese, todos os aspectos do Espiritismo: filosófico, histórico, moral, científico... Entre outros livros, escreveu, por exemplo: No Invisível, O Porquê da Vida, Depois da Morte, O Grande Enigma, Cristianismo e Espiritismo, etc. Há, entretanto, uma obra mais extensa na qual ele condensa a Doutrina Espírita em seus fundamentos e em suas consequências: O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Obra sólida, sob todos os pontos de vista onde há erudição e há interpretação. Léon Denis dá uma contribuição própria sobre os fundamentos científicos e filosóficos do Espiritismo.

Verdade é, no entanto, que dois autores de peso como Delanne e Denis, ficam à margem de certas discussões quando poderiam na realidade, elucidar muitos problemas atualmente em foco do campo da Parapsicologia como da Psicanálise e assim por diante. São, finalmente, eles dois, os maiores e mais completos discípulos de Allan Kardec.

Deolindo Amorim
(Obreiros do Bem - Rio de Janeiro/RJ - Junho de 1975)

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Ponderações Doutrinárias
(Coletânea de artigos publicados por Deolindo Amorim, em diversos jornais e revistas espíritas do Brasil e do Exterior)
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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Advertências Espirituais

Advertências Espirituais

Deolindo Amorim 



— Não acredito muito nessas coisas... Mas senti a presença de minha mãe e modifiquei o que estava escrevendo.

Assim me falou, certa vez, um conhecido meu, faz alguns anos. Pelo que dizia, era cético em relação a comunicações do mundo espiritual. Disse-me ele, porém, que, tendo sido encarregado de um inquérito administrativo, estava à máquina, redigindo a conclusão do inquérito, mas em termos muito radicais, fazendo uma carga bem forte no funcionário acusado. Iria inutilizá-lo mesmo se não tivesse havido uma intervenção emocional, estranha e inesperada. Intervenção de quem?... Não viu nenhum vulto na sala, mas sentiu uma emoção muito forte, de um momento para outro, e quase chorara, apesar de ser um homem muito frio, por temperamento. Mas ia chorando e parou de escrever. Sentiu a presença de sua mãe, pela vibração, como se estivesse a lhe dizer:

— Meu filho, abrande essa informação; não seja tão rigoroso!

Foi o que ele me contou, embora não acreditasse muito nessas coisas...

Emocionado, como que dominado por uma força amorosa, arrancou o papel da máquina, rasgou tudo e escreveu outra página, muito diferente. Declarou-me que estava convicto da interferência de sua genitora. Ainda bem...

Muitos e muitos casos poderiam ser relatados, especialmente na vida familiar. Ainda que não se dê a presença de um espírito diretamente, por meio de manifestações físicas, o certo é que qualquer pessoa está sujeita a captar influências inesperadas. É a experiência que o demonstra.

Muitas vezes, quando estamos pensando sobre determinados problemas, ou quando estamos escrevendo, ocorrem ideias, que passam como relâmpagos, e nem sempre percebemos que essas ideias são de outra origem. Nosso contato com o mundo espiritual é muito e muito mais frequente do que supomos, o que, aliás, não é novidade para quem está "enfronhado" nesse assunto.

Nossa sensibilidade, desde que tenhamos condições predisponentes, tanto pode ser influenciada, pelas vibrações momentâneas de espíritos desencarnados, o que já aconteceu inúmeras vezes, principalmente com artistas, poetas e homens geniais, como também por motivações diversas, tais como uma paisagem, um quadro, o deslumbramento de um espetáculo como o da Foz de Iguaçu, a melodia de uma canção, etc., etc. Tudo isso, em seu momento, pode dar inspiração como ainda provocar reações especiais.

Contaram-me, por exemplo, que um crítico literário (já desencarnado), ao analisar um livro com o propósito de arrasá-lo, ouviu certa música e ficou tão embevecido, que terminou alternando o tom ferrenho da crítica e dando outra feição, mais amena, aos seus comentários.

Há ocasiões em que a natureza nos fascina de tal forma que chegamos a nos sentir fora do corpo, pois a nossa sensibilidade se eleva instantaneamente acima de todas as contenções da matéria. Lembro-me do que ocorreu comigo, em viagem de Belém do Pará a Manaus, faz algum tempo... Ao contemplar, do avião, a imensa e deslumbrante paisagem amazônica, confesso que fiquei a bem dizer fora de mim. Pouco depois, ao levantar voo em Santarém, à tarde, o avião começou a sobrevoar um trecho impressionante, justamente no chamado ponto das águas trançadas, onde se avista o Rio Solimões. Estava entardecendo... Senti-me tão emocionado, tão absorvido pela paisagem, diante de um espetáculo que eu jamais contemplara em minha vida — o pôr do sol sobre as águas e florestas na região amazônica — que cheguei a fazer uma prece de contentamento como se estivesse extasiado, perante tanta beleza natural, e falei assim, intimamente:

— Meu Deus, como é bela a Tua criação!...

A vida nos mostra muita coisa triste e horrenda, mas precisamos ver o outro lado, exatamente aquilo em que a natureza nos revela a beleza e a bondade, muitas vezes espontaneamente. Tudo isto parece divagação, mas não o é, não!... Quero chegar precisamente ao ponto de partida: influências inesperadas em nosso procedimento, ora pela ação sutil de espíritos, ora pela beleza de quadros naturais ou pela repercussão de músicas que se adaptem ao nosso tipo de sensibilidade.

Se a nossa sensibilidade pode ser influenciada por motivações naturais, na planície, no mar, na serra, no jardim, etc., muito mais aptidão tem ela para ser influenciada pelo mundo espiritual. Não é necessário que todos tenham mediunidade no sentido ostensivo. Nem é preciso que também todos "recebam" espíritos, como se costuma dizer. Muitas e muitas vezes, os espíritos estão ao nosso lado e nós não os percebemos... No entanto, absorvemos muitas ideias que nos levam a tomar nova direção. Eles sopram onde querem.

As influências do Alto, como se sabe, podem ser benéficas ou maléficas. Precisamos, pois, manter boas condições íntimas, para que eles, os espíritos desencarnados, encontrem em nós instrumentos dóceis, e, pelas suas interferências instantâneas, nos infundam energias e nos tragam sugestões capazes de modificar certos propósitos.

A presença de entidades amigas nos permite captar conselhos e advertências verdadeiramente providenciais, como no caso daquele conhecido meu, que sentiu, sem sombra de dúvida, a recomendação do espírito de sua própria mãe, aconselhando-o a não ser tão inflexível no que estava escrevendo. Daí, o acerto do velho ditado popular — somos cada vez mais vigiados pelo mundo espiritual.

(Jornal Correio Fraterno do ABC - São Bernardo do Campo - SP - Janeiro de 1978)

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quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A Doutrina Espírita e o elemento humano

A Doutrina Espírita e o elemento humano

Deolindo Amorim


A seara espírita é um campo de experiências. Seria ilusão esperar que todos quantos se engajam no trabalho espírita, nesta ou naquela faixa, por mais ardoroso que seja o desejo de servir, já estejam completamente desligados de uns tantos hábitos, contraídos nos ambientes de onde vieram. Não. As tendências religiosas de origem, os cacoetes adquiridos na profissão ou na vida social e os impulsos do próprio temperamento não se modificam de um momento para outro. O fato, portanto, de ingressarmos nas fileiras espíritas, seja pela dor, seja pela reflexão profunda ou por outro motivo, não significa que tenhamos deixado lá fora todas as propensões ou, afinal, toda a bagagem que nos acompanha. Não se diz a toda hora, e é certo, que o meio espírita é uma escola? Escola pressupõe aprendizado e melhoramento.

(...) Como a Doutrina Espírita recebe adesões de pessoas oriundas de todas as classes sociais, assim como de todas as correntes religiosas e de todos os níveis da escala humana, as frentes de trabalho no movimento espírita, quer no campo assistencial, quer no campo doutrinário, mediúnico, etc., reúnem elementos muito variados entre si, com temperamentos, concepções e costumes em tudo por tudo diferentes, É natural, até certo ponto, que haja alguns problemas por falta de entrosamento. Todos, afinal, querem trabalhar e todos são necessários à realização da obra comum. Mas nem todos sempre se identificam nas ideias, nos modos de conduzir as tarefas, e assim por diante. Todos — é bom frisar — desejam contribuir com a sua parcela de esforço. E todos devem ter oportunidades de prestar serviço.

O problema não está propriamente no fato de haver desigualdades individuais por causa da formação, estrutura psicológica, educação, cultura, etc., mas na falta, às vezes, de tato para contornar as dificuldades entre grupos heterogêneos e aproveitar bem o que cada qual possa dar de si a despeito das divergências ou até mesmo de atritos passageiros.

Nos grupos mais reduzidos, como é o caso de uma diretoria de 5 ou 6 pessoas, muitas e muitas vezes há incompatibilidades temperamentais e desentendimentos ocasionais, pois, como ensina a sabedoria popular, cada cabeça, cada sentença! Homogeneidade absoluta não é mesmo possível com um material humano ainda em processo reencarnatório de melhoramento. Mas é com esse material humano, sujeito aos altos e baixos da experiência terrena que se realizam as grandes obras. Se o nosso movimento tivesse de esperar que aparecessem somente trabalhadores já depurados de seus velhos compromissos ou sem arestas contundentes — nada teria feito até agora.

Há pessoas, no entanto, que ainda não compreendem a nossa situação e, por isso, de quando em quando fazem esta pergunta: — Mas existem dessas coisas no meio espírita?... E por quê não? O meio espírita não é uma comunidade de anjos, mas de gente de carne e osso, com os seus defeitos e suas qualidades. É verdade que certos casos já não deviam ocorrer em nosso meio. São casos realmente discrepantes, incompatíveis com o ensino espírita: personalismo, disputa de projeção, campanhas anônimas, etc., etc... Isto prova que ainda existe muita fraqueza humana do lado de cá, tanto quanto em outras atividades humanas. Não esperemos, pois, que haja um ajustamento perfeito em todos os campos de trabalho espírita, já que as criaturas humanas são mesmo desiguais. Entretanto, pela experiência já vivida e pelo que já se aprendeu na Doutrina até agora, certas dificuldades, causadas pela incompreensão humana, já não deveriam ocorrer entre nós. Afinal, ninguém é perfeito, ninguém chega à seara espírita sem as influências do passado, sem alguns prejuízos da educação ou do ambiente de origem, mas a casa espírita é uma escola. Sim, escola onde cada qual deve esforçar-se para melhorar.

Afinal de contas, que estamos fazendo no meio espírita, se ainda estamos presos às mesmas paixões ou se ainda estamos presos às mesmas tendências negativas de outrora? Se, ao cabo de tudo, nada mudou em nossa vida, pois continuamos com as mesmas ideias, os mesmos sentimentos, os mesmos hábitos, evidentemente não incorporamos bem os princípios espíritas ao dinamismo de nossa vivência cotidiana. É assunto para reflexões mais sérias.

(Revista Presença Espírita — Salvador/BA — Out. 1981)

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