Decepção
Eros
Antes que o Sol emergisse das sombras poderosas da Noite, ei-la preparada para a meditação do amanhecer, como se aguardasse a felicidade que lhe parecia tardar.
Sempre quando se aproximava a hora do encontro com o Mestre, irradiando beleza e confiança, esperava-o dominando o corcel veloz das emoções desgovernadas.
A palavra que fluía dos lábios do Missionário eram colhidas na concha do coração e impressas na memória da devota com fogo e encantamento incomum.
Ele permanecia distante, mergulhado no Oceano Divino, enquanto a jovem buscava despertá-lo para sua presença, chamando-lhe a atenção.
Porque fosse totalmente impossível lograr o intento através dos ardis de que se utilizava com invulgar habilidade, a sonhadora instou em ser recebida particularmente, a fim de pedir-lhe orientação.
Quando, por fim, teve acesso ao modesto recinto reservado para as entrevistas, quase tombou de felicidade por sentir-se a sós com o Amado.
Em postura de lótus, semblante de paz, o Mestre apontou-lhe acolhedora almofada sobre um surrado tapete e, embora silencioso, assumiu a postura de quem se coloca em posição de ouvinte.
Não escondendo o deslumbramento, e trêmula, a discípula atormentada explicou:
- Amo-vos, Senhor, com todas as veras dos meus sentimentos. Vós sois a minha Estrela Guia na noite escura e o Carro de Luz solar durante os meus dias. Vossa voz é como a canção do vento da Eternidade embalando-me as esperanças e a vossa presença é força que me toma as fibras mais íntimas, impulsionando-me para a frente...
Silenciou, por um pouco, enquanto concatenava as ideias, para logo prosseguir:
- Vossos olhos, porém, essas estrelas luminosas que emitem chispas de fogo e me fazem arder, esses me perseguem por toda parte, a todos os instantes. Nada mais belo existe no mundo, do que esses dois diamantes engastados no céu da vossa face. Como eu gostaria de possuir, pelo menos, um deles!
Sou vossa escrava submissa. Pedi-me a vida e eu a darei agora mesmo...
O Mestre contemplou-a com profunda compaixão e os olhos imensos nublaram-se de lágrimas de dor sem palavras.
Ele levantou-se. Passaram-se alguns minutos. Quando retornou, conduzia pequena bandeja de prata coberta por delicado tecido de linho.
Distendeu-a à infeliz, e disse-lhe com voz inesquecível:
- Como não necessito dele para ver, eu to ofereço. Observa quanto é feio!
Levantou o lenço transparente e apresentou-lhe o olho, que acabara de arrancar.
Só então ela notou que a cavidade ocular do lado direito da face do Sábio ficara vazia, e o olho com alguns fios de sangue, fitando-a, fê-la dar um grito de horror e sair correndo, deixando-o tombar no chão...
Há quem, no mundo, sob a videira encarregada de produzir para sempre, deseja somente decepar-lhe uma vara para retê-la na sua ambição desmedida e alucinada, perdendo-a toda.
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- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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