Programa de amor
Marília Barboza
Sob o fragor da tempestade que domina as paisagens morais da Terra, Cristo é a Bonança, sustentando-nos na luta ingente, na conjuntura desesperadora.
Ante as circunstâncias que se nos apresentam rudes e calamitosas — efeito natural da irresponsabilidade e da insânia do passado —, ao invés da posição derrotista e acomodada, neurótica e pessimista, reunamos as forças claudicantes, investindo-as na ação libertadora.
O programa que se nos desdobra, à frente, é um desafio ao valor moral e à resistência espiritual dos cristãos decididos, porque de amor.
Não obstante o socorro aos que tombaram sob a vigorosa tormenta, e que ameaça os caminhantes descuidados, apliquemos todos os possíveis esforços na educação e apoio da criança, trabalhando, desde hoje, pela humanidade de amanhã.
Na raiz da violência do adulto jaz uma criança amarfanhada, confundida, infeliz.
Em cada agressor pulsa um coração infantil assaltado pelo medo. Na gênese do desconcerto social existe uma vida que foi estiolada no nascedouro.
A marginalização da criança engendra a delinquência juvenil, carreando para o adulto a loucura e a destruição.
Toda e qualquer providência que vise a mudança da atual paisagem humana da Terra, por mais respeitável, não poderá lograr êxito, se não tiver como suporte a criança, que prossegue sendo o amanhecer do futuro.
Nesse sentido, todos os recursos devem ser canalizados para esse fanal, obviamente não esquecendo de minimizar-se a situação dos mutilados do corpo e da alma, que transitam sob conjunturas infelizes, agredidos em si mesmos e agressores, revoltados contra todos. Orientação sobre o sexo com responsabilidade — educação dos adultos; conscientização em torno da estrutura familiar — educação comunitária; dignificação do indivíduo, que deverá possuir o mínimo que seja para sobreviver como cidadão — educação dos governantes; orientação espiritual em torno do destino imortal, lavrado na realidade, sem tabus nem superstição — educação religiosa; exemplos de enobrecimento humano e respeito à criatura — educação infantil; apoio e socorro aos carentes de pão e de paz, de amor e de solidariedade — educação social, constituem alguns itens para, encarados de frente, encetar-se a tarefa de transformar o momento de angústias que se vive, nos risonhos dias de alegrias que chegarão.
Não se trata de uma fácil tarefa ou de um difícil empreendimento, mas de um compromisso que o homem do presente mantém em relação com a sociedade porvindoura.
Ninguém se pode escusar de iniciar este ministério: o de preparar o futuro.
Aquele que se não considere em condições de levantar o edifício da paz, não negue o tijolo da cooperação; quem não se acredite capaz de doar o teto, não deixe de oferecer a telha indispensável; não podendo fazer tudo, contribua com a sua parte, porém, não se detenha a gerar problemas, apontando erros e impedindo-se a solução deles.
O jovem carente toma-se o adulto desditoso, sem rumo.
A criança esfaimada, talvez sobreviva à falta do leite e do pão, nos primeiros dias da vida infantil, porém, marcada pela degenerescência cerebral, que a armará de violência e de idiotia, fará que ela cobre a indiferença socioeconômica de que foi vítima.
... Enquanto prolifera aritmeticamente a natalidade entre as chamadas classes abastadas, nos guetos e favelas multiplica-se geometricamente a vida humana que, nessa ordem, quando menos se espere, assomará, desnutrida e agressiva, em grande mole, promovendo o caos...
Não há, para o problema, solução de emergência. Ninguém se deixe enganar.
Cada família seja um santuário de amor e um teto para o pequenino de hoje, tombado a rés-do-chão.
Cada lar abra suas portas a uma criança agora sem rumo, oferecendo-lhe diretriz.
Cada criatura doe ternura a uma vida que começa, encaminhando-a para o bem.
... E enquanto não chega a hora de assim proceder-se, cooperemos com os ninhos de amor, que são os lares coletivos onde gorjeiam esses seres canoros que, na infância inocente, merecem e possuem o “reino dos Céus”, conforme afirmou Jesus, auxiliando-os, de nossa parte, a serem felizes nas paisagens da Terra, por onde seguem na atualidade, para não perderem a plenitude que os aguardará no futuro espiritual.
Marília Barboza por Divaldo Franco do livro:
Terapêutica de Emergência
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