Na glória da vida
Vianna de Carvalho
Nesta hora em que a aflição campeia no mundo açoitado pelas calamidades morais e sociais do século, o homem bate às portas da fé, sedento de paz e esperança nas promessas de Jesus.
A religião tradicional, porém, encontra-se muito preocupada com os negócios políticos, na disputa dos poderes terrenos para manter a supremacia de seus enunciados, adornada de ouro e joias de alto preço. Não se preocupa com o homem em si mesmo.
A igreja de Martinho Lutero e suas facções dissidentes demoram-se no desespero proselitista, arregimentando números para estatísticas retumbantes e combatendo-se reciprocamente, ou fazendo alianças improcedentes para vencer nos grandes jogos do mundo. Não se pode deter no auxílio do indivíduo.
Os diversos pastores, sobrecarregados de responsabilidades sociais, em nome das igrejas a que pertencem, não dispõem de tempo. Deslizam apressados junto aos fiéis atônitos que lhes seguem os passos, desencantados, mantendo postura de fé, no Templo, e vivendo profanamente no lar, na rua e na oficina de trabalho.
A ciência materialista do século XX alargou os horizontes do mundo e prolongou a vida física sobre o Orbe. Antibióticos poderosos combatem focos de vidas microscópicas, organizadas nos recessos da célula em tarefas de destruição da existência física. As sulfas aniquilam perigosos adversários da saúde. Produtos farmacêuticos surgem diariamente, perseguindo as enfermidades orgânicas. Tuberculose, lepra, sífilis e tantas outras doenças, que dizimavam multidões, pertencerão, em breve, aos horrores do passado. No entanto, com os mesmos valiosos recursos continuam funcionando as máquinas do aborto delituoso, a criminosa eutanásia, o desrespeito à maternidade pela limitação de filhos, através de processos pouco dignos, a câmara de gás...
Os índices de criminalidade, decorrentes do uso da maconha, cocaína e morfina, são alarmantes nos países cristãos com foros de civilidade.
A eletricidade aliada à técnica, em nome do conforto e da comodidade, criou veículos velozes, climas artificiais no reduto doméstico, aparelhos fabulosos de várias utilidades, instrumentos de precisão e outros encurtando as distâncias como o telefone, a televisão, o avião nas suas várias modalidades; radares e sonares que penetram os abismos do ar e das águas anotando objetos estranhos, localizando-os e medindo-lhes o peso, a velocidade e seguindo-os implacáveis.
Todavia, nos recintos superconfortados campeiam perversões de toda ordem, em que o pudor é motivo de desprezo e vergonha; originam-se hediondos crimes passionais e propaga-se a aberração moral em flagrante desprestígio da inteligência e da cultura. As manchetes de jornais apresentam diariamente suicídios nefandos, fatos policiais lamentáveis, levando ao seio das famílias os espetáculos das tragédias que, de cedo, predispõem as mentes infantis ao cinismo e à amoralidade.
Os teleguiados que sondam os céus e as distâncias, oferecendo dados fabulosos aos geofísicos, são constantemente alçados à condição de arma inconsciente de destruição pelos governos apaixonados e dominadores.
...E o homem apenas sonha, transformando a antevisão em terríveis pesadelos.
As grandes lunetas, que a inteligência aponta para os Altos Cimos, mostram as glórias de Deus, apresentam as leis de equilíbrio e falam da grandeza da ordem, apelando para a razão e o sentimento humanos.
Se olham em torno do Sol, deslumbram-se com o seu poder de rei adornado de áulicos obedientes a circularem à sua volta em movimentos harmônicos e gráceis.
Entretanto, o próprio Sol é vassalo de Alcione, em torno da qual preenche, em duzentos e vinte e cinco mil séculos, uma das suas graciosas revoluções. E Alcione é apenas uma das estrelas do grupo das Plêiades, que se compõe de aproximadamente mil astros, dos quais apenas sete podem ser vistos a olho nu.
Tão longe se encontra do homem a grandiosa Alcione que a sua luz demora 715 anos para chegar à vista insignificante da mais poderosa luneta terrestre.
Alfa de Centauro, a mais próxima estrela do homem, dista 4,3 anos-luz.
Sirius, de luz alvinitente, viaja nove anos-luz pelos espaços para oscular a Terra com os seus raios diamantinos.
Aprofundando as observações, fulgura na constelação do Navio, serena e majestosa, a soberba Canopus, com uma luz correspondente a 8.760 sóis, brilhando simultaneamente reunidos, a girar soberana no Infinito.
Apesar da distância incomensurável, Arcturus, estrela dupla de primeira grandeza, na constelação do Boeiro, situada no prolongamento da cauda da Ursa Maior, apresenta singulares e múltiplas variações, brilhando como a mais bela do céu boreal.
Betelgeuse, na constelação do Orion, vale muitos milhares de sóis iguais ao nosso.
A Via-Láctea, que nos serve de berço, ornamenta-se de cem bilhões de estrelas e, perto dela, num arquipélago de bilhões de astros distantes setecentos mil anos-luz, encontra-se Andrômeda, a galáxia deslumbrante...
E muito além das nossas concepções fulguram ilhas interplanetárias, quais a Nébula M-87, distante oito milhões de anos-luz... (1)
Os microscópios eletrônicos, pesquisando o infinitamente pequeno, revelam, na máquina grandiosa que é o corpo humano, dados impressionantes. Num centímetro quadrado de pele humana viva, há cerca de quatro metros de filetes nervosos, mil pontos sensoriais da dor, com mil canais sudoríparos, cinco mil pontos sensíveis, seis milhões de células, vinte e cinco pontos de apalpação, duzentos pontos de percepção da dor, doze pontos sensitivos do frio e um metro de vasos... expressando a sabedoria do Criador na vida organizada. (2)
Além da sua esfera, o homem descobre a Majestade Divina em toda parte e se demora esmagado.
No arcabouço que lhe serve de indumentária para a ascensão da alma nos continuados avatares, encontra a Sabedoria Infinita, tecendo a glória da vida, e permanece angustiado.
A Eletrônica empurra-o para a frente nas pesquisas incessantes.
A Cibernética - como ciência do porvir - abre-lhe as portas para novas conquistas.
Mas, no casulo carnal onde dorme, incessante inquietação interior o aflige e estiola.
Pulsa o coração divino em todo o Universo. Todavia, o homem não tem ouvidos para auscultar a vibração sublime.
Constata que a ciência moderna redescobriu o mundo e o embelezou. No entanto, observa-se escravo da paixão, sendo, por isso mesmo, perturbado e desditoso.
Olha o firmamento com o cérebro incendido de anseios de Liberdade. Mas permanece na Terra, torturado pelos mais comezinhos fenômenos da existência...
É nesse homem, todavia, que os acordes de uma fé racional e pura, consoladora e científica, tangidos pela bondade de Deus, encontram ressonância. Escutando essa harmonia que a Doutrina Espírita lhe dirige, encontra a alegria que lhe falta e a
chave que desvenda todos os mistérios do ser.
Através de processos metafísicos positivos, no Espiritismo, defronta um contingente novo de inquirições e soluções, descerrando a cortina da ficção religiosa para a realidade divina, cujo caminho ainda é Nosso Senhor Jesus Cristo, o Sublime Governador do Orbe terrestre.
Cantam, então, nessa alma renovada, as emoções superiores do espírito em libertação, buscando integrar-se na obra grandiosa do Celeste Pai, glorificando a vida imortal.
Nota: (1 e 2) Os dados apresentados são suscetíveis de alteração, considerando-se as diferenças dos mesmos entre diversos autores. Notas do Autor espiritual.
Vianna de Carvalho por Divaldo Franco do livro:
À Luz do Espiritismo
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- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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- Cisão para estudo de acordo com o Art. 46 da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98 LDA - Lei nº 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.
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