Livre Arbítrio
Martins Peralva
Conhecereis a Verdade e a Verdade vos tornará livre.
O livre arbítrio é a faculdade que permite ao homem edificar, conscientemente, o seu próprio destino, possibilitando-lhe a escolha, na sua trajetória ascensional, do caminho que desejar.
Limitado a princípio, vai-se expandindo à medida que o homem cresce em espiritualidade.
Quanto mais evoluído o ser, mais amplo o seu livre arbítrio, maior o seu direito de fazer certas escolhas, no campo da vida, assumindo assim, a pouco e pouco, o comando definitivo de sua ascensão.
Livre arbítrio e responsabilidade individual desenvolvem-se, simultaneamente, no aprendizado humano.
O homem de evolução primária tem o livre arbítrio limitado, restrito.
Equivale ao sentenciado que a lei pune, sem transigências, submetendo-o à reclusão onde melhor convenha aos interesses da lei e da sociedade.
A sociedade e a lei não confiam nele.
O homem de evolução mediana tem sua esfera deliberativa menos restrita.
Corresponde ao recluso que, submetido à disciplina dos códigos, recebe dos códigos certas concessões, geralmente atribuídas aos que, no cumprimento de suas penas, demonstram boa vontade e obediência, respeito e compreensão.
O homem evolvido é o ex-sentenciado, o que já se libertou e corrigiu.
Provas e expiações, disciplinações e corretivos foram-lhe o caminho para a libertação definitiva.
Nada mais deve à lei e colabora, na sociedade, para que se restaurem a justiça e a fraternidade, a harmonia e o progresso.
É livre para agir, porque discerne o bem do mal, a verdade da mentira, a luz da sombra.
Conhecendo a Verdade, a Verdade o fez livre. De sua atuação resultam o trabalho e a prosperidade, o fortalecimento e a segurança das peças que constituem, que formam o maquinismo das coletividades.
Um dia, no curso dos milênios, o nosso livre arbítrio se harmonizará plenamente com a Verdade Total, com as deliberações superiores.
Nesse dia saberemos executar, com fidelidade, o pensamento do Cristo, Mestre e Senhor Nosso.
* * *
Nesse dia, do qual ainda distamos muito, diremos como o apóstolo da gentilidade: “Não sou eu quem vive, mas o Cristo que vive em mim.”
Tal se dará quando tivermos superado as imperfeições.
Quando nos integrarmos, em definitivo, pelo coração e pela inteligência, nos preceitos morais e fraternistas do Evangelho.
Sem aquisições elevadas, com base nos ensinos do Celeste Enviado, a liberdade nos leva a quedas e fracassos, que redundam, geralmente, em clamorosos débitos e amargas expiações.
Abusando da força — esmagamos os fracos.
Exorbitando do poder, através da liberdade mal dirigida — oprimimos os humildes.
Utilizando mal a inteligência — confundimos os menos esclarecidos.
Se o livre arbítrio é faculdade que se origina, em princípio, de aquisições intelectivas, o coração bem formado contribuirá, sem dúvida, para que seja ele exercido segundo os padrões da moral e da fraternidade, garantindo, no Grande Porvir, o triunfo do Espírito Imortal.
O livre arbítrio do homem não evoluído é como um espelho que o lodo das imperfeições desnatura, por algum tempo.
O livre arbítrio do homem de evolução mediana é como uma madrugada que espera o beijo do Sol.
O livre arbítrio do homem evolvido — do que se libertou da ignorância — é como a face tranquila de um lago, onde se refletem, no esplendor de sua radiosidade, os luminosos raios do astro-rei.
Martins Peralva do livro:
Estudando o Evangelho (FEB)
José Martins Peralva
Nasceu em 1º de abril de 1918, em Buquim (SE). Uma das figuras mais destacadas do Movimento Espírita de Minas Gerais, Martins Peralva iniciou-se no Espiritismo sob assistência e orientação diretas de seu pai, excepcional médium curador. Teve a infância e a adolescência enriquecidas por fatos extraordinários e pelo contato com a Doutrina, o que lhe proporcionou formação espírita essencialmente baseada em Allan Kardec. Quando chegou a Belo Horizonte, em setembro de 1949, a Mocidade Espírita “O Precursor”, contava apenas 6 meses de existência. Integrou-se ao movimento juvenil, foi um dos mentores da Mocidade, função que corresponde hoje à de coordenador. Escreveu cinco obras evangélico-doutrinárias de reconhecido valor: Estudando a Mediunidade, Estudando o Evangelho, O Pensamento de Emmanuel, Mediunidade e Evolução e Mensageiros do Bem. Sempre colaborou em jornais e periódicos espíritas, escreveu durante muitos anos artigos sobre Doutrina Espírita no principal jornal dos mineiros – o matutino O Estado de Minas. Martins Peralva desencarnou em Belo Horizonte (MG), em 3 de setembro de 2007. (Fonte: Reformador, 2007.)
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