domingo, 29 de dezembro de 2024

Servir sem exigir

Servir sem exigir

André Luiz


Despendemos, por vezes, enormes coeficientes de força, tempo e atenção, falando em servir.

E largamos a palavra, certos de que o amor ao próximo se limita às rendas materiais com que costumamos obsequiar a vida física.

Sem dúvida o mérito da assistência às carências do corpo é virtude que não pode ser apreciada em medida terrestre.

Ninguém contestará, no entanto, que até agora, noventa por cem das atividades que se reportam a ela se desenvolvem na base da sobra sem proveito real para os braços que a distribuem.

Além disso, em muitas ocasiões, o ato beneficente se circunscreve ao propósito de fuga pelo qual somos instintivamente impelidos a desembaraçar-nos de quantos se nos apresentam em penúria, cujas condições nos alfinetam a consciência.

Servir será muito mais.

Será viver e conviver com os outros, conhecendo-lhes as fraquezas e imperfeições, quanto reconhecemos nossas imperfeições e fraquezas e auxiliá-los mesmo assim, em padrão idêntico ao anseio de sermos auxiliados.

Normalmente o impulso de quem beneficia a alguém inclui o troco da gratidão.

Servir, contudo, no câmbio espírita que revive o exemplo de Jesus, o Mestre e Servidor, — não espera o menor laivo de agradecimento.

Isso porque o espírita não desconhece o problema da idade espiritual e sabe que pessoas adultas, do ponto de vista das leis fisiológicas, não passam, no íntimo, de crianças ou doentes da alma entaipados na moradia orgânica, a lhe pedirem apoio e afeição, sem o mínimo entendimento do trabalho ou do sacrifício que semelhantes dádivas lhe custem.

Servir, na essência, é amparar o outro no lugar e na situação de necessidade em que o outro esteja sem cogitar nem mesmo da opinião desfavorável que o outro expresse, de vez que nem todo enfermo aceita sem reclamar o remédio que se lhe aplica, não obstante o remédio lhe efetive a cura.

Aprendamos a auxiliar sempre, mas convencidos de que nossos irmãos são consciências por si, não raro sem o mínimo nexo de afinidade com o nosso modo de sentir e de ver.

Apenas nesse molde aproximar-nos-emos da Providência Divina, através do Amor Que Ama Sem Nome, compreendendo, por fim, que a felicidade é servir e passar.

André Luiz por Waldo Vieira do livro:
Sol nas Almas

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