Iniciação
Miramez
Quem não pode servir desconhece a iniciação cristã. A mediunidade é uma ferramenta de trabalho do Bem, desde quando ela é submetida a uma certa disciplina. O dever primeiro do sensitivo é frequentar a escola do Evangelho, assimilar seus conceitos e disseminar a Boa Nova de Jesus Cristo, pelo exemplo a que o dia a dia convida.
O médium que não estuda adormece nos braços da ignorância e perde o caminho da verdade e da vida, até que o tempo, pela explosão da dor, o acorde. Se já trouxestes, ao nascer, a faculdade grandiosa de servir como instrumento para que os espíritos possam falar aos homens das verdades eternas e soberanas, eis a vossa oportunidade de ajudar, de emprestar a vós mesmos, de sorte que inteligências invisíveis falem aos que sofrem, aos encarcerados nas cadeias e nos vícios, aos desesperados, aos familiares aflitos, aos jovens sem rumo, aos velhos cansados, aos homens de negócios, aos ricos e pobres, grandes e pequenos.
A vossa meta já se encontra definida. Nascestes para servir. E se porventura alguns medianeiros, influenciados pela vaidade, quiserem que os outros reconheçam neles a marca de servidores da coletividade, fazei o que o Cristo aconselha aos Seus discípulos, que João anota no capítulo acima referido: amai-vos uns aos outros, como Ele nos amou. Se o pedido constitui peso para a vossa conduta em formação, pelo menos esforçai-vos em amar, mas começai exercitando outras virtudes mais leves até chegar a este dom maior por excelência, que configura a presença de Deus nos corações dos iniciados na verdadeira caridade.
A mediunidade na Terra iluminou-se com a fala do Mestre. Ele orientou a humanidade, e principalmente os médiuns, de maneira a usar as faculdades a serviço da fraternidade na comunidade a que pertencem. Isolou o comércio dos dons espirituais, proclamando aos seus discípulos: "Dai de graça o que de graça recebestes". E para tirar o medo dos iniciantes do Evangelho de passar necessidades das coisas, acrescenta: "Os lírios dos campos não fiam nem tecem e vestem-se com mais brilho do que os reis; as aves dos céus não plantam nem colhem, no entanto são sempre supridas pela natureza". Todavia, valorizou o trabalho, dizendo: "Todo trabalhador é digno do seu salário". Depois ensinou aos fariseus que deveríamos "Dar a César o que era de César, e a Deus o que era de Deus", mostrando, assim, as linhas de operação mediúnica dos candidatos à verdade, as paralelas das duas operações, as duas metas da própria vida: a física e a espiritual.
Não penseis, meus filhos, que uma iniciação nas hostes do Cristianismo se faz de um dia para outro. Gasta-se tempo e contínuos esforços, sacrifícios inúmeros e subidas, sem precedentes, cuja soma significa muita dor. A Doutrina Espírita não faz médiuns, mas traça para eles caminhos, nos quais poderão ir se libertando dos laços milenários do ódio, ganhando e fazendo ganhar o amor; das presas da inércia, ganhando e conquistando o trabalho; da atmosfera do egoísmo, ilustrando a inteligência e os sentimentos no completo domínio dos impulsos inferiores, sempre abraçando a caridade, como sendo a porta central, por onde o sol de Deus banha o coração. E como o Senhor sabe planejar as coisas e envolvê-las nas belezas imortais, a nos fazer compreender que não pode existir Espiritismo sem a própria mediunidade, ela é um canal por onde transitam as conversações de um mundo com o outro, instrumento imprescindível à sustentação dos seus conceitos. Ela é o aconchego, que a esperança da vida futura faz presente com mais clareza. Abençoemos, pois, essa faculdade, cujas raízes se encravam no complexo humano, a esplender nos sentidos psicossomáticos das criaturas.
A Doutrina Espírita empenhou-se na educação da mediunidade, servindo-se dela para a sua própria expansão. E o ser humano dotado de faculdades mediúnicas, que se entregou à iniciação Espírita, deve trilhar pelos caminhos indicados por ela, que convergem totalmente para o cristianismo nascente, mostrando os meios e fazendo ambiente para os médiuns se renovarem a si mesmos. Antes de fazer parte de uma reunião a serviço desta própria mediunidade, lembrai-vos de perdoar as ofensas. Antes de falar algo como incentivo à caridade, fazei-a. Antes de estimular a vivência do amor, amai os vossos semelhantes.
Se a lei nos diz que os semelhantes atraem os semelhantes, assemelhemo-nos a Cristo ou, pelo menos, esforcemo-nos para ser Seus discípulos. Neste ingente trabalho, os agentes invisíveis do Mestre encontrarão em nós as qualidades indispensáveis para o serviço de Deus, servindo a Cristo, em favor da humanidade.
Médiuns de todos os sistemas doutrinários! Se quereis ser conhecidos como discípulos de Jesus Cristo, observai essa conduta que não pode ser esquecida. Ei-la:
"Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros".
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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