O Espiritismo em sua mais simples expressão
Allan Kardec
HISTÓRICO DO ESPIRITISMO
Por volta de 1848, chamou-se a atenção, nos Estados Unidos da América, para diversos fenômenos estranhos que consistiam em ruídos, batidas e movimentos de objetos sem causa conhecida. Esses fenômenos aconteciam com frequência, espontaneamente, com uma intensidade e persistência singulares; mas notou-se também que ocorriam particularmente sob a influência de certas pessoas, às quais se deu o nome de médiuns, que podiam de certa forma provocá-los à vontade, o que permitiu repetir as experiências. Para isso, usaram-se sobretudo mesas; não porque este objeto seja mais favorável que outros, mas somente porque ele é bem móbil, mais cômodo, e é mais fácil e natural sentar-se em volta de uma mesa que de qualquer outro móvel. Obteve-se dessa forma a rotação da mesa, depois movimentos em todos os sentidos, saltos, reversões, flutuações, golpes dados com violência, etc. O fenômeno foi designado, a princípio, com o nome de mesas girantes ou dança das mesas.
Até então, o fenômeno podia explicar-se perfeitamente por uma corrente elétrica ou magnética, ou pela ação de um fluido desconhecido, e esta foi aliás a primeira opinião formada. Mas não se demorou a reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes; assim, o movimento obedecia à vontade: a mesa ia para a direita ou para a esquerda, em direção a uma pessoa designada, ficava sobre um ou dois pés sob comando, batia no chão o número de vezes pedido, batia regularmente, etc. Ficou então evidente que a causa não era puramente física e, a partir do axioma: Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, concluiu-se que a causa desse fenômeno devia ser uma inteligência.
Qual era a natureza dessa inteligência? Essa era a questão. A primeira ideia foi a de que podia haver um reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência demonstrou logo a impossibilidade disso, porque se obtiveram coisas completamente fora do pensamento e dos conhecimentos das pessoas presentes, e até em contradição com suas ideias, vontade e desejo; ela só podia, então, pertencer a um ser invisível. O meio de certificar-se era bem simples: bastava iniciar uma conversa com essa entidade, o que foi feito por meio de um número convencional de batidas significando sim ou não, ou designando as letras do alfabeto; obtiveram-se, dessa forma, respostas para as diversas questões que se lhe dirigiam. Esse é o fenômeno que foi designado pelo nome de mesas falantes. Todos os seres que se comunicaram dessa forma, interrogados sobre sua natureza, declararam ser Espíritos e pertencer ao mundo invisível. Como se tratava de efeitos produzidos em um grande número de localidades, pela intervenção de pessoas diferentes, e observados por homens muito sérios e esclarecidos, não era possível que fossem joguete de ilusão.
Da América, esse fenômeno passou para a França e o resto da Europa, onde, durante alguns anos, as mesas girantes e falantes foram a moda e se tornaram o divertimento dos salões; depois, quando as pessoas se cansaram, deixaram-nas de lado para passar a outra distração.
O fenômeno não tardou a se apresentar sob um novo aspecto, que o fez sair do domínio da simples curiosidade. Não nos permitindo os limites deste resumo que sigamos todas as fases do fenômeno, nós passamos, sem transição, ao que ele oferece de mais característico, ao que fixa sobretudo a atenção das pessoas sérias.
Dizemos, inicialmente, que a realidade do fenômeno encontrou numerosos contraditores; uns, sem levar em conta o desinteresse e a honradez dos experimentadores, não viram mais que hábil jogo de escamoteação. Os que não admitem nada fora da matéria, que só acreditam no mundo visível, que acham que tudo morre com o corpo, os materialistas, em uma palavra: os que se qualificam de espíritos fortes, rejeitaram a existência dos Espíritos invisíveis para o campo das fábulas absurdas; tacharam de loucos os que levavam a coisa a sério, e os cumularam de sarcasmos e zombarias. Outros, não podendo negar os fatos, e sob o império de certas ideias, atribuíram esses fenômenos à influência exclusiva do diabo e procuraram, por esse meio, assustar os tímidos. Mas hoje o medo do diabo perdeu singularmente seu prestígio; falaram tanto dele, pintaram-no de tantos modos, que as pessoas se familiarizaram com essa ideia e muitos acharam que era preciso aproveitar a ocasião para ver o que ele é realmente. Resultou que, à parte um pequeno número de mulheres timoratas, o anúncio da chegada do verdadeiro diabo tinha algo de picante para aqueles que só o tinham visto em quadros ou no teatro; ele foi para muita gente um poderoso estimulante, de modo que os que quiseram levantar, por esse meio, uma barreira às novas ideias, agiram contra seu próprio objetivo e tornaram-se, sem o querer, agentes propagadores tanto mais eficazes quanto mais forte gritavam. Os outros críticos não tiveram sucesso maior porque, aos fatos constatados e a raciocínios categóricos, só puderam opor denegações. Lede o que eles publicaram e em toda parte encontrareis prova de ignorância e de falta de observação séria dos fatos, e em nenhuma parte uma demonstração peremptória de sua impossibilidade. Toda a sua argumentação resume-se assim: "Eu não acredito, então não existe; todos os que acreditam são loucos e somente nós temos o privilégio da razão e do bom senso." O número dos adeptos feitos pela crítica séria ou burlesca é incalculável, porque em todas elas apenas se encontram opiniões pessoais, vazias de provas contrárias. Continuemos nossa exposição.
As comunicações por batidas eram lentas e incompletas; reconheceu-se que adaptando um lápis a um objeto móvel — cesta, prancheta ou um outro —, sobre os quais se colocavam os dedos, esse objeto se colocava em movimento e traçava caracteres. Mais tarde reconheceu-se que esses objetos eram tão-somente acessórios que podiam ser dispensados; a experiência demonstrou que o Espírito, que agia sobre um corpo inerte dirigindo-o à vontade, podia agir da mesma forma sobre o braço ou a mão para conduzir o lápis. Tivemos então médiuns escritores, ou seja, pessoas que escreviam de modo involuntário, sob a impulsão dos Espíritos, dos quais poderiam ser instrumentos e intérpretes. A partir daí, as comunicações não tiveram mais limites, e a troca de pensamentos pôde fazer-se com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre os vivos. Era um vasto campo aberto à exploração, a descoberta de um mundo novo: o mundo dos invisíveis, como o microscópio havia feito descobrir o mundo dos infinitamente pequenos.
Que são esses Espíritos? Que papel desempenham no universo? Com que objetivo se comunicam com os mortais? Tais as primeiras questões que se teria a resolver. Soube-se logo, por eles mesmos, que não são seres à parte na criação, mas as próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos; que essas almas, depois de se terem despojado de seu envoltório corporal, povoam e percorrem o espaço. Não houve mais possibilidade de dúvidas quando se reconheceu, entre eles, parentes e amigos, com os quais se pôde conversar; quando estes vieram dar prova de sua existência, demonstrar que a morte para eles foi somente a do corpo, que sua alma ou Espírito continua a viver, que estão ali junto de nós, vendo-nos e observando-nos como quando eram vivos, cercando de solicitude aqueles que amaram, e cuja lembrança é para eles uma doce satisfação.
Geralmente fazemos dos Espíritos uma ideia completamente falsa; eles não são, como muitos imaginam, seres abstratos, vagos e indefinidos, nem algo como um clarão ou uma centelha; são, ao contrário, seres muito reais, com sua individualidade e uma forma determinada. Podemos ter uma ideia aproximada pela explicação seguinte: Há no homem três coisas essenciais:
1.° — a alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o pensamento, a vontade e o senso moral;
2.° — o corpo, envoltório material, pesado e grosseiro, que coloca o Espírito em relação com o mundo exterior;
3.° — o perispírito, envoltório fluídico, leve, que serve de laço e intermediário entre o Espírito e o corpo. Quando o envoltório exterior está gasto e não pode mais funcionar, ele tomba e o Espírito despoja-se dele como o fruto de sua casca, a árvore de sua crosta; em resumo, como se abandona uma roupa velha que não serve mais; é a isso que chamamos morte.
A morte, portanto, não passa da destruição do grosseiro envoltório do Espírito: só morre o corpo, o Espírito não morre. Durante a vida o Espírito está de certa forma comprimido pelos laços da matéria a que está unido e que, muitas vezes, paralisa suas faculdades; a morte do corpo desembaraça-o de seus laços; ele se liberta e recupera sua liberdade, como a borboleta saindo de sua crisálida. Mas ele só abandona o corpo material; conserva o perispírito, que constitui para ele uma espécie de corpo etéreo, vaporoso, imponderável para nós e de forma humana, que parece ser a forma-tipo. Em seu estado normal, o perispírito é invisível, mas o Espírito pode fazer com que sofra certas modificações que o tornam momentaneamente acessíveis à vista e até ao contato, como acontece com o vapor condensado; é assim que eles podem às vezes mostrar-se a nós em aparições. É com a ajuda do perispírito que o Espírito age sobre a matéria inerte e produz os diversos fenômenos de ruído, de movimento, de escrita, etc.
As batidas e movimentos são, para os Espíritos, meios de atestar sua presença e chamar para si a atenção, exatamente como quando uma pessoa bate para avisar que há alguém. Há os que não se limitam a ruídos moderados, mas que chegam a fazer um alarido como de louça quebrando, de portas que se abrem e se fecham, ou de móveis derrubados.
Através de batidas e movimentos combinados eles puderam exprimir seus pensamentos, mas a escrita lhes oferece o meio completo, mais rápido e mais cômodo; é o que eles preferem. Pela mesma razão por que podem formar caracteres, podem guiar a mão para traçar desenhos, escrever música, executar uma peça em um instrumento; em resumo, na falta do próprio corpo, que não têm mais, usam o do médium para manifestar-se aos homens de uma maneira sensível.
Os Espíritos podem ainda manifestar-se de várias maneiras, entre outras pela vista e pela audição. Certas pessoas, ditas médiuns auditivos, têm a faculdade de ouvi-los e podem, assim, conversar com eles; outras os veem — são os médiuns videntes. Os Espíritos que se manifestam à visão apresentam-se geralmente sob forma análoga à que tinham quando vivos, porém vaporosa; outras vezes, essa forma tem toda a aparência de um ser vivo, a ponto de iludir completamente, tanto que algumas vezes foram tomados por criaturas de carne e osso, com as quais se pôde conversar e trocar apertos de mãos, sem se suspeitar que se tratava de Espíritos, a não ser em razão de seu desaparecimento súbito.
A visão permanente e geral dos Espíritos é bem rara, mas as aparições individuais são bastante frequentes, sobretudo no momento da morte; o Espírito liberto parece ter pressa de rever seus parentes e amigos, como para avisá-los que acaba de deixar a terra e dizer-lhes que continua vivendo.
Que cada um junte suas lembranças, e veremos quantos fatos autênticos desse tipo, de que não nos apercebíamos, aconteceram não só à noite, durante o sono, mas em pleno dia e no estado mais completo de vigília. Outrora víamos esses fatos como sobrenaturais e maravilhosos, e os atribuíamos à magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os atribuem à imaginação; mas desde que a ciência espírita nos deu a chave para sua explicação, sabemos como se produzem e que não saem da ordem dos fenômenos naturais.
Acreditava-se ainda que os Espíritos, só pelo fato de serem Espíritos, deviam ter a soberana ciência e a soberana sabedoria: é um erro que a experiência não tardou a demonstrar. Entre as comunicações feitas pelos Espíritos, algumas são sublimes de profundidade, eloquência, sabedoria, moral, e só respiram bondade e benevolência; mas, ao lado dessas, há aquelas muito vulgares, fúteis, triviais, grosseiras até, pelas quais o Espírito revela os mais perversos instintos. Fica então evidente que elas não podem emanar da mesma fonte e que, se há bons Espíritos, há, também, maus. Os Espíritos, não sendo mais que as almas dos homens, naturalmente não podem tornar-se perfeitos ao abandonar seu corpo; até que tenham progredido, conservam as imperfeições da vida corpórea; é por isso que os vemos em todos os graus de bondade e maldade, de saber e ignorância.
Os Espíritos geralmente se comunicam com prazer, constituindo para eles uma satisfação ver que não foram esquecidos; descrevem de boa vontade suas impressões ao deixar a terra, sua nova situação, a natureza de suas alegrias e sofrimentos no mundo em que se encontram. Uns são muito felizes, outros infelizes, alguns até sofrem horríveis tormentos, segundo a maneira como viveram e o emprego bom ou mau, útil ou inútil que fizeram da vida. Observando-os em todas as fases de sua nova existência, de acordo com a posição que ocuparam na terra, seu tipo de morte, seu caráter e seus hábitos como homens, chegamos a um conhecimento, se não completo, pelo menos bastante preciso do mundo invisível, para termos a explicação do nosso estado futuro e pressentir o destino feliz ou infeliz que lá nos espera.
As instruções dadas pelos Espíritos de categoria elevada sobre todos os assuntos que interessam à humanidade, as respostas que eles deram às questões que lhes foram propostas, foram recolhidas e coordenadas com cuidado, constituindo toda uma ciência, toda uma doutrina moral e filosófica, sob o nome de Espiritismo. O Espiritismo é, pois, a doutrina fundada sobre existência, as manifestações e o ensinamento dos Espíritos. Esta doutrina acha-se exposta de modo completo em O Livro dos Espíritos, pela parte filosófica; em O Livro dos Médiuns, pela parte prática e experimental; e em O Evangelho segundo o Espiritismo, pela parte moral. Podemos avaliar, pela análise que faremos abaixo dessas obras, a variedade, a extensão e a importância das matérias que ela engloba.
Como vimos, o Espiritismo teve seu ponto de partida no fenômeno vulgar das mesas girantes; mas como esses fatos falam mais aos olhos que à inteligência, despertam mais curiosidade que sentimento, uma vez satisfeita a curiosidade, fica-se tão menos interessado quanto maior é falta de compreensão. A situação mudou quando a teoria veio explicar a causa; sobretudo quando se viu que dessas mesas girantes com as quais as pessoas se divertiram algum tempo, saía toda uma doutrina moral que fala à alma, dissipando as angústias da dúvida, satisfazendo a todas as aspirações deixadas no vácuo por um ensinamento incompleto sobre o futuro da humanidade; as pessoas sérias acolheram a nova doutrina como um benefício e, a partir de então, longe de declinar, ela cresceu com incrível rapidez. No espaço de alguns anos conseguiu adesões em todos os países do mundo, sobretudo entre as pessoas esclarecidas, inúmeros partidários que aumentam todos os dias em uma proporção extraordinária, de tal forma que hoje se pode dizer que o Espiritismo conquistou direito de cidade. Está assentado sobre bases que desafiam os esforços de seus adversários mais ou menos interessados em combatê-lo e a prova é que os ataques e críticas não retardaram sua marcha em um só instante — este é um fato obtido pela experiência, cujo motivo os oponentes nunca puderam explicar; os espíritas dizem simplesmente que, se ele se propaga apesar da crítica, é que o acham bom e que se prefere seu modo de raciocinar ao de seus contraditores.
O Espiritismo, entretanto, não é uma descoberta moderna; os fatos e princípios sobre os quais ele repousa perdem-se na noite dos tempos, pois encontramos seus vestígios nas crenças de todos os povos, em todas as religiões, na maior parte dos escritores sagrados e profanos; só que os fatos, incompletamente observados, foram muitas vezes interpretados segundo as ideias supersticiosas da ignorância, e não foram deduzidas todas as suas consequências.
Com efeito, o Espiritismo está fundado sobre a existência dos Espíritos, mas, não sendo os Espíritos mais que as almas dos homens, desde que há homens, há Espíritos; o Espiritismo nem os descobriu, nem os inventou. Se as almas ou Espíritos podem manifestar-se aos vivos, é que isso é natural e, portanto, eles devem tê-lo feito em todos os tempos; assim, em qualquer época e qualquer lugar encontramos a prova dessas manifestações, que são abundantes sobretudo nos relatos bíblicos.
O que é moderno é a explicação lógica dos fatos, o conhecimento mais completo da natureza dos Espíritos, de seu papel e seu modo de ação, a revelação de nosso estado futuro, enfim, sua constituição em corpo de ciência e de doutrina e suas diversas aplicações. Os antigos conheciam o princípio; os modernos conhecem os detalhes. Na Antiguidade, o estudo desses fenômenos constituía o privilégio de certas castas que só os revelavam aos iniciados em seus mistérios; na Idade Média, os que se ocupavam ostensivamente com isso eram tidos como feiticeiros e, por isso, queimados; mas hoje não há mistérios para ninguém, não se queima a ninguém; tudo se passa claramente e todo o mundo pode esclarecer-se e praticá-lo, pois há médiuns em toda parte.
A própria doutrina que os Espíritos ensinam hoje não tem nada de novo; é encontrada em fragmentos na maior parte dos filósofos da Índia, do Egito e da Grécia, e inteira no ensinamento de Cristo. Então o que vem fazer o Espiritismo? Vem confirmar novos testemunhos, demonstrar, por fatos, verdades desconhecidas ou mal compreendidas, restabelecer em seu verdadeiro sentido as que foram mal interpretadas.
O Espiritismo não ensina nada de novo, é verdade; mas não é alguma coisa provar de modo patente, irrecusável, a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade depois da morte, sua imortalidade, as penas e recompensas futuras?
Quanta gente crê nessas coisas, mas crê com um vago pensamento oculto de incerteza, e diz em seu foro íntimo: "E se não fosse assim?" Quantos não foram levados à incredulidade porque lhes apresentaram o futuro sob um aspecto que sua razão não podia admitir! Então, não é nada para o crente vacilante, poder dizer: "Agora tenho certeza!", para o cego, rever a luz? Pelos fatos e por sua lógica, o Espiritismo vem dissipar a ansiedade da dúvida e trazer de volta à fé àquele que dela se afastou; revelando-nos a existência do mundo invisível que nos rodeia, no meio do qual vivemos sem suspeitar, ele nos dá a conhecer, pelo exemplo dos que viveram, as condições de nossa felicidade ou infelicidade futura; ele nos explica a causa de nossos sofrimentos aqui na terra e o meio de amenizá-los. Sua propagação terá por efeito inevitável a destruição das doutrinas materialistas, que não podem resistir à evidência. O homem, convencido da grandeza e da importância de sua existência futura, que é eterna, compara-a com a incerteza da vida terrestre, que é tão curta, e eleva-se, pelo pensamento, acima das mesquinhas considerações humanas; conhecendo a causa e o propósito de suas misérias, ele as suporta com paciência e resignação, porque sabe que elas são um meio de chegar a um estado melhor. O exemplo daqueles que vêm do além-túmulo descrever suas alegrias e dores, provando a realidade da vida futura, prova ao mesmo tempo que a justiça de Deus não deixa nenhum vício sem punição e nenhuma virtude sem recompensa. Acrescentemos, finalmente, que as comunicações com os seres queridos que perdemos acarretam uma doce consolação, provando não só que eles existem, mas que estamos menos separados deles do que se estivessem vivos num país estrangeiro.
Em resumo, Espiritismo adoça a amargura das tristezas da vida; acalma os desesperos e as agitações da alma, dissipa as incertezas ou os terrores do futuro, elimina o pensamento de abreviar a vida pelo suicídio; da mesma forma torna felizes os que aderem a ele, e está aí o grande segredo de sua rápida propagação.
Do ponto de vista religioso, Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras; mas ele é independente de qualquer culto particular. Seu objetivo é provar, aos que negam ou duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo, que ela tem depois da morte as consequências do bem e do mal que fez durante a vida corpórea; ora, isto é de todas as religiões.
Como crença nos Espíritos, ele é igualmente de todas as religiões, assim como é de todos os povos, visto que onde há homens há almas ou Espíritos; e as manifestações são de todos os tempos, cujos relatos se encontram em todas as religiões, sem exceção. Pode-se, pois, ser católico grego ou romano, protestante, judeu ou muçulmano, e crer nas manifestações dos Espíritos e, por conseguinte, ser espírita; a prova está em que o Espiritismo tem aderentes em todas as seitas.
Como moral, ele é essencialmente cristão, pois a moral que ensina não é senão o desenvolvimento e a aplicação da do Cristo, a mais pura de todas, e cuja superioridade não é contestada por ninguém, prova evidente de que ela é a lei de Deus; ora, a moral é para uso de toda gente.
O Espiritismo, sendo independente de toda forma de culto, não prescreve nenhum, e, por não se ocupar com dogmas particulares, não é uma religião especial, pois ele não tem nem seus padres nem seus templos. Aos que lhe perguntam se fazem bem em seguir tal ou tal prática, ele responde: Se credes que vossa consciência o solicita a fazê-lo, fazei-o: Deus leva sempre em conta a intenção. Em uma palavra, ele não se impõe a ninguém; ele não se dirige aos que tem fé, e aos quais essa fé basta, mas à numerosa categoria dos incertos e dos incrédulos; ele não os tira da Igreja, pois eles já estão dela separados moralmente, em tudo ou em parte; ele os leva a percorrer os três quartos do caminho para a ela voltar; cabe a ela fazer o resto.
O Espiritismo combate, é verdade, certas crenças, tais como a eternidade das penas, o fogo material do inferno, a personalidade do diabo, etc.; mas não é certo que essas crenças, impostas como absolutas, hão feito incrédulos em todos os tempos e os fazem ainda todos os dias? Se o Espiritismo, dando destes e de outros dogmas uma interpretação racional, reconduzindo à fé aqueles que dela desertam, não presta ele serviço à religião? A esse propósito, um venerável eclesiástico disse: “O Espiritismo faz crer em alguma coisa; ora, é melhor crer em alguma coisa do que em nada crer.”
Não sendo os Espíritos senão as almas, não se pode negar o Espírito sem negar a alma. Admitindo-se as almas ou Espíritos, a questão reduzida à sua mais simples expressão é esta: As almas dos que morreram podem se comunicar com os vivos? O Espiritismo prova a afirmativa por fatos materiais; que prova pode-se dar de que isso não é possível? Se é, todas as negações do mundo não impedirão que seja, pois não é nem um sistema, nem uma teoria, mas uma lei da natureza; ora, contra as leis da natureza a vontade do homem é impotente; é preciso, bom grado, mau grado, aceitar-lhe as consequências, e a elas conformar suas crenças e seus hábitos.
Até então, o fenômeno podia explicar-se perfeitamente por uma corrente elétrica ou magnética, ou pela ação de um fluido desconhecido, e esta foi aliás a primeira opinião formada. Mas não se demorou a reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes; assim, o movimento obedecia à vontade: a mesa ia para a direita ou para a esquerda, em direção a uma pessoa designada, ficava sobre um ou dois pés sob comando, batia no chão o número de vezes pedido, batia regularmente, etc. Ficou então evidente que a causa não era puramente física e, a partir do axioma: Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, concluiu-se que a causa desse fenômeno devia ser uma inteligência.
Qual era a natureza dessa inteligência? Essa era a questão. A primeira ideia foi a de que podia haver um reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência demonstrou logo a impossibilidade disso, porque se obtiveram coisas completamente fora do pensamento e dos conhecimentos das pessoas presentes, e até em contradição com suas ideias, vontade e desejo; ela só podia, então, pertencer a um ser invisível. O meio de certificar-se era bem simples: bastava iniciar uma conversa com essa entidade, o que foi feito por meio de um número convencional de batidas significando sim ou não, ou designando as letras do alfabeto; obtiveram-se, dessa forma, respostas para as diversas questões que se lhe dirigiam. Esse é o fenômeno que foi designado pelo nome de mesas falantes. Todos os seres que se comunicaram dessa forma, interrogados sobre sua natureza, declararam ser Espíritos e pertencer ao mundo invisível. Como se tratava de efeitos produzidos em um grande número de localidades, pela intervenção de pessoas diferentes, e observados por homens muito sérios e esclarecidos, não era possível que fossem joguete de ilusão.
Da América, esse fenômeno passou para a França e o resto da Europa, onde, durante alguns anos, as mesas girantes e falantes foram a moda e se tornaram o divertimento dos salões; depois, quando as pessoas se cansaram, deixaram-nas de lado para passar a outra distração.
O fenômeno não tardou a se apresentar sob um novo aspecto, que o fez sair do domínio da simples curiosidade. Não nos permitindo os limites deste resumo que sigamos todas as fases do fenômeno, nós passamos, sem transição, ao que ele oferece de mais característico, ao que fixa sobretudo a atenção das pessoas sérias.
Dizemos, inicialmente, que a realidade do fenômeno encontrou numerosos contraditores; uns, sem levar em conta o desinteresse e a honradez dos experimentadores, não viram mais que hábil jogo de escamoteação. Os que não admitem nada fora da matéria, que só acreditam no mundo visível, que acham que tudo morre com o corpo, os materialistas, em uma palavra: os que se qualificam de espíritos fortes, rejeitaram a existência dos Espíritos invisíveis para o campo das fábulas absurdas; tacharam de loucos os que levavam a coisa a sério, e os cumularam de sarcasmos e zombarias. Outros, não podendo negar os fatos, e sob o império de certas ideias, atribuíram esses fenômenos à influência exclusiva do diabo e procuraram, por esse meio, assustar os tímidos. Mas hoje o medo do diabo perdeu singularmente seu prestígio; falaram tanto dele, pintaram-no de tantos modos, que as pessoas se familiarizaram com essa ideia e muitos acharam que era preciso aproveitar a ocasião para ver o que ele é realmente. Resultou que, à parte um pequeno número de mulheres timoratas, o anúncio da chegada do verdadeiro diabo tinha algo de picante para aqueles que só o tinham visto em quadros ou no teatro; ele foi para muita gente um poderoso estimulante, de modo que os que quiseram levantar, por esse meio, uma barreira às novas ideias, agiram contra seu próprio objetivo e tornaram-se, sem o querer, agentes propagadores tanto mais eficazes quanto mais forte gritavam. Os outros críticos não tiveram sucesso maior porque, aos fatos constatados e a raciocínios categóricos, só puderam opor denegações. Lede o que eles publicaram e em toda parte encontrareis prova de ignorância e de falta de observação séria dos fatos, e em nenhuma parte uma demonstração peremptória de sua impossibilidade. Toda a sua argumentação resume-se assim: "Eu não acredito, então não existe; todos os que acreditam são loucos e somente nós temos o privilégio da razão e do bom senso." O número dos adeptos feitos pela crítica séria ou burlesca é incalculável, porque em todas elas apenas se encontram opiniões pessoais, vazias de provas contrárias. Continuemos nossa exposição.
As comunicações por batidas eram lentas e incompletas; reconheceu-se que adaptando um lápis a um objeto móvel — cesta, prancheta ou um outro —, sobre os quais se colocavam os dedos, esse objeto se colocava em movimento e traçava caracteres. Mais tarde reconheceu-se que esses objetos eram tão-somente acessórios que podiam ser dispensados; a experiência demonstrou que o Espírito, que agia sobre um corpo inerte dirigindo-o à vontade, podia agir da mesma forma sobre o braço ou a mão para conduzir o lápis. Tivemos então médiuns escritores, ou seja, pessoas que escreviam de modo involuntário, sob a impulsão dos Espíritos, dos quais poderiam ser instrumentos e intérpretes. A partir daí, as comunicações não tiveram mais limites, e a troca de pensamentos pôde fazer-se com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre os vivos. Era um vasto campo aberto à exploração, a descoberta de um mundo novo: o mundo dos invisíveis, como o microscópio havia feito descobrir o mundo dos infinitamente pequenos.
Que são esses Espíritos? Que papel desempenham no universo? Com que objetivo se comunicam com os mortais? Tais as primeiras questões que se teria a resolver. Soube-se logo, por eles mesmos, que não são seres à parte na criação, mas as próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos; que essas almas, depois de se terem despojado de seu envoltório corporal, povoam e percorrem o espaço. Não houve mais possibilidade de dúvidas quando se reconheceu, entre eles, parentes e amigos, com os quais se pôde conversar; quando estes vieram dar prova de sua existência, demonstrar que a morte para eles foi somente a do corpo, que sua alma ou Espírito continua a viver, que estão ali junto de nós, vendo-nos e observando-nos como quando eram vivos, cercando de solicitude aqueles que amaram, e cuja lembrança é para eles uma doce satisfação.
Geralmente fazemos dos Espíritos uma ideia completamente falsa; eles não são, como muitos imaginam, seres abstratos, vagos e indefinidos, nem algo como um clarão ou uma centelha; são, ao contrário, seres muito reais, com sua individualidade e uma forma determinada. Podemos ter uma ideia aproximada pela explicação seguinte: Há no homem três coisas essenciais:
1.° — a alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o pensamento, a vontade e o senso moral;
2.° — o corpo, envoltório material, pesado e grosseiro, que coloca o Espírito em relação com o mundo exterior;
3.° — o perispírito, envoltório fluídico, leve, que serve de laço e intermediário entre o Espírito e o corpo. Quando o envoltório exterior está gasto e não pode mais funcionar, ele tomba e o Espírito despoja-se dele como o fruto de sua casca, a árvore de sua crosta; em resumo, como se abandona uma roupa velha que não serve mais; é a isso que chamamos morte.
A morte, portanto, não passa da destruição do grosseiro envoltório do Espírito: só morre o corpo, o Espírito não morre. Durante a vida o Espírito está de certa forma comprimido pelos laços da matéria a que está unido e que, muitas vezes, paralisa suas faculdades; a morte do corpo desembaraça-o de seus laços; ele se liberta e recupera sua liberdade, como a borboleta saindo de sua crisálida. Mas ele só abandona o corpo material; conserva o perispírito, que constitui para ele uma espécie de corpo etéreo, vaporoso, imponderável para nós e de forma humana, que parece ser a forma-tipo. Em seu estado normal, o perispírito é invisível, mas o Espírito pode fazer com que sofra certas modificações que o tornam momentaneamente acessíveis à vista e até ao contato, como acontece com o vapor condensado; é assim que eles podem às vezes mostrar-se a nós em aparições. É com a ajuda do perispírito que o Espírito age sobre a matéria inerte e produz os diversos fenômenos de ruído, de movimento, de escrita, etc.
As batidas e movimentos são, para os Espíritos, meios de atestar sua presença e chamar para si a atenção, exatamente como quando uma pessoa bate para avisar que há alguém. Há os que não se limitam a ruídos moderados, mas que chegam a fazer um alarido como de louça quebrando, de portas que se abrem e se fecham, ou de móveis derrubados.
Através de batidas e movimentos combinados eles puderam exprimir seus pensamentos, mas a escrita lhes oferece o meio completo, mais rápido e mais cômodo; é o que eles preferem. Pela mesma razão por que podem formar caracteres, podem guiar a mão para traçar desenhos, escrever música, executar uma peça em um instrumento; em resumo, na falta do próprio corpo, que não têm mais, usam o do médium para manifestar-se aos homens de uma maneira sensível.
Os Espíritos podem ainda manifestar-se de várias maneiras, entre outras pela vista e pela audição. Certas pessoas, ditas médiuns auditivos, têm a faculdade de ouvi-los e podem, assim, conversar com eles; outras os veem — são os médiuns videntes. Os Espíritos que se manifestam à visão apresentam-se geralmente sob forma análoga à que tinham quando vivos, porém vaporosa; outras vezes, essa forma tem toda a aparência de um ser vivo, a ponto de iludir completamente, tanto que algumas vezes foram tomados por criaturas de carne e osso, com as quais se pôde conversar e trocar apertos de mãos, sem se suspeitar que se tratava de Espíritos, a não ser em razão de seu desaparecimento súbito.
A visão permanente e geral dos Espíritos é bem rara, mas as aparições individuais são bastante frequentes, sobretudo no momento da morte; o Espírito liberto parece ter pressa de rever seus parentes e amigos, como para avisá-los que acaba de deixar a terra e dizer-lhes que continua vivendo.
Que cada um junte suas lembranças, e veremos quantos fatos autênticos desse tipo, de que não nos apercebíamos, aconteceram não só à noite, durante o sono, mas em pleno dia e no estado mais completo de vigília. Outrora víamos esses fatos como sobrenaturais e maravilhosos, e os atribuíamos à magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os atribuem à imaginação; mas desde que a ciência espírita nos deu a chave para sua explicação, sabemos como se produzem e que não saem da ordem dos fenômenos naturais.
Acreditava-se ainda que os Espíritos, só pelo fato de serem Espíritos, deviam ter a soberana ciência e a soberana sabedoria: é um erro que a experiência não tardou a demonstrar. Entre as comunicações feitas pelos Espíritos, algumas são sublimes de profundidade, eloquência, sabedoria, moral, e só respiram bondade e benevolência; mas, ao lado dessas, há aquelas muito vulgares, fúteis, triviais, grosseiras até, pelas quais o Espírito revela os mais perversos instintos. Fica então evidente que elas não podem emanar da mesma fonte e que, se há bons Espíritos, há, também, maus. Os Espíritos, não sendo mais que as almas dos homens, naturalmente não podem tornar-se perfeitos ao abandonar seu corpo; até que tenham progredido, conservam as imperfeições da vida corpórea; é por isso que os vemos em todos os graus de bondade e maldade, de saber e ignorância.
Os Espíritos geralmente se comunicam com prazer, constituindo para eles uma satisfação ver que não foram esquecidos; descrevem de boa vontade suas impressões ao deixar a terra, sua nova situação, a natureza de suas alegrias e sofrimentos no mundo em que se encontram. Uns são muito felizes, outros infelizes, alguns até sofrem horríveis tormentos, segundo a maneira como viveram e o emprego bom ou mau, útil ou inútil que fizeram da vida. Observando-os em todas as fases de sua nova existência, de acordo com a posição que ocuparam na terra, seu tipo de morte, seu caráter e seus hábitos como homens, chegamos a um conhecimento, se não completo, pelo menos bastante preciso do mundo invisível, para termos a explicação do nosso estado futuro e pressentir o destino feliz ou infeliz que lá nos espera.
As instruções dadas pelos Espíritos de categoria elevada sobre todos os assuntos que interessam à humanidade, as respostas que eles deram às questões que lhes foram propostas, foram recolhidas e coordenadas com cuidado, constituindo toda uma ciência, toda uma doutrina moral e filosófica, sob o nome de Espiritismo. O Espiritismo é, pois, a doutrina fundada sobre existência, as manifestações e o ensinamento dos Espíritos. Esta doutrina acha-se exposta de modo completo em O Livro dos Espíritos, pela parte filosófica; em O Livro dos Médiuns, pela parte prática e experimental; e em O Evangelho segundo o Espiritismo, pela parte moral. Podemos avaliar, pela análise que faremos abaixo dessas obras, a variedade, a extensão e a importância das matérias que ela engloba.
Como vimos, o Espiritismo teve seu ponto de partida no fenômeno vulgar das mesas girantes; mas como esses fatos falam mais aos olhos que à inteligência, despertam mais curiosidade que sentimento, uma vez satisfeita a curiosidade, fica-se tão menos interessado quanto maior é falta de compreensão. A situação mudou quando a teoria veio explicar a causa; sobretudo quando se viu que dessas mesas girantes com as quais as pessoas se divertiram algum tempo, saía toda uma doutrina moral que fala à alma, dissipando as angústias da dúvida, satisfazendo a todas as aspirações deixadas no vácuo por um ensinamento incompleto sobre o futuro da humanidade; as pessoas sérias acolheram a nova doutrina como um benefício e, a partir de então, longe de declinar, ela cresceu com incrível rapidez. No espaço de alguns anos conseguiu adesões em todos os países do mundo, sobretudo entre as pessoas esclarecidas, inúmeros partidários que aumentam todos os dias em uma proporção extraordinária, de tal forma que hoje se pode dizer que o Espiritismo conquistou direito de cidade. Está assentado sobre bases que desafiam os esforços de seus adversários mais ou menos interessados em combatê-lo e a prova é que os ataques e críticas não retardaram sua marcha em um só instante — este é um fato obtido pela experiência, cujo motivo os oponentes nunca puderam explicar; os espíritas dizem simplesmente que, se ele se propaga apesar da crítica, é que o acham bom e que se prefere seu modo de raciocinar ao de seus contraditores.
O Espiritismo, entretanto, não é uma descoberta moderna; os fatos e princípios sobre os quais ele repousa perdem-se na noite dos tempos, pois encontramos seus vestígios nas crenças de todos os povos, em todas as religiões, na maior parte dos escritores sagrados e profanos; só que os fatos, incompletamente observados, foram muitas vezes interpretados segundo as ideias supersticiosas da ignorância, e não foram deduzidas todas as suas consequências.
Com efeito, o Espiritismo está fundado sobre a existência dos Espíritos, mas, não sendo os Espíritos mais que as almas dos homens, desde que há homens, há Espíritos; o Espiritismo nem os descobriu, nem os inventou. Se as almas ou Espíritos podem manifestar-se aos vivos, é que isso é natural e, portanto, eles devem tê-lo feito em todos os tempos; assim, em qualquer época e qualquer lugar encontramos a prova dessas manifestações, que são abundantes sobretudo nos relatos bíblicos.
O que é moderno é a explicação lógica dos fatos, o conhecimento mais completo da natureza dos Espíritos, de seu papel e seu modo de ação, a revelação de nosso estado futuro, enfim, sua constituição em corpo de ciência e de doutrina e suas diversas aplicações. Os antigos conheciam o princípio; os modernos conhecem os detalhes. Na Antiguidade, o estudo desses fenômenos constituía o privilégio de certas castas que só os revelavam aos iniciados em seus mistérios; na Idade Média, os que se ocupavam ostensivamente com isso eram tidos como feiticeiros e, por isso, queimados; mas hoje não há mistérios para ninguém, não se queima a ninguém; tudo se passa claramente e todo o mundo pode esclarecer-se e praticá-lo, pois há médiuns em toda parte.
A própria doutrina que os Espíritos ensinam hoje não tem nada de novo; é encontrada em fragmentos na maior parte dos filósofos da Índia, do Egito e da Grécia, e inteira no ensinamento de Cristo. Então o que vem fazer o Espiritismo? Vem confirmar novos testemunhos, demonstrar, por fatos, verdades desconhecidas ou mal compreendidas, restabelecer em seu verdadeiro sentido as que foram mal interpretadas.
O Espiritismo não ensina nada de novo, é verdade; mas não é alguma coisa provar de modo patente, irrecusável, a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade depois da morte, sua imortalidade, as penas e recompensas futuras?
Quanta gente crê nessas coisas, mas crê com um vago pensamento oculto de incerteza, e diz em seu foro íntimo: "E se não fosse assim?" Quantos não foram levados à incredulidade porque lhes apresentaram o futuro sob um aspecto que sua razão não podia admitir! Então, não é nada para o crente vacilante, poder dizer: "Agora tenho certeza!", para o cego, rever a luz? Pelos fatos e por sua lógica, o Espiritismo vem dissipar a ansiedade da dúvida e trazer de volta à fé àquele que dela se afastou; revelando-nos a existência do mundo invisível que nos rodeia, no meio do qual vivemos sem suspeitar, ele nos dá a conhecer, pelo exemplo dos que viveram, as condições de nossa felicidade ou infelicidade futura; ele nos explica a causa de nossos sofrimentos aqui na terra e o meio de amenizá-los. Sua propagação terá por efeito inevitável a destruição das doutrinas materialistas, que não podem resistir à evidência. O homem, convencido da grandeza e da importância de sua existência futura, que é eterna, compara-a com a incerteza da vida terrestre, que é tão curta, e eleva-se, pelo pensamento, acima das mesquinhas considerações humanas; conhecendo a causa e o propósito de suas misérias, ele as suporta com paciência e resignação, porque sabe que elas são um meio de chegar a um estado melhor. O exemplo daqueles que vêm do além-túmulo descrever suas alegrias e dores, provando a realidade da vida futura, prova ao mesmo tempo que a justiça de Deus não deixa nenhum vício sem punição e nenhuma virtude sem recompensa. Acrescentemos, finalmente, que as comunicações com os seres queridos que perdemos acarretam uma doce consolação, provando não só que eles existem, mas que estamos menos separados deles do que se estivessem vivos num país estrangeiro.
Em resumo, Espiritismo adoça a amargura das tristezas da vida; acalma os desesperos e as agitações da alma, dissipa as incertezas ou os terrores do futuro, elimina o pensamento de abreviar a vida pelo suicídio; da mesma forma torna felizes os que aderem a ele, e está aí o grande segredo de sua rápida propagação.
Do ponto de vista religioso, Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras; mas ele é independente de qualquer culto particular. Seu objetivo é provar, aos que negam ou duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo, que ela tem depois da morte as consequências do bem e do mal que fez durante a vida corpórea; ora, isto é de todas as religiões.
Como crença nos Espíritos, ele é igualmente de todas as religiões, assim como é de todos os povos, visto que onde há homens há almas ou Espíritos; e as manifestações são de todos os tempos, cujos relatos se encontram em todas as religiões, sem exceção. Pode-se, pois, ser católico grego ou romano, protestante, judeu ou muçulmano, e crer nas manifestações dos Espíritos e, por conseguinte, ser espírita; a prova está em que o Espiritismo tem aderentes em todas as seitas.
Como moral, ele é essencialmente cristão, pois a moral que ensina não é senão o desenvolvimento e a aplicação da do Cristo, a mais pura de todas, e cuja superioridade não é contestada por ninguém, prova evidente de que ela é a lei de Deus; ora, a moral é para uso de toda gente.
O Espiritismo, sendo independente de toda forma de culto, não prescreve nenhum, e, por não se ocupar com dogmas particulares, não é uma religião especial, pois ele não tem nem seus padres nem seus templos. Aos que lhe perguntam se fazem bem em seguir tal ou tal prática, ele responde: Se credes que vossa consciência o solicita a fazê-lo, fazei-o: Deus leva sempre em conta a intenção. Em uma palavra, ele não se impõe a ninguém; ele não se dirige aos que tem fé, e aos quais essa fé basta, mas à numerosa categoria dos incertos e dos incrédulos; ele não os tira da Igreja, pois eles já estão dela separados moralmente, em tudo ou em parte; ele os leva a percorrer os três quartos do caminho para a ela voltar; cabe a ela fazer o resto.
O Espiritismo combate, é verdade, certas crenças, tais como a eternidade das penas, o fogo material do inferno, a personalidade do diabo, etc.; mas não é certo que essas crenças, impostas como absolutas, hão feito incrédulos em todos os tempos e os fazem ainda todos os dias? Se o Espiritismo, dando destes e de outros dogmas uma interpretação racional, reconduzindo à fé aqueles que dela desertam, não presta ele serviço à religião? A esse propósito, um venerável eclesiástico disse: “O Espiritismo faz crer em alguma coisa; ora, é melhor crer em alguma coisa do que em nada crer.”
Não sendo os Espíritos senão as almas, não se pode negar o Espírito sem negar a alma. Admitindo-se as almas ou Espíritos, a questão reduzida à sua mais simples expressão é esta: As almas dos que morreram podem se comunicar com os vivos? O Espiritismo prova a afirmativa por fatos materiais; que prova pode-se dar de que isso não é possível? Se é, todas as negações do mundo não impedirão que seja, pois não é nem um sistema, nem uma teoria, mas uma lei da natureza; ora, contra as leis da natureza a vontade do homem é impotente; é preciso, bom grado, mau grado, aceitar-lhe as consequências, e a elas conformar suas crenças e seus hábitos.
RESUMO DO ENSINAMENTO DOS ESPÍRITOS
1. Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.
Deus é eterno, único, imaterial, imutável, todo-poderoso, soberanamente justo e bom. Deve ser infinito em todas as suas perfeições, pois se supuséssemos um único de seus atributos imperfeito, ele não seria mais Deus.
2. Deus criou a matéria que constitui os mundos; também criou seres inteligentes a que chamamos de Espíritos, encarregados de administrar os mundos materiais segundo as leis imutáveis da criação, e que são perfectíveis por sua natureza. Aperfeiçoando-se, eles se aproximam da Divindade.
3. O Espírito propriamente dito é o princípio inteligente; sua natureza íntima nos é desconhecida; para nós ele é imaterial, porque não tem nenhuma analogia com o que chamamos de matéria.
4. Os Espíritos são seres individuais; têm um envoltório etéreo, imponderável, chamado perispírito, espécie de corpo fluídico, tipo de forma humana. Povoam os espaços, que percorrem com a rapidez do raio, e constituem o mundo invisível.
5. A origem e o modo de criação dos Espíritos nos são desconhecidos; só sabemos que são criados simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo, pois Deus, em sua justiça, não podia isentar uns do trabalho que teria imposto aos outros para chegar à perfeição. No princípio, ficam em uma espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência.
6. Desenvolvendo-se o livre-arbítrio nos Espíritos ao mesmo tempo que suas ideias, Deus lhes diz: "Vós podereis pretender a felicidade suprema, assim que tiverdes adquirido os conhecimentos que vos faltam e cumprido a tarefa que vos imponho. Trabalhai, pois, para o vosso adiantamento, eis o objetivo; vós o atingireis seguindo as leis que eu gravei em vossa consciência."
Em consequência de seu livre-arbítrio, uns tomam o caminho mais curto, que é o do bem, outros o mais longo, que é o do mal.
7. Deus não criou o mal; estabeleceu leis, e essas leis são sempre boas, porque ele é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente seria perfeitamente feliz; mas os Espíritos, tendo seu livre-arbítrio, nem sempre as observaram, e o mal resultou para eles de sua desobediência. Pode-se então dizer que o bem é tudo o que é conforme à lei de Deus, e o mal tudo o que é contrário a essa mesma lei.
8. Para concorrer, como agentes do poder divino, com a obra dos mundos materiais, os Espíritos revestem-se temporariamente de um corpo material. Pelo trabalho de que sua existência corpórea necessita, eles aperfeiçoam sua inteligência e adquirem, observando a lei de Deus, os méritos que os devem conduzir à felicidade eterna.
9. A encarnação não foi imposta ao Espírito, no princípio, como uma punição; ela é necessária ao seu desenvolvimento e para a realização das obras de Deus, e todos a devem sofrê-la, tomem o caminho do bem ou do mal; só que os que seguem o caminho do bem, avançando mais rapidamente, demoram menos a chegar ao fim e lá chegam em condições menos penosas.
10. Os Espíritos encarnados constituem a humanidade, que não está circunscrita à Terra, mas que povoa todos os mundos disseminados pelo espaço.
11. A alma do homem é um Espírito encarnado. Para secundá-lo no cumprimento de sua tarefa, Deus lhe deu, como auxiliares, os animais, que lhe são submissos e cuja inteligência e caráter são proporcionais às suas necessidades.
12. O aperfeiçoamento do Espírito é o fruto de seu próprio trabalho; não podendo, em uma única existência corpórea, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que devem conduzi-lo ao objetivo, ele aí chega por uma sucessão de existências, dando em cada uma delas alguns passos adiante na via do progresso.
13. A cada existência corporal o Espírito deve cumprir uma tarefa proporcional ao seu desenvolvimento; quanto mais ela for rude e laboriosa, maior seu mérito em cumpri-la. Cada existência é, assim, uma prova que o aproxima do objetivo. O número de suas existências é indeterminado. Depende da vontade do Espírito abreviá-las, trabalhando ativamente em seu aperfeiçoamento moral, da mesma forma que depende da vontade do operário que deve realizar um trabalho abreviar o número de dias para sua execução.
14. Quando uma existência foi mal empregada, não tem proveito para o Espírito, que deve recomeçá-la em condições mais ou menos penosas, em razão de sua negligência e de sua má vontade; é assim que, na vida, podemos ser obrigados a fazer no dia seguinte o que não fizemos no anterior.
15. A vida espiritual é a vida normal do Espírito: ela é eterna; a vida corporal é transitória e passageira: não é senão um instante na eternidade.
16. No intervalo de suas existências corporais, o Espírito é errante. A erraticidade não tem duração determinada; nesse estado o Espírito é feliz ou infeliz, de acordo com o bom ou mau emprego que fez da sua última existência; ele estuda as causas que apressaram ou retardaram seu desenvolvimento; toma as resoluções que buscará pôr em prática na próxima encarnação e escolhe, ele mesmo, as provas que considera mais próprias ao seu adiantamento; mas algumas vezes ele se engana, ou sucumbe, não tomando, como homem, as resoluções que tomou como Espírito.
17. O Espírito culpado é punido por sofrimentos morais no mundo dos Espíritos e por penas físicas na vida corporal. Suas aflições são consequências de suas faltas, quer dizer, de sua infração à lei de Deus; de sorte que são ao mesmo tempo uma expiação do passado e uma prova para o futuro: é assim que o orgulhoso pode ter uma existência de humilhação, o tirano uma vida de servidão, o mau rico uma de miséria.
18. Há mundos apropriados aos diferentes graus de adiantamento dos Espíritos, e onde a existência corporal se acha em condições muito diferentes. Quanto menos adiantado é o Espírito, mais pesados e materiais são os corpos de que se reveste; à medida que ele se purifica, passa para mundos moral e fisicamente superiores. A Terra não é o primeiro nem o último, mas um dos mundos mais atrasados.
19. Os Espíritos culpados encarnam nos mundos menos adiantados, onde expiam suas faltas pelas tribulações da vida material. Esses mundos são para eles verdadeiros purgatórios, dos quais depende deles sair, trabalhando para seu próprio progresso moral. A Terra é um desses mundos.
20. Deus, sendo soberanamente justo e bom, não condena suas criaturas a castigos perpétuos pelas faltas temporárias; oferece-lhes sempre os meios de progredir e reparar o mal que elas praticaram. Deus perdoa, mas exige o arrependimento, a reparação e o retorno ao bem; de sorte que a duração do castigo é proporcional à persistência do Espírito no mal; por conseguinte, o castigo seria eterno para aquele que permanecesse eternamente no mau caminho, mas, assim que um sinal de arrependimento entra no coração do culpado, Deus estende sobre ele sua misericórdia. A eternidade das penas deve assim ser entendida em sentido relativo, e não no sentido absoluto.
21. Os Espíritos, encarnando-se, trazem consigo o que adquiriram em suas existências precedentes; essa é a razão por que os homens mostram instintivamente aptidões especiais, inclinações boas ou más que lhes parecem inatas.
Os maus pendores naturais são os restos das imperfeições do Espírito, das quais ele não se despojou inteiramente; são também os indícios das faltas que ele cometeu, e o verdadeiro pecado original. A cada existência ele deve lavar-se de algumas impurezas.
22. O esquecimento das existências anteriores é um benefício de Deus que, em sua bondade, quis afastar do homem as lembranças quase sempre penosas. A cada nova existência o homem é o que fez de si mesmo: é para ele um novo ponto de partida; ele conhece seus defeitos atuais, sabe que esses defeitos são a consequência dos que tinha, e tira conclusões do mal que pode ter cometido, e isso lhe basta para trabalhar em se corrigir. Se tinha outrora defeitos que não tem mais, não tem mais que preocupar-se com eles; bastam-lhe as imperfeições presentes.
23. Se a alma não viveu antes, é que é criada ao mesmo tempo que o corpo; nessa suposição, ela não pode ter nenhuma relação com as que a precederam. Pergunta-se, então, como Deus, que é soberanamente justo e bom, pode tê-la tornado responsável pelo erro do pai do gênero humano, maculando-a com um pecado original que ela não cometeu. Dizendo, ao contrário, que ela traz ao renascer o germe das imperfeições de suas existências anteriores, que ela sofre na existência atual as consequências de suas faltas passadas, dá-se do pecado original uma explicação lógica que todos podem compreender e admitir, porque a alma só é responsável por suas próprias obras.
24. A diversidade das aptidões inatas, morais e intelectuais, é a prova de que a alma já viveu; se tivesse sido criada ao mesmo tempo que o corpo atual, não estaria de acordo com a bondade de Deus ter feito umas mais avançadas que as outras. Por que selvagens e homens civilizados, bons e maus, tolos e inteligentes? Dizendo-se que uns viveram mais que os outros e mais adquiriram, tudo se explica.
25. Se a existência atual fosse única e devesse decidir sozinha o futuro da alma para a eternidade, qual seria o destino das crianças que morrem em tenra idade? Não tendo feito nem bem nem mal, elas não merecem nem recompensas nem punições. Segundo as palavras do Cristo, cada um sendo recompensado segundo suas obras, elas não têm direito à felicidade perfeita dos anjos, nem merecem ser dela privadas. Diga-se que poderão, em uma outra existência, realizar o que não puderam naquela que foi abreviada, e não há mais exceções.
26. Pelo mesmo motivo, qual seria a sorte dos cretinos e dos idiotas? Não tendo nenhuma consciência do bem e do mal, não têm nenhuma responsabilidade por seus atos. Deus seria justo e bom tendo criado almas estúpidas para destiná-las a uma existência miserável e sem compensação? Admiti, pelo contrário, que a alma do idiota e do cretino é um Espírito em punição num corpo impróprio para exprimir seu pensamento, em que ele é como um homem fortemente comprimido por laços, e não tereis mais nada que não seja conforme à justiça de Deus.
27. Em suas encarnações sucessivas, o Espírito, tendo-se pouco a pouco despojado de suas impurezas e aperfeiçoado pelo trabalho, chega ao termo de suas existências corporais; ele pertence então à ordem dos puros Espíritos ou dos anjos, e goza ao mesmo tempo da visão completa de Deus e de uma felicidade sem mescla, pela eternidade.
28. Estando os homens em expiação na terra, Deus, como bom pai, não os entregou a si mesmos sem guias. Primeiramente, eles têm seus Espíritos protetores ou anjos guardiães, que por eles velam e se esforçam para conduzi-los no bom caminho; têm ainda os Espíritos em missão na Terra, Espíritos superiores encarnados de tempos em tempos entre eles para, por seus trabalhos, clarear a rota e fazer avançar a humanidade. Embora Deus tenha gravado sua lei na consciência, ele julgou dever a formular de maneira explícita; enviou-lhes primeiro Moisés, mas as leis de Moisés eram apropriadas aos homens de seu tempo; ele não lhes falou senão da vida terrestre, de penas e recompensas temporais. O Cristo veio em seguida completar a lei de Moisés por um ensinamento mais elevado: a pluralidade das existências*, a vida espiritual, as penas e as recompensas morais. Moisés os conduziu pelo medo, o Cristo pelo amor e pela caridade.
* Evangelho de São Mateus, cap. XVII, vv. 10 e segs. São João, cap. III, vv. 3 e segs.
29. O Espiritismo, mais bem entendido hoje, acrescenta, para os incrédulos, a evidência à teoria; prova o futuro com fatos patentes; diz em termos claros e sem equívoco o que o Cristo disse por parábolas; explica as verdades desconhecidas ou falsamente interpretadas; revela a existência do mundo invisível ou dos Espíritos, e inicia o homem nos mistérios da vida futura; vem combater o materialismo, que é uma revolta contra o poder de Deus; vem, enfim, estabelecer entre os homens o reino da caridade e da solidariedade anunciado pelo Cristo. Moisés lavrou, o Cristo semeou, o Espiritismo vem colher.
30. O Espiritismo não é uma luz nova, mas uma luz mais brilhante, porque surgiu de todos os pontos do globo pela voz daqueles que viveram. Tornando evidente o que era obscuro, põe fim às interpretações errôneas, e deve religar os homens a uma mesma crença, porque não há senão um Deus, e suas leis são as mesmas para todos; ele marca, enfim, a era dos tempos preditos pelo Cristo e pelos profetas.
31. Os males que afligem os homens na Terra têm como causa o orgulho, o egoísmo e todas as más paixões. Pelo contato de seus vícios, os homens tornam-se reciprocamente infelizes e punem-se uns aos outros. Que a caridade e a humildade substituam o egoísmo e o orgulho, e então eles não buscarão mais prejudicar-se; respeitarão os direitos de cada um e farão reinar a concórdia e a justiça.
32. Mas como destruir o egoísmo e o orgulho, que parecem inatos no coração do homem? — O egoísmo e o orgulho estão no coração do homem, porque os homens são Espíritos que seguiram desde o princípio a rota do mal, e que foram exilados na Terra, em punição desses mesmos vícios; está ainda aí o seu pecado original, do qual muitos ainda não se despojaram. Por meio do Espiritismo, Deus vem fazer um último apelo à prática da lei ensinada pelo Cristo: a lei de amor e de caridade.
33. Tendo a terra chegado ao tempo marcado para tornar-se uma morada de felicidade e de paz, Deus não quer que os maus Espíritos encarnados continuem a trazer para ela a perturbação, em prejuízo dos bons; é por isso que eles deverão desaparecer. Eles irão expiar seu endurecimento em mundos menos avançados, onde trabalharão de novo para seu aperfeiçoamento numa série de existências mais infelizes e mais penosas ainda que na Terra.
Eles formarão nesses mundos uma nova raça mais esclarecida, cuja tarefa será fazer progredir os seres atrasados que os habitam, partindo de seus conhecimentos já adquiridos. Só sairão para um mundo melhor quando tiverem merecido, e assim por diante, até que tenham atingido a purificação completa. Se a terra era para eles um purgatório, esses mundos serão seu inferno, mas um inferno de onde a esperança jamais é banida.
34. Enquanto a geração proscrita vai desaparecer rapidamente, uma nova geração surge, cujas crenças serão fundadas sobre o Espiritismo cristão. Nós assistimos à transição que se opera, prelúdio da renovação moral da qual o Espiritismo marca a chegada.
MÁXIMAS EXTRAÍDAS DO ENSINAMENTO DOS ESPÍRITOS
35. O objetivo essencial do Espiritismo é o melhoramento dos homens. Não se deve procurar nele senão o que pode ajudar no progresso moral e intelectual.
36. O verdadeiro Espírita não é o que crê nas manifestações, mas aquele que aproveita o ensinamento dado pelos Espíritos. De nada adianta crer, se a crença não faz com que dê nem um passo adiante na via do progresso, e não o torne melhor para seu próximo.
37. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como antídoto: a caridade e a humildade.
38. A crença no Espiritismo só é proveitosa para aquele de quem se pode dizer: hoje é melhor do que ontem.
39. A importância que o homem atribui aos bens temporais está na razão inversa de sua fé na vida espiritual; é a dúvida sobre o futuro que o leva a procurar suas alegrias neste mundo, satisfazendo suas paixões, ainda que às custas do próximo.
40. As aflições na terra são os remédios da alma; elas salvam para o futuro, como uma operação cirúrgica dolorosa salva a vida de um doente e lhe devolve a saúde. É por isso que o Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, pois eles serão consolados."
41. Em vossas aflições, olhai abaixo de vós e não acima; pensai naqueles que sofrem ainda mais que vós.
42. O desespero é natural para aquele que crê que tudo acaba com a vida do corpo; é um contrassenso para aquele que tem fé no futuro.
43. O homem é, muitas vezes o artífice de sua própria infelicidade neste mundo; se ele voltar à fonte de seus infortúnios, verá que a maior parte deles são o resultado de sua imprevidência, de seu orgulho e avidez, e por conseguinte, de sua infração às leis de Deus.
44. A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em comunicação com ele.
45. Aquele que ora com fervor e confiança é mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um auxílio que jamais é recusado quando pedido com sinceridade.
46. O essencial não é orar muito, mas orar bem. Certas pessoas creem que todo o mérito está na extensão da prece, enquanto fecham os olhos para seus próprios defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do tempo, mas não uma análise de si mesmas.
47. Aquele que pede a Deus o perdão de seus erros não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são a melhor das preces, pois os atos valem mais do que as palavras.
48. A prece é recomendada por todos os bons Espíritos; é, além disso, pedida por todos os Espíritos imperfeitos como um meio de aliviar seus sofrimentos.
49. A prece não pode mudar os desígnios da Providência; mas, vendo que há interesse por eles, os Espíritos sofredores se sentem menos desamparados; tornam-se menos infelizes; ela exalta sua coragem, estimula neles o desejo de elevar-se pelo arrependimento e a reparação, e pode desviá-los do pensamento do mal. É nesse sentido que ela pode não só aliviar, mas abreviar seus sofrimentos.
50. Cada um ore segundo suas convicções e o modo que acredita mais conveniente, pois a forma não é nada, o pensamento é tudo; a pureza de intenção e a sinceridade são o essencial; um bom pensamento vale mais que numerosas palavras, que se assemelham ao barulho de um moinho e onde o coração não está.
51. Deus fez homens fortes e poderosos para serem os sustentáculos dos fracos; o forte que oprime o fraco é maldito de Deus; em geral ele recebe o castigo nesta vida, sem prejuízo dos reservados ao futuro.
52. A fortuna é um depósito cujo possuidor é tão somente o usufrutuário, já que não a leva com ele para o túmulo; ele prestará rigorosas contas do emprego que dela tenha feito.
53. A fortuna é uma prova mais arriscada que a miséria, porque é uma tentação para o abuso e os excessos, e porque é mais difícil ser moderado que ser resignado.
54. O ambicioso que triunfa e o rico que se sustenta de prazeres materiais são mais de se lamentar que de se invejar, pois é preciso ter em conta o retorno. O Espiritismo, pelos terríveis exemplos dos que viveram e que vêm revelar sua sorte, mostra a verdade desta afirmação do Cristo: "Aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se abaixa será elevado."
55. A caridade é a lei suprema do Cristo: "Amai-vos uns aos outros como irmãos; — amai vosso próximo como a vós mesmos; perdoai vossos inimigos; — não façais a outrem o que não gostaríeis que vos fizessem"; tudo isso se resume na palavra caridade.
56. A caridade não está só na esmola, pois há a caridade em pensamentos, em palavras e em ações. É caridoso por pensamentos aquele que é indulgente para com as faltas do próximo; caridoso por palavras, o que nada diz que possa prejudicar seu próximo; caridoso por ações, quem assiste seu próximo na medida de suas forças.
57. O pobre que divide seu pedaço de pão com um mais pobre que ele é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que o que dá o que lhe é supérfluo, sem se privar de nada.
58. Àquele que nutre contra seu próximo sentimentos de animosidade, ódio, ciúme e rancor, falta caridade; ele mente, se se diz cristão, e ofende a Deus.
59. Homens de todas as castas, de todas as seitas e de todas as cores, vós sois todos irmãos, pois Deus vos chama a todos para ele; estendei-vos, pois, as mãos, qualquer que seja vossa maneira de adorá-lo, e não vos lanceis o anátema, pois o anátema é a violação da lei de caridade proclamada pelo Cristo.
60. Com o egoísmo, os homens estão em luta perpétua; com a caridade, estarão em paz. Somente tendo por base de suas instituições a caridade, podem ter assegurada sua felicidade neste mundo; segundo as palavras do Cristo, só ela pode também garantir sua felicidade futura, pois encerra implicitamente todas as virtudes que podem conduzi-los à perfeição. Com a verdadeira caridade, tal como a ensinou e praticou o Cristo, não mais o egoísmo, o orgulho, o ódio, a inveja, a maledicência, não mais o apego desordenado aos bens deste mundo. É por isso que o Espiritismo cristão tem como máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.
36. O verdadeiro Espírita não é o que crê nas manifestações, mas aquele que aproveita o ensinamento dado pelos Espíritos. De nada adianta crer, se a crença não faz com que dê nem um passo adiante na via do progresso, e não o torne melhor para seu próximo.
37. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como antídoto: a caridade e a humildade.
38. A crença no Espiritismo só é proveitosa para aquele de quem se pode dizer: hoje é melhor do que ontem.
39. A importância que o homem atribui aos bens temporais está na razão inversa de sua fé na vida espiritual; é a dúvida sobre o futuro que o leva a procurar suas alegrias neste mundo, satisfazendo suas paixões, ainda que às custas do próximo.
40. As aflições na terra são os remédios da alma; elas salvam para o futuro, como uma operação cirúrgica dolorosa salva a vida de um doente e lhe devolve a saúde. É por isso que o Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, pois eles serão consolados."
41. Em vossas aflições, olhai abaixo de vós e não acima; pensai naqueles que sofrem ainda mais que vós.
42. O desespero é natural para aquele que crê que tudo acaba com a vida do corpo; é um contrassenso para aquele que tem fé no futuro.
43. O homem é, muitas vezes o artífice de sua própria infelicidade neste mundo; se ele voltar à fonte de seus infortúnios, verá que a maior parte deles são o resultado de sua imprevidência, de seu orgulho e avidez, e por conseguinte, de sua infração às leis de Deus.
44. A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em comunicação com ele.
45. Aquele que ora com fervor e confiança é mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um auxílio que jamais é recusado quando pedido com sinceridade.
46. O essencial não é orar muito, mas orar bem. Certas pessoas creem que todo o mérito está na extensão da prece, enquanto fecham os olhos para seus próprios defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do tempo, mas não uma análise de si mesmas.
47. Aquele que pede a Deus o perdão de seus erros não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são a melhor das preces, pois os atos valem mais do que as palavras.
48. A prece é recomendada por todos os bons Espíritos; é, além disso, pedida por todos os Espíritos imperfeitos como um meio de aliviar seus sofrimentos.
49. A prece não pode mudar os desígnios da Providência; mas, vendo que há interesse por eles, os Espíritos sofredores se sentem menos desamparados; tornam-se menos infelizes; ela exalta sua coragem, estimula neles o desejo de elevar-se pelo arrependimento e a reparação, e pode desviá-los do pensamento do mal. É nesse sentido que ela pode não só aliviar, mas abreviar seus sofrimentos.
50. Cada um ore segundo suas convicções e o modo que acredita mais conveniente, pois a forma não é nada, o pensamento é tudo; a pureza de intenção e a sinceridade são o essencial; um bom pensamento vale mais que numerosas palavras, que se assemelham ao barulho de um moinho e onde o coração não está.
51. Deus fez homens fortes e poderosos para serem os sustentáculos dos fracos; o forte que oprime o fraco é maldito de Deus; em geral ele recebe o castigo nesta vida, sem prejuízo dos reservados ao futuro.
52. A fortuna é um depósito cujo possuidor é tão somente o usufrutuário, já que não a leva com ele para o túmulo; ele prestará rigorosas contas do emprego que dela tenha feito.
53. A fortuna é uma prova mais arriscada que a miséria, porque é uma tentação para o abuso e os excessos, e porque é mais difícil ser moderado que ser resignado.
54. O ambicioso que triunfa e o rico que se sustenta de prazeres materiais são mais de se lamentar que de se invejar, pois é preciso ter em conta o retorno. O Espiritismo, pelos terríveis exemplos dos que viveram e que vêm revelar sua sorte, mostra a verdade desta afirmação do Cristo: "Aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se abaixa será elevado."
55. A caridade é a lei suprema do Cristo: "Amai-vos uns aos outros como irmãos; — amai vosso próximo como a vós mesmos; perdoai vossos inimigos; — não façais a outrem o que não gostaríeis que vos fizessem"; tudo isso se resume na palavra caridade.
56. A caridade não está só na esmola, pois há a caridade em pensamentos, em palavras e em ações. É caridoso por pensamentos aquele que é indulgente para com as faltas do próximo; caridoso por palavras, o que nada diz que possa prejudicar seu próximo; caridoso por ações, quem assiste seu próximo na medida de suas forças.
57. O pobre que divide seu pedaço de pão com um mais pobre que ele é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que o que dá o que lhe é supérfluo, sem se privar de nada.
58. Àquele que nutre contra seu próximo sentimentos de animosidade, ódio, ciúme e rancor, falta caridade; ele mente, se se diz cristão, e ofende a Deus.
59. Homens de todas as castas, de todas as seitas e de todas as cores, vós sois todos irmãos, pois Deus vos chama a todos para ele; estendei-vos, pois, as mãos, qualquer que seja vossa maneira de adorá-lo, e não vos lanceis o anátema, pois o anátema é a violação da lei de caridade proclamada pelo Cristo.
60. Com o egoísmo, os homens estão em luta perpétua; com a caridade, estarão em paz. Somente tendo por base de suas instituições a caridade, podem ter assegurada sua felicidade neste mundo; segundo as palavras do Cristo, só ela pode também garantir sua felicidade futura, pois encerra implicitamente todas as virtudes que podem conduzi-los à perfeição. Com a verdadeira caridade, tal como a ensinou e praticou o Cristo, não mais o egoísmo, o orgulho, o ódio, a inveja, a maledicência, não mais o apego desordenado aos bens deste mundo. É por isso que o Espiritismo cristão tem como máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.
***
Incrédulos! Podeis rir dos Espíritos, zombar daqueles que creem em suas manifestações; ride, pois, se ousardes, desta máxima que eles vêm ensinar e que é vossa própria salvaguarda, pois se a caridade desaparecesse da terra, os homens se estraçalhariam, e talvez fosseis vós as primeiras vítimas. Não está longe o tempo em que esta máxima, proclamada abertamente em nome dos Espíritos, será uma garantia de segurança e um título à confiança naqueles que a trouxerem gravada no coração.
Um Espírito disse: "Zombaram das mesas girantes; não zombarão nunca da filosofia e da moral que dela decorrem". É que, com efeito, hoje estamos longe, depois de apenas alguns anos, desses primeiros fenômenos que serviram, por um instante, de distração para os ociosos e os curiosos. Esta moral, dizeis, está obsoleta: "Os Espíritos deviam ter espírito bastante para nos dar algo de novo." (Frase espirituosa de mais de um crítico). Tanto melhor! Se ela está obsoleta, isso prova que ela é de todos os tempos, e os homens são mais culpados por não tê-la praticado, pois não há verdadeiras verdades senão as que são eternas. O Espiritismo vem lembrá-la, não por uma revelação isolada feita a um único homem, mas pela voz dos próprios Espíritos que, como uma trombeta final, lhes vêm proclamar: "Crede que aqueles que chamais de mortos estão mais vivos do que vós, pois eles veem o que não vedes, e ouvem o que não ouvis; reconhecei naqueles que vos vêm falar os vossos parentes, vossos amigos, e todos aqueles que haveis amado na terra e que acreditáveis perdidos para sempre; infelizes aqueles que creem que tudo acaba com o corpo, pois serão cruelmente desenganados; infelizes aqueles a quem terá faltado a caridade, pois sofrerão o que tiverem feito os outros sofrer! Escutai a voz daqueles que sofrem e que vos vêm dizer: "Nós sofremos por não termos reconhecido o poder de Deus e duvidado de sua misericórdia infinita; sofremos por nosso orgulho, nosso egoísmo, nossa avareza e por todas as más paixões que não soubemos reprimir; sofremos por todo o mal que fizemos ao nosso semelhante pelo esquecimento da lei de caridade".
Incrédulos! Dizei se uma doutrina que ensina tais coisas é risível, se ela é boa ou má. Vendo-a tão somente do ponto de vista da ordem social, dizei se os homens que a praticam seriam felizes ou infelizes, melhores ou piores!
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