quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Desdobramento e Perispírito

Desdobramento e Perispírito

Hermínio C. Miranda

Reformador (FEB) Maio 1959

Tenho tido ultimamente a satisfação e o privilégio de tomar contato com as mais interessantes obras de autores não espíritas sobre os problemas do espírito. Continuarei, pois, contando com a benevolência do leitor para estes comentários que, a despeito das naturais limitações do articulista, creio terão sempre a oferecer algo de construtivo e aproveitável.

A mais recente obra que me foi dado examinar, chama-se The Projection of the Astral Body”, ou seja, em tradução muito livre, “O desdobramento do corpo astral”. O seu autor é Sylvan J. Muldoon e o livro foi prefaciado e minuciosamente revisto pelo Dr. Hereard Carrington,  profundo conhecedor dos problemas psíquicos. A obra surgiu, pela primeira vez, em 1929 (duas edições). Teve reedições em 1939, 1950, 1952, 1954, 1956. A mais recente é de Julho de 1958. As datas indicam o recrudescimento no interesse pelo assunto, de 1950 para cá.

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O autor não pretende convencer ninguém da sua tese. Na verdade, nem mesmo defende uma tese: limita-se a expor os fatos observados nas suas amiudadas experiências de desdobramento. Não implora a ninguém que acredite nele; usa de recurso muito mais convincente, desafiando quem quer que seja a perfazer as mesmas experiências. Quem não acreditar, experimente; quem não quiser experimentar; não terá direito de negar o fenômeno. Para que o leitor possa reproduzir a experiência, o autor fornece sua receita. Chega mesmo a admitir que possam existir outras fórmulas; a que ele empregou, no entanto, é a que relata, com todos os pormenores elucidativos.

A propósito, para encerrar a discussão, ele usou uma expressão muito típica da língua inglesa, dizendo: “The proof of the puding is in the eating”. (A prova do pudim está em comê-lo). E desafia o leitor! “Se você quiser provas, pode obtê-las e eu o ensinarei como, mas você mesmo terá que experimentar. Nada mais que isso poderei fazer.

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Como o leitor já percebeu, Mr. Muldoon tem a faculdade de projetar (desdobrar) seu perispírito, conservando, na maioria das vezes, consciência perfeita do que vê sente e experimenta.

Resolveu escrever o livro após ter lido obras do Dr. Carrington, como “Modern Psychical Phenomena” e “Higher Psychical Development”, nas quais era tratado, sumariamente, o assunto do desdobramento do perispírito.

Achou Mr. Muldoon que teria muita coisa a acrescentar ao que havia lido e que certamente suas observações teriam algum valor como contribuição ao estudo do problema. De fato, tem um valor incalculável, exatamente porque o livro não é especulativo, nem se baseia em experiências alheias: é todo ele vivido, fundamentado no que o próprio autor observou consigo mesmo, num período considerável de tempo, sob as mais diferentes condições.

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Mr. Muldoon começa por apresentar um resumo histórico do assunto, demonstrando bons recursos de exposição e argumentação. Criticando o materialismo, que ridiculariza a ideia do desdobramento do corpo astral, fala sobre a famosa deusa Razão, “divina tocha da Razão”. ídolo balofo. “Há - diz o autor - somente uma dúvida com essa tocha divina: ela não derrama luz alguma sobre os mistérios da vida.”

A existência do corpo astral, longamente aceita como ponto pacífico pela antiga ciência oculta, está hoje sendo demonstrada pelos experimentos e investigações dos pesquisadores modernos.

Mr. Muldoon previne ainda o leitor de que não discutirá o fenômeno espírita propriamente dito, de vez que numerosos livros tratam do assunto. É bom que se diga, porém, e logo de início, que o autor está firmemente convencido da sobrevivência. Ele não seria coerente se não o estivesse; no entanto, seu relato somente cuida do problema do desdobramento, enquanto o perispírito se acha unido ao corpo físico, isto é, durante a vida terrena da criatura humana.

Embora muitas vezes falte ao autor certo conhecimento mais aprofundado e objetivo da questão espírita - o que certamente iluminaria determinados ângulos de sua exposição - suas intuições suprem algumas falhas no quadro que ele pretendeu traçar. Diz, por exemplo, que nos consideramos fisicamente vivos, quando, na realidade, a nossa parte material é “tão morta como um prego”. A energia que sustenta o mecanismo físico é que é viva. Alguns têm levantado a hipótese de que o corpo astral é produto de mero processo de criação mental. Sendo assim, argumenta Mr. Muldoon, como é que a criatura, morta por acidente, instantaneamente arranjaria seu corpo astral? Por outro lado, se assim fosse, somente aqueles que tivessem ouvido falar nesse processo de criação mental poderiam possuir seu corpo astral, depois do que se chama morte. No entanto, o corpo astral tem sido visto, vezes sem conta, no momento da morte e depois dela, conservando, em tudo e por tudo, a mesma forma da pessoa morta.

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Seus comentários iniciais sobre o corpo astral são dignos do melhor exame, pela lúcida objetividade das ideias que apresenta. Esclarece, por exemplo, que o homem está contido numa faixa vibratória relativamente estreita, que não se estende sobre toda a Criação; consequentemente, ignoramos muitas das realidades que nos cercam. Os olhos do corpo astral, que - adverte ele – “você está, usando mesmo ao ler estas linhas”, passam a vibrar numa faixa muito mais dilatada, mal se desprende o astral do corpo físico. Vemos, então, não somente as coisas familiares que habitualmente nos cercam, como, também, muito daquilo que não poderíamos perceber quando mergulhados na carne.

Talvez isso possa parecer paradoxal, diz Mr. Muldoon, porque nos acostumamos, erroneamente, a achar que o consciente faz parte do mecanismo físico. Na verdade, porém, o corpo material não tem o que se chama mente; a sede do psiquismo, do ego, é no corpo astral. Diríamos que o corpo físico é simples cabide para a entidade superiormente constituída, que é o períspirito.

“Sua mente normal, consciente - tudo quanto ela contêm - é VOCÊ, você, o indivíduo, agora e através da eternidade, aprendendo à medida que caminha." (pág. 49.)

Outra noção errônea que o autor procura destruir, é a de que basta morrer fisicamente para nos transformarmos em super homens. Não. Continuamos, após o desatamento definitivo dos laços carnais a ser a mesma criatura humana que fomos até então, conservando a mesma identidade. O corpo físico é feito de “um material não inteligente, como se fosse uma vestimenta do corpo astral”.

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Entretanto, como dizíamos atrás, e já dissemos em comentários anteriores, falta a estes autores, que vimos estudando, certo conhecimento básico, não só da filosofia espírita, como da própria filosofia geral. Tais falhas os levam, às vezes, a inconcebíveis “cochilos”, já não digo doutrinários - que eles não têm obrigação de conhecer doutrinas religiosas ou morais - mas de simples lógica. Diz Mr. Muldoon, a certa altura (ainda na pág. 49), que “é lógico supor que, no ato do nascimento, o corpo astral - o Ego - foi trazido para a vida (criado) pela Inteligência Onipotente, que sempre foi, é e será; enquanto que o consciente desse corpo é uma espécie de folha em branco, pronta para receber impressões, aprender, crescer.”

Vemos aí uma concepção exata - a do ponto de partida para a formação de um novo consciente no espírito reencarnado - ao lado de outra errônea: e insustentável filosoficamente, qual seja a da criação do espírito no instante do nascimento. Ainda aqui poderemos reconhecer a estupenda superioridade da doutrina espírita sobre qualquer outra filosofia religiosa ou profana.

O tema é demasiado fascinante para algumas palavras de raspão; melhor seria que a ele fosse dedicado estudo à parte, em que se examinasse o consciente tal como o concebem os cientistas, os pensadores das religiões dominantes e, finalmente, os espíritas. Veríamos, com luminosa clareza, que só o Espiritismo, com a doutrina reencarnacionista, com os fenômenos anímicos e espíritas, poderia explicar satisfatoriamente as manifestações do inconsciente.

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Voltemos, porém, a Mr. Muldoon.

Com paciente e minucioso espírito didático, vai ele explicando o fenômeno do desdobramento, as causas que podem provocá-lo, como se desloca o perispírito desatada da massa física. Apresenta gráficos, estuda as condições físicas que ajudam ou impedem a projeção do corpo astral, esclarece miudamente todas as dúvidas que o leitor curioso possa ter em mente. Seu objetivo é sempre o mesmo, através de todo o livro; não deseja forçar ninguém a acreditar no que diz; quer apenas deixar bem clara a exposição dos métodos que empregou para obter aqueles resultados, de forma que qualquer pessoa esclarecida e livre de preconceitos possa repetir suas experiências. e “provar o pudim”.

Seus esclarecimentos sobre o cordão perispiritual são precisos, descendo a pormenores que jamais tive oportunidade de encontrar em outra obra. Fala sobre sua inacreditável elasticidade, sobre sua aparência física, localização, dimensões, tudo. Quando o perispírito se acha ligeiramente afastado do corpo físico (“slightly out of coincidence”), o cordão tem o diâmetro de um dólar de prata (cerca de 35 milímetros). Sua notável elasticidade, no entanto, permite que ele alcance o infinito, reduzindo-se a espessura mínima, desde 4 metros e meio de distância do corpo físico até o infinito.

Este é um capitulo excelente do livro, pois contém preciosos esclarecimentos. Aqui insiste o autor na importância do corpo astral, dizendo que a vida está nele contida. “Embora possamos crer que somos um corpo vivo, somos, na realidade, como dizia Moisés, uma alma viva.” Informa, ainda, que as pulsações do coração e o fenômeno da respiração se realizam no corpo astral e são transmitidas através do cordão, ao corpo físico, da mesma forma acontecendo quando ambos se acham unidos.

Isto vem apenas confirmar experiências de Crookes e outros que contaram as pulsações e mediram a temperatura de Espíritos materializados e, como é óbvio, encontraram-nas diferentes das dos médiuns presentes.

O autor acredita que o corpo astral se separa ligeiramente do corpo físico, durante o sono, a fim de se reabastecer de energia cósmica, tal como delicada e complexa bateria elétrica. Daí admitir que praticamente todo mundo poderá, com algum treino e esforço, seguindo suas instruções e sugestões, obter o desdobramento, isto é, tornar-se consciente fora do corpo físico.

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Passa então a analisar, metodicamente, os diferentes tipos de sonho, pois que o sonho seria o ponto de partida para a obtenção do desdobramento consciente. Muitas ideias apresenta ele, mas seria impraticável examiná-las num comentário limitado como este.

Ao estudar, de passagem, os fenômenos de de faquirismo, informa que tais fatos se devem ao desdobramento do corpo astral. Em muitos deles, o médium, em tais condições, é assistido por Espíritos amigos. (desencarnados) (pág. 132)

Ao comparar o cordão astral com o cordão umbilical, tem uma frase feliz, quando diz que o céptico considera, o nascimento como fenômeno natural e o desdobramento como fenômeno sobrenatural, quando, na prática, não pode explicar nenhum deles. Sua conclusão é a de que, com o nascimento, nos tomamos familiarizados, enquanto que, com o desdobramento, ainda não.

Continua o autor a estudar nos capítulos seguintes, as ligações do corpo astral com o corpo físico, seus pontos de contato, o papel das glândulas.

Retomando à tese da energia cósmica, esclarece, em palavras simples e com perfeita clareza, suas ideias sobre o assunto. A energia que usamos - diz o autor - não é criada por nós, é condensada da energia cósmica que se acha espalhada por toda a parte. Não vem nem mesmo da alimentação, como muita gente pensa, pois que, em tal caso, quando nos sentíssemos cansados, bastaria ingerir certa quantidade de alimento adequado e prescindir do sono. “O alimento é material, tal como o corpo físico, e o constrói porque a força cósmica opera sobre ele, não porque ele produza energia por si mesmo.” (pág. 143).

Passa, então, a examinar o problema da alimentação e sua influência sobre o desdobramento do perispírito. Diz mais adiante que, na sua opinião, por observações feitas, “o grande armazém de energia condensada no ser humano está localizado na região do plexo solar.”

Como se vê, mesmo partindo de premissas algo distanciadas da Doutrina Espírita, o autor frequentemente apresenta conclusões já confirmadas pelos autores espíritas, encarnados e desencarnados.

Isto se repete inúmeras vezes através do livro, como, por exemplo, à página 183: “os fantasmas dos mortos, por algum tempo após entrarem no plano astral, se conduzem de maneira semelhante à dos fantasmas desdobrados dos vivos. Alguns ficam inconscientes por certo tempo; outros se tornam conscientes, mesmo antes de se romper o cordão astral, e outros vagueiam como se sonhassem, parcialmente conscientes”.

E aqui está outro autor que falha lamentavelmente na explicação de certos fenômenos justamente por desconhecer a diferenciação entre o Animismo e o Espiritismo. Observa-se isto no capítulo 13, a que chamou “The Cryptoconscious mind.” (pág. 249 e seguintes). Diz ele que, em muitos médiuns, a mente cripto consciente opera, produzindo falsos fenômenos espíritas. Em tais casos, o Espíritos desencarnados são tidos como produtores do fenômeno, quando se trata de mero desdobramento. É claro que o autor observou corretamente o fato mas faltou-lhe conhecimento específico para explicá-lo, pois que os fenômenos provocados pelo Espírito encarnado - médium ou qualquer outro - são anímicos e não de Espiritismo propriamente dito.

Contudo, justiça seja feita, o autor faz sua ressalva logo abaixo, informando o leitor de que não se iluda: os Espíritos dos mortos também podem produzir tais manifestações.

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Como temos observado em outros livros desta natureza, de autores não espíritas, o verdadeiro calcanhar de Aquiles de suas obras são as conclusões. Mr. Muldoon não foge à regra.

No momento de concluir e filosofar sobre os fatos que estudou tão bem, apresenta-se com absurdas e insustentáveis hipóteses.

Vejamos algumas.

Ao estudar a relação do corpo físico com o espírito, não sei por que razão conclui que a função do corpo físico é a de dar forma ao corpo astral e aí está o disparate, digno de qualquer autor materialista: “esta deve ser a finalidade do corpo físico: dar forma ao nosso espírito. (Pág. 277) Paradoxalmente, cita o próprio Cristo, em apoio de sua tese absurda, repetindo as palavras do Divino Mestre, ao dizer: “O corpo é o templo do espírito.” E de fato é mas daí a admitir que a massa física possa dar forma à substância quintessenciada do perispírito, vai este mundo e o outro. Exatamente o contrário é que se dá, como estamos cansados de saber: o perispírito é o "molde" do corpo físico, colhendo, em suas delicadíssimas malhas e linhas de atração magnética, as partículas materiais que vão permitir ao espírito obter o instrumento de sua atividade física, essencial ao seu desenvolvimento a caminho da luz suprema.

Faltou a Mr. Muldoon, como a tantos outros autores menos avisados, aquela parcela de “insight” necessária à nítida percepção de verdade tão óbvia. A própria citação em que se apoia e, ainda mais, a que apresenta a seguir, de Andrew Jackson Davies, desmentem sua estranha conclusão. Começa Andrew Jackson, no trecho citado, a dizer que a organização mental  é o resultado de um refinamento material. “O objetivo do osso físico é fazer o osso espiritual;  o do músculo físico, fazer o músculo espiritual - não a essência, mas a forma (sic).” Por fim, conclui: “Numa palavra: todo o corpo externo é uma representação daquele que é imperecível.” Aí está uma contradição filosófica palmar. Se o corpo físico é uma representação do astral, como poderia aquele - que é transitório e perecível - criar um que fosse imperecível? Nem Mr. Jackson nem Mr. Muldoon esclarecem o ponto.

O próprio autor, após especular em torno de suas ideias, conclui contraditoriamente seu capítulo, dizendo que não se poderia explicar, dentro da concepção de Davies o fato da formação e conformação daqueles que morrem antes de alcançar a maturidade. Por  conseguinte, diz Mr. Muldoom, “temos que aceitar a teoria de que o ser pode também ser formado no astral, independentemente do corpo físico. (pág. 278).

Donde se conclui, sem sombra de dúvida, dizemos nós, que toda a teoria do corpo astral, formado pelo corpo físico, é destruída pelo seu próprio autor ...

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Suas páginas finais contêm bastante substância moral de interesse para qualquer leitor, espírita ou não, descontando-se um que outro deslize doutrinário.

Informa, primeiro, que o plano astral é profundamente influenciado pelo pensamento. “A man thinks, so is he!” O homem é o que pensa.

Seguindo essa linha de raciocínio, discorre com segurança sobre as zonas purgatoriais, dizendo que a mente cria seu próprio ambiente; contudo, esse ambiente é real. “Essa condição (permanência no purgatório) não poderia, por certo, durar indefinidamente; é uma espécie de purgatório, onde temos que aprender a pensar corretamente (pág. 287)”.  Aí está um pensamento que poderia ser subscrito por autor espírita da mais pura linhagem, como André Luiz. Continua dizendo que não podemos “comprar” nossa liberação desse ambiente; o único recurso é deixar de pensar erradamente.

A realidade da condição purgatorial é seguramente estabelecida nas “baixas zonas austrais (expressão do próprio autor), que se situam aqui mesmo na atmosfera da Terra.

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Mais adiante, estuda Mr. Muldoon o fenômeno da obsessão, informando, logo de início, que nele acredita firmemente. Lembra um caso típico que levou o famoso Prof. Hyslop a declarar que, “após lutar durante dez anos contra a ideia, ficou finalmente convencido de que a sobrevivência estava provada” (pág. 295).

Discute, a seguir, as ricas possibilidades que esse campo contém à disposição da medicina do espírito, pois que muitos casos de alienação mental não passam de fenômenos de obsessão espiritual. Neste ponto, como em tantos outros, repete conceitos espíritas, aos quais eventualmente terão que se render os ainda orgulhosos homens de ciência.

Alguns já se convenceram da evidência, como o Dr. Carl Wickland, que, no seu hospital de Los Angeles, curou um número incontável de obsidiados, utilizando métodos consagrados pelas doutrinas espiritualistas.

Nos últimas páginas, desculpando-se “pela pregação moral”, que não é sua intenção, o autor recomenda, a bem do próprio espírito, que se procure levar uma vida honesta e limpa. É da maior importância - diz o autor - que vigiemos nossos pensamentos e não pensemos nenhum mal de nossos semelhantes, porque nossos pensamentos criam um ambiente astral em torno de nós e a vingança é um traço não desconhecido entre os habitantes do mundo astral.”

Seria desejável que, na oportunidade deste livro tão interessante, o autor pregasse abertamente a moral que ressalta das entrelinhas de sua obra; não, porem, como simples prevenção contra possíveis vinganças de habitantes do astral, mas como condição do próprio desenvolvimento espiritual da criatura humana. Praticar o bem pelo próprio bem, sem esperança ou ambição de recompensa; evitar o mal ainda por amor ao bem, porque o mal desequilibra o psiquismo, retarda a evolução e recai sobre nós mesmos. Afinal de contas, o bem encontra sua recompensa em si mesmo, independente das consequências morais que posso acarretar. Na prática da vida temos observado que nenhum gesto de bondade se perde neste grande e maravilhoso mundo de Deus. Por mais anônimo, tímido e insignificante que seja, um dia, lá na frente, vamos encontrar à nossa espera um prêmio desproporcionalmente generoso pela diminuta parcela de bem que praticamos num momento e esquecemos no instante seguinte.

Esse é outro “insight” que faltou ao autor.

No final, como conclusão, diz que ainda que ele nunca tivesse ouvido falar em imortalidade ou sobrevivência, ainda que nunca tivesse escrito um livro ou pronunciado uma conferência sobre esse tema, ainda que nunca tivesse assistido a uma sessão espírita ou visitado um médium, ele acreditaria firmemente na sobrevivência, porque experimentou pessoalmente o fenômeno do desdobramento do corpo astral.

H. C. M. - Hermínio C. Miranda
Revista Reformador de Maio 1959 - (F. E. B.)

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Nota: - Hermínio C. Miranda também assinava seus artigos como H. C. M. e João Marcus. Este expediente foi sugerido pelo editor da Revista Reformador para que pudessem ser publicados mais artigos dele em uma mesma revista.
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