quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Somos vítimas de nós mesmos

Somos vítimas de nós mesmos

Jácome Góes



Na difícil experiência de dores, amarguras e desencantos ficamos em estado de perplexidade, sem entendermos as causas que geraram o impacto do sofrimento. Numa quase completa impotência psicológica sentimo-nos vítimas indefesas, alcançados por forças imponderáveis que atingem nossa vulnerabilidade íntima, apagando o brilho dos sonhos, tornando inviável o curso dos projetos e fragilizando o arquétipo das esperanças...

Esse estado mórbido que cronifica a tristeza, também incapacita para desenvolvermos medidas autolibertadoras.

O fato de culparmos o acaso pelas nossas desgraças, ou transferirmos a direta responsabilidade para as pessoas que opuseram resistência aos nossos ideais é uma atitude omissa e extremamente perigosa, porque cria inconformação inoperante, debilitando os recursos da própria alma.

Ninguém, em todo o mundo, por mais próximo que esteja em vínculos de convivência, é capaz de causar maiores danos em nossa vida, que nós próprios.

Quando descentralizamos o poder interior de autonomia para disciplinar sentimentos e "gerenciar" emoções, colocando-o ao arbítrio dos outros, estamos perdendo o autocomando, gerando uma codependência que limita e atrofia a racionalidade das lúcidas escolhas.

Quando permitimos que crises circunstanciais alterem de forma absoluta nosso estado de humor, ocasionando um incontrolável tumulto emocional a ponto de perdermos as mais elementares referências de equilíbrio, estamos decretando nossa incompetência para gerir as expressões da própria alma...

Quando concedemos ao inimigo - assim considerado aquele que não soube atender nossas carências e expectativas - o direito de interferir, poderosamente, em todos os setores da nossa vida, determinando sobre o estado de saúde e de paz interior, estamos abdicando o direito e o dever inalienáveis de "administrar" a maneira de agir diante dos conflitos relacionais...

Somos vítimas, sim, mas de nós mesmos, e assim seremos, sempre, até quando procurarmos entender que o acaso não existe, na medida em que somos agentes causadores do nosso destino. Nada existe fora de nós, sem haver uma direta correlação com aquilo que preexiste em nós.

Se ouvíssemos mais nossas vozes interiores, fazendo eco nas subjetivas dimensões da consciência, saberíamos que acidentes, incidentes, traumas e desencontros podem e devem ser evitados com medidas cautelares e preventivas.

A maior proteção, a mais eficaz, a mais poderosa; aquela que é indestrutível, inexpugnável, corresponde a nossa vigilância pessoal. Nosso escudo protetor é formado a partir da seleção dos nossos pensamentos. A manutenção da energia que se expressa através do campo áurico é fator decisivo para atrair ou rejeitar correntes vibracionais positivas ou negativas, que se mesclam em nossa realidade, determinando sorrisos ou lágrimas, perdas ou conquistas, saúde ou doença, sombras ou luz.

Quando, enfim, compreendemos que pelo processo de sintonia facilitamos a materialização dos episódios - bons ou maus -, ao invés de permanecermos debilitados na postura de vítimas, vamos (com maior discernimento) interrogar a consciência: "Onde está a raiz que originou esses fatos? Que mensagem posso aprender a partir desse sofrimento? Que lição a vida quer me passar como recurso extremo para meu coercitivo aprendizado? Se eu não conseguir deter-me, agora, aprofundando a reflexão que irá identificar minha negligência, não será pior amanhã, se a vida tiver que ministrar uma lição mais forte, mais dura, mais inflexível?..." 

É... não dá mais para subestimar a bênção do tempo... É hoje, agora, já, ou inexoravelmente será amanhã, com os acréscimos da dor, pois Deus não pode derrogar suas leis, e a principal delas vincula-se ao progresso e à evolução. Ninguém permanece indiferente a si mesmo, sem que a vida desperte do torpor da estagnação, para a força propulsora e dinâmica da ação.

Feliz aquele que conclua da seguinte maneira: direta ou indiretamente, consciente ou, inconscientemente eu tenho uma participação em todos os eventos no curso da minha existência. O acaso não pode explicar tudo, sob pena de enxergarmos a vida como um emaranhado de contradições e incoerências que culminariam numa enorme e flagrante injustiça.

E a fatalidade - perguntaria alguém - não existe? Eu responderia: sim, existe, na exata medida em que a crio com o uso do livre-arbítrio que me faculta o direito de escolher a semente que devo ou não semear. Os frutos, sazonados ou amargos são naturais decorrências da minha escolha...

E ENTAO? SOU VÍTIMA DE QUEM?

RESPONDA, POR FAVOR!


Jácome Góes do livro:
Na sintonia do amor

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