quinta-feira, 6 de julho de 2023

Tratamento de Vícios e Perversões

Tratamento de Vícios e Perversões

J. Herculano Pires



A embriaguez, os tóxicos e a jogatina são os flagelos atuais do nosso mundo em fase aguda de transição. Cansados de recorrer sem proveito a internações hospitalares, as vítimas e suas famílias acabam recorrendo ao Espiritismo e às diversas formas mágicas do sincretismo religioso afro-brasileiro. É comum fazer-se confusão entre essas formas de religiões primitivas da África e o Espiritismo, em virtude de haver manifestações mediúnicas nos dois campos. Os sociólogos, que deviam ser minuciosos ao tratar desses problemas, carregam a maior parte da culpa dessa confusão.

Estão naturalmente obrigados, pela própria metodologia científica, a distinguir com rigor um fenômeno social do outro, mas preferem a simplificação dos processos de pesquisa, que gera confusões lamentavelmente anticientíficas.

A palavra Espiritismo, cunhada por Kardec como um neologismo da língua francesa, na época, é uma denominação genésica da Doutrina Espírita. Nasceu das suas entranhas e só a ela se pode aplicá-la. Kardec rejeitou a denominação de Kardecismo, que seus próprios colaboradores lhe sugeriram, explicando que a doutrina não era uma elaboração pessoal dele, mas o resultado das pesquisas e dos estudos das manifestações espíritas. Entrando em contato com o mundo espiritual, em todas as suas camadas, Kardec recebeu dos Espíritos elevados os lineamentos da doutrina, mas não os aceitou de mão beijada. Submeteu essas comunicações do outro mundo a rigoroso processo de verificação experimental. Só aceitou como válido o que era provado pelas numerosas pesquisas incessantemente repetidas e confrontadas entre si. Para tanto, criou uma metodologia específica, pois entendia que os métodos devem ajustar-se à natureza específica do objeto submetido à pesquisa. Sem essa adequação seria impossível obterem-se resultados significativos. Escapava assim, aos fracassos iniciais da Psicologia Científica, que lutara em vão para enquadrar os fenômenos psicológicos na metodologia da Física e de outras disciplinas. As experiências de Wundt, Weber e Fechner, por exemplo, restritas a mensurações de intensidade, não iam além de explorações epidérmicas, pouco sugerindo sobre a natureza e o mecanismo dos fenômenos. Os fenômenos espíritas, que revelavam inteligência, não eram simples efeitos de processos biológicos e fisiológicos. Eram fenômenos muito mais complexos, que podiam provir da mente ou das entranhas humanas, mas também podiam ser produzidos por forças ainda não suficientemente conhecidas, como o magnetismo natural, a eletricidade, energias e elementos procedentes de regiões ainda não devassadas da própria consciência humana. O inconsciente era ainda uma incógnita. Kardec o abordou quando Freud estava ainda na primeira infância. Kardec deu à Revista Espírita, órgão que fundou para divulgar seus trabalhos e pesquisas de opiniões, o subtítulo de Jornal de Estudos Psicológicos, provando já estar convencido de que enfrentava os problemas do psiquismo humano. Estava fundada a Ciência Espírita, que os cientistas da época rejeitaram, considerando que Kardec fugia da metodologia científica originada das proposições filosóficas de Bacon e Descartes. A psicologia introspectiva, ainda apegada à matriz filosófica, atacou-o com a antecedência de meio século aos ataques dirigidos aos pioneiros da Psicologia Experimental. Essa é uma das glórias de Kardec, geralmente desconhecida. Mais tarde, Russel Wallace iria declarar que toda a psicologia não passa de um espiritismo rudimentar, glorificando Kardec. Charles Richet, prêmio Nobel de Fisiologia e fundador da Metapsíquica, discordante de Kardec, declarou no seu próprio Tratado de Metapsíquica que Kardec era quem mais havia contribuído para o aparecimento das novas ciências e lembrou que Kardec jamais fizera uma afirmação que não estivesse provada em suas pesquisas. Depois desses sucessos no meio científico, numerosos e famosos cientistas se entregaram às pesquisas espíritas, alguns, como William Crookes, com o fim exclusivo de provar que os fenômenos espíritas não passavam de fraude. Após três anos de pesquisas, Crookes publicou os seus trabalhos, pondo-os ao lado do antigo adversário. Após a morte de Kardec, em 1869, Léon Denis o substituiu na direção do movimento espírita mundial, e a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que Kardec chamava de sociedade científica, ficou praticamente viúva. Mas as pesquisas prosseguiram no Instituto Metapsíquico, sob a direção de Gustave Geley e Eugéne Osty, com grande proveito. Ao mesmo tempo, pesquisas continuavam a ser feitas em várias Universidades europeias, como a de Zöllner em Leipzig, as de Crookes em Londres, as de Ochorowicz na Polônia e assim por diante. A Ciência Espírita continuava a se desenvolver. O Barão Von Schrenk-Notzing fundou em Berlim o primeiro laboratório de pesquisas espíritas do mundo, procedeu a valiosa série de pesquisas sobre o ectoplasma, com o auxílio de Madame Bisson. Após a primeira Guerra Mundial a Ciência Espírita continuava combatida, mas ativa. Mas a guerra desencadeara no mundo as ambições e interesses materiais, deixando exígua margem para o interesse espiritual. Só agora ressurge na França, com André Dumas, uma instituição de estudos e pesquisas espíritas. A Revista Renaitre 2.000, dirigida por Dumas, substitui a Revue Spirite de Kardec.

Este breve escorço do aparecimento e desenvolvimento da Ciência Espírita prova a sua vitalidade, apesar das campanhas incessantes e sistemáticas movidas contra ela. Em todos os grandes centros universitários do mundo as pesquisas espíritas prosseguem com resultados positivos. Nenhum princípio da doutrina foi sequer abalado pelas novas descobertas verificadas em quaisquer dos ramos da investigação. Pelo contrário, os postulados básicos do Espiritismo se comprovaram, confirmando a posição avançada da Ciência Espírita e da Filosofia Espírita perante a cultura atual.

Isso representa, para a Terapia Espírita, uma base de segurança inegável para o desenvolvimento dos seus processos de cura. O que hoje se chama, na Europa, de cura paranormal, não é mais do que a cura espírita revestida ou fantasiada de novidades superficiais.

No difícil e geralmente falho tratamento das viciações, o principal é a integridade moral dos terapeutas. Os viciados não
são apenas portadores de vícios, mas também de cargas de influências psíquicas negativas provenientes de entidades espirituais inferiores que a eles se apegam para vampirizar-lhes as energias e as excitações do vício. As pesquisas parapsicológicas provam a existência desses processos de vampirismo espiritual, que na verdade são apenas a contrafação no após morte dos processos de vampirismo entre os vivos. Nas relações humanas, quer sejam entre encarnados ou desencarnados, sempre existem os que se tornam parasitárias de outras pessoas. Não há nisso nenhum mistério, nem se trata de ações diabólicas. Em toda a Natureza a vampirização é uma constante que vai do reino mineral ao humano.

A cura depende, em primeiro lugar, da vontade da vítima em se livrar do perseguidor. As intenções deste nem sempre são maldosas. Ele procura o amigo ou conhecido encarnado que era seu companheiro de vício e o estimula na prática para obter assim os elementos de que necessita na sua condição de desencarnado.

Obtém a satisfação por indução. Ligando-se mental e psiquicamente ao ex-companheiro, pode haurir suas emanações alcoólicas ou das drogas psicotrópicas de que se servia antes da morte. De outras vezes o espírito vampiresco se serve de alguém que, não sendo viciado, revela tendências para o vício e o leva facilmente para a viciação.

A terapia espírita consiste, nesses casos, num processo oral de persuasão, conhecido como doutrinação. Conseguindo-se levar o espírito vampiro e sua vítima a se convencerem da necessidade e da conveniência de abandonarem o vício, ambos se curam. A doutrinação se distingue profundamente do exorcismo por ser um processo racional e persuasivo e não pautado pela violência. A terapia espírita parte da compreensão de que ambos, o vampiro e a vítima, são criaturas humanas necessitadas de socorro e orientação.

Essa posição favorece o tratamento, que ao invés de provocar reações de indignação do espírito tratado como diabólico, provoca-lhe a razão e o sentimento de sua dignidade humana e lhe mostra as possibilidades de uma situação feliz na vida espiritual.

Submetido às reuniões de preces, passes e doutrinação, os dois espíritos, o desencarnado e o encarnado, são tratados com a assistência das entidades espirituais encarregadas desse trabalho amoroso.

Kardec acentuou a necessidade de boas condições morais das pessoas que se dedicam a esse trabalho, pois só a moralidade do doutrinador exerce influência sobre os espíritos. Toda pretensão de afastar o espírito vampiresco pela violência só servirá para irritá-lo e complicar o caso. A boa intenção do doutrinador para com o vampiro e a vítima, sua atitude amorosa para com ambos, é fator importante para o êxito do trabalho. A formação de correntes de mãos dadas em torno do paciente, o uso de defumadores e outros artifícios semelhantes, e qualquer outra forma de encenação material são simplesmente inúteis e prejudiciais. O imprudente que gritar com o espírito, dando-lhe ordens negativas, arrisca-se a prejudicar o trabalho e chamar sobre si a indignação do espírito ofendido. O clima dos trabalhos deve ser de paz, compreensão, amor e confiança nas possibilidades de recuperação das criaturas humanas. Nenhum espírito tem a destinação do mal. Todos se destinam ao bem e acabarão modificando-se por seus próprios impulsos de transcendência.

Levados pelas excitações novidadeiras do momento de transição que atravessamos, certas instituições mal dirigidas pretendem modernizar as práticas doutrinárias, suprimindo as sessões mediúnicas e substituindo-as por reuniões de estudos doutrinários.

Alegam que a doutrinação e esclarecimento dos espíritos inferiores é função dos espíritos superiores, no plano espiritual. Essa é uma boa maneira de fugir às responsabilidades doutrinárias e cortar as ligações do homem com os espíritos, relegando-os ao silêncio misterioso dos túmulos, onde, na verdade, não se encontram.

Foi essa a maneira que os cristãos fascinados pelo poder romano, na fase de romanização do Cristianismo, encontraram para se livrarem das manifestações agressivas dos espíritos rancorosos, contrários aos ensinos evangélicos, sem perceberem que se desligavam assim do mundo espiritual.

A supressão dos cultos pneumáticos – sessões mediúnicas da era apostólica –, permitiu a romanização da Igreja, frustrando-lhe os objetivos espirituais. O mundo espiritual é unitário e orgânico, exatamente como o mundo material. Cortar a ligação humana com a região inferior desse mundo é atentar contra o princípio doutrinário da solidariedade dos mundos e constitui uma ingratidão para com os espíritos que deram a própria doutrina. Mais do que isso, é uma insensatez, pois não dispomos de meios para fazer essa cirurgia cósmica. A Igreja pagou caro a sua insensatez, tendo de recorrer mais tarde à revelação grega, à Filosofia de Platão (Santo Agostinho) e de Aristóteles (São Tomás de Aquino) para erigir com decalques e empréstimos a sua própria Filosofia.

Por outro lado, a interpenetração dos mundos (espiritual e material) faz parte do sistema, ou seja, da organização universal, que não temos o direito de violar em favor do nosso comodismo, do nosso egoísmo e da nossa cegueira espiritual.

Essa pretensão criminosa lembra a teoria do Espiritismo sem espíritos, de Morselli, famoso diretor da Clínica de Doenças Mentais de Gênova, que, obrigado a aceitar a realidade dos fatos, escapou do aperto por essa via estratégica. Querem os espíritas atuais seguir a esperteza do genovês ilustre, sem os seus ilustrados argumentos?

A alegação de que os espíritos inferiores que nos perturbam são doutrinados no Além, o que dispensa o nosso trabalho nas sessões mediúnicas, é de estarrecer. Então essas criaturas que passaram anos assistindo e dirigindo sessões mediúnicas, doutrinando espíritos, não se doutrinaram a si mesmas? Não viram os espíritos necessitados a que se dirigiam, não ouviram as suas ameaças e os seus lamentos, passaram pelas atividades doutrinárias como cegos e surdos? 

Não aprenderam nos compêndios da doutrina que os espíritos apegados à matéria necessitam de esclarecimento  como o sedento necessita da água, como o escafandrista necessita do oxigênio da superfície para respirar no fundo do mar? Não aprenderam, com as pesquisas de Geley, que nas sessões mediúnicas se processa em fluxo contínuo a emissão de ectoplasma que permite aos espíritos sofredores sentirem-se amparados na matéria, como se ainda estivessem encarnados, para poderem compreender as explicações doutrinárias? Não aprenderam que os espíritos superiores descem às sessões mediúnicas para poderem comunicar-se com entidades sofredoras inadaptadas ainda aos planos elevados? Querem negar a realidade dolorosa das obsessões e entregar totalmente os obsidiados ao internamento das clínicas de Morselli? Não sabem que a relação homem-espírito é uma condição permanente dos mundos inferiores como o nosso, em que a maioria dos espíritos desencarnados permanece apegada à Terra e por isso necessita do socorro das sessões mediúnicas?

Annie Besant, a admirável autora de A Sabedoria Antiga, discípula e sucessora de Blavatsky na presidência da Sociedade Teosófica Mundial – apesar da repulsa dos teósofos às práticas mediúnicas –, abriu uma exceção no aludido livro, ensinando que, no caso de perturbações de espíritos numa casa, se alguém tiver coragem de falar com a entidade e provar-lhe que já morreu, conseguirá afastá-la. A grande teosofista reconhece a necessidade e a eficácia da doutrinação espírita, e os próprios espíritas querem agora, tardiamente, assumir a atitude teosófica que o próprio Sr. Sinet, teósofo do mais alto prestígio, condenou em seu livro Incidentes da Vida da Sra. Blavatsky. Sinet corrige esta (sua mestra) no tocante à teoria dos cascões astrais e sustenta a legitimidade das manifestações mediúnicas. Tudo isso é ignorância em excesso para representantes de Federações e outras instituições espíritas que visitam grupos e centros, como fiscais de feira, mandando suspenderem as sessões mediúnicas.

Nas perversões sexuais e sensoriais em geral, bem como nos casos de toxicomania, a doutrinação dos espíritos vampirescos é indispensável ao êxito da terapia. Porque nesses casos estão sempre envolvidos pelo menos o vampiro espiritual e o vampirizado encarnado. Se não se obtiver o desligamento dessas vítimas recíprocas, não se conseguirá a cura. Os que defendem a tese de Morselli no meio espírita, essa tese já há muito superada entre os próprios adversários gratuitos ou interesseiros da doutrina, passaram com armas e bagagens para o adversário. Não querem apenas a amputação da doutrina, pois na verdade querem a morte e o sepultamento inglório do Espiritismo, como os teólogos católicos e protestantes da Teologia Radical da Morte de Deus querem enterrar o suposto cadáver de Deus na cova aberta pelo louco de Nietsche, que acabou morrendo louco. Sirva o exemplo do filósofo infeliz para os filosofantes imberbes e desprevenidos do nosso meio espírita. Não há nada mais desastroso para uma doutrina do que abrigar entre seus adeptos criaturas que se deixam levar por cantos de sereias.

Precisamos, com urgência, recorrer à tática de Ulisses, mandando tapar com chumaços de algodão os ouvidos desses ingênuos navegantes de mares perigosos.

J. Herculano Pires
Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas 

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