Fatalidade ou ...?
Richard Simonetti
Sempre que vinha à cidade, Pires, rico fazendeiro, gostava de conversar com Osíris, vizinho de sua irmã em cuja propriedade ficava hospedado.
O amigo era um homem idoso, muito lúcido e franco. Estudioso da Doutrina Espírita, costumava esclarecê-lo a respeito de problemas existenciais.
- Desta vez bem que estou precisando de seus conhecimentos. Sinto-me acabrunhado, arrasado mesmo, com o prejuízo que sofri.
- A colheita foi mal?
- Pior. Não houve colheita. Fiz vultoso investimento numa grande fazenda em formação. Gastei muito dinheiro com maquinário, casas para os colonos, adubos e defensivos agrícolas. Tudo foi muito bem cuidado, desde o preparo do solo à irrigação. No entanto, às vésperas da colheita violento temporal provocou uma inundação como nunca houve na região, e tudo foi destruído.
- Coisas assim realmente aborrecem. Console-se, no entanto, considerando que provavelmente trata-se de um problema cármico.
- Cármico?
- Sim, aprendemos com o Espiritismo que existe uma lei de causa e efeito, segundo a qual recebemos de volta o resultado de nossas ações. Quando nos comprometemos com o mal, o sofrimento decorrente é o nosso carma, uma espécie de pagamento da dívida que contraímos perante a justiça de Deus.
- Se é assim, não vejo porque estar pagando. Jamais prejudiquei alguém conscientemente. Não me considero um modelo de virtude, mas tenho procurado respeitar o próximo. Nunca fiz nada que justificasse esse desastre.
- Nesta existência não, mas certamente o fez em vidas anteriores. Se fôssemos santos não estaríamos no educandário terrestre, às voltas com lutas, dores e problemas que se situam por mestres infalíveis de nossa renovação.
- Como pode ter certeza disso?
- Por mera questão de lógica. Se concebemos que Deus é misericordioso, justo e bom, torna-se imperioso aceitar que vivemos antes ou não haveria justificativa para o sofrimento humano. Inconcebível que o Criador estivesse a impor aflições a seus filhos por mero diletantismo.
- Mas o que me diz do esquecimento do passado? Não é ilógico pagar um débito cuja origem desconhecemos?
- Há várias razões para essa amnésia. Ela funciona em nosso benefício, principalmente quando somos chamados à reconciliação com os desafetos de vidas anteriores. Conseguiria você abraçar um filho sabendo que ele foi odiado inimigo?
- Realmente não seria fácil...
- E considere que o esquecimento nos proporciona a bênção do recomeço, ajudando-nos a superar paixões e fixações que determinaram nossos fracassos.
Conservamos apenas a experiência, com aquisições morais e intelectuais que são inalienáveis, a se manifestarem na forma de impulsos e aptidões...
- O jeito, então...
- O jeito é registrar o prejuízo na contabilidade da existência como débito resgatado e seguir em frente. A vida renova-se diariamente, com abençoadas oportunidades de trabalho e realização.
Pires concordou. Afinal, com a reencarnação ou sem ela, era preciso dar seguimento às suas atividades.
Retornando à fazenda, propôs-se a recomeçar.
Efetuou a limpeza do solo, reconstruiu as casas, comprou maquinário novo, adubo, sementes, material de irrigação... Fez farto investimento.
Semeadura feita, tudo corria muito bem até que caiu nova tempestade, o céu desabou em água sobre a terra, a plantação foi invadida e houve perda total.
Pires aborreceu-se mais que nunca. Aquilo era demais. Parecia perseguição!
De retorno à cidade, procurou Osíris, contou-lhe o ocorrido e desabafou:
- Até quando estarei sujeito a essa fatalidade? Se sua teoria está correta, será que meus débitos não têm fim?
O amigo respondeu sorridente:
- Desta vez parece-me que não houve fatalidade...
- Como assim? Não ocorreu o mesmo?
- Exatamente por isso. Se você tinha conhecimento da possibilidade de nova inundação e não tomou nenhuma providência para evitar o prejuízo, simplesmente pagou o preço da imprevidência. Ao invés de fatalidade diríamos que foi...
- Já sei - adiantou Pires.
Caindo em si e reconhecendo que desta vez a culpa fora sua, concluiu:
- Foi burrice mesmo!
Há problemas humanos que surgem independente de nossa vontade, em resgates cármicos relacionados com saúde, família, profissão, finanças...
Forçoso reconhecer, entretanto, que em sua vasta maioria eles não decorrem de faltas do passado, mas de invigilância no presente, com o cultivo de velhas tendências à indisciplina e à rebeldia.
É no que fazemos e não no que fizemos que residem nossas dificuldades maiores nas experiências humanas.
Richard Simonetti do livro:
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