quinta-feira, 27 de julho de 2023

Consequências Morais da Doutrina Espírita

Consequências Morais da Doutrina Espírita

Gustave Geley


(Tradução de Luiz de Almeida)
Revista Reformador Out. 1944 (FEB)

As consequências filosóficas que precederam (vide "Consequências da Doutrina Espírita", em número anterior) arrastarão consequências morais de uma importância capital. A nova moral constituirá uma ciência cujos princípios serão rigorosamente deduzidos dos conhecimentos adquiridos sobre nosso destino. Como tal, sua influência será verdadeiramente poderosa. Mas, como tal também, ela sacrificará impiedosamente o montão de preconceitos, de obrigações artificiais, de restrições inúteis que embaraçam a moral tradicional, e que os homens parecem ter acumulado por prazer, para tormento reciproco. Ela se apoiará sobre três bases principais:
1º) O conhecimento das leis e condições evolutivas;
2º) A necessidade do livre desenvolvimento individual;
3º) A noção da relatividade da liberdade moral, apoiada sobre a compreensão do mal e das desigualdades humanas.
DO CONHECIMENTO DAS LEIS EVOLUTIVAS se deduzirão:

A necessidade do trabalho pessoal;

A necessidade de cultivar, sobretudo, nossas faculdades intelectuais e afetivas, e de nos desvencilhar o mais possível das sujeições materiais;

A solidariedade forçada entre os homens, pelo encadeamento das existências sucessivas as quais se acham sujeitos, nas condições e meios os mais diversos. Disto gera a necessidade do altruísmo que, segundo expressão do Dr. Gibier, será o egoísmo verdadeiro, pois auxiliando o aperfeiçoamento do seu próximo e da sociedade, a criatura ajudará seu próprio avanço e tornará menos penosas as encarnações futuras.

A NECESSIDADE DO LIVRE DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL é uma lei que se deduz necessariamente do conhecimento do livre desenvolvimento do mundo. Guardamos em nós tudo que é necessário para assegurar nosso progresso; e este progresso deve resultar dos nossos esforços pessoais. Portanto, nos limites do possível, a moral humana deve deixar livre o indivíduo. Não é somente inútil, mas nocivo, impor um dever que a pessoa não compreende ser um dever (1).
(1) Seria inútil registrar que não se trata aqui da educação da infância. Haveria muita coisa a dizer sobre este objetivo enquadrado na nova filosofia, mas, no momento, isto nos arrastaria muito longe.
O ideal da moral será instruir, mas não impor, e advertir a criatura sobre as consequências de suas ações. A luta é necessária ao desenvolvimento de sua inteligência (2).
(2) Um exemplo fará melhor compreender meu pensamento: suponho dois adolescentes em nível psíquico semelhante. O primeiro se encerrará em um convento, onde passará a vida a orar, sem nada saber dos trabalhos, dos prazeres, das dores, das tentações ou das faltas da Humanidade. Terminará, portanto, sua existência, sem ter sobre a consciência um só pecado mortal. O segundo, na sociedade, lutará, trabalhará, conhecerá prazeres e dores. Sem ter sido criminoso, terá cometido muitas faltas. É certo que este último estará mais avançado, na morte, e melhor preparado para a vida futura.
Cedo ou tarde, as faltas, os erros cometidos serão, sob a advertência da dor e, consequentemente debaixo da percepção intelectual, julgados e compreendidos pelo próprio culpado e, então, sua liberdade moral dará um passo acima. Bem entendido, este respeito completo pelo livre desenvolvimento do homem não passa de um ideal. Praticamente, ele deve ser subordinado sob justa medida à segurança e à liberdade dos seus semelhantes. Mas todas as restrições e todas as imposições que não visam exclusivamente este objetivo são nocivas e devem ser rejeitadas.

O terceiro princípio que servirá de base à moral futura, o da RELATIVIDADE DA LIBERDADE MORAL, vem em apoio das considerações precedentes, e prova também o perigo das restrições mundanas ou sociais. Da parte da lei da evolução, o livro arbítrio está sempre proporcional ao progresso do Espírito (3).
(3) Esta solução do problema da liberdade moral constitui um dos mais belos ensinamentos da Doutrina Espírita.
Consequentemente, a gravidade de uma falta não pode ser apreciada em si mesma, nem mesmo após as circunstâncias; mas, antes de tudo, de acordo com o grau de evolução do culpado. Isto significa que os julgamentos humanos, baseados sobre o princípio da igualdade moral, são sempre acoimados de injustiça. É, pois, prudente e sábio abster-se de julgar. É suficiente, aliás, lembrar-nos do nosso passado, para nos convencer da necessidade de uma indulgência completa para com as faltas do próximo. Todos nós, em encarnações diversas, temos sido criminosos e miseráveis; e se soubemos elevar-nos para o conhecimento do belo e do bem, seria rebaixar-nos ao nível dos pecadores toda vez que lhes dispensássemos desprezo.

O espírito elevado não considera faltas ou crimes as consequências do vício, as manifestações da maldade, do egoísmo, do ódio, da inveja, do espírito de vingança, de todos os sentimentos baixos que fazem a infelicidade humana, como produtos inevitáveis de um estado inferior. Ele sabe que existe, no mundo, muito menos culpabilidade que ignorância (4).
(4) Não se argumente que certos criminosos, bem conhecidos, estejam instruídos e inteligentes; semelhantes exceções não poderão ser opostas a uma regra geral. Seria, aliás, provável que estes malfeitores, apesar de algumas faculdades lúcidas, pudessem ser, em conjunto, seres inferiores. Um ser realmente superior é necessariamente bom e não pode jamais agirem função do crime.
Também buscará, antes de tudo, instruir os culpados ou preveni-los sobre suas más ações. Ele não se rebaixará jamais para punir ou para vingar. Ele sabe que os castigos inventados pelos homens são inúteis para melhoria do culpado e que toda a ação carrega em si a própria sanção.

Vê-se o alcance de princípios parecidos na atividade humana. Ao contrário da moral clássica, a moral evolucionária será sobretudo positiva, e reduzirá ao mínimo o número e a importância das restrições, o número e a importância dos deveres (5).
(5) Em uma humanidade suficientemente evoluída, quer dizer, suficientemente inteligente e boa, o princípio de obrigação tomará o lugar do princípio de liberdade. A noção do dever desaparecerá quase inteiramente para ser substituída pela noção do amor. Isto se tomará, com efeito, um prazer em praticar o bem e um sofrimento em praticar o mal.
Na vida individual ela aconselhará, antes de tudo, o trabalho; sobretudo, bem entendido, o trabalho intelectual e a cultura das nossas faculdades emotivas e afetivas.

Podemos desenvolver-nos em qualquer um dos ramos da atividade psíquica, porque importa menos chegar a conhecer muitas coisas que dilatar nossa capacidade de saber. Aquilo que se aprende é menos importante, em si, que o exercício intelectual necessitado para instruir o aperfeiçoamento consecutivo. É inútil, aliás, tentar, numa existência terrestre, abraçar um punhado de conhecimentos. Evitando uma especialização estreita, sempre nociva, nós nos esforçaremos por cultivar disposições inatas e adquirir o mais possível nesse sentido. É a melhor regra, tanto para a sociedade como para nós mesmos.

Ao mesmo tempo em que trabalhar por si, a criatura, com efeito, em face da Lei do Altruísmo imposta como a encaramos segundo a noção das vidas sucessivas, deverá trabalhar pelo aperfeiçoamento de seus semelhantes.

Ela fará o bem sem inquietar-se com resultado imediato.

Desdenhará pensar sobre o reconhecimento que auferirá de seus benefícios e não exigirá reciprocidade.

Menosprezará as injúrias pessoais, esforçando-se por reprimir qualquer sentimento de ódio ou de ciúme.

Não se vingará.

Saberá desculpar e compreender nos outros os vícios e os defeitos, inexistentes por si mesmos, e, na medida do possível, evitará julgá-los.

Deverá aliás, antes de tudo, trabalhar, fazer prova desse testemunho, oferecendo aos olhos dos seus semelhantes o exemplo de uma bondade ativa, consagrada pelo amor e pelo auxilio.

Não fará, pois, nada que a possa diminuir.

Aproveitando o mais possível sua atual encarnação, deverá cuidar do corpo, instrumento de sua atividade.

Evitará, portanto, os excessos, os perigos inúteis, a preocupação de uma morte prematura.

Não terá nulamente que rejeitar de "caso pensado" os prazeres da existência terrestre, nem considerá-los "pecados".

Somente não esquecerá que apenas os prazeres elevados da inteligência e do coração é que serão úteis ao seu aperfeiçoamento, que os gozos puramente sensuais são apanágio de seres inferiores, acompanham-se quase sempre de desilusões e de dores, podendo, em certa medida, retardar o processo da evolução.

Pensará, sobretudo, na renúncia de todo prazer que poderá prejudicar o próximo. (6)
(6) Nos quais limites em que pode e deve manifestar-se este amor do próximo, é o que não é poss1vel fixar. Aí, ainda, o evolucionismo não estabelecerá senão leis gerais, deixando toda liberdade para as interpretações individuais.
Gustave Geley
Revista Reformador Outubro 1944 -  (FEB)

Veja o artigo de agosto de 1944:
Consequências da Doutrina Espírita

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Revista Reformador Outubro 1944

2 comentários:

  1. Quanto melhor nos olharmos mais teremos condições de tomar atitudes mais corretas, seguir a estrada da evolução é tarefa árdua, confiar na ajuda espiritual na caminhada nos ajuda na conquista da evolução.

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