Estudo e Trabalho
Martins Peralva
Espíritas! Amai-vos; este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo.
A Espiritualidade Superior vem insistindo, através de consecutivas mensagens, pela necessidade do estudo e do trabalho nas fileiras renovadoras do Espiritismo.
Amor e Instrução têm sido, em verdade, a palavra de ordem dos Mensageiros do Cristo.
Os trabalhadores encarnados, identificando-se com o pensamento e a orientação dos que acompanham, de Mais Alto, a surpreendente e irresistível marcha da Doutrina, sentem-se, naturalmente, no dever de secundá-los na recomendação.
Aliás, não é de agora que os Espíritos exortam os homens ao estudo, à instrução, à cultura — cultura, no entanto, que não envaideça o homem, mas o torne humilde, sinceramente humilde.
Humilde de dentro para fora.
Quando se lançavam na França os fundamentos do Espiritismo, iluminadas entidades que organizavam a Codificação, utilizando-se da personalidade missionária de Allan Kardec, já despertavam os obreiros da primeira hora para o imperativo da instrução.
O Espírito de Verdade, cujas palavras deixam indiscutivelmente entrever uma transcendente autoridade, comunicando-se em Paris, em 1860, exortava, incisivo:
“Espíritas! Amai-vos; este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”
O Amor é o Trabalho, a Ação, o Serviço.
A Instrução é a leitura, o Estudo, o Conhecimento.
Amor e Instrução constituem, por conseguinte, duas alavancas, duas ferramentas que devem estar, noite e dia, nas mãos dos Espíritas.
Através do Amor, exerceremos a solidariedade. Identificar-nos-emos com o sofrimento do próximo. Visitaremos o enfermo e o encarcerado.
Despertaremos, enfim, no âmago de nossa individualidade eterna, a centelha de bondade que existe, potencialmente, em cada ser.
Através do estudo, aprenderemos a discernir o erro da verdade; a claridade, da sombra, e a sinceridade, da hipocrisia.
O Espiritismo, como acentua Allan Kardec, não é uma Doutrina que induza os seus adeptos a estranhas, esdrúxulas singularidades.
Nem estudo, sem amor; nem amor, sem estudo. Em suma: nem bondade desprovida de conhecimento, nem conhecimento com ausência de bondade.
Amor sem estudo é comportamento unilateral, favorecendo, apenas, o coração, o sentimento, mas retardando a ascensão para Deus.
Estudo sem amor constitui, quase sempre, experiência simplesmente intelectual, podendo levar à presunção e à vaidade, ameaçando o aprendiz de queda ou fracasso.
É que, via de regra, consoante adverte Paulo de Tarso, “o saber ensoberbece, mas o amor edifica”.
Emmanuel, falando-nos ao coração, exorta, também:
“Recorda que, em Doutrina Espírita, é preciso estudar e aprender, entender e explicar.”
Aconselha, outrossim, a divulgação do “estudo nobre”.
Todavia, reconhecendo a fragilidade humana, destaca a necessidade de o Espírita, pelo amor, “alicerçar as palavras no exemplo”.
Observando o empenho dos Instrutores Espirituais na incessante recomendação ao estudo, não devemos esquecer que Léon Denis, preocupado, decerto, com o problema da ignorância, que leva ao fanatismo, asseverava, no seu tempo:
“O Espiritismo será aquilo que dele os homens fizerem.”
Que rumo tomaria a Doutrina Espírita, se nos encastelássemos na preguiça mental, desprezando os livros, alheando-nos das mensagens que descem dos céus, em catadupas intérminas, infindáveis?...
Aonde iríamos parar, se os livros permanecessem fechados nas prateleiras das editoras e livrarias?...
Que seria do Espiritismo que é Ciência, Filosofia e Religião — dentro de mais algumas dezenas de anos?
A Doutrina Espírita é, sobretudo e essencialmente, a Doutrina do meio termo, do bom-senso: Amor e Sabedoria, constituindo as asas de que se utilizará o Espírito humano em seu voo para o Infinito.
Trabalho e Instrução — a fim de que o equilíbrio seja uma constante na vida do aprendiz e na expansão doutrinária.
Devemos, por isso mesmo, também perguntar:
Que rumo tomaria o nosso abençoado movimento, se, apenas estudando, olvidássemos os necessitados do caminho?
Aonde iríamos parar, se, apenas manuseando livros e devorando mensagens, nos alheássemos da fome do pobrezinho, da nudez do órfão, da dificuldade da viúva, da Solidão do encarcerado, do desespero do enfermo incurável?
Que seria do Espiritismo — Consolador Prometido por Jesus — se, estimulando a cultura, lastimavelmente esquecêssemos a sublime legenda adotada pelo insigne Missionário Lionês: Trabalho, Solidariedade e Tolerância?
Há, portanto, como se observa, uma dupla, inseparável e indissolúvel necessidade: Amor e Instrução.
Não poderia, evidentemente, enganar-se o Espírito de Verdade: “Venho, como outrora, aos transviados filhos de Israel, trazer a Verdade e dissipar as trevas. Escutai-me” — ao preceituar, nos primórdios do Espiritismo, o imperativo do Amor e da Sabedoria.
“Espíritas! Amai-vos; este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo.”
Martins Peralva do livro:
Estudando o Evangelho (FEB)
José Martins Peralva
Nasceu em 1º de abril de 1918, em Buquim (SE). Uma das figuras mais destacadas do Movimento Espírita de Minas Gerais, Martins Peralva iniciou-se no Espiritismo sob assistência e orientação diretas de seu pai, excepcional médium curador. Teve a infância e a adolescência enriquecidas por fatos extraordinários e pelo contato com a Doutrina, o que lhe proporcionou formação espírita essencialmente baseada em Allan Kardec. Quando chegou a Belo Horizonte, em setembro de 1949, a Mocidade Espírita “O Precursor”, contava apenas 6 meses de existência. Integrou-se ao movimento juvenil, foi um dos mentores da Mocidade, função que corresponde hoje à de coordenador. Escreveu cinco obras evangélico-doutrinárias de reconhecido valor: Estudando a Mediunidade, Estudando o Evangelho, O Pensamento de Emmanuel, Mediunidade e Evolução e Mensageiros do Bem. Sempre colaborou em jornais e periódicos espíritas, escreveu durante muitos anos artigos sobre Doutrina Espírita no principal jornal dos mineiros – o matutino O Estado de Minas. Martins Peralva desencarnou em Belo Horizonte (MG), em 3 de setembro de 2007. (Fonte: Reformador, 2007.)
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