Verdades pessoais
Roque Jacintho
Quase todos temos verdades pessoais. Princípios há que, sedimentados em nos ao longo de inúmeras romagens reencarnatórias, formam uma segunda natureza, um padrão condicionado de pensar e de reagir.
Raros os que não julgamos saber tudo.
Mais raros, ainda, os que não possuamos uma certeza de que somos capazes de tudo solucionar, de realizar sempre com mais perfeição que os outros.
São hábitos mentais cristalizados.
Na área do Cristianismo, em todas as suas províncias de fé, essa presunção de que somos mais hábeis que os demais companheiros sempre tomou a configuração de excesso de zelo.
Ela inspira seitas, dentro dos agrupamentos.
Leva amigos a verem-se quais inimigos.
Provoca o nascimento de rivalidades injustificáveis diante da sublimidade do Evangelho. E o Evangelho, então, recebe todos os respingos da lama que trazemos dentro de nós.
À sombra desses impulsos inatos, que permitimos nos comandem, programas regeneradores já foram postergados e inúmeras almas que chegavam para o trabalho experimentaram desencanto.
Quase sempre descuramos de deveres fundamentais, protelando obrigações inadiáveis, por nos absorvermos em metrificar a conduta de outros obreiros que foram conduzidos a outros setores do Espiritismo, movidos pelo desejo de ocupar a sua posição, de dispor de seu cargo, a fim de imprimirmos nosso colorido particularíssimo às atividades que eles desempenham.
É a sementeira das tricas.
Razão teve Kardec quando, "em O Evangelho Segundo o Espiritismo" consagrou para a Doutrina a máxima: "Fora da Caridade não há salvação". O Mestre lionês ponderou com ampla visão que: "Fora da Verdade não há salvação" era conceito extemporâneo, porque todos nos julgamos donos da verdade.
As verdades pessoais são joio na seara.
Diante dos quadros de conflitos surdos ou de intrigas e ciumadas, com sabor dos conventículos romanos, que sempre retardam o avanço da luz, poderemos acrescentar, para mais amplo descortino, que não é válida, de forma alguma, em termos de Espiritismo, a máxima: "Fora de minha verdade, não há Doutrina e nem movimento espírita".
Devemos fidelidade ao Cristo.
Vale, portanto, o esforço de ajustar-nos ao seu programa de redenção da Humanidade. Longe estejamos de tentar, mais uma vez, ajustar Jesus a nossos propósitos, por maior seja nossa boa vontade.
Não contender - é questão de bom senso.
Não há bom combate quando não se está voltado apenas para frenar nossos impulsos de domínio, nossos pruridos mal disfarçados de vaidade, nossa ânsia nebulosa de prestígio. Não há bom combate quando se investe contra outros seareiros, sob alegação de zelo, de eficiência pessoal, de mais larga visão da Doutrina.
Quem mais saiba, ame mais.
Só o amor, expressão imaterial da caridade, é o sinete que revela, silenciosamente, os discípulos do Mestre: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros". (João 13:34 e 35)
Estultícia malquerer companheiros por amor à Doutrina!
Não haverá respeito à Doutrina, que é bênção de Jesus, às criaturas que lutam contra si mesmas, se não nos amarmos uns aos outros.
Se, por conseguinte, estivermos, nalguma hora, traduzindo o novo mandamento de Jesus com a forma: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se murmurardes e atirardes pedras uns nos outros" - impõe-se uma imediata reconsideração dos conceitos de nossas verdades, a fim de que não nos sufoquemos com as manifestações do personalismo anticristão.
Roque Jacintho
Revista Reformador de Agosto 1972
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Declaração de Origem
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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