quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Explicação e Compreensão

Explicação e Compreensão

Deolindo Amorim



Embora já se saiba que a Doutrina Espírita é reencarnacionista, nem todos quantos batem às portas das sociedades espíritas, em situações graves ou para chorar as suas mágoas, estão em condições de compreender prontamente certos problemas à luz da reencarnação. Em determinados casos, o esclarecimento deve ser muito prudente, sempre compreensivo, pois é inútil, e às vezes até contraproducente, começar falando logo em resgate de dívida do passado, em situações cármicas, etc., se a pessoa aflita está inteiramente fora do assunto, vindo de um ambiente todo estranho ao meio espírita.

Há explicações que são muito bem aceitas por pessoas que já têm pelo menos algumas noções de Espiritismo ou já ouviram palestras sobre reencarnação, mas não podem ser absorvidas, logo de entrada, por elementos que, além de nunca terem ouvido falar em compromissos do passado, provas e assim por diante, estejam em estado de desespero, precisando apoiar-se em alguém que inspire confiança. Quem chega a uma casa espírita para pedir socorro, completamente arrasado por causa de um problema inesperado e doloroso, e não tem, por sua vez,
qualquer base de conhecimento acerca da reencarnação, naturalmente não pode raciocinar com frieza ou muito menos entrar em especulações filosóficas para chegar à causa remota de seu drama. Quem está nessa situação, sem saber o que fazer nem que rumo tomar, procura o meio espírita justamente para receber uma palavra de conforto, uma prova de solidariedade humana, o apoio espiritual de que necessita. Mas não pode apreender logo umas tantas elucidações justamente porque a mente está ainda muito tumultuada. É um problema psicológico. Passado o primeiro período da crise, quando a criatura volta à calma, ainda que relativa, e já está mais ou menos com as ideias no lugar, então vem a explicação reencarnacionista, se for o caso, mas mesmo assim em doses homeopáticas.

Há explicações que até desorientam, embora sejam bem intencionadas. Figuremos, como simples ilustração, o caso de uma senhora que, na condição de mãe sofredora, profundamente deprimida porque o filho morreu afogado, sem nenhuma noção do que seja Doutrina Espírita, sem jamais haver pensado em reencarnações, recorra a um centro espírita como ponto de apoio e conte o seu caso, banhada em lágrimas inconsoláveis. Evidentemente que se trata de uma situação dificílima que exige muito tato, muita paciência. Imagine-se, agora, se alguém, com a intenção caridosa de esclarecer e ajudar, comece logo assim:

— É assim mesmo, É a lei de causa e efeito. Conforme-se com a realidade. É a sua prova. A senhora já deve ter afogado alguém noutra existência!...

Francamente, parece mais crueldade do que caridade.

Consideremos o problema sensatamente: como poderia admitir tais coisas quem se encontra em aflição e não tem o mínimo preparo acerca das ideias espíritas? Impossível. Além de tudo, o problema não deve ser colocado nestes termos. Certas maneiras de interpretar a reencarnação podem até comprometer a própria lógica da Doutrina, É preciso aguardar o momento psicológico para entrar no assunto. Não se deve usar a mesma linguagem para todas as pessoas, como não se deve apresentar o mesmo fio de argumentos em todos os casos, em todas as circunstâncias, a propósito de todas as situações. As condições psicológicas, emocionais e intelectuais variam muito. Somente depois de preparado o terreno, pela elucidação e pelo amor, é que se começa a doutrinação específica. Ainda assim, é bom frisar, há ocasiões em que o modo de encarar os problemas pelo prisma reencarnacionista, ao invés de esclarecer, lançam ainda mais confusão. A experiência que o diga.

Quem estuda a Doutrina Espírita já sabe muito bem que a reencarnação é um princípio universal, válido no tempo e no espaço. E o caminho lógico da compreensão da Justiça Divina, a resposta filosófica aos chamados desafios da Natureza. Mas acontece que, às vezes, se leva a reencarnação para um terreno muito rígido e casuístico, esquecendo-se de que a reencarnação não anula o livre arbítrio, não significa o puro fatalismo. A reencarnação deve ser entendida como lei geral. Sob a lei, que é inevitável, mas não é somente punitiva, porque proporciona meios de reparação perante a Justiça Divina, assim como oferece campo para o desempenho de missões nobres e grandiosas na Terra, sob a lei (repita-se) cada qual pode fazer as suas opções, ajustando-se a esta ou àquela conjuntura.

Ninguém foge à lei, é certo. Quem causa prejuízo aos outros terá de responder pelos seus atos, seja onde for, seja quando for, mas justamente aí é que se nota a inconveniência de certas explicações muito restritivas e prejudiciais ao entendimento da Suprema Justiça, que fica parecendo rígida demais, senão até desumana!

Se alguém causou afogamento do próximo -, noutra existência, terá fatalmente de morrer afogado na vida atual (?)... Se lançou fogo na casa do vizinho, terá de reencarnar com a previsão de ser vítima de um incêndio... E assim por diante. Ora, não podemos ver os problemas exclusivamente por um prisma tão estreito, tão inflexível. Afinal, a pessoa que causou afogamento não poderá voltar à Terra com a incumbência de trabalhar como salva-vidas, que é uma profissão humanitária, a fim de reparar o que fez na existência anterior? Não será muito mais útil do que morrer afogado? É questão de lógica. O espírito reencarnatório pode interferir no carma, ainda que não possa desviar o curso da lei. Aquele, por exemplo, que provocou incêndio intencionalmente, por perversidade, não poderá reencarnar e tornar-se bombeiro, sacrificando-se para salvar muitas pessoas de incêndio? Não será então uma oportunidade ampla, muito mais benéfica do que ter de morrer queimado?!...

Há várias maneiras de saldar dívidas do passado e reparar os danos causados ao próximo. E a perspectiva da reencarnação. Algumas interpretações muito ao pé da letra, entretanto, levam certas pessoas a uma confusão ainda maior, quando não saem dos centros dizendo que o ensino espírita é um absurdo! Infelizmente. No entanto, a reencarnação, quando bem compreendida, abre uma janela nova ao espírito para que compreenda seguramente a grandeza e a perfeição da obra divina. A tese de reencarnação é também uma fonte de esperança!
(Correio Fraterno do ABC — São Bernardo do Campo — SP — Dezembro de 1980)
Deolindo Amorim do livro:
Ponderações Doutrinárias
(Coletânea de artigos publicados por Deolindo Amorim, em diversos jornais e revistas espíritas do Brasil e do Exterior / Livro organizado por Celso Martins)
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