Vigilância
Hernani T. Sant'anna
O sentido evangélico do termo vigiar não é somente manter-se acordado, observar, permanecer atento; é também discenir, comparar, induzir, deduzir, sopesar, ajuizar, perceber além das aparências, preferir o verdadeiro, escolher o melhor.
Os agentes da perversão também vigiam, e vigiam com extrema atenção as oportunidades de ampliar mal de que se fazem palinuros.
O conceito mundano de vigilância é tão elástico e extensivo, que abrange desde atividades policiais, lícitas e ilícitas, até os mais sofisticados processos de espionagem política e militar, atentatórios, na maioria das vezes, aos mais comezinhos direitos do espírito humano.
A vigilância que Jesus nos aconselhou nada tem com o egoísmo, com a cupidez, com os interesses inferiores e com as paixões terrestres; filia-se ao amor humilde e puro de que nasce, ao senso de lealdade ao Bem, ao propósito superior de manter fidelidade à Justiça e à Verdade.
Essa vigilância pede, portanto, elevado discernimento, para não descer ao nível da mera desconfiança ou da presunção de superioridade, de infalibilidade ou às tentações da intolerância.
Nunca será demais repetir que a simplicidade substancial é característica do Evangelho do Cristo, mas também é indispensável ter em conta que a simplicidade não se confunde com simploriedade, com superficialidade de julgamento ou com precipitação viciosa.
Seria demasiado fácil identificar o mal nos seus aspectos mais retumbantes e expressivos, mas nem sempre é tão simples vê-los nos seus nascedouros, nas suas motivações e nos seus entrelaçamentos organizacionais, muito comumente mascarados de inocuidade.
Necessário se compreenda que a indústria da guerra se assenta em numerosas atividades aparentemente justas e nobres, mas fundamente desviadas das suas finalidades honestas.
O mal possui, na Terra, uma organização extremamente complexa, que a vigilância dos discípulos de Jesus não deve ignorar.
Em nossas atividades espíritas, pode dar-se que ingenuidade de conduta, sem a face agressiva da má intenção, gerem consequências funestas, se não houver cuidado para tudo analisar-se com isenção e com espírito de zelo.
Recordemos que Pedro foi severamente admoestado pelo Mestre, por ter expendido conceitos impensados, sem que no seu coração houvesse a determinação de errar.
O Divino Senhor vigiou sempre, enquanto seus discípulos o negavam, sem jamais precipitar-se ou perturbar-se, mas sem afastar-se em coisa alguma do seu roteiro invariável de conduta.
Na Casa de Ismael, os administradores da obra divina são convocados a esse tipo superior de vigilância, porque agem num mundo já cultural e tecnicamente amadurecido, entre lobos espertos, e devem dispor de suficiente descortino para preservar conscientemente os bens imortais que a Bondade de Deus confiou aos seus cuidados.
Preparados para isso, ao longo de tanto tempo, e senhores de respeitáveis cabedais de experiência, deveis ao Soberano Dispensador bem mais do que uma atitude sem maior profundidade.
Nossas palavras não são de admoestação, mas de estímulo e de encorajamento, a fim de que, no exercício de vossas responsabilidades, não tenhais dúvidas nem receios, agindo com o descortino, a coragem e a firmeza que se fazem preciso.
Áureo por Hernani T. Sant'anna do livro:
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