quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Delinquência, perversidade e violência

Delinquência, perversidade e violência

Joanna de Ângelis




A onda crescente de delinquência que se espalha por toda a Terra assume proporções catastróficas, imprevisíveis, exigindo de todos os homens probos e lúcidos acuradas reflexões.

Irrompendo, intempestivamente, faz-se avassaladora, em vigoroso testemunho de barbárie, qual se loucura de procedência pestilencial se abatesse sobre as mentes, em particular grassando na inexperiente Juventude, em proporções inimagináveis, aflitivas.

Sociólogos, educadores, psicólogos e religiosos preocupados com a expressiva mole de delinquentes de toda lavra, especialmente os perversos e violentos, aprofundam pesquisas, improvisam soluções, experimentam métodos mal elaborados, aderem aos impositivos da precipitação, oferecem sugestões que triunfam por um dia e sucumbem no imediato, tudo prosseguindo como antes, senão mais turbulento, mais inquietador.

Os milênios de cultura e civilização parece que em nada contribuíram a benefício do homem, que, intoxicado pela violência generalizada, adotou filosofias esdrúxulas, em tormentosa busca de afirmação, mediante o vandalismo e a obscenidade, em fugas espetaculares para as “origens”.

Numa visão superficial das consequências calamitosas desse estado sociomoral decorrentes, asseveram alguns observadores que a delinquência, a perversidade e a violência fluem, abundantes, dos campos das guerras sujas e cruéis, engendradas pela necessidade da moderna tecnologia em libertar os países superdesenvolvidos do excesso de armamentos bélicos e dos equipamentos militares ultrapassados, gerando focos de conflitos a céus abertos entre povos em fases embrionárias de desenvolvimento ou subdesenvolvidos, martirizados e destroçados às expensas dos interesses econômicos alienígenos, dominadores arbitrários, no entanto, transitórios...

Indubitavelmente, a Humanidade vê-se compelida a responder por esse pesado ônus, fruto do egoísmo de homens e governos impenitentes, que fomentam as desgraças imediatas, geratrizes de males que tais...

O homem condicionado à técnica da matança desenfreada e selvagem, atormentado pelo medo contínuo, submetido às demoradas contingências da insegurança, incerteza e angústia disso resultantes, adestrado para matar antes e examinar depois, a fim de a si mesmo poupar-se, obrigando-se a cruciais situações, ingerindo drogas para sustentar-se, açular sensações, aniquilar sentimentos, só, mui dificilmente, poderá reencontrar-se, mesmo que transladado dos campos de combate para as comunidades pacíficas e ordeiras.

A simples injunção de uma paz assinada longe do caos dos conflitos onde perecem vidas, ideais e dignidade, jamais conseguirá transformar de improviso um “veterano” num pacato cidadão.

Além desse fator odioso, com suas intercorrências, referem-se os estudiosos aos da injustiça social vigente entre as diversas classes humanas, de que padecem os proletários e os menos favorecidos sempre arrojados às posições subalternas ou nenhures, mal remunerados, ou sem salário algum, subnutridos, abandonados. Atirados aos redutos sórdidos das favelas, guetos e malocas, vivendo de expedientes, dependentes uns dos outros, em aventuras, urdem na mais penosa miséria econômica, da qual se derivam as condições mesológicas deploráveis — causas de enfermidades orgânicas e psíquicas de diagnose difícil quão ignorada; geradoras de ódios, brutalidades e sevícias, nos quais se desarticulam os padrões do sentimento, substituídos por frieza emocional resultante de inditosa esquizofrenia paranoide — os desforços contra a Sociedade indiferente que os relega a estágio primitivo, sub-humano.

Ás vezes sobrevivem alguns descendentes, vítimas inermes do meio ambiente, cujos hábitos e costumes arraigados os jungem a viciações de erradicação difícil, quando não perturbante, de que não se conseguem libertar, estiolando-se, mais tarde...

Todavia, devemos considerar, à margem das respeitáveis opiniões dos técnicos e especialistas no complexo problema, as condições morais das famílias abastadas — tendo-se em conta que a delinquência flui, também, abundante e referta, assustadora e rude, em tais meios assinalados pela linhagem social e pela tradição — cujos exemplos, nem sempre salutares, substituem o cumprimento dos retos deveres pelo suborno ou os transferem para realização a servos e pedagogos remunerados, enquanto os pais se permitem desconsiderações recíprocas, desprezo a leis e costumes, impondo seus caprichos e desaires como normas aceitas, convenientes, sobre as quais estatuem as diretrizes do comportamento, agindo de maneira desprezível, apesar da aparência respeitável...

A leviandade de mestres e educadores imaturos, não habilitados moralmente para os relevantes misteres de preparação das mentes e caracteres em formação, contribui, igualmente, com larga quota de responsabilidade no capítulo da delinquência juvenil, da agressividade e da violência vigentes, ameaçadoras, câncer perigoso a dizimar com crueldade o organismo social do Planeta.

Experiências em laboratório com ratos hão demonstrado que a superdensidade de espécimes em área reduzida torna-os violentos, após atravessarem períodos de voracidade alimentar, de abuso sexual até a exaustão, fazendo-os, depois, perigosos e agressivos, indiferentes às outras faculdades e interesses. Creem os especialistas em demografia, que o problema é semelhante no homem que vive estrangulado nos congestionados centros urbanos, onde as cifras da delinquência se fazem superlativas, cada dia ultrapassando as anteriores.

Destaquemos, aqui, a falência das implicações morais e da ética religiosa do passado, que depois da constrição proibitiva a todos os processos evolutivos viam-se ultrapassadas, sentindo necessidade de atualização para a sobrevivência, saltando do estágio primário da proibição pura e simples para o acumpliciamento e acomodação a pseudovalores novos, não comprovados pela qualidade de conteúdo. A permissividade total concedida por alguns receosos pastores, em caráter experimental, contribuiu para a morte do decoro e a vigência da licenciosidade que passou a vulgarizar a temática evangélica em indesculpável servilismo das paixões dominantes...

O delinquente, no entanto, padece, não raro, de distúrbios endógenos ou exógenos que o impelem ou predispõem à violência, que se desborda ante os demais contributos sociais, econômicos, mesológicos...

Sem qualquer dúvida, a desarmonia endócrina, resultante da exigência hereditária, as distonias psíquicas se fazem vigorosos impositivos para a alienação e a delinquência.

Muitos traumas psicológicos e recalques que procedem do próprio espírito aturdido e infeliz espocam como complexos destrutivos da personalidade, expulsando-os para os porões do desajuste da emoção e para a rebeldia sistemática a que se agarram, buscando sobreviver, não raro enlouquecendo pelas falta de renovação e pela intoxicação dos fluidos e miasmas psíquicos que cultivam.

Além disso, os distúrbios orgânicos, as sequelas de enfermidades várias, os traumatismos ocasionados por golpes e quedas são outra fonte de desarranjos do discernimento, ensejando a fácil eclosão da violência e da agressividade.

Pulula, ainda, nos complexos mecanismos da reencarnação em massa destes dias, o mergulho no corpo somático de Espíritos primários nos quadros da evolução, necessitados de progresso e ajuda para a própria ascensão que, não encontrando os estímulos superiores para o enobrecimento, são, antes, conduzidos à vivência das sensações grosseiras em que transitam, desbordando os impulsos agressivos e os instintos violentos com que esperam impor-se e usufruir mais fogosas cargas de gozos em que se exaurem e sucumbem. Aderem à filosofia chã de viver intensamente um dia, a lutarem e viverem todos os dias. (No capítulo “Doenças mentais e obsessão" examinaremos a problemática obsessiva e sua contribuição na delinquência, na perversidade e na violência. Nota da Autora espiritual.) - [ Link para o texto citado: Doenças mentais e obsessão ]

A simples preocupação dos interessados — e a questão nos diz respeito a todos nós —, não resolve, se medidas urgentes e práticas, mediante uma política educativa generalizada, não se fizerem impor antes da erupção de males maiores e das suas consequências em progressão geométrica, apavorantes. Teríamos, então, as cidades transformadas em imensos palcos para o espetáculo cada vez mais rude da delinquência e dos seus famigerados comparsas.

Tem-se procurado reprimir a delinquência sem se combaterem as causas fecundas da sua multiplicação. Muito fácil, parece, a tarefa repressiva, inútil, porém, quando não se transforma em um fator a mais para a própria violência.

A terapêutica para tão urgente questão há de ser preventiva, exigindo dos adultos que se repletem de amor nas inexauríveis nascentes da Doutrina de Jesus, a fim de que, moralizando-se, possam educar as gerações novas, propiciando-lhes clima salutar de sobrevivência psíquica e realização humana.

A valorização da vida e o respeito pela vida conduzirão pais, mestres, educadores, religiosos e psicólogos a uma engrenagem de entendimento fraternal com objetivos harmônicos e metódicos — exemplos capazes de sensibilizar a alma infantil e conduzi-la com segurança às metas felizes que devem perseguir.

Por coerência, espiritualmente renovado e educado, o homem investirá contra a chaga vergonhosa da injustiça social, contra os torpes métodos que fomentam a miséria econômica e seus fâmulos, contra o inditoso e constritivo meio ambiente pernicioso, contra o orgulho, o egoísmo e a indiferença.

Os portadores de perturbação psíquica de qualquer procedência e violentos serão amados e atendidos por uma Medicina mais humana e mais interessada nos pacientes que preocupada em auferir lucros e homenagens com que muitos dos seus profissionais se envilecem, na tortuosa correria para a fama e o poder...

O homem iluminado interiormente pela flama cristã da certeza quanto à sobrevivência do Espírito ao túmulo e da sua antecedência ao berço, sabendo-se herdeiro de si mesmo, modifica-se e muda o meio onde vive, transformando a comunidade que deixa de a ele se impor para dele receber a contribuição expressiva, retificadora.

Os homens são, pois, os seus feitos.

A sociedade são os homens que a constituem.

A vida humana resulta dos Espíritos que a compõem.

Com sabedoria incontestável elucidou Jesus, o Incomparável Psicólogo, que prossegue vitorioso, não obstante os séculos transcorridos: “Busca, primeiro, o reino de Deus e Sua Justiça e tudo mais te será acrescentado”, demonstrando que, em o homem se voltando para a Pátria Espiritual — a verdadeira — e suas questões, de fundamental importância, os de mais interesses serão resolvidos como efeito natural das aquisições maiores.

Nesse cometimento todos estamos engajados e ninguém se pode omitir, porquanto somos igualmente responsáveis pelas ocorrências da delinquência, perversidade e violência — esses teimosos remanescentes da natureza animal do homem em luta consigo mesmo para insculpir o bem e libertar dos grilhões do primarismo terreno a sua natureza espiritual.

Toda contribuição de amor como de paciência, toda dádiva de luz como de saber são valiosas oferenda para o amanhã de paz e ventura que anelamos.

Joanna de Ângelis por Divaldo franco do livro:
Após a Tempestade

Link para o texto citado:

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