Os barquinhos da vida
Melcíades José de Brito
Despertaram numa região trevosa, onde foram perseguidos por vampiros. Na tentativa de escapar, correram, desesperadamente, até que chegaram às margens de um grande rio.
Do ponto onde pararam podiam ver que, do outro lado do rio, estava o Reino Celestial. Temendo a chegada dos vampiros, que os perseguiam, clamaram pelo nome de Deus, até que um Anjo do Senhor a eles se apresentou.
- Anjo, salva-nos! - disseram a um só tempo.
- Usem os barcos da vida! - disse o Mensageiro Celestial. Eles viram, na beira do rio, três barquinhos, marcados com seus nomes. Rápidos, pegaram os barcos e se lançaram na água, para fugir dos vampiros, que já vinham próximo.
Seguiu-se uma cena de muito desespero e aflição: o mentiroso não saiu do lugar, porque seu barco foi invadido pelas águas, afundando; o enganador ficou girando, no mesmo lugar, porque seu barco não obedecia a seus comandos; o solitário não tinha força suficiente para vencer a correnteza e tirar o barco do lugar.
Enquanto isso, os vampiros perseguidores aproximavam-se. Já era possível ouvir suas ameaças e gritos de revolta.
Vendo que o Anjo ali permaneceu quieto, disse-lhe o mentiroso, no auge do desespero: - Anjo, que barco me deste? "Dei-te um Barco Furado, meu amigo. Foi o que produziste em vida. Cada mentira que criavas era um furo que fazias em teu barco."
E eu Anjo, que barco me deste? - perguntou o enganador. "Dei-te um Barco Sem Rumo, meu amigo. Foi o que produziste em vida. Cada promessa que fazias e não cumprias, deixando as pessoas desnorteadas, era uma avaria que causavas no leme de teu barco."
E eu Anjo, que não menti nem iludi, que barco me deste? - disse o solitário. "Dei-te o Barco do Retorno, meu amigo. Foi o que mereceste em vida. Por viveres de forma egoísta, tomaste nula tua existência e terás que retomar para começar tudo de novo."
Nesse instante os vampiros chegaram e, determinados, armaram-se para aplicar o bote fatal. Aflito, o homem solitário, olhando para os outros dois padecentes, gritou alucinado: Venham!
Rápidos, os dois convidados pularam para dentro do Barco do Retorno e este, agora movido pela força dos três homens, saiu do lugar para cumprir seu destino, livrando-os dos inimigos.
Quarenta anos depois, era possível ver um lar neste mundo, onde um pai extremamente afetuoso dedicava-se a dois filhos, buscando, com sua doação de amor, livrá-los dos maus hábitos que possuíam: é que um gostava muito de mentir e o outro era especialista em prometer e não cumprir.
***
• As leis de Deus são perfeitas. Em todo momento estamos acionando essas leis, de conformidade com nossas atitudes e procedimentos.
• Uma de suas leis é a de Ação e Reação. Cada ato praticado na vida desencadeia uma reação, que é a resposta de Deus, aplicada através das leis que Ele criou.
• Ao longo da jornada terrena acumulamos merecimentos e dívidas. Méritos pelos bons atos; endividamento pelos prejuízos causados aos outros.
• Os bons atos decorrem das nossas ações que guardam harmonia com a Lei de Amor ao Próximo. Os erros resultam do distanciamento dessa Lei.
• No mundo material colhemos a resultante dessas nossas ações. Mas, no Plano Espiritual também, e até mais intensamente, daí poder-se dizer, apropriadamente, que aqui é a semeadura e lá a colheita.
• Após a morte do corpo, todos se depararão, no Plano Espiritual, com sua própria consciência. É nela onde está o registro de tudo que fomos e fizemos. Mergulhada no Halo Divino, a consciência de cada um aponta o grau de acerto e de desacertos cometidos na vida, gerando individualmente, no Plano Maior, as consequências felizes ou desgraçadas.
• A história dos barcos tem o propósito de levá-lo a refletir sobre essas consequências. A narrativa aponta, figurativamente, a vida de três homens endividados, que se deparam, após a morte, com os resultados dos erros praticados no curso da caminhada terrena.
• Os barcos representam o merecimento de cada um; o Anjo é a figura dos Mentores Espirituais, mensageiros de Deus imbuídos da missão de nos instruir e proteger; os vampiros são os tormentos mentais que perseguem os pecadores, através do remorso e do arrependimento; o Barco do Retomo simboliza a Lei da Reencarnação, da qual ninguém escapa, quer já tenha maturidade espiritual para compreendê-la, ou não.
• A vida é uma caminhada rumo a Deus. Saídos das mãos do Pai, como espíritos simples e ignorantes, a Ele retornaremos na condição de Espíritos Puros.
• Todos nós, Espíritos caminhando para Deus, voltamos à Terra sucessivas vezes, para ressarcimento de dívidas e para a conquista de novas virtudes, rumo à perfeição.
"Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus" (João 3:3).
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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