A lenda da verdade
Melcíades José de Brito
No Reino Encantado, o jovem príncipe aceitou o desafio de buscar a Verdade. Segundo uma lenda, o Espírito da Verdade ali habitara, na antiguidade, fazendo todos os habitantes daquele reinado viverem harmoniosamente.
Um dia, ainda segundo a mesma lenda, o Espírito da Mentira penetrou nas cercanias do reinado e, sorrateiramente, destilou seu veneno, que rapidamente se espalhou, contagiando mentes e corações. As pessoas passaram a dar ouvidos e vez à Mentira, sem preocupação com os resultados desse novo procedimento. Sentindo-se rejeitada, a Verdade deixou aquele povo.
Desde aquele instante o reinado perdeu a sua paz. A discórdia, o insulto, a revolta, a traição, a ofensa, a contrariedade, o desânimo, a desconfiança, o ciúme e muitos outros sentimentos negativos vieram no rastro deixado pelo veneno da Mentira.
Gerações e mais gerações se seguiram e todas recorriam à Mentira para resolver suas dificuldades e problemas. Os valores morais se degradaram, a tal ponto, que, num certo momento, um conselho de anciãos decidiu pedir providências ao Rei.
Convenceram o monarca de que toda infelicidade do povo decorria do afastamento da Verdade, e que a solução seria trazê-la de volta. O Rei acatou o conselho e, já não tendo mais em quem acreditar, decidiu que seu filho seria o encarregado da missão.
O príncipe soube que a Verdade habitava local distante, possivelmente nas profundezas de um abismo. Criou convicção de que saberia como achá-la, onde quer que ela estivesse.
Sozinho, atravessou sítios e vales, planícies e grotas, andou muitas léguas, sempre descendo mais fundo. Atingiu o lugar mais íngreme da região e lá avistou um abismo que parecia não ter fim. Destemido, prosseguiu em sua peregrinação. Muitos dias depois, após longo esforço e persistência, chegou ao fim do abismo. Encontrou uma edificação subterrânea, protegida por uma porta. Bateu e... oh! Surpresa! Sentiu-se recompensado.
A Verdade era uma jovem linda, de olhos claros, cabelos dourados, exuberantemente bem vestida e perfumada. Recebeu o visitante com um sorriso encantador, deixando-o fascinado. Extasiado diante de tanta beleza, o príncipe perdeu a voz, levado pelo sonho de tê-la em seus braços, tornando-a princesa em seu castelo.
Aproximou-se, com intenção de beijá-la. Porém, pisou de mau jeito e escorregou, caindo por trás da jovem, que não teve tempo para virar-se. Nisto, outra surpresa! Por trás daquela bela imagem existia outra, agora detestável e horripilante. Cadavérica, olhos esbugalhados, cor de fogo, sorriso macabro, traje imprestável, exalando odor insuportável. Perplexo, o príncipe interpelou:
- Por Deus, quem és?
- Eu sou a Mentira! - disse ela, em tom sarcástico.
- Não pode ser! - rebateu o príncipe.
- Sou a Mentira sim, e para atrair os incautos valho-me dos atrativos da beleza. Adorno tudo com a bela fachada que você viu primeiro e escondo por trás aquilo que verdadeiramente sou. Alguns conseguem me desmascarar, mas são poucos!
- Mas, onde está a Verdade? Todos no meu reinado acreditam que a Verdade reside neste lugar. Que fizeste dela?
A Mentira, aproximando-se do príncipe, disse, vangloriando-se, tudo o que ele precisava saber.
Saindo daquele local, cabisbaixo e abatido, o jovem príncipe levava consigo uma preocupação: o que fazer para seu povo entender que a Lenda da Verdade, tão ardorosamente aceita e difundida, não passava de uma lenda, e pior, criada pela Mentira. Em época alguma da história seu povo vivera harmoniosamente.
***
• A mentira não resiste a detalhes. Indagações sobre particularidades do fato alegado fazem ruir as mais sólidas mentiras.
• Seja prudente e criterioso. A forma mais fácil de seduzir multidões, inclusive no campo religioso, tem sido, em todos os tempos, a promessa de soluções fáceis e imediatas.
• As conquistas verdadeiras são as decorrentes do merecimento, fruto do trabalho e do estudo.
• A verdade é uma conquista individual. Tudo aquilo que sua razão diz ser verdadeiro, verdadeiramente é uma verdade, mesmo que relativa.
• Em matéria religiosa, não abdique da capacidade de raciocinar e de questionar.
• Não existe verdade onde não há liberdade de reflexão e de expressão.
• Estude sempre. O conhecimento traz consigo os efeitos da felicidade.
• Esclareça, sem ofender. Quem tem razão, tem sempre bons argumentos para se justificar.
"Quem é de Deus escuta as palavras de Deus " (João 8:47).
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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