segunda-feira, 14 de novembro de 2022

A avareza de cem séculos

 A avareza de cem séculos

Amália Domingo Soler


(Ilustração original do livro)

Por muito que estejamos acostumados a ver homens que chamam a atenção pelas excentricidades e esquisitices, sempre surpreende ver um infeliz, vítima de si mesmo. Como dizem muito bem os Espíritos: ninguém tem que fazer o papel de verdugo para castigar as faltas de outro, cada um é verdugo de si mesmo. Na eterna Justiça de Deus cada um recolhe a colheita de sua semeadura. Lendo os jornais, encontrei um artigo que, ao lê-lo, murmurei: — Que causa terá produzido este efeito? "A avareza de cem séculos", disse uma voz, 0 artigo dizia assim:

— Um avarento —

Na rua da Pomba, número 22, foi encontrado dias atrás um caseiro com fome, moribundo.

Levado ao hospital, faleceu.

Esse homem vivia na maior miséria, dormindo numa enxerga feita com trapos a um canto da casa.

Ontem, ao comparecer onde viveu o avarento, a autoridade encontrou debaixo da enxerga 31.000 pesetas em valores de Banco.

Sim, repetiu a voz de um Espírito, a avareza de cem séculos é a que deu a este infeliz o tormento que sofreu nesta existência. Teve todas as torturas que produz a fome, sendo dono de regular fortuna que lhe punha a coberto de todas as necessidades materiais. Tinha o suficiente para não viver endividado, nem invejoso; mas não teve outro recurso que começar a saldar suas contas, a que está muito disposto, esse pobre espírito que, afinal, se convenceu de que as riquezas da Terra, com toda a sua coorte de grandezas e faustos não representam na eterna vida do espírito, nada mais que a sombra, o isolamento e a mais completa solidão. O homem que hoje morreu de fome foi durante 100 séculos o rei do ouro. Teve o talento suficiente para empreender negócios lucrativos, e as areias do deserto se converteram, em suas mãos em pó de ouro, os pedregulhos sem nenhum valor em pedras preciosas, em pedras do Oriente, de incalculável valor. Foi o filho mimado da fortuna, como dizeis na Terra; em todas as empresas em que ele tomava parte, a sorte lhe sorria. Nunca saciava sua sede de riquezas pois, enquanto entesourava mais ouro, mais ouro queria entesourar; mas o ouro em suas mãos se convertia em infecunda areia, porque nunca lhe serviram seus tesouros para consolar a um desventurado. Jamais vestiu um órfão, nunca escutou os gemidos de um ancião desvalido, nem de uma viúva atribulada. Ele, sim, desfrutava de suas riquezas, vivia com a magnificência dos soberanos do Oriente, satisfazia seus menores caprichos, mas as sobras de sua mesa não as aproveitava nenhum pobre. Seus cachorros, fartos, não as consumiam, mas sua criadagem não podia dar nem um pedaço de pão que sobrava. Ai do criado que se atrevesse a ser compassivo: em seguida, era despedido pela sua desobediência. Assim viveu cem séculos, até que afinal escutou a voz de seu guia que lhe disse:

— Infeliz! Não estás cansado de viver na sombra? Não manchaste tuas mãos com o sangue de teus semelhantes, mas...  deste 0 pior exemplo que um homem pode dar, não sendo assassino. Tiveste abundante água nas fontes de tua propriedade, mas negaste a água aos peregrinos sedentos. Apodreceram os frutos das árvores de teus pomares antes de dá-las aos pequenos que te pediam com ansiosos olhares. Não derramaste uma gota de sangue de teus semelhantes mas, para aumentar tuas fabulosas riquezas, retiveste os gêneros de primeira necessidade e morreram centenas de crianças e de velhos de inanição, de fome, e este procedimento, o que te deu? Ouro na Terra e sombra no espaço, e se viste algum raio de luz, foram os incêndios que produziram as multidões enlouquecidas pelo desespero da fome; e se ouviste alguma voz, disse: — Maldito sejas, verdugo avarento, maldito sejas! Volta a ti, infeliz, volta a ti, entesoura virtudes e não moedas. O infeliz avarento escutou a voz de seu guia e pediu sofrer a angústia da pobreza; por isso, em sua última existência não pôde resistir ao antigo vício de entesourar, mas seu tesouro, não lhe proporcionou nenhum prazer. Foi forte para resistir à tentação dos gozos terrenos, e deu um grande passo respeitando seus propósitos de emendar-se. Quando voltar, começará a ser generoso, dando água ao sedento e pão ao esfomeado. Quando vejas esses quadros de miséria, de sofrimento, e contemples um montão de ouro oculto entre sujos farrapos, não digas: — que homem imbecil! Quanto pode a avareza e a estupidez! Não, inclina-te diante de um Espírito que disse com um rasgo de energia: Quero ver a luz! Quero regenerar-me! Quero dar o primeiro passo na senda do sacrifício. Não mais egoísmo, não mais exclusivismo, não mais miséria espiritual!

Respeita esses pobres espíritos que dão o primeiro passo para engrandecer-se porque, dado o primeiro passo, outros se seguirão avançando até chegar a ser um modelo de abnegação e generosidade. Adeus.

*

Muito me satisfez a comunicação que obtive, porque é uma boa lição para não criticar, nem fazer juízos errôneos sobre as ações e o procedimento dos outros.

Cada ser é um capítulo da história da vida e, cada um, desenvolve seus sentimentos, suas aspirações e seus propósitos na medida dos conhecimentos adquiridos em suas passadas encarnações. Não devemos julgar a conduta de ninguém dizendo que nos parece um imbecil ou um sábio, porque como desconhecemos suas anteriores existências, não podemos fazer um juízo exato de seu modo de ser. Agradeço muito aos Espíritos as lições que me dão, pois, por elas, irei aprendendo a não julgar pelas aparências, que são a máscara que os homens afivelam ao rosto no grande baile de fantasia que se celebra durante o carnaval de nossa vida.

Amália Domingo Soler do livro:
Reencarnação e Vida
Título da obra original: Hechos que prueban 
(Fatos que provam)

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