Uma identidade comprovada
Therezinha Oliveira
Quando se fala em comunicação de espíritos, um dos objetivos mais desejados parece ser o da comprovação de identidade, porque confirma a existência e imortalidade do espírito, com a conservação de sua individualidade.
Em nossa Casa Espírita, ocorrem, de vez em quando, de modo espontâneo, manifestações em que os comunicantes, conhecidos nossos ou não, se identificam suficientemente. São comunicações que podem ser comoventes ou de grande interesse. Isso, porém, não é usual.
As vezes, alguns espíritos parecem querer se identificar, mandar recado a familiares, mas não conseguem nos passar corretamente os dados para a necessária comprovação.
Notávamos o fato e não sabíamos explicar o porquê, mas deduzíamos que isso devia acontecer por determinação superior para os nossos trabalhos, a fim de que não entrássemos pela atividade de correio pessoal, quando os espíritos se dirigem a seus familiares, caso em que a comprovação de identidade é indispensável.
Entendíamos que, se a nossa Casa espírita começasse a receber comunicações assim, extensa fila de interessa aos em obter recados de seus familiares e amigos se for. maria às nossas portas, dificultando ou até impedindo as nossas atividades diárias de estudo doutrinário e de assistência espiritual, em entrevistas, preleções, passes e reuniões mediúnicas, em que tantas pessoas e entidades são socorridas.
Pessoalmente, tive a comprovação do que pensávamos, numa comunicação de uma familiar minha, que passo a relatar. Se a comunicação fosse relativa a familiares de outras pessoas, precisaríamos que nos autorizassem a divulgação.
***
Ela se comunicou, através de um médium, queixando-se de que os filhos a haviam abandonado. Que não tinha raiva, mas estava muito magoada, porque não esperava isso deles.
Outro era o dialogador, mas, quando me aproximei, atraída pelo assunto, ela me chamou pelo nome.
- Você me conhece? Perguntei.
- Como não?
Disciplinadamente, procurei continuar o atendimento de modo fraterno, sem me deixar levar pela curiosidade, e consegui confortá-la um tanto. Aliás, percebia-se que ela já estava sob o amparo dos amigos espirituais.
Ao término da reunião, perguntei ao médium se ele pudera perceber algo da comunicante. Ele a descreveu como uma senhora não gorda, mas de braços roliços, vestido estampado de flores.
E o nome, perguntei, você conseguiu captar o nome? Ele captara e o disse. Pensei: Sim, tive uma parenta com esse nome e essa aparência. Mas, abandonada pelos filhos?
Não me constava.
Em casa, perguntei à minha mãe e ela confirmou o fato, mas que não fora propriamente um abandono. Essa parenta ficara esclerosada, não reconhecia ninguém e era muito agitada. A família toda trabalhava fora. Então, a colocaram numa boa clínica, onde ela era muito bem tratada, mas, de fato, ninguém a visitava. Certamente acreditando que ela não perceberia, de tão alheada que se encontrava.
Entretanto, sabemos agora, que o desarranjo das condições físicas não a impedia de saber, espiritualmente, que os filhos não a visitavam, e tomou isso como abandono.
Serve o fato de lição para todos nós, a fim de termos mais cuidado no trato com as pessoas que parecem não poder tomar conhecimento do que se passa ao seu redor, mas que, espiritualmente, estão sabendo do que acontece, apenas não têm como se manifestar corretamente, porque o corpo não o permite.
Na reunião mediúnica seguinte, fiquei atenta às comunicações pelo médium que intermediara essa parenta. Quem sabe ela viria, de novo? E veio, se apresentou mais tranquila e, quando a saudei, novamente disse meu nome.
- Ah, você me conhece...
- Claro!
- Então, me diga seu nome.
Foi aí que, através do médium, ela fez ligeira pausa, inclinou a cabeça para o meu lado e murmurou:
- Eles não querem que eu diga. Tem muita gente estranha, aqui...
Entendi que para aquela minha parenta, mulher inculta, fora o jeito que os amigos espirituais encontraram para evitar uma identificação desnecessária, que chamasse a atenção de todos, pois o essencial, sua individualidade, os fatos familiares, já tinham sido demonstrados.
E ficara comprovado que é por interferência dos dirigentes espirituais que, em nossa Casa Espírita, os comunicantes não costumam se identificar.
O objetivo maior das comunicações, nos serviços do CEAK, não é o correio pessoal, mas o acolhimento e auxílio às entidades que o Alto nos traz, para serem fraternamente socorridas.
E diariamente eles chegam às nossas reuniões. São muitos! Chegam anônimos e desconhecidos, e anônimos e desconhecidos partem, mas agora consolados e esclarecidos, ou alertados e convidados ao bem, como nossos irmãos em Cristo que são.
Nota: CEAK - Centro Espírita Allan Kardec, fundado na Cidade de Campinas/SP em 1938.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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