quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

O que é animismo?

O que é animismo?

Marlene Nobre


O termo “animismo” é empregado para designar uma categoria de fenômenos produzidos pela alma, quer dizer, pelo espírito encarnado. No século XIX, Alexandre Aksakof foi quem primeiro enfrentou os opositores das comunicações mediúnicas, que desejavam reduzi-las a uma função do inconsciente do médium, de modo a desprestigiar a tese espírita. Em sua obra granítica de 635 páginas, Animismo e espiritismo, ele responde especialmente ao dr. Hartmann, que havia afirmado em sua obra sobre espiritismo: “a consciência sonambúlica é a fonte única que se oferece às nossas investigações sobre a natureza das manifestações espiríticas intelectuais”. Aksakof (Animismo e espiritismo, Cap. IV, p. 229.) reconhece a existência dos fenômenos que gravitam em torno do médium: 

Proponho designar pela palavra animismo todos os fenômenos intelectuais e físicos que deixam supor uma atividade extracorpórea ou a distância do organismo humano, e mais especialmente todos os fenômenos mediúnicos que podem ser explicados por uma ação que o homem vivo exerce além dos limites do corpo.

No entanto, não deixou de comprovar, ao lado desses, a existência dos fenômenos espiríticos propriamente ditos, produzidos pelos desencarnados. São várias as possibilidades anímicas: a telepatia ou transmissão de pensamento, o desdobramento ou experiência fora do corpo, com suas variantes, quais sejam, o aparecimento de duplos, com ou sem fenômenos de bicorporeidade, avisos no leito de morte, dupla vista ou clarividência, além de comunicações através da escrita, da fala etc. Todos esses fenômenos são importantes e comprovam a natureza do duplo do homem.

Gustave Geley, médico e pesquisador das primeiras décadas do século XX, rebate, tanto quanto Aksakof e Bozzano, a teoria dos que pretendem derrubar a explicação espírita dos fenômenos paranormais, com base na ocorrência dos fatos anímicos. Para ele, a teoria anímica “está contida por inteiro na doutrina espírita, e nem poderia ser separada dela. O chamado animismo não é senão um ramo desta Doutrina [...]”. E ressalta, como os demais pesquisadores: “a conclusão lógica do animismo não é, pois, a negação do espiritismo, antes é o reconhecimento das grandes dificuldades que pode ter para distinguir um fenômeno de origem anímica de outro de origem espírita”. De fato, essa dificuldade existe, conforme veremos ao longo do estudo dos fenômenos.

Embora não tenha utilizado, especificamente, o nome “animismo”, Kardec “considerou a existência de duas ordens de fenômenos” e os estudou em O livro dos médiuns e, especificamente, no capítulo VIII de O livro dos Espíritos.

Mistificação ou animismo?

Em A obsessão e suas máscaras, tive a oportunidade de comentar um caso do livro Nos domínios da mediunidade, mas é importante recordá-lo novamente aqui por ser um exemplo típico de comunicação anímica. Trata-se de uma senhora que buscou a casa espírita para tratamento do que ela julgava ser uma perseguição espiritual.  (Nos Domínios da Mediunidade, Cap. 22)

Na sessão mediúnica, começou a falar como se estivesse dando uma comunicação por incorporação, dizendo-se vítima de um perseguidor que lhe desfere um golpe mortal com uma arma pontiaguda. Quando André Luiz constatou que não havia comunicação de nenhum desencarnado, o assistente Áulus explicou que o fenômeno era de animismo autêntico. Na realidade, segundo o instrutor, a manifestação era decorrência dos próprios sentimentos da senhora em observação. Ela estava por demais arrojada ao pretérito, à vida anterior, de modo que recolhia as impressões deprimentes de que se via possuída, externando-as no meio em que se encontra. A pobre senhora efetua isso quase na posição de perfeita sonâmbula, porquanto se concentra totalmente nessas recordações, como se reunisse todas as energias da memória numa simples ferida, com inteira despreocupação das responsabilidades que a reencarnação atual lhe confere.

Muitos autores batizaram esse fenômeno de “mistificação inconsciente ou subconsciente”. Para Áulus, porém, é uma doente mental que merece carinho, a fim de que se recupere. Na sessão mediúnica, deve ser tratada com a mesma atenção ministrada aos sofredores que se comunicam. A ideia de mistificação talvez impelisse os participantes da reunião à atitude desrespeitosa, diante do seu padecimento moral. Primeiro, é preciso remover o mal, para depois fortificar a vítima na sua própria defesa, lembra o mentor.

Ante a pergunta “podemos considerá-la médium, mesmo assim?”, Áulus respondeu: “Como não? um vaso defeituoso pode ser consertado e restituído ao serviço”. Quanto ao fato mediúnico, o benfeitor comentou: “indiscutivelmente essa mulher existe nela mesma”. Para auxiliá-la, devemos nos abster de designar a sua doença com nomes pomposos, pois, antes, é preciso compreender-lhe a dor.

Esse estado de alma é mais comum do que se pensa, basta lembrar a situação de muitos mendigos, que vestem, na encarnação atual, roupas esburacadas, mas acreditam, com todas as forças de sua fixação mental, que envergam os mesmos mantos de púrpura e ouro de vidas pretéritas, quando, insensíveis e egoístas, gozavam do luxo e dos excessos de toda ordem que a realeza efêmera proporciona.

Em seu campo de experimentação, Kardec (O Livro dos Médiuns, Cap. XIX, item 223.) muitas vezes teve dúvida quanto à natureza da comunicação, porque sabia perfeitamente da existência dessa outra realidade, contida no iceberg do inconsciente, onde o encarnado armazena suas recordações pregressas, e buscou o esclarecimento dos espíritos instrutores:

Desde que o espírito do médium pôde, em existências anteriores, adquirir conhecimentos que esqueceu debaixo do envoltório corporal, mas de que se lembra como espírito, não poderá ele haurir nas profundezas do seu eu próprio as ideias que parecem fora do alcance da sua instrução?

E obteve a seguinte resposta: “isso acontece, frequentemente, no estado de crise sonambúlica, ou extática, porém, ainda uma vez repito, há circunstâncias que não permitem dúvida. Estuda longamente e medita”.

Apesar disso, a comunicação do espírito do médium ainda é considerada um grande tabu nas casas espíritas. Se há algo que tem criado muitos obstáculos nas sessões de intercâmbio é a predominância da tese animista. Mesmo comunicações autênticas têm sido taxadas de anímicas, como podemos acompanhar no livro No mundo maior (Cap. 9). A médium Eulália recebeu a comunicação psicográfica de um médico desencarnado, amigo do grupo espírita que frequenta. Embora seu pensamento não esteja voltado para a mesma frequência de vibração do comunicante, pois não comunga do entusiasmo dele pela Ciência, nem mesmo demonstrou esse interesse em outras existências, é notável a sua boa vontade no desempenho da função mediúnica. Eulália carrega, portanto, uma riqueza que só o trabalho sentido e vivido lhe poderia conferir. Sem ele, é impossível a ascensão às zonas mais altas da vida. Infelizmente, porém, os companheiros de reunião não a veem assim. O resultado é que a comunicação do médico foi rejeitada pela maioria dos participantes da sessão, sob a alegação de que, nela, não fora possível identificar a personalidade do comunicante.

O autor da mensagem espiritual ficou desapontado, argumentando que bastaria aos encarnados ter um pouco de amor pelos enfermos para compreender o que ele queria transmitir. Eulália ouvia as objeções com dolorosa amargura.

Percebendo que as observações poderiam colocar a perder o trabalho da médium, o benfeitor Calderaro foi em seu auxílio, impondo as mãos sobre sua cabeça, impedindo-a de ouvir as referências sem proveito. O mentor encheu os seus lobos frontais – a região mais nobre do cérebro – de intensa luz; com isso, ela passou a ter outros pensamentos, dispôs-se a trabalhar até o fim, a converter as opiniões desanimadoras em mais auxílio, em motivo de energia nova, sem se esquecer de corrigir os próprios defeitos. Enfim, prometeu a si mesma fazer da mediunidade um campo de trabalho, em que aperfeiçoaria cada vez mais os próprios sentimentos.

Esses dois casos lembram a necessidade de se estudar sempre, porque a mediunidade é muito complexa. Ensinam, sobretudo, que não basta ter ilustração superficial, é preciso desenvolver o discernimento em profundidade para que se faça uma análise justa das comunicações. Assim como existe animismo autêntico, que não é reconhecido, há comunicações espirituais legítimas taxadas de anímicas. Na raiz das interpretações errôneas, há sempre excesso de preconceito.

Marlene Nobre do livro:
O Dom da Mediunidade - Um sentido novo para a vida humana, um novo sentido para a humanidade

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