A Reencarnação e a Cultura
J. Herculano Pires
Num livro recentemente lançado em Buenos Aires, pela Editorial Victor Hugo, com o título “Las Vidas Sucessivas”, declara o escritor espírita Santiago Bossero que o princípio da reencarnação se encontra em todas as grandes religiões do mundo. E acrescenta: “Em todas elas encontra-se o pensamento da reencarnação, às vezes velado pelo símbolo, e outras vezes nitidamente expresso, com as consequências morais e espirituais que dessa verdade decorrem”.
O Espiritismo defende o princípio da reencarnação como verdade tradicionalmente reconhecida, não só na religião, como também na filosofia. E contrariando os que colocam o Cristianismo em oposição a esse princípio, sustenta a sua presença nos Evangelhos. Como em todos os problemas que enfrenta, entretanto, o Espiritismo não faz afirmações apressadas a respeito desse importante assunto. A análise espírita dos textos evangélicos ainda não pôde ser refutada pelos opositores, que em geral preferem combatê-la com afirmações de natureza dogmática, fundadas na autoridade convencional. Assim, a referência de Bossero é também verdadeira para o Cristianismo.
Entre as passagens evangélicas referentes à reencarnação, destacam-se, por sua ênfase, a declaração de Jesus sobre a volta de Elias, na pessoa de João Batista, e o ensino de Jesus a Nicodemos sobre a necessidade do novo nascimento. A essas duas passagens os cristão antirreencarnacionistas opõem tão somente interpretações do texto, na base dos dogmas de suas igrejas. No caso de Elias, por exemplo, alegam que não se tratava de reencarnação, mas de uma referência à conduta de João, que andava “no espírito de Elias”. No caso de Nicodemos, o novo nascimento é interpretado como regeneração pela água do batismo.
Kardec admite esta última interpretação, como subsidiária, mas sustenta a impossibilidade de se desvirtuar o texto, que é de uma claridade meridiana, principalmente nesta passagem de Mateus, 11: 12-15: “Desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus é tomado à força, e os que se esforçam são os que o conquistam. Pois todos os Profetas e a Lei até João profetizaram, e se quereis recebê-lo, ele mesmo é o Elias que há de vir. O que tem ouvidos, ouça.” Mais incisiva ainda é a declaração de Mateus em 17: 10-13: “Então conheceram os discípulos que de João Batista é que ele lhes falará”. Quer dizer: quando o texto assegura que Jesus falara da volta de Elias no corpo de João, e que os discípulos compreenderam isso, é impossível torcer-se o sentido do texto, sem violentar o Evangelho.
Quanto ao renascimento como regeneração pela água do batismo, Kardec lembra o sentido da palavra “água” no tempo de Jesus e em toda antiguidade. A água representava a matéria, em oposição ao espírito. O mundo havia surgido da água, por impulso do espírito. Assim pensavam os místicos do mais remoto passado, assim pensava o filósofo Tales de Mileto, e esse mesmo pensamento nos é apresentado na Bíblia: “O espírito de Deus flutuava sobre as águas”, ou ainda: “que as águas produzam animais viventes”, como vemos no “Gênesis”.
Dessa maneira “nascer da água e do espírito” é nascer da matéria e do espírito e lembra ainda as passagens bíblicas referentes à reencarnação, mostrando que esse princípio era conhecido entre os judeus pelo nome de ressurreição. Não só o Cristianismo, portanto, como herdeiro natural do Judaísmo, é reencarnacionista, mas também essa religião. E encarecendo a importância do princípio, Kardec afirma: “Sem a preexistência da alma e a pluralidade das existências, a maioria das máximas do Evangelho são ininteligíveis. Por isso mesmo, deram lugar a tão contraditórias interpretações. Este princípio é a chave que lhes há de restituir o verdadeiro sentido”.
Mas além das passagens evangélicas que afirmam o princípio da reencarnação, o Espiritismo se apoia, como acentua Kardec, nas leis da lógica e nas observações da ciência. O princípio espírita da reencarnação não decorre de interpretações sectárias do texto evangélico. É um princípio lógico, e nesse plano de uma solidez inabalável, mas é também cientificamente demonstrável.
Os espíritas consideram a reencarnação como lei natural, comprovada pela observação e pela experiência científica. Para combatê-la ou criticá-la, portanto, é indispensável o conhecimento dessas investigações.
O professor Carlos Castiñeiras, no prefácio que escreveu para o livro de Santiago Bossero, acentua: “O conhecimento da reencarnação e de seu princípio conexo, a lei de causa e efeito, determinará uma modificação favorável na cultura do homem ocidental”. E logo mais, cheio de confiança no futuro, acrescenta: “Embora a noite de nossa cultura seja um tanto prolongada, tudo anuncia a proximidade de uma grande e magnífica aurora. A luz avança, e já se vislumbra, no mundo arquetípico do pensamento ocidental, o epicentro das grandes transformações religiosas e sociais: Reencarnação, Palingenesia”.
Em livro anterior, já dissera o escritor Humberto Mariotti que o Espiritismo aguarda o esclarecimento, em nosso mundo, do problema da reencarnação. Esclarecimento que terá de vir de duas fontes: a científica e a religiosa. Estas são as palavras de Mariotti: “Como uma estrela de amor, a ciência espírita continuará iluminando o caminho de todos os peregrinos que marcham em busca da verdade.” Não se poderia exprimir esse fato de maneira mais bela. Enquanto em nosso mundo materialista, desesperado pela concepção absurda da unicidade da existência, reina completa confusão quanto ao destino do homem, o Espiritismo espera no horizonte, como uma estrela de amor, o momento de lançar os raios de luz sobre a nossa cultura.
Sem o princípio da reencarnação, a vida se torna intolerável, para todos aqueles que não se contentam com as condições materiais, aspirando a melhores condições. Por outro lado, o próprio sentido da existência humana desaparece. E ainda mais, como dizia Kardec, os próprios textos religiosos, particularmente os evangélicos, tornam-se ininteligíveis. Isso não quer dizer, entretanto, que tenhamos de aceitar a reencarnação somente porque ela representa uma explicação da vida. Esse motivo, por si só, seria ponderável, mas no caso da reencarnação há muito mais do que isso. Ela não somente explica a vida humana, como também se impõe à razão de maneira imperiosa, através da lógica, das mais profundas tradições espirituais do homem e dos próprios fatos. Quem estuda em profundidade o problema da reencarnação, acaba admirado de que tantas pessoas se esforcem por negá-la, que fechem os olhos à sua evidência, quando tão amplas perspectivas ela abre ao pensamento.
Vejamos uma comparação, proposta por Kardec, das possibilidades das várias teorias sobre o destino humano:
“Quatro alternativas de apresentam ao homem, para o seu futuro além da morte:
1ª) o nada, segundo a doutrina materialista;2ª) a absorção no todo universal, conforme a doutrinapanteísta;3ª) a individualidade, com fixação definitiva da sorte,segundo a doutrina da igreja;4ª) a individualidade, com progressão ilimitada, segundo a doutrina espírita.
Prosseguindo na análise dessas alternativas, diz Kardec:
“Conforme as duas primeiras, os laços de família de rompem depois da morte, não restando nenhuma esperança de se reatá-los.
Com a terceira, poderão reencontrar-se os que estiverem no mesmo meio, que tanto pode ser o inferno, quanto o paraíso.
Com a quarta, isto é, a da pluralidade das existências, que é inseparável do progresso gradativo, há a certeza da continuidade das relações entre os que se amaram, e é isso que constitui a verdadeira família”.
Além desses argumentos de ordem moral, temos de considerar os que resultam das observações e experiências científicas. A reencarnação, que se impõe ao pensamento como uma solução lógica do problema da vida, impõe-se também ao observador e ao experimentador, através de fatos eloquentes, que tanto aparecem na história, quanto no momento presente. Como explicar-se, por exemplo, o caso das lembranças de vidas anteriores, verificadas espontaneamente em crianças de tenra idade, ou os casos de referências precisas a outras encarnações, nas experiências hipnóticas de regressão da memória? O princípio da reencarnação, como se vê, é bem mais sério do que pode parecer à primeira vista e não pode ser refutado com simples argumentos.
J. Herculano Pires do livro:
Os Três Caminhos de Hécate
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