terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Na Seara Espírita

Na Seara Espírita

Lins de Vasconcelos



Mesmo na abençoada Seara Espírita você os defrontará.

Trânsfugas de muitos deveres aportam ao Espiritismo para se redimirem. Todavia, em breve, ei-los que surgem prepotentes e dominadores.

A Doutrina que os acolheu transforma-se em campo de lutas onde se guardam, escudando-se nos seus ensinos e os arremessando como lanças e dardos venenosos contra os outros.

Fazem-se defensores do Ideal e apropriam-se indebitamente da conceituação de espírita para zurzirem, combaterem, discutirem imponderadamente, dificultando a produtividade dos companheiros.

Suas mãos escrevem diretrizes seguras e, no entanto, eles caminham perturbados. Falam e expõem conceitos abalizados, para logo depois tropeçarem em erros, cometendo crimes de complexa terminologia.

- Estão atentos em toda parte, repontam em todo lugar.

Acreditam-se defensores da pureza doutrinária da Terceira Revelação e, ociosos, demoram-se à espreita com os celeiros da ação vazios de feitos.

Apegam-se, intolerantes, ao corpo de Jesus Cristo sob este ou aquele aspecto e olvidam a moral vivida e ensinada por Ele, no corpo da Sua Doutrina.

“O Espiritismo é Ciência” — dizem, e conduzem-se levianamente.

“O Espiritismo é Filosofia” — afirmam, e procuram viver bem.

“O Espiritismo não é Religião, Kardec o asseverou” — pontificam, eximindo-se a uma conduta condicente com os ensinos do Cristo tão bem examinados e preconizados pelo Codificador.

“Kardec disse” ou “Kardec não escreveu”, é tema habitual e arma de afiado gume, mas pouco lhes importa o que Kardec fez em nome do amor, da moral e da caridade, seguindo a Jesus, o Mestre por excelência.

O Evangelho para esses exegetas e pesquisadores é todo contradições, resguardando-se no dever de “separarem o joio do trigo”. A breve turno, transferem o Senhor para a galeria mítica de Israel, empolgados, embora, com o Paracleto que lhe reflete e projeta a Pessoa Inconfundível.

“Se isto não está explícito em Kardec deve ser posto à margem”— opinam imperturbáveis, conquanto o Codificador declarasse em a Gênese que “se uma verdade nova se revelar, ele (o Espiritismo) a aceitará”, embora, prossegue o sublime Instrumento das Vozes: “a Doutrina (espírita) é, sem dúvida, imperecível, porque repousa nas leis da Natureza, e porque, melhor do que qualquer outra corresponde às legítimas aspirações dos homens”.

Combatem a ignorância intelectual e demoram-se escravos das derrocadas morais; condenam quaisquer tentativas de divulgação doutrinária que lhes não siga o talante; guardam azedume de referência a tudo e a todos.

Dizem-se progressistas, apoiando-se no cientificismo hodierno, mas a Doutrina Espirita deles nada recebe porque lhes faltam às bases morais do caráter íntegro que valem mais do que os discursos brilhantes e os excelentes compêndios.

Onde a virtude falece, as esperanças sucumbem e as possibilidades de êxito desaparecem.

Em razão disso, Jesus compôs o seu Colégio com onze galileus humildes, chamando Judas, um judeu ambicioso que, tresloucado, o levou à infâmia da crucificação.

***

“Espíritas! Amai-vos; este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo” — asseverou o Espírito de Verdade.

Ame e estude.

Ensine e ajude.

Escreva e socorra.

Pesquise e desculpe.

Não aponte erros, apresente soluções.

Não difunda enganos, sugira correções.

Não propague incêndios para destruir. Derrube somente quando puder reedificar.

Lembre-se de que o mundo tem passado sem você e continuará, depois de você passar.

É verdade que o amor sem a claridade da razão se converte em paixão, gerando fanatismo e dor. Todavia, a cultura sem amor se transforma em hediondez e criminalidade, dando origem a todos os males que se conhecem.

A inteligência que não ama se perverte.

Só a razão conduzida pelo amor se faz mestra e mãe do espírito humano, conduzindo-o livre e feliz à plenitude da vida.

Quanto lhe seja possível opere no bem.

A morte não tarda.

Depois que se abre a cortina da vida de além-túmulo, muita coisa se aclara na mente obnubilada ao grande impacto da desencarnação, oferecendo-nos a paisagem danificada pelo tempo que foi aplicado na inutilidade e no desperdício.

Aja, pois, sem reagir.

Erradique a mentira sem tornar a verdade odiada.

Lembre-se da afirmativa do Mestre, aliás, muito oportuna: “A cada um será dado segundo as suas obras”.

E propague a Doutrina Espírita — esse vigoroso sol da vida — com entusiasmo e amor, conduzindo as almas ao país da ventura inefável e da felicidade perene, porque “a Humanidade não é a espécie humana e não compreende a universalidade dos homens: a Humanidade é a memória dos mortos inspirando e guiando os vivos; é a soma de todos os altos pensamentos, de todos os nobres sentimentos, de todos os grandes esforços, referidos a um só e mesmo Ente, cuja alma é formada por esse conjunto, e cujo vasto corpo é constituído pelos vivos”, — Ente que transcende a tudo e a todos — consoante afirma José Longchampt, no seu “Ensaio sobre a Oração”, embora sua condição de positivista.

A Doutrina Espírita é luz; divulgue-a e você defrontará a felicidade na conjugação formosa do verbo consolar.

Lins de Vasconcelos por Divaldo Franco do livro:
Crestomatia da Imortalidade

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