terça-feira, 28 de novembro de 2023

Sistemática ignorância

Sistemática ignorância

Joanna de Ângelis


Vive no inconsciente das massas o conceito falso de que a função da Divindade é a de servir sem cessar.

Herdeiro das tradições e do ativismo ancestral trabalhado por algumas doutrinas religiosas ortodoxas, no passado, fixou-se na mente espiritual de grande parte da sociedade a ideia do servilismo divino, como única maneira de fazer-se entender Deus e a Sua majestade.

No imaginário popular, a única finalidade do Senhor da vida é a de proteger os Seus filhos, evitando-lhes sofrimentos e retificando-lhes os caminhos, a fim de que somente facilidades encontrem na Terra, desfrutando de prazeres e de júbilos intérminos.

Quando se lhes fala a respeito da necessidade do autocrescimento, da autoiluminação, surpreendem-se, sem entendimento imediato, como se isso lhes fosse algo imposto de maneira injusta.

Existem mesmo aqueles que se admiram da maneira pela qual o Criador deu vida à vida, especialmente ao ser humano, impondo-lhe a necessidade de crescimento pessoal, de aprimoramento moral e de desenvolvimento espiritual.

Interrogam, surpresos, muitas vezes, por que Deus já não fez tudo perfeito, evitando tanto trabalho, conforme consideram as propostas libertadoras.

Olvidam-se de que a sabedoria divina melhor entende as razões por que o Espírito foi criado simples e ignorantes, a fim de ter ensejo de desenvolver os sublimes recursos que lhe jazem interiormente, na condição de herança transcendente da sua procedência.

A decantada perfeição que gostariam de usufruir, não passa, afinal de contas, de um tipo doentio de aposentadoria em relação ao trabalho, de ociosidade dourada, sem dar-se conta da monotonia, da saturação que logo se lhes instalariam, portadores de inquietações e de desejos que são, alguns deles, exagerados...

A bênção do trabalho é de alto significado para a felicidade pessoal e geral, por facultar o desenvolvimento dos tesouros que se encontram em germe, a cada qual ensejando alegrias incomparáveis.

Já, ao tempo de Jesus, encontramos esse grupo de beneficiários do Seu amor, descuidados do seu processo de evolução, recorrendo, sem cessar, aos préstimos do Senhor, na soluço dos problemas que lhes diziam respeito.

De tal maneira eram as suas querelas e problemáticas, que, não conformados com as ocorrências do cotidiano, recorriam-Lhe à ajuda, suplicando, não orientação, mas solução fácil, claro que, sempre favorável aos seus interesses chãos.

Diante de uma dessas situações, Jesus interrogou os discutidores, preocupado: - Quem dentre vós me elegeu como juiz de vossas causas?!

Tantas eram as paixões envolvidas nas suas questiúnculas e tão mesquinhos os seus interesses que a Boa Nova de libertação não lhes conseguia iluminar a inteligência e demonstrar que todas essas banalidades da vida material desaparecem, perdem o sentido após a consumpção do corpo físico.

Somente aquilo que é de efeito imediato interessa a esses Espíritos estúrdios e ansiosos pelas comezinhas vitórias materiais.

Pensando em negociar sempre com o Pai Criador, elaboram mecanismos injustificáveis para a permanência no jogo ilusório do corpo, sem a preocupação com a imortalidade, na qual se encontram sem possibilidade de evadir-se...

O suave Cantor galileu, compreendendo a pobreza espiritual daqueles que O seguiam, primeiro falava-lhes a respeito do Reino de Deus, oferecia-lhes diretrizes para a autoconquista, para a harmonia interior, para melhor suportar as vicissitudes do processo evolutivo, mas não se escusava de atender as suas necessidades depuradoras.

Terminadas as exposições sublimes, ei-lO limpando feridas, restituindo a visão, recuperando a audição, desenrolando línguas hirtas, devolvendo o movimento aos membros atrofiados, socorrendo...

Nada obstante, aqueles mesmos que se recuperavam corriam na direção dos erros ancestrais e novamente mergulhavam no paul das aflições, despertando, mais tarde, com maiores dificuldades e mais desafiadoras inquietações.

Isto porque, a causa das angústias e mazelas humanas encontra-se no interior, no ser profundo e não na superfície na qual aparecem os efeitos perturbadores dos desequilíbrios...

Essa herança que foi sustentada no passado, por exploradores da credulidade publica e hoje é mantida em algumas agrupações evangélicas, nas quais se estimulam as negociações materiais com o Pai, constitui motivo de atraso espiritual para os indivíduos.

Acostumando-se a esse conceito, evitam esforçar-se para a transformação moral, perseverando as atitudes doentias de dependência inútil, sem a autodescoberta que lhes favorece a visão profunda e bela da realidade.

Em face do advento de O Consolador, na formosa doutrina dos Espíritos, ainda permanecem os mesmos hábitos enfermiços, graças aos quais muitos adeptos esperam ter os seus problemas solucionados pelos Guias desencarnados, sem qualquer esforço de sua parte, bastando, para tanto, a frequência hebdomadária às reuniões, sem que haja aproveitamento das lições iluminativas e libertadoras.

Confundem a caridade com o parasitismo, esperando sempre benefícios que outros lhes propiciem, no entanto, sem o menor esforço por também fazê-lo aos outros que se encontram carenciados.

As ambições da maioria reduzem-se aos jogos da vida física, à existência cômoda e destituída de preocupações e ocorrências que os façam crescer moral e espiritualmente.

É lamentável esse fenômeno que deve ser sanado mediante as seguras orientações do Evangelho e do Espiritismo, que não se compadecem com a exploração das forças dos outros em benefício dos insensíveis ao dever de cooperação.

Esclareçam-se as mentes e advirtam-se os sentimentos dos novos discípulos da Boa Nova, explicando-lhes que a ascensão é esforço individual, intransferível, e que o pastor de ovelhas aponta os rumos, a fim de que todas alcancem o aprisco a esforço pessoal...

Ocorrendo alguma dificuldade, algum insucesso ou desgraça, é claro que esse pastor atento, dominado pela compaixão, correrá em socorro daquela que ficou perdida ou que se extraviou, ou que foi vítima de algum acidente. As outras, porém que não apresentam deficiências, exceto a conduta de exploração, devem seguir adiante acompanhando o cajado daquele que lhes é o guia...

Torna-se indispensável, portanto, que os indivíduos aprendam a usar os próprios recursos, evitando tornar-se carga pesada sobre os ombros do seu próximo, seja qual for o pretexto apresentado.

A iluminação é meta que todos devem alcançar a esforço pessoal.

A paz é benção que somente pode ser fruída após as lutas por adquiri-la.

Jesus sempre atendia os sofredores e esclarecia-os quanto aos seus sofrimentos, auxiliando-os na recuperação da saúde, mas advertindo-os de que não retornassem aos mesmos caminhos dos erros, a fim de que nada lhes acontecesse de pior...

Esclarece, portanto, os teus irmãos, a respeito dos deveres que lhes cumpre executar, despertando-os para a responsabilidade dos pensamentos, palavras e atos.

Assim procedendo, estarás integrado na saudável programação da vida, que trabalha em favor do mundo melhor de amanhã para todos.

Joanna de Ângelis por Divaldo Franco do livro: 
Atitudes Renovadas
Nota: Os destaques em itálico são do autor espiritual, presentes no livro.
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