quarta-feira, 2 de agosto de 2023

O mercador e o servidor

O mercador e o servidor

Richard Simonetti


Reclamavam com Chico sobre os problemas de participação, no Centro Espírita. Frequentadores que assumem cargos, sem cumprir encargos.

Chico respondeu:

- Emmanuel nos diz que mais de um abnegado por instituição é luxo.

Sábia expressão.

Para entendê-la em sua amplitude é bom definir com exatidão a expressão abnegado.

Diz o Houaiss:
É a ação caracterizada pelo desprendimento e altruísmo, em que a superação das tendências egoísticas da personalidade é conquistada em benefício de uma pessoa, causa ou princípio.
Aí está, amigo leitor; a origem do problema de assiduidade e perseverança, nas instituições que trabalham com voluntários: Trata-se do velho egoísmo humano.

E por pensar em si mesmo, nos benefícios que receberá, com uma ação em favor do próximo, que alguém candidata-se a servir em determinado setor. Trata-se de um comportamento mercantilista, uma espécie de toma-lá-dá-cá proposto a Deus.

Esse mesmo egoísmo, o pensar muito em si mesmo, faz com que se sucedam empecilhos que o inibem, dificultando o trânsito do cargo para o encargo.

Circunstâncias adversas, facilmente superáveis, envolvendo família, profissão, saúde, são supervalorizadas, produzindo inibições que comprometem o serviço.

E surgem as desculpas, principalmente em relação à falta de tempo, sem que seja levado em consideração o velho e sábio princípio
Tempo é uma questão de preferência.
Sempre encontramos tempo para o que realmente desejamos fazer.

Quando o voluntário se compenetra disso, quando se dispõe a arregaçar as mangas, toma-se o abnegado, superando o pensar em si pelo pensar nos outros.

E o companheiro que efetuou o estágio do mercador, transformando-se em servidor.

E passa a ser pau-para-toda-obra, alguém em quem podemos confiar, conforme ensina um princípio da sabedoria popular.

Quando quiser que o trabalho seja feito, dê a alguém muito ocupado.

O servidor dedicado, o abnegado sempre consegue fazer um tanto mais, por inúmeras razões:

• Tem prática.
• Mantém azeitadas as engrenagens do serviço.
• Recebe ajuda mais ampla dos benfeitores espirituais.
• Está afinado com o exercício do Bem.

***

Não obstante, há que se considerar dois aspectos, envolvendo o jeito de ser do servidor abnegado.

• Líder autocrático.

É o comandante-em-chefe. Assume múltiplas funções. Envolve-se com todos os detalhes. Decide todas as pendências.

Tira a iniciativa dos companheiros e emperra o serviço.
Mais atrapalha do que ajuda.
Mais complica do que resolve.
Mais espalha do que ajunta.

• Líder democrático.

E o especialista em motivar e delegar funções, favorecendo a iniciativa.
Não se preocupa em aparecer.
Acolhe ideias dos companheiros.

Estimula-os a exercitar sua criatividade. Regozija-se com seu sucesso.

O serviço deslancha, cresce em suas mãos, porque ele é apenas o motor que sustenta com sua presença, seu estímulo, o trabalho do grupo.

Importante, desejável e necessário que cultivemos a abnegação, mas cuidado, amigo leitor, com o monopólio da iniciativa, que faz o lamentável líder autocrático.

Richard Simonetti do livro:
Rindo e Refletindo com Chico Xavier Vol.2

Nota: Os destaques em negrito e itálico fazem parte da formatação do autor.

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