Amor a si mesmo
Joanna de Ângelis
Jesus viveu o amor a si mesmo, à medida que se entregava ao próximo, a Humanidade.
O amor que se deve oferecer ao próximo é consequência natural do amor que se reserva a si mesmo, sem cuja presença muito difícil será a realização plena do objetivo da afetividade.
Somente quando a pessoa se ama é que pode ampliar o sentimento nobre, distribuindo-o com aquelas que a cercam, bem como estendendo-o aos demais seres vivos e à mãe Natureza.
O amor a si mesmo deve ser desenvolvido através da meditação e da autoanálise, porque, ínsito no ser, necessita de estímulos para desdobrar-se, enriquecendo a vida.
Esse autoamor é constituído pelo respeito que cada qual se deve ofertar, trabalhando em favor dos valores éticos que lhe jazem latentes e merecem ser ampliados, de forma que se transformem em luzes libertadoras da ignorância e em paz de espírito que impregne as outras vidas.
Sem esse amor a si mesmo, a pessoa não dispõe de recursos para encorajar o seu próximo no empreendimento da autovalorização e do autocrescimento, detendo-se nas sensações mais grosseiras do imediatismo, longe dos estímulos dignificantes e libertadores.
O amor a si mesmo dá dimensão emocional sobre a responsabilidade que se deve manter pela existência e sobre o esforço para dignificá-la a cada instante, aprofundando conhecimentos e sublimando emoções, direcionadas sempre para as mais elevadas faixas da Espiritualidade.
Dessa forma, é fácil preservar-se as conquistas interiores e desenvolvê-las mediante a aplicação dos códigos da fraternidade e da compaixão, da caridade e do perdão.
A consciência de si mesmo, inspirada pelo autoamor torna-se lúcida quanto aos enganos cometidos, ensejando-se oportunidade de reparação, ao tempo em que faculta ao próximo a compreensão das suas dificuldades na busca da felicidade.
Compreendendo a finalidade da existência terrena, a pessoa desperta para o amor a si mesma, trabalha sem desespero, confia sem inquietação, serve sem humilhação, produz sem servilismo e avança sem tensões perturbadoras no rumo dos objetivos essenciais da vida.
O amor a si mesmo contribui para a valorização das conquistas logradas e torna-se estímulo para novos tentames com vistas à realização de uma existência plena.
Ninguém, que se disponha a amar sem resolver as inquietações internas, que lhe produzem desamor, que conspiram contra a autoestima, conseguirá o desiderato.
Invariavelmente a falta do amor a si mesmo decorre de conflitos que remanescem da infância mal amada, de frustrações acumuladas e de projetos que não se consumaram conforme foram anelados, dando surgimento a complexos de inferioridade, a insegurança e a fugas psicológicas.
Muitas vezes, a pessoa que se não ama, encontra motivos frívolos para justificar o sentimento de vazio existencial, transferindo para o próximo aquilo que gostaria de desfrutar ou de possuir.
São detalhes físicos, que parecem retirar o conforto e a satisfação pessoal, na aparência ou na constituição, dificuldades de inteligência, posição social, problemas na saúde que, sem dúvida, não merecem maior consideração, e deverão ser enfrentados de maneira positiva, diferente, proporcionando estímulos para novos enfrentamentos, vitória a vitória.
Durante muito tempo, a pessoa coleciona o azinhavre da insatisfação consigo mesma, atribuindo-se fracassos que, em realidade, jamais ocorreram, infelicidades que não têm justificação, quando fazem comparações com outras pessoas que acredita ditosas e sem problemas.
Em uma atitude conflitiva, tenta amar-se, em luta feroz por acumular dinheiro, conseguir destaque na sociedade, tornar-se importante, invejada... Entrega-se ao trabalho exaustivo, inconscientemente para fugir à sua realidade, ou supondo-se insubstituível no desempenho da tarefa ou realização a que se entrega.
Ao começar a amar-se, descobre que são as pequenas coisas, aquelas aparentemente sem grande importância, que constituem significados alentadores.
Momentos de solidão para autoanálise e reflexão, instantes de prece silenciosa, refazimento através da música, de caminhadas tranquilas, de carícias a crianças ou animais, de cuidados com plantas, flores e adornos vivos, sentindo a vida fluir de todo lado.
Em outras ocasiões, conversações edificantes, destituídas de objetivos imediatistas, cuidados com a alma, preservando-lhe a lucidez em relação aos deveres e aos compromissos que lhe dizem respeito.
A seguir, torna-se necessária uma avaliação daquilo que é útil em relação ao que é secundário e a que se atribui significado exagerado.
O amor a si mesmo desempenha uma ação autoterapêutica, porque liberta dos conflitos de autopunição, de autocensura e de autocompaixão.
A compreensão dos próprios limites e possibilidades enseja um sentimento de alegria pelo já conseguido e de encorajamento em relação ao que ainda pode ser alcançado.
No cultivo desse propósito, o egoísmo não consegue alojamento, porque não há a ambição de posse ou de domínio, de superioridade ou de vitória, senão sobre as próprias paixões perturbadoras.
*
Nunca se permitiu descurar da tarefa para a qual veio ao mundo.
Jamais se facultou transferir o culto do dever, mesmo quando perseguido, caluniado, vigiado pelos adversários gratuitos.
Não se facultou a tristeza ou a depressão, embora não faltassem motivos e circunstâncias para conduzi-lo ao desânimo.
Impertérrito, manteve-se afável com os enfermos e cansativos companheiros de ministério, dócil ante as misérias morais dos doentes da alma, compadecido da ignorância que vigia em toda parte, confiante em Deus em todos os instantes, até mesmo no Calvário...
...E por conhecer a grandeza de que era constituído não falhou, não temeu, não deixou de amar, embora desamado, injuriado e aparentemente vencido, terminando por vencer todas as injunções perversas e seus sequazes.
Joanna de Ângelis por Divaldo Franco do livro:
Garimpo de Amor
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