Um caso de identidade relatado por Daniel Dunglas Home
Carlos Bernardo Loureiro
Relato que o extraordinário médium Daniel Dunglas Home incluiu na sua obra:
LIFE AND MISSION.
Quando eu residia em Springfield (Inglaterra), tive uma grave moléstia que me reteve ao leito durante algum tempo.
Um dia, na ocasião em que o médico se retirava, um Espírito me deu esta comunicação:
- Tomai o trem da tarde para Hartford, pois trata-se de um negócio importante para o progresso da causa; não repliqueis, fazei simplesmente o que vos dizemos.
Dei conhecimento à minha família dessa extraordinária ordem, e, apesar do meu estado de fraqueza, tomei o trem, ignorando completamente o que eu ia fazer e o fim de tal viagem.
Ao chegar a Hartford, veio ao meu encontro um estrangeiro, que me disse:
- Só tive ocasião de vos ver uma única vez, mas creio que falo com o Sr. Home.
Respondi-lhe afirmativamente, acrescentando que eu chegava a Hartford sem nenhuma ideia do que se queria da minha pessoa.
- É engraçado! Replicou o meu interlocutor:
- Eu vinha exatamente tomar o trem para vos ir procurar em Springfield.
Explicou-se ele, então, que uma família influente bem conhecida, me pedia para fazer-lhe uma visita e prestar o meu concurso às investigações que ela desejava realizar sobre o Espiritismo. O fim da viagem começava, pois, a desenhar-se, mas o mistério permanecia ainda velado.
Agradável trajeto em carruagem conduziu-nos logo ao nosso destino. O dono da casa, o Sr. Ward Cheney, que veio receber-me à porta, saudou-me, dizendo que não esperava que eu chegasse senão no dia seguinte pela manhã.
Logo que entrei no vestíbulo, a minha atenção foi atraída por um ruído semelhante ao farfalhar de um pesado vestido de seda. Olhei ao redor de mim e fiquei surpreendido de não ver ninguém; passamos, então, a uma das salas e não me preocupei mais com esse incidente.
Pouco depois, vi no vestíbulo uma velha baixa, com pesado vestido de seda escura, a qual parecia muito preocupada. Aí estava a explicação desse mistério; eu tinha ouvido, sem ver, essa pessoa que ia e vinha pela casa.
Repetindo-se o farfalhar do vestido, o Sr. Cheney, que o tinha ouvido ao mesmo tempo que eu, perguntou-me de onde vinha esse ruído.
- Ora esta! Respondi, é do vestido de seda escura dessa velha que vejo no vestíbulo.
- Quem seria essa pessoa?
A aparição era, efetivamente, tão perfeita que eu não duvidava que fosse uma criatura em carne e osso. Como o resto da família chegasse naquele instante, as apresentações impediram o Sr. Cheney de me responder e, naquele momento, eu não tive mais ocasião de obter informações.
Tendo sido servido o jantar, fiquei admirado de não ver, à mesa, a senhora de vestido de seda; esse fato despertou a minha curiosidade e essa senhora tornou-se logo para mim um objeto de preocupação.
Quando todos deixaram a sala de jantar, ouvi de novo o farfalhar do vestido de seda e, também, uma voz disse:
- Eu estou aborrecida porque colocaram um caixão sobre o meu; não quero que ele fique ali.
Tendo eu dado parte dessa comunicação ao dono da casa e à sua mulher, eles se olharam com admiração, e, depois, o Sr. Cheney rompendo o silêncio, me disse que reconhecia perfeitamente esse vestido, a sua cor e mesmo o seu gênero de seda espessa, mas que o fato do caixão colocado sobre o dela era um absurdo. Essa resposta me tornou perplexo; eu não sabia mais o que dizer.
Uma hora depois, ouvi de repente a mesma voz pronunciar exatamente as mesmas palavras, porém acrescentando o seguinte:
- Além disso, Seth não tinha o direito de cortar essa árvore.
Tendo narrado ao dono da casa essa nova comunicação, ele ficou muito inquieto.
- Há em tudo isso, disse-me ele, alguma coisa bem extraordinária. Meu irmão Seth cortou uma árvore que embaraçava a vista.
Dissemos-lhe que, se a pessoa — que ora pretende falar-nos — fosse viva, não consentiria no corte dessa árvore. Quanto ao resto da comunicação afirmo que nada tem de racional.
A mesma comunicação me foi dada à noite pela terceira vez, e me expus de novo a um desmentido formal. Eu estava sob o golpe de uma impressão muito penosa, quando me recolhi ao quarto, pois nunca tinha recebido comunicação mentirosa, e mesmo admitindo o bom senso do seu agravo, semelhante insistência da parte de um Espírito de não querer que um outro caixão fosse colocado sobre o seu, me parecia absolutamente ridícula.
Pela manhã, manifestei ao dono da casa o meu profundo desapontamento, respondendo-me ele que também estava muito sentido, mas ia provar-me que esse Espírito — se realmente era aquele que dizia ser — estava perfeitamente enganado.
- Vamos até o jazigo de minha família, acrescentou, e vereis que, embora tivéssemos querido, não fora possível colocar um outro caixão sobre o dela.
Logo que chegamos ao cemitério, fomos procurar o coveiro que guardava a chave do jazigo. Na ocasião em que ele ia abrir a porta, pareceu refletir e disse com um ar um tanto embaraçado, voltando-se para o Sr. Cheney:
- Devo participar a V. S. que, como restava justamente um pequeno espaço em cima do caixão da Sra..., coloquei ali o caixãozinho do filho de L... Penso que isso não tem importância, mas talvez fora melhor que vos tivesse prevenido disso. Ele está lá desde ontem apenas.
- Nunca hei de esquecer o olhar que me lançou o Sr. Cheney, quando me disse, voltando-se para mim:
- Meu Deus, é pois uma verdade!
A noite, o Espírito manifestou-se de novo e disse:
- Não acrediteis que eu ligue a menor importância ao caixão colocado sobre o meu; pode ser colocada até uma pilha de caixões, com isso não me incomodo. O meu único fim era dar, de uma vez para sempre, prova da minha IDENTIDADE, de vos levar à convicção absoluta de que sou sempre um ser vivo, a mesma. E... que sempre fui.
Dos Raps à Comunicação Instrumental
Carlos Bernardo Loureiro
Este caso também se encontra registrado na obra que se publicou, no Brasil (FEB), sob o título “FATOS ESPÍRITAS” traduzido por Oscar D'Argonnel que reuniu trabalhos escritos pelo sábio inglês William Crookes, durante os anos de 1870-1873, sobre fenômenos espíritas. Esses trabalhos foram publicados, inicialmente, no “Quartely Journal of Science”, de janeiro de 1874.
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