A sabedoria da semente
Ensina o Dr. Gustave Geley que o processo evolutivo se realiza por meio de uma constante expansão da consciência. À medida que progredimos espiritualmente, vamos caminhando do inconsciente para o consciente, da sombra para a luz, da ignorância para o conhecimento. É claro que esse trabalho do espírito não se realiza senão à custa de grande esforço individual, especialmente contra o peso da inércia e do comodismo que nos induzem a ficar no mesmo lugar, entregues às nossas paixões e fraquezas, quando há na frente tantas conquistas notáveis à nossa espera, tantas realizações maravilhosas ao alcance das nossas mãos, tanto trabalho digno, no qual nós próprios nos realizamos espiritualmente.
Nos primeiros tempos da escala evolutiva, mal emergidos da mera condição animal, não temos senão uma apagada e fugidia consciência de nós próprios. Se, como dizia Descartes, o homem existe porque pensa, podemos dizer que mal existimos como seres humanos enquanto não começamos a pensar. E quanto mais caminhamos na direção de Deus, mais amplos se tornam os nossos horizontes, mais claros os nossos caminhos, mais profunda a penetração da nossa inteligência, que tudo deseja devassar, não apenas o mundo que nos cerca, mas também o mundo imenso que está dentro de nós.
E como somos Espíritos de diferentes idades, estamos também em diferentes estágios evolutivos. Muitos de nós, ainda estamos presos aos primeiros passos do jardim da infância, enquanto outros já se graduaram na universidade da vida. Nas quadras da juventude espiritual é limitado o escopo e alcance da consciência. Mal conseguimos apreender as coisas mais elementares que nos cercam e dificilmente entendemos o mecanismo da nossa própria mente. Para o Espírito mais evoluído, no entanto, o mundo interior não é um poço de desconhecidas e escuras profundidades, é um campo aberto iluminado por onde passeia livre a consciência de si mesmo. O mundo exterior não é um emaranhado de mistérios incompreensíveis, mas um laboratório de experiências vitais, onde cada coisa tem seu lugar, cada fenômeno sua explicação e sua lei.
Por isso, muitos nem sabem que são Espíritos a caminho da perfeição; presos ao acanhado universo de sua limitada consciência, passam pela vida sem saberem ao certo o que lhes acontece, como se vivessem mergulhados num sonho permanente do qual apenas ficam aqui e ali algumas imagens diáfanas. Vão e vêm entre uma vida e outra, como sonâmbulos desligados da realidade.
Esses podem até mesmo subir ao Cosmos, impulsionados por um prodígio de técnica, que de lá voltarão decepcionados porque não viram Deus! Como poderiam vê-lo se ainda lhes faltam os olhos de ver de que nos falou o Cristo? Representantes de civilizações materialmente desenvolvidas, ainda não compreenderam que eles próprios, os instrumentos e as técnicas maravilhosas que os projetaram no espaço cósmico e os recolheram de novo à Terra, são um testemunho eloquente, espetacular, evidente, irrefutável de que uma Inteligência superior cria e dirige os mundos em que vivemos. Seres imaturos, somente conseguem apreender aquilo que está ao alcance dos sentidos físicos, grosseiras manifestações das faculdades superiores do Espírito. Embriagados pela glória efêmera das realizações materiais e das conquistas menores, ignoram as forças que ordenaram o universo e criaram tantas maravilhas, desconhecendo que somente agora começamos a arranhar a superfície do futuro.
Enquanto isso, irmãos nossos superiores não precisam subir ao espaço cósmico à procura de Deus — encontram-no na semente que germina humilde no seio da terra; no animal que, embora classificado como irracional, sabe como orientar a sua vida, a construção do seu abrigo, a propagação da sua espécie; no ciclo das estações que se renovam incessantes; nas palpitações anônimas da vida que se estende por toda a parte, sobe a todas as alturas, desce a todas as profundezas.
Bastaria, para denunciar a grandeza de Deus, a sabedoria misteriosa da semente que se desenvolve segundo sua espécie, sem erros, sem desvios, sem hesitações, e se transforma em árvore, em flores e em frutos. Quem colocou naquele modesto grão de vida todos os planos, todos os pormenores, toda a programação, todo o futuro da árvore?
O Espírito que já avançou mais no desenvolvimento da sua consciência não precisa buscar alhures os sinais da presença de Deus — eles estão por toda parte e dentro de si mesmo. No silêncio e na paz da meditação e da prece, percebe ele no fundo do ser as harmonias divinas, no seu trabalho incessante de sustentação do universo. Quanto mais conscientes nos tornamos do nosso próprio ser e do mundo que nos cerca, mais perto estaremos de Deus. A medida que caminhamos para Ele, Sua luz expulsa de nós as sombras das paixões, da ignorância, da imperfeição. Mas se é verdade que Ele nos atrai para si, é também verdade que não nos arrasta — temos que ir pelo nosso próprio esforço, dentro dos planos espirituais que trazemos em nós. Isso podemos aprender humildemente com a sabedoria da semente, que germina e cresce na direção da luz.
Hermínio C. Miranda
(Sob pseudônimo de João Marcus), do livro:
Candeias na noite escura
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Texto publicado na Revista Reformador em Abril de 1970, posteriormente incluído no livro: - "Candeias na noite escura", uma compilação com os melhores artigos de Hermínio na revista Reformador assinadas sob o pseudônimo de João Marcus.
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