domingo, 23 de janeiro de 2022

A porta falsa do suicídio

A porta falsa do suicídio

Hermínio C. Miranda



NÃO SEI SE O LEITOR já pensou alguma vez em suicídio. Se o fez, teve o bom senso de vencer a sua depressão e livrar-se a tempo do gesto trágico. Os que não conseguiram suportar a dor ou a decepção, viveram para amargar as surpresas da sobrevivência.

Tanto faz acreditar como não, o Espírito continua vivendo depois da "morte".

O suicida é a primeira e maior vítima do seu próprio engano. Mata-se para fugir dos seus problemas, das suas dores, das suas aflições e logo que recupera, do outro lado da vida, lucidez suficiente para compreender o seu novo estado, descobre, profundamente angustiado, que não conseguiu fugir de si mesmo, nem de seus sofrimentos. Mudou a sua posição na vida, trocou uma série de dores por outras mais aflitivas, mais terríveis, mais dramáticas. Na tentativa pueril de iludir algumas leis divinas, infringiu outras ainda mais graves que exigem reparações mais dolorosas.

Muitos enganos comete o ser humano que tenta escapar pela porta falsa do suicídio. O primeiro deles é o de pensar que a morte é o fim de tudo, o "descanso eterno" ou a fuga para o nada, conforme sua posição espiritual, filosófica, religiosa e moral. Muitos se matam porque não têm crença alguma e acham que a vida terrena é um jogo sem sentido, que dura enquanto vive a carne. Outros recorrem a essa medida extrema porque julgaram insuportável o orgulho ferido, a vaidade não satisfeita ou a dor aparentemente invencível. Há os que se suicidam por causas fúteis: uma briga de namorados, um período de escassez de dinheiro, uma repreensão mais áspera de um superior, uma doença.

O segundo engano está em que o suicida se julga um injustiçado pelas leis morais que governam o mundo. Compreende-se tal atitude quando a pessoa não admite ou não aceita a reencarnação. Aquele que só aceita uma existência não pode entender realmente a justiça de um Deus infinitamente bom e perfeito que parece castigar inocentes. De fato, vemos criaturas boníssimas que levaram uma vida de humildade, de trabalho, de caridade e que, no entanto, sofrem horrores, física e moralmente. São vítimas de doenças incuráveis, de pobreza irremediável, de filhos-problemas, de esposos difíceis. O sofrimento do "inocente" só pode encontrar sua justificativa na doutrina da reencarnação. A justiça divina não admite a dor do inocente. Podemos estar certos de que se estamos sofrendo é porque erramos, e se erramos agora, infalivelmente teremos de nos compor mais tarde com as leis desrespeitadas. Disso não há como fugir. Se o erro não é desta vida, vem de trás, de outras existências em que oprimimos, maltratamos, assassinamos companheiros de jornada, certíssimos da impunidade espiritual somente porque contávamos com a impunidade humana, terrena. A questão é que a lei não se deixa iludir. Não porque deseje punir alguém, mas porque tem de corrigir a lesão provocada no mecanismo moral do Universo. Não há a punição da cadeia ou da execução para o que errou e sim a oportunidade para que o próprio faltoso se reajuste e refaça aquilo que não fez direito. A lei é firme, mas flexível e caridosa porque exige o reparo e fornece os meios, em novas existências, para recompor a harmonia do mundo moral.

São indescritíveis os sofrimentos do suicida. Inúmeros Espíritos que passaram por esse transe horrível comparecem às nossas sessões mediúnicas, em busca de esclarecimento, ajuda e compreensão para a sua tragédia. A maior decepção é a descoberta de que continuam vivos, embora privados do corpo físico. Muitos deles assistem verdadeiramente aterrorizados à lenta decomposição do próprio corpo, ao qual ainda se sentem presos por misteriosos laços. Sua angústia é tamanha que por algum tempo se tornam inteiramente inacessíveis à ajuda, fixados que estão na dilacerante dor física e moral. O que se matou a bala, continua a sentir a penetração do projétil pelo corpo adentro; o envenenado sofre indefinidamente a destruição dos tecidos atingidos pela droga; o afogado segue experimentando as aflições provocadas pela água a invadir os pulmões; o enforcado continua a lutar na agonia da sufocação.

E ao cabo de tudo, depois que o Espírito consegue pelo menos compreender algo de sua posição, vê-se diante desta dura realidade: tem de renascer, começar tudo de novo, em outra existência na carne, em situação ainda pior do que a anterior.

Decididamente, leitor, não vale a pena suicidar-se. Leia com atenção os livros que contêm mensagens de Espíritos que passaram por essa dor. Dois deles são indicados aqui mesmo: "O Martírio dos Suicidas" e "Memórias de um Suicida", ambos publicados pela Federação Espírita Brasileira.

O primeiro é uma coletânea de várias mensagens. O segundo foi ditado à médium brasileira Yvonne Pereira, pelo Espírito de um suicida famoso: Camilo Castelo Branco. Qualquer pessoa que leia esses depoimentos dramáticos compreenderá logo que, sob todos os aspectos, é infinitamente preferível suportar as dores e aflições da vida terrena do que tentar fugir às leis de Deus. Por outro lado, por mais paradoxal que pareça o raciocínio, a dor é uma bênção, porque é com ela que resgatamos erros clamorosos de passadas vidas. E sabe-se lá o que andamos fazendo por esse mundo a fora ao longo dos séculos?

Hermínio C. Miranda
do livro:
Crônicas de um e de outro - De Kennedy ao homem artificial
de Luciano dos Anjos e Hermínio C. Miranda


Nota explicativa original do livro:
Organizamos para este livro uma seleção das crônicas que publicamos durante cerca de três anos de 1968 a 1970 na imprensa leiga. A linguagem é, pois, antes jornalística que doutrinária e, por isso, alguns princípios mais elementares são mencionados e até repisados para que os textos se tornassem acessíveis ao leitor ainda não familiarizado com os postulados básicos do Espiritismo.

Em vista, porém, do interesse que esses despretensiosos escritos despertaram entre leitores espíritas e não espíritas, a própria FEB reproduziu alguns em "Reformador" e acabou achando que valia a pena oferecer o abrigo mais permanente do livro ao que fora elaborado para a transitoriedade da página de jornal.

OS AUTORES
(Luciano dos Anjos e Hermínio C. Miranda)

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