quarta-feira, 24 de julho de 2024

Ao semeador

Ao semeador

Aura Celeste


Semeie companheiro, irmanado ao amor.

O verbo a Verter pelos seus lábios é mensageiro do ideal que o enobrece.

Pouco lhe importem os caminhos percorridos: é necessário fazer muito mais.

Há muitos corações feridos aguardando por sua palavra, e nas sombras onde se ocultam existem almas esperando pela sua voz.

Não faz mal que estejam em chaga aberta as suas mãos afeiçoadas ao arado. Prossiga semeando mesmo assim.

A lâmina que rasga o solo, abrindo-lhe as bordas para a glória do pomar, se gasta no atrito com o chão.

O regato que avança pela terra, com a missão de umedecê-la, consome-se enquanto ajuda.

A luz, que se derrama da lâmpada, mantém-se acesa com a despesa da energia.

Não há auxílio certo sem sacrifício correto.

*

Quem ajuda sofrendo, ama sorrindo.

Quem carrega aflição, sopesa melhor a dor alheia.

Quem aprende no testemunho, fixa melhor a lição.

Há trabalho em toda parte, esperando por você. Não se deixe desencorajar.

O caminho do serviço é constituído de asperezas.

Ninguém dispõe de recursos para entender a sua dor. Todavia, você pode compreender a dor dos outros.

Transforme as lágrimas em moedas de luz e asfixie as suas necessidades no algodão gentil da prece.

Silencie a voz da inquietude e escute a melodia do silêncio onde as vozes do dever lhe falam.

Esqueça que você vive, que tem desejos, que conserva solicitações e, atado ao ideal de servir, avance resoluto com a alma em brasa e o peito em chaga a sangrar, certo de que, após a travessia das dores, você defrontará o planalto da paz donde descortinará a paisagem iluminada e livre da sua alma feliz.

Onde você esteja, apague o incêndio das paixões. Não pergunte como surgiram e quando a fagulha rebelde ateou fogo aos celeiros da paz alheia. Use o verbo como chuva de bênçãos.

Por onde você passe, atenda a dor. Não indague sobre o tempo da enfermidade, sindicando quanto à procedência da aflição.

Apresente o verbo como contribuição para a saúde e erga as mãos em passes como bálsamo sobre a ferida.

Aonde você vá, embeleze a vida com a palavra sonante da esperança.

Não se canse de ensinar.

Nem lhe empalideça o entusiasmo porque você não pode viver o ensinamento.

Nem todos sabem que as almas são todas irmãs nas aflições e que, embora sorrindo, você está igualmente chorando.

Desculpe a censura dos que o espiam. A impiedade deles é produção no seu cofre de luz.

Como seu próprio espírito, eles terão a vez de despertar para a vida e compreenderão, embora mais tarde.

Faça todo o bem que puder agora.

Pregue e enriqueça as almas com vida, adornando a esperança de luz.

Ensine e alargue os horizontes da crença para que o sol da vida aqueça sublime.

Espalhe o Evangelho e você trará Jesus convertido em Amigo de todos para o abraço dos corações.

Não pare a olhar para trás.

As águas do rio generoso não voltam à nascente na antiga condição...

Não meça as distâncias para a frente.

Quando não chegue o seu corpo irá a sua voz como um encorajador ou como pão nascido no trigo triturado, que após a morte se faz alimento para a vida dos outros.

Escreva, e constatará que a pena que consola é irmã do bisturi que salva vidas.

Melhor semear, rasgado e sedento do que, adornado de possibilidades, demorar como torre preciosa e vazia.

Quando, por fim, as suas dores o crucificarem ao dever, recorde o Mestre Divino que “saiu a semear” e, mesmo pregado numa cruz, plasmou no mundo inteiro, de todas as épocas e para o futuro, o ideal verdadeiro de que a palavra sem as obras é como a fé sem a ação: uma mensagem morta.

Aura Celeste por Divaldo Franco do livro:
Crestomatia da imortalidade

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