Ao semeador
Aura Celeste
O verbo a Verter pelos seus lábios é mensageiro do ideal que o enobrece.
Pouco lhe importem os caminhos percorridos: é necessário fazer muito mais.
Há muitos corações feridos aguardando por sua palavra, e nas sombras onde se ocultam existem almas esperando pela sua voz.
Não faz mal que estejam em chaga aberta as suas mãos afeiçoadas ao arado. Prossiga semeando mesmo assim.
A lâmina que rasga o solo, abrindo-lhe as bordas para a glória do pomar, se gasta no atrito com o chão.
O regato que avança pela terra, com a missão de umedecê-la, consome-se enquanto ajuda.
A luz, que se derrama da lâmpada, mantém-se acesa com a despesa da energia.
Não há auxílio certo sem sacrifício correto.
*
Quem ajuda sofrendo, ama sorrindo.
Quem carrega aflição, sopesa melhor a dor alheia.
Quem aprende no testemunho, fixa melhor a lição.
Há trabalho em toda parte, esperando por você. Não se deixe desencorajar.
O caminho do serviço é constituído de asperezas.
Ninguém dispõe de recursos para entender a sua dor. Todavia, você pode compreender a dor dos outros.
Transforme as lágrimas em moedas de luz e asfixie as suas necessidades no algodão gentil da prece.
Silencie a voz da inquietude e escute a melodia do silêncio onde as vozes do dever lhe falam.
Esqueça que você vive, que tem desejos, que conserva solicitações e, atado ao ideal de servir, avance resoluto com a alma em brasa e o peito em chaga a sangrar, certo de que, após a travessia das dores, você defrontará o planalto da paz donde descortinará a paisagem iluminada e livre da sua alma feliz.
Onde você esteja, apague o incêndio das paixões. Não pergunte como surgiram e quando a fagulha rebelde ateou fogo aos celeiros da paz alheia. Use o verbo como chuva de bênçãos.
Por onde você passe, atenda a dor. Não indague sobre o tempo da enfermidade, sindicando quanto à procedência da aflição.
Apresente o verbo como contribuição para a saúde e erga as mãos em passes como bálsamo sobre a ferida.
Aonde você vá, embeleze a vida com a palavra sonante da esperança.
Não se canse de ensinar.
Nem lhe empalideça o entusiasmo porque você não pode viver o ensinamento.
Nem todos sabem que as almas são todas irmãs nas aflições e que, embora sorrindo, você está igualmente chorando.
Desculpe a censura dos que o espiam. A impiedade deles é produção no seu cofre de luz.
Como seu próprio espírito, eles terão a vez de despertar para a vida e compreenderão, embora mais tarde.
Faça todo o bem que puder agora.
Pregue e enriqueça as almas com vida, adornando a esperança de luz.
Ensine e alargue os horizontes da crença para que o sol da vida aqueça sublime.
Espalhe o Evangelho e você trará Jesus convertido em Amigo de todos para o abraço dos corações.
Não pare a olhar para trás.
As águas do rio generoso não voltam à nascente na antiga condição...
Não meça as distâncias para a frente.
Quando não chegue o seu corpo irá a sua voz como um encorajador ou como pão nascido no trigo triturado, que após a morte se faz alimento para a vida dos outros.
Escreva, e constatará que a pena que consola é irmã do bisturi que salva vidas.
Melhor semear, rasgado e sedento do que, adornado de possibilidades, demorar como torre preciosa e vazia.
Quando, por fim, as suas dores o crucificarem ao dever, recorde o Mestre Divino que “saiu a semear” e, mesmo pregado numa cruz, plasmou no mundo inteiro, de todas as épocas e para o futuro, o ideal verdadeiro de que a palavra sem as obras é como a fé sem a ação: uma mensagem morta.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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