quinta-feira, 4 de julho de 2024

Necessidade de estudo

Necessidade de estudo

Lins de Vasconcellos



Através da pergunta 780 de “O Livro dos Espíritos”, o esclarecido Codificador da Doutrina Espírita interrogou os Embaixadores Divinos:

“O progresso moral acompanha sempre o progresso intelectual?”

E as Vozes Celestiais responderam:

“Decorre deste, mas nem sempre o segue imediatamente.”

O ínclito pesquisador das Verdades Eternas voltou a interrogar:

a) — “Como pode o progresso intelectual engendrar o progresso moral?”

A resposta foi clara:

“Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.”

Depreende-se que o Espiritismo, ao inverso das outras Doutrinas, cultiva o estudo, favorecendo o discernimento com largueza de vistas em relação aos problemas intrincados da alma encarnada.

Anteriormente as religiões majoritárias prescreviam diretrizes salvacionistas de fácil acondicionamento, que facultavam aos crentes o ingresso no Paraíso com a humilde contribuição de alguma penitência embora nem sempre de caráter legítimo.

Arquitetaram um Céu como um Inferno indefiníveis nas suas expressões reais, padronizando as leis eternas e imutáveis por meio de decretos ousados, longe da ética cristã e da razão.

“O Sacerdote disse”, e simplificavam-se os destinos imortais que se emparedavam em cânones estreitos e atentatórios à dignidade da vida.

Mais tarde a Ciência, libertando-se dos freios dogmáticos, criou também o seu “O mestre disse” sem qualquer expressão cientifica.

À Doutrina Espirita coube, porém, o indeclinável dever de penetrar em todos os ramos do Conhecimento para interpretar os enigmas da vida espiritual elucidando os graves conflitos da psique humana.

“O homem é o que pensa” — eis a nova fórmula. Nem o que demonstra nem o que dele se pensa.

A vida íntima a de natureza mental, significa o ser no seu estado real.

Esclarecido, disciplina-se e, disciplinado, dignifica-se.

Por isso, “o progresso completo constitui o objetivo”, como também afirmaram os Espíritos, porquanto são os atos que definem o caráter, oferecendo a contribuição para o mérito ou desmerecimento do indivíduo.

“Em sua origem, esclarece o Espírito de Lázaro, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos.”

Todavia, para que o espírito se liberte dos instintos, faz-se mister freá-los, e para que se desprenda das sensações é indispensável que se esclareça.

Não se acredite, porém, que a evolução seja um impositivo da intelectualidade apenas. Se assim fosse, aqueles que se demoram distantes dos centros de cultura e estivessem limitados nos recursos financeiros e sociais, dificilmente poderiam atingir o estado de libertação desejada.

Temos o exemplo, a se repetir em mil fatos, de que o progresso moral não depende exclusivamente do progresso intelectual. No entanto, mesmo quando o Espírito se reencarna limitado num quadro de valores subalternos e progride, traz em si mesmo, em gérmen, os fatores intelectuais que constituem elementos essenciais à superação dos impositivos materiais.

Jesus escolheu homens rudes e ignorantes, não, entretanto, espíritos ignorantes e rudes.

O Espírito, sabemos, é o ser.

Nele estão os elementos eternos que mantêm o transitório equilíbrio da organização celular.

Desenvolver as possibilidades intelectuais, iluminando a mente e libertando o coração, eis os objetivos da reencarnação para lobrigar o êxito a que se propõe.

Não se pode, portanto, em matéria de fé, desdenhar os conhecimentos científicos nem as lições filosóficas, como se proviessem de mentes satânicas em competições de aniquilamento.

A paz depende sobretudo da razão.

Quando a razão se ilumina o coração se eleva, santificando os impulsos e revigorando os sentimentos, o bem e o mal perdem o aspecto dualista para surgirem na feição do Eterno Bem, presente ou ausente.

Todas as coisas, mesmo as lamentáveis, não raro apresentam a “boa parte”, ensejando, quando lastimáveis, lições e convites à vigilância e ao equilíbrio.

Por isso mesmo crê mais aquele que compreende e não o que vê, ouve, ou que simplesmente foi informado.

A autoiluminação é filha do esclarecimento intelectual.

O convite ao estudo, em Espiritismo, não pode, desse modo, ser desconsiderado.

Elaboremos programas para todos os momentos da vida e reservemos ao estudo um tempo necessário à manutenção ativa da nossa elaboração espiritual que edifique e felicite.

Penetremos a mente nas linhas da cultura e do esclarecimento e, ligados às exigências do Decálogo, inderrocável, sigamos a trilha do amor, nas bases em que o postulou e viveu Jesus Cristo, continuando firmes e resolutos até ao Fim dos Tempos, rompendo as cidades de luz da nossa glorificação imortal, nas densas trevas morais da atualidade.

Lins de Vasconcellos por Divaldo Franco do livro:
Crestomatia da imortalidade

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