Morte e ressurreição
Joanna de Ângelis
E inexorável o fenômeno biológico da morte.
Constitui a cessação dos sentidos físicos, transitórios, sem que signifique a extinção da vida.
Detestada em muitas situações é, em outras ocasiões, o anjo benfeitor que alivia o sofrimento, interrompe a angústia, acalma o desespero.
Inesperadamente chega e surpreende a saúde, através de acidentes e desastres, significando um convite a acuradas reflexões.
Noutras vezes, parece esquecer-se da criatura padecente, recusando-se interromper-lhe o ciclo carnal, mediante o ensejo que concede ao enfermo para construir no íntimo a resignação, aprimorar os sentimentos e granjear a libertação plena.
Em qualquer circunstância, porém, é a mensageira da imortalidade, por cuja bênção todos nos encontramos amparados.
A morte é, também, a desveladora da vida.
Libertando o espírito das algemas celulares, faculta o descobrimento de valores que jazem, invariavelmente, desconsiderados, e que assumem significação quando ela se anuncia, quando ela se realiza.
A morte merece considerações e análise com frequência.
Parte integrante do contexto biológico, exige que se a tenha em mente, em razão da sua imprevisibilidade.
Na sua jornada, aparentemente paradoxal, arrebata uma criança e deixa um ancião; liberta um sadio e se olvida de um agônico; conduz o homem feliz e recusa o desventurado...
Adentra-se, com a mesma obstinada naturalidade, no palácio e na choupana; na mansão luxuosa e na tapera; no apartamento sofisticado e na mansarda...
O seu guante implacável é idêntico no campo ou na megalópole, na aldeia ou na cidade, na taba primitiva ou no centro de avançada cultura...
Temida e desejada, é caprichosa, porque obedece a leis soberanas que escapam à mais arguta inteligência.
A ciência pode prevê-la com relativa precisão, diante dos quadros angustiantes de pacientes terminais, nunca, porém, impedi-la de realizar o seu desiderato.
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Homens e mulheres notáveis, no mundo, tiveram expressões variadas diante da morte.
Nero exclamou, no momento do suicídio covarde:
— “Que grande artista o mundo vai perder!”
No momento da morte, Chopin escutou um belíssimo coral com vozes espirituais e declarou: — “Como é bela, meu Deus! Como é bela.” Solicitando:
— “Ainda... Ainda!...” E após tomar um cálice de vinho, que lhe oferece Guttman, diz, apenas: — “Querido amigo...”
Goethe, no instante da agonia, ergue-se e brada:
“Mais luz!”
Strindberg afirmou: — “Estou quite com a vida e o saldo mostra que a palavra de Deus é a única certa” — fazendo um balanço final.
Voltaire anotou como sua última confissão: — “Morro adorando a Deus.”
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A neurose depressiva que a morte gera, resulta da ignorância humana a seu respeito.
A vida esplende em todos os painéis e de todas as formas. A morte é, desse modo, um acontecimento natural, na sucessão dos dias, que deve ser aceita com naturalidade.
Interrompe os planos e os interesses humanos, é certo, todavia, não faz que cessem o ódio e o amor, a simpatia e a animosidade, porque a vida prossegue em outra dimensão, maravilhosamente real.
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Guarda no íntimo a certeza de que os teus mortos queridos vivem e se te acercam, logo podem, a fim de enxugar-te o pranto.
Participam das tuas ansiedades a trabalham para que a tua jornada se realize em alto clima de bênçãos.
Recorda-os com ternura e sem desespero.
Age com amor em homenagem a eles, a fim de que se tranquilizem e progridam.
Pensa neles com carinho, evocando os momentos de comunhão feliz, que os tornará, novamente, ditosos.
A morte é a porta de retorno ao país de origem.
Dia virá, no qual seguirás também.
Vive, hoje de forma que, ao soar o teu momento, possas avançar com serenidade e alegria ao encontro desses amores que a Vida te reservou e aguardam por ti.
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A gloriosa ressurreição do Mestre é acontecimento abençoado e confortador. Todavia, somente aconteceu porque antes a morte arrebatou-O da presença física dos que O amavam, a fim de poder ficar conosco, amando-nos por todos os evos.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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