O destino
Vianna de Carvalho
Examinado pelas diferentes escolas de pensamento através dos tempos, o destino vem recebendo complexas contribuições, conforme a estrutura filosófica de cada uma delas.
Na Mitologia grega, afirmava-se que o Destino é uma fatalidade imposta por Zeus, inevitável, portanto personificado, e graças às suas características, ora partia do deus máximo ou com ele se confundia, sendo representado conforme a sua expressão por deidades diferentes, às vezes ao próprio Destino todos eram submetidos.
Platão estabeleceu no destino uma causalidade de natureza metafísica que se manifesta na existência humana como efeito de uma predeterminação.
A escola estóica assim como a cínica, pelas suas raízes materialistas, propunham razões fatalistas, irrevogáveis, que afetavam as criaturas que se lhe deviam submeter com coragem, conforme a primeira ou com indiferença zombeteira, na opinião da última.
Com o surgimento do Cristianismo se apresentou o conceito da Providência Divina, estabelecendo as linhas de comportamento definidas para a sujeição do ser humano que, face à aceitação ou rebeldia das suas injunções, seria feliz ou desgraçado, num desenho antecipado do destino final no Céu ou no Inferno.
A interpretação teológica do pensamento de Jesus sofreu alterações através dos séculos, dando lugar ao aparecimento das doutrinas da graça — com predestinação para a felicidade eterna de alguns eleitos, em detrimento da maioria; da indulgência — como recurso de reparação dos arrependidos e piedosos; — e outras que desencadearam reações violentas, pela estultice e absurdo de que se constituíam.
A doutrina da unicidade das existências corporais sempre enfrentou dificuldades intransponíveis para explicar com lucidez as diferenças dos destinos das criaturas terrestres.
A mesma Energia Geradora de Vida e de Inteligência, por qual sortilégio ou para qual terrível propósito, criaria pessoas ditosas e infelizes, umas saudáveis e outras enfermas, algumas belas e diversas horrendas, inteligentes e idiotas, amadas e as demais odiadas, estas generosas e as outras perversas e ímpias, os seres portadores de valores múltiplos e tantos mais sem qualquer atributo, desprezados, miseráveis?...
Como gerar uma sociedade tão diferente, com a mesma procedência, concedendo brilho e plenitude a uma minoria, e sombra, ignorância, carência à maioria predominante?
Ademais, em consequência da jornada terrestre, como condenar todos, irrevogavelmente, alguns às bênçãos, e a quase totalidade ao degredo, às desgraças?
Somente a reencarnação faculta a perfeita compreensão e a plena justiça em torno do destino dos seres.
Todos são criados puros, simples, ignorantes, com as mesmas possibilidades em germe, estimulados a desenvolver esses recursos latentes mediante o esforço e a opção pessoal.
Ninguém, no entanto, que esteja fadado à destruição, ao infortúnio, ao sofrimento eterno. A experiência terrestre constitui-lhes mecanismo propiciador de aprendizagem, de desenvolvimento dos potenciais que lhes dormem no íntimo, aguardando as condições para o despertar e o desenvolver.
As diferenças que se apresentam entre os seres decorrem da maturidade de cada um, lograda a esforço próprio, ou da maioridade espiritual, como ser peregrino da vastidão evolutiva há mais tempo crescendo que outros, ainda titubeantes, que também alcançarão os momentos culminantes.
Compatível com a sabedoria e o amor de Deus, a reencamação é o instrumento que trabalha o destino, graças à conduta de cada qual que, em se esforçando, apressa a marcha e conquista os tesouros que nele jaz, podendo utilizá-los com eficiência para incessante burilamento e iluminação.
O destino, portanto, é o resumo das ações antes praticadas, que propiciam os acontecimentos a se sucederem na marcha de ascensão que todos os espíritos percorrem, desde o átomo até o anjo.
Quando a astúcia e a fraude, o crime e o engodo tentam burlar os imperativos da Lei que favorece o destino, o infrator defronta adiante acontecimentos inesperados que o reconduzem à trilha abandonada, impondo-lhe a aceitação dos efeitos dos atos que desejou anular.
Por isso, os comportamentos ignóbeis, as façanhas da arbitrariedade, as malhas tecidas pela sordidez, jamais logram propiciar felicidade real, não indo além de fenômenos de alegrias e triunfos fugazes que a realidade coarcta e modifica.
Ninguém foge de si mesmo, do seu destino, que elabora em cada pensamento, palavra e gesto, alterando a panorâmica da vida a cada instante, conforme a diretriz que se imponha.
O destino bifurca-se no determinismo — nascer, viver e morrer — e no livre-arbítrio. Conforme o comportamento que o homem se permita, a felicidade ou o sofrimento — como fanal escolhido — estará aguardando o viajante da evolução.
Com o Espiritismo, as luzes da reencarnação propõem a utilização sábia e coerente de cada momento da existência corporal, resgatando das sombras da ignorância o destino ditoso que é a meta fascinante que brilha a frente para todos.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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