domingo, 9 de abril de 2023

Kardec, o conquistador diferente

Kardec, o conquistador diferente

Bezerra de Menezes


Divaldo franco e Bezerra de Menezes

Considerando o primeiro século transcorrido após a desencarnação de Allan Kardec, convém lembrar que ele não era um conquistador comum...

Enquanto nas academias de pesquisa de ordem científica era vaticinado o declínio da fé religiosa, e a própria filosofia se debatia nas águas turvas de inquietações sem rsposta, as religiões naufragavam, efetivamente, nas suas perquirições atormentadas.

Ele, no entanto, veio assinalado pelas sublimes manifestações da vida mais alta e penetrou o bisturi da indagação no organismo ciclópico da vida, arrancando das forças atuantes do Universo toda a gloriosa mensagem de estruturação da imortalidade. Paulatinamente, venceu as tentações de toda ordem, tentações que o convocavam às ribaltas fulgurantes da agitada vida social dos dias em que vivia, tentações de brilhar entre os pares do conhecimento nas academias da ciência, nos santuários da filosofia ou nos redutos do esclarecimento pedagógico então em voga, para se recolher à intimidade da oração e sintonizar-se com os planos mais altos da vida, de modo a adquirir forças para realizar o desiderato sublime, ao qual se vinculara antes do berço...

Antes dele, não obstante, as conceituações em torno da imortalidade ensinadas e vividas por Jesus, a morte se nos afigurava a todos como ponto de interrogação que raros se atreveram a interpretar, traduzindo os enigmas da continuidade da existência após a disjunção celular. A loucura se espraiava em ondas gigantescas devorando esperanças e aniquilando as mais caras cogitações do pensamento. O suicídio, abrindo as suas fauces hiantes, destroçava a grande maioria dos homens atormentados da Terra, fazendo-os sucumbir à porta falsa da loucura íntima, sem qualquer esperança de paz.

Antes que ele chegasse até nós, campeavam as manifestações absurdas da intolerância, e o totalitarismo da fé armava ciladas cruéis nas praças públicas da incompreensão humana, fazendo abortar as mais altas florações do pensamento.

Com ele, no entanto, decifraram-se as incógnitas da vida após a morte e todos passamos a experimentar as radiosas alegrias da continuidade do princípio espiritual, quando as manifestações materiais se diluem no silêncio da química do subsolo.

Podemos entender e equacionar os processos da alienação por obsessão, examinando as causas cáusicas da perturbação psíquica à luz meridiana dos postulados da reencamação. Foi-nos possível compreender o complexo mecanismo da perturbação que leva ao suicídio e trazer de volta a consoladora mensagem de Jesus, para atender às necessidades imperiosas do espírito amesquinhado na Terra pelas evocações do passado delituoso a gritar nas telas do subconsciente, refletindo-se em recalque e psicose de difícil elucidação nos panoramas do conhecimento materialista.

Allan Kardec foi o nauta audacioso e nobre que se atreveu a mergulhar nas águas abissais da cultura, para arrancar dos abismos da ignorância o diamante sem jaça da fé cristã, de modo a projetá-la para os dias do futuro, como sendo a resposta de Deus aos angustiantes apelos do homem encarnado na Terra. Reverenciar-lhe a memória hoje, seria assumirmos o compromisso íntimo da nossa própria renovação intransferível nas paisagens do mundo interior. Seria a nossa vivência integral dos postulados cristianíssimos que os imortais trouxeram à Terra, graças à cooperação dele, para a edificação do mundo melhor, por que todos ansiamos, e por cuja realidade nos empenhamos, em luta titânica da nossa própria sublimação. Seria estudar a mensagem espírita, sem adaptações nem convenções, sem alardes nem extravagâncias, procurando arrancar do bojo das suas lições a palavra clara e meridiana que nos facultasse entender a nós mesmos, apresentando soluções lógicas para os problemas afligentes que inquietam a humanidade inteira nos dias presentes.

É verdade que jazem na ignorância, a respeito da vida além da tumba, milhões de seres reencarnados; é verdade que a loucura continua dizimando, e cada vez com expressões numéricas mais gritantes; é verdade que a onda avassaladora do suicídio parece convidar-nos ao estupor das horas primevas, quando verificamos, na linguagem das estatísticas, as aberrações de mentes intelectualizadas que se deixam fanar pela utopia enganosa do autocídio... Mas não menos verdade é que, a mensagem da Doutrina Espírita, agora, se expande, vigorosa, sobre as mentes e os corações, oferecendo o pábulo mantenedor da esperança às almas desarvoradas e contribuindo, eficazmente, para a mudança das paisagens tormentosas da Terra.

Os vaticínios em torno do crepúsculo da fé religiosa malograram ante o esclarecimento da fé espírita que convoca à razão, estribada nos argumentos da pesquisa científica e elaborada ante os postulados renovadores com que a vida estuante do além bafeja os tormentos da vida inquieta da romagem dos homens.

Assim considerando, convém lembrar que Kardec não era um conquistador vulgar, pois que desdenhou o sólio dos príncipes e dos triunfadores da Terra, apagou-se no anonimato de um pseudônimo, renunciou à gratidão popular, deixou à margem os preconceitos da época para sorver, em silêncio, a taça de fel e de amargura da incompreensão dos corações mais caros, sem perturbar, por um momento sequer, a própria integridade ante as ondas avassaladoras da bajulação, da sordidez e das imposições sub-repticiamente apresentadas pelos que desejavam a mensagem espírita para, apagando-a, brilharem. Não se deixou, em momento algum, aquebrantar-se no ânimo; não aquiesceu ante as conjunturas dos companheiros em perverter o ideal da mensagem consoladora dos imortais, de modo a apresentá-la dúctil e maleável, para oferecê-la com as características da aceitação da época, pois, a palavra espírita deveria permanecer granítica e incólume para os dias da posteridade.

Hoje, quando o sol da Terceira revelação chega aos nossos corações, oferecendo-nos a contribuição valiosa da nossa própria felicidade, muitos nos atrevemos a apresentar opiniões que pretendem modificar-lhe a estrutura, porque estaria superada ante as luzes lógicas da razão; isto porque, em verdade, ainda ignoramos a sua realidade intrínseca, perfeitamente tracejada em “O Livro dos Espíritos” e naqueles que lhe são decorrência natural. Quando muitos se levantam para falar de conceitos já obsoletos — desejando fazer enxertias mirabolantes de modo a tomá-la viável para as mentes frívolas que enxameiam em todos os departamentos da Terra — convém recordar a necessidade de manter a pureza doutrinária com aquele mesmo estoicismo dos trabalhadores da primeira época. Costuma-se dizer que a hora sacrificial do pioneirismo espírita já há passado; aventa-se a hipótese de que não se pode mais viver a existência na Terra exsudando aquele odor evangélico das primeiras horas do Cristianismo autêntico, dos dias proféticos e nobres de Jesus e dos seus continuadores imediatos; arenga-se da necessidade de dar-lhe uma dinâmica nova em relação às conquistas da técnica moderna, para fazê-la agradável aos triunfadores da Terra, em conexões que poderão levar-nos aos desassossegos a que chegou o Cristianismo dos dias passados. Faz-se indispensável, isso sim, vivermos espiriticamente “melhores hoje do que ontem”, e “amanhã melhores do que hoje”, para que sejamos cristãos no sentido profundo da palavra, como aqueles que compreenderam a necessidade de transformar e transformar-se, conjugando, na vigilância, o verbo amar, para que a caridade em seus corações tenha regime de urgência na manifestação das ações.

O pioneirismo espírita encontra-se em seu período áureo na atualidade, pois que, apesar da adesão imensa que já nos oferece uma expressão estatística de realce, poucos compreenderam o espírito do Espiritismo incorporado ao “vade-mécum” cotidiano para realizarem, na execução dessas tarefas, a consoladora promessa de Jesus.

Espíritas! não consideremos que tudo já se encontre feito e que a nós nos compete a tarefa da conclusão das pequenas coisas que ficaram interrompidas pela desencarnação daqueles que se empenharam, estoica e bravamente, em preservar o espírito da Codificação Espírita no coração da Terra. Construções brilhantes e gloriosas, temo-las em todas as épocas da humanidade; edifícios gigantescos têm pretendido guardar a mensagem do Cristo. Mas a Revelação Espírita de hoje nos está convocando a examinar a necessidade de reter o espírito do Cristo no santuário das nossas vidas, colocando dentro de suas paredes aquele sentido de amor, de fraternidade, de tolerância e de caridade que não pode ser desconsiderado nem posto à margem. Faz-se mister empenhemos as nossas melhores aspirações para nos não transformarmos em conquistadores apressados que passam e desaparecem, dominados pelo olvido das gerações futuras.

Evocando o Codificador da Doutrina Espírita no primeiro dia após cem anos da sua desencarnação, penetremo-nos da tríade sublime do Trabalho, da Solidariedade e da Tolerância, para estudarmos a Doutrina Espírita e vivermos o Cristianismo; para meditarmos Kardec e apresentarmos Jesus; para trabalharmos pela redenção da Terra e nos redimirmos a nós mesmos. Porque, se em verdade o Espiritismo é uma luz que fulge clareando os horizontes do mundo, a palavra de ordem da era nova é a de amor que nos ilumine interiormente e que nos permeie, de tal forma, que possamos impregnar os caminhos por onde passemos, consolando e ajudando sem enfado, sem cansaço, até o momento da nossa libertação triunfal.

Recordemos a mensagem clarificadora e balsamizante da Doutrina Espírita e nos abracemos, dando-nos as mãos, para marchar corajosamente na direção do mundo, cantando a glória da nossa convicção nos atos que falem verdadeiramente da nossa integração no espírito do Cristo, nosso Mestre e Condutor, que até hoje continua conosco, rasgando os caminhos por onde deambulamos.

Homenageando o inesquecível trabalhador da primeira hora, bendizemos-lhe o nome!

E, rogando a Jesus nos abençoe, solicitamos a Ele, o Divino Mestre, permita a Allan Kardec, receber onde quer que se encontre as homenagens que todos nós, espíritos desencarnados e encarnados, lhe apresentamos, repetindo, em paráfrase, a palavra dos cristãos primeiros:
— “Glória a ti, Kardec! os que creem na vida imortal te homenageiam e saúdam!”
Bezerra
(FEB - Brasília, DF, em 1° de abril de 1969)

Bezerra de Menezes por Divaldo Franco do livro:
Sol de Esperança

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